Pronunciamentos

DEPUTADA ANDRÉIA DE JESUS (PT)

Discurso

Informa sobre sua visita a uma escola estadual no Município de Ribeirão das Neves, destacando sua história de abandono e os avanços recentes conquistados por meio de emendas parlamentares. Critica a proposta do governo estadual de transformar escolas em unidades cívico-militares.
Reunião 42ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 09/07/2025
Página 65, Coluna 1
Indexação

42ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 8/7/2025

Palavras da deputada Andréia de Jesus

A deputada Andréia de Jesus Boa tarde, deputadas e deputados; boa tarde, presidenta Leninha.

Bem, eu me inscrevi e acho importante, nestes 10 minutos, reforçar um pouco a indignação que já foi trazida aqui. Hoje cedo estive acompanhando de perto a execução de obras numa escola estadual no Bairro Rosaneves, que já foi muito estigmatizado lá em Ribeirão das Neves e é o último da região central da cidade. Inclusive, muitas crianças com as quais tive contato na infância estudaram nessa escola. É uma escola de 40 anos e que já foi palco de muitas críticas por falta de investimento. Assim que tomei posse aqui, na Assembleia Legislativa, na primeira oportunidade, busquei garantir que essa escola de quase 40 anos tivesse quadra. Não havia quadra nessa escola onde há ensino fundamental nos anos iniciais e nos anos finais até ensino médio. É um prédio que foi adaptado, adaptado para atender a ampliação e o crescimento da população de Ribeirão das Neves. Infelizmente, escolas muito antigas e prédios antigos tinham problemas graves em relação à parte elétrica e hidráulica. Hoje ela tem um diretor a quem aprendi a admirar muito, que é um homem negro e que, com muito pouco, fez grandes transformações na escola. É admirável o jardim organizado hoje pelos alunos; são admiráveis a sala de multimídia e a biblioteca com puff colorida. E, para finalizar agora, com a segunda emenda que já destinamos à escola, também está sendo construída uma sala para podcast, justamente incentivando os alunos, que hoje já não podem levar celular para a escola, a usarem essa habilidade para conversar com a comunidade, com a escola, com a comunidade escolar, com os moradores da cidade. Então essa é uma escola extremamente pulsante que tem entregue para Ribeirão das Neves e região um exemplo de gestão, de gestão de recurso, de mudança na realidade da comunidade ao seu entorno. Além disso, é uma escola aberta onde houve, recentemente, um festival envolvendo o hip-hop, a capoeira, ou seja, atividades tradicionais que têm tudo a ver com o fortalecimento da juventude em sala de aula.

Hoje, ao chegar à escola, fui surpreendida com a preocupação de alunos, pais e professores com uma orientação perversa do governo do Estado, que está com dor de cotovelo relacionada a outros projetos que tentavam a perda do patrimônio mais rico do Estado de Minas Gerais, que é a educação pública, e com o anúncio de que haverá escola cívico-militar, e que essa escola deverá convocar a comunidade escolar para fazer uma consulta. É o mesmo governador que mandou um projeto de lei para a Assembleia retirando o direito de o Estado de Minas Gerais, ou melhor, de a população mineira ser ouvida em relação à venda, à alienação, a mudanças administrativas em empresas públicas. Na Constituição, está escrito que, hoje, é garantida a escuta da sociedade. Para quê? Para garantir que as pessoas façam uma escuta, ou seja, um referendo para saberem quais os rumos das empresas públicas. É esse o governador que está intimando as escolas a fazerem a escuta da comunidade sob um argumento sem nenhum valor. Aí, é importante, para quem está em casa nos acompanhando e para a comunidade escolar onde estive hoje, deixar bem negritado o seguinte: não existe nenhuma normativa que exija que a comunidade escolar faça uma consulta dessa envergadura. Não existe. Existem debates dentro de gabinetes fechados, com interesses que não estão voltados para a educação de qualidade, para a educação pública, para a orientação pedagógica e nem mesmo para os avanços que esta Casa aprovou para garantir política de equidade nas escolas. É esse o meu trabalho. O racismo é algo perverso e muito naturalizado. Existe um agrupamento de pessoas brancas o tempo todo tentando deslegitimar mulheres negras que estão em espaços de poder. Elas ocupam esse espaço com toda qualidade, capacidade e eloquência para decidir rumos políticos neste estado.

Ao visitar essa escola, a gente viu resultado, esforço. É uma escola que tem praticamente 90% de professores negros, que ficou durante 40 anos esquecida. O debate não era só de classe. Não era só um debate sobre o valor do salário dos professores. A qualidade da educação começava pela dignidade dos trabalhadores, que não tinham cozinha, que cozinhavam num fogão de quatro bocas, Leninha. É uma escola de 40 anos que já foi alvo de intervenção militar. Ela hoje já não tem mais cerca elétrica. As pessoas entram e saem naturalmente, porque se sentem pertencentes a esse lugar. Essa é a política em que acredito. Eu vi isso de perto, filmei e peguei depoimentos de pais, de pessoas que há 40 anos estão ali convivendo nesse ambiente. É o único equipamento público na região aberto para fazer trabalho cultural, inclusive para fazer encontros religiosos. A escola está aberta e muitas vezes acolhe pessoas que estão lá fazendo retiro, porque há uma igreja ao lado. Ela hoje está sendo ameaçada. Querem transformar esse espaço educacional de muita vitória em quartel. Eu queria entender por que as forças de segurança pública querem sair dessa área e penetrar no campo da educação. Será que é só falta de função social? Será que as forças de segurança pública hoje estão se sentindo deslocadas diante das imagens que a gente vê circulando nas redes sociais de práticas criminosas de agentes de um estado que não cumpre mais com nenhum estatuto, com nenhum regimento? Quem estudou para concurso público sabe muito bem que existe uma base legal para agir. Mesmo os burocratas de rua fardados sabem que há compromissos e protocolos a seguir, mas estão exterminando pessoas a céu aberto, condenando e julgando nas ruas. Essas mesmas pessoas são incapazes hoje de dar conta da segurança pública e de garantir que as mulheres tenham segurança na rua, que a mãe de família tenha segurança nas ruas e não seja alvo de bala perdida do Estado. São essas pessoas que querem hoje invadir as escolas e deturpar um projeto educacional que nós, sim, fazemos questão de acompanhar passo a passo. A educação pública tem também cor, tem gênero, e é por isso que ela é defendida por mais de um parlamentar nesta Casa. O compromisso com a educação é o que me trouxe até aqui. A qualidade da educação pública que eu recebi me colocou hoje num lugar onde posso falar, denunciar e, mais que isso, enfrentar um estado que quer militarizar as nossas crianças, militarizar os espaços que hoje são sadios. As forças de segurança pública vêm adoecendo a ponto de retirar a própria vida.

É isso que a gente não vai aceitar. Defender a escola, defender um projeto educacional libertador, passa por uma escola aberta, segura, e essa segurança vem da presença da comunidade, que hoje reconhece essa escola. Obrigada, presidenta. Estarei presente na quinta-feira, acompanhando a audiência pública, trazendo as escolas que hoje se sentem ameaçadas por um estado de exceção, como é o Estado de Minas Gerais sem governador.