Pronunciamentos

DEPUTADO DOUTOR JEAN FREIRE (PT)

Discurso

Defende a soberania nacional, criticando a carta de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ao presidente Lula. Critica o ex- presidente Jair Bolsonaro e seu filho por buscarem apoio nos Estados Unidos e por conspirarem contra a Justiça brasileira. Defende a reação do governo Lula à ameaça de sobretaxação de exportações brasileiras por Trump.
Reunião 44ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 11/07/2025
Página 97, Coluna 1
Indexação

44ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 10/7/2025

Palavras do deputado Doutor Jean Freire

O deputado Doutor Jean Freire – Antes que o colega deputado saia, eu vou tratar sobre coisa de mafiosos. Fiz questão absoluta de ficar aqui ouvindo o colega deputado. Há tantas questões importantes em Minas para tratarmos, mas parece que o ódio não permite que se fale de outra coisa a não ser da esquerda e do Partido dos Trabalhadores. Eu quero aqui falar de coisa de mafiosos, da máfia.

Quem diria que o Estadão… Deputada Leninha, a quem quero cumprimentar, colegas deputadas, colegas deputados que estão aqui, aqueles que nos acompanham pela TV Assembleia e servidores desta Casa, daqui a pouco eles vão falar esta frase: “Coisa de mafiosos”. Deputada Leninha, essa frase não é minha, mas, sim, do Editorial do jornal Estadão. Daqui a pouco eles vão dizer que o jornal Estadão é de esquerda. Vão dizer que é de esquerda! Ele começou com a carta do Trump, e eu vou começar com o editorial do Estadão: “Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump e que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia”.

O deputado que me antecedeu falou aqui uma verdade no discurso dele: “O mundo inteiro está chocado”. Realmente o mundo inteiro está chocado com vergonhosa carta enviada pelo presidente americano ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mundo inteiro! E com isso deveriam estar chocados também todos os deputados, deputado Duarte Bechir, todos. Independentemente de ser de direita ou de esquerda ou do partido que seja, trata-se de uma questão do Brasil, trata-se de uma questão de soberania nacional. Nenhum governo, nenhum governo, seja ele da China, da Venezuela, dos Estados Unidos ou de Cuba, nenhum governo tem autoridade para interferir nas questões brasileiras, sejam elas de qualquer governo que aqui estiver.

Eu falo com muita tranquilidade porque digo de maneira universal, sem pegar o meu partido, sem pegar a minha ideologia para defender uma questão de soberania deste país. Se lá nos Estados Unidos, a Justiça age – eu não sei se age – de acordo com o que dita o presidente da República, aqui, no Brasil, a Justiça é independente. Aqui, no Brasil, quando o presidente Lula estava sendo julgado pela Justiça brasileira, diferentemente do ex-presidente deste nosso país, diferentemente dessa pessoa que agiu errado em relação ao Brasil, em relação à pandemia – era negacionista, golpista –, ele falou, encarou, encarou a Justiça. A imagem diz muito. Se pegarmos a imagem do presidente Lula respondendo ao então juiz Moro e se pegarmos a imagem do ex-presidente respondendo ao ministro Alexandre, vamos notar que ali há dois homens muito diferentes. Um tem coragem – e a vida nos pede coragem –; o outro tem medo. A coragem não faz parte do vocabulário dele nem da vida dele. É medroso, tentava fazer piadinha de mau gosto para ver se o ministro sorria um pouco. O Lula não, enfrentou; o Lula disse: “Mandem-me para a cadeia. Eu não negocio a minha liberdade, eu não negocio. Eu quero ir. É de lá que vou provar que vocês estavam errados”. A prova chegou neste nosso país. Diferentemente, o que fez Bolsonaro? O seu filhinho foi para os Estados Unidos, o seu filhinho foi para os Estados Unidos para pedir arrego e tramar contra o Brasil.

Há questões neste país, e, gostando ou não, você joga no mesmo time. Gostando ou não. Eu vejo o deputado João Vítor chegando ao Plenário. É um deputado que gosta muito de esporte. Sendo do PT, não sendo do PT… Aliás, eu vi o deputado outro dia fazendo um elogio muito importante e muito correto. V. Exa. não é do Partido dos Trabalhadores e fez um elogio à Marília Campos. Política é assim, deputado. Política é assim. A gente tem que reconhecer o que é certo, reconhecer o que é errado, seja do nosso lado ou não. Eu faço muitas críticas, faço muitas críticas ao meu partido, faço críticas ao governo quando tenho que fazer. Fiz críticas e elogios quando o meu partido estava no governo de Minas, como faço elogios ou críticas ao atual governo. Para mim não há problema. Mas eu citei o vosso nome. V. Exa. gosta muito de esporte. Há questões que nos unem. Eu torço para o Cruzeiro; o outro, para o Atlético. Quando a Seleção Brasileira vai jogar, nós todos somos Seleção Brasileira. Por isso, deputado, quando a soberania do Brasil está em jogo, não importa de que partido nós somos, não importa. V. Exa. está presente, e eu vou repetir o que disse no início: seja o governo de Cuba, da China, da Rússia, da Venezuela, dos Estados Unidos, governo nenhum lá de fora tem autoridade para interferir nas nossas políticas. Ainda mais com ameaças do tipo que estão sendo feitas, ainda mais trazendo-as para o campo ideológico. Ainda mais isso. Enquanto o governo do presidente Lula está querendo tratar dos supersalários, deputada Leninha – há projeto lá na Câmara dos Deputados para isso –, enquanto o governo do presidente Lula está querendo taxar as grandes riquezas, os mais ricos deste país, o filho do Bolsonaro e ele estão querendo taxar o Brasil, estão querendo aumentar a taxa dos produtos brasileiros. Será que eles sabem que os brasileiros compram mais dos Estados Unidos do que os Estados Unidos compram de nós? E aí eu pensei, por um minuto, quando o deputado começou a fala dele dizendo: “O mundo inteiro está chocado”. Eu pensei que ele ia dizer: o mundo inteiro está chocado com essa tentativa de intervir na Justiça brasileira, de intervir no governo brasileiro.

Muito bem, presidente Lula. Muito bem. Se eles querem sobretaxar os produtos brasileiros, parabéns pelo que V. Exa. disse logo no início: “Vamos sobretaxar os produtos deles”. É assim, brasileiros e brasileiras, é assim que temos que agir. Nós, com todo o respeito aos animais que chamam de vira-latas, e eu os amo e crio os cachorros sem raça definida, é que não temos que ser vira-latas. Nós, brasileiros, não temos que ter complexo de vira-latas. Quem resolve os problemas do Brasil somos nós, brasileiros. Se está errado, somos nós que devemos dizer. Se está certo, somos nós que devemos parabenizar, não quem está lá de fora.

É para o mundo inteiro ficar chocado mesmo, minha gente. É para o mundo inteiro, seja de direita, seja de esquerda, seja qual for a religião, seja qual for a crença, sejam homens ou mulheres, pessoas de bem, pessoas que colocam o ser humano em primeiro lugar antes das questões ideológicas, pessoas que pensam primeiro na questão humanista. É hora de unir este país, de Norte a Sul, e dizer ao governo americano ou a qualquer governo: Aqui, não. Aqui ninguém aponta o dedo nem mete o dedo no Brasil. O Brasil é independente. Os brasileiros amam a democracia.

Se o Trump tentou dar um golpe nos Estados Unidos naquele primeiro processo eleitoral, e o apaixonadinho por ele tentou dar um golpe aqui… No Brasil quem tenta dar golpe de estado tem que responder à Justiça. Tem que responder à Justiça. Anistia para quem nem foi julgado ainda? Deixa de ser medroso, ex-presidente. V. Exa. pedir anistia? Anistia a gente pede quando há um julgamento já feito, já proferido. V. Exa. nem teve pena ainda. E eu espero que ela venha e que sirva de exemplo, para que nenhum brasileiro mais ouse tentar contra a nossa democracia.

Parabéns. Parabéns ao jornal Estadão. Parabéns. Não há outra conclusão a se tirar dessa mixórdia: trata-se de coisa de mafiosos. Jornal Estadão, quem diria. Quem te viu, quem te vê. Acho que o Trump conseguiu juntar os homens e mulheres de bem deste país. Juntar editoriais e jornais, com ideologia à esquerda ou à direita, mas que, independentemente se alguém é neoliberal, menos ou mais, pensam neste país. Pensam no País.

Que saudade, deputada Leninha. E digo isso com toda tranquilidade: que saudade, deputada Leninha, quando tínhamos como principal opositor do nosso Partido dos Trabalhadores o PSDB. Que saudade, deputada. Que saudade. E a gente lembra de nomes maravilhosos: Covas, Tasso Jereissati, Serra, o próprio FHC, um homem que, em momento algum, deixaria de responder a essas questões, ainda que, no seu governo, qualquer presidente norte-americano tentasse interferir dessa maneira aqui no Brasil.

Relações comerciais? Sim! Defender a sua pátria? Sim! Mas eu digo a cada brasileiro, a cada brasileira: o lugar mais importante do mundo é aquele lugar de onde viemos. O lugar mais importante do mundo é a nossa aldeia, onde nascemos, onde fomos criados. Ainda que a gente tente voar, é importante que tenha sempre alguém que nos puxe e diga: “Aqui é o seu chão, aqui é o seu pequeno pedaço de terra, de chão!”. É assim com as nossas cidades, com os nossos distritos. Se alguém me perguntar: “Qual é o lugar mais importante para você, Doutor Jean?”. Eu vou dizer: “É o Vale do Jequitinhonha, é o Vale do Mucuri”. Essas duas regiões… O Nordeste de Minas Gerais é a região mais importante para mim na vida. O rio mais lindo do mundo é o Rio Jequitinhonha. É assim que eu gostaria que cada brasileiro tratasse este país. Este país, ainda que grandioso, é o nosso pequeno pedaço de chão.

Então que nenhum governo lá de fora, de esquerda, de extrema-esquerda, de centro, de extrema-direita, de direita, venha tentar interferir nas questões brasileiras! Nós somos capazes o suficiente, se juntarmos os homens e mulheres de bem deste país, independentemente da sigla partidária, para resolver os nossos problemas. Sim à taxação dos grandes ricos! Que cada brasileiro possa levantar: “Não à taxação dos nossos produtos pelo governo americano!”. Muito obrigado, Sra. Presidente.