DEPUTADO DOUTOR JEAN FREIRE (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/05/2025
Página 59, Coluna 1
Indexação
32ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 27/5/2025
Palavras do deputado Doutor Jean Freire
O deputado Doutor Jean Freire – Muito boa tarde, companheira deputada Leninha, presidenta; boa tarde, colegas deputados presentes, servidores desta Casa, público que nos acompanha aqui, pela TV Assembleia e nas redes sociais.
Colegas deputados, hoje é o Dia Nacional da Mata Atlântica. Neste dia nacional, eu gostaria de relembrar a importância dessa mata, desse bioma para todo o País e para Minas Gerais, deputado Leleco, que também é um defensor das causas ambientais. É triste, deputado, a gente saber que Minas Gerais avança cada vez mais como o estado que mais derruba esse bioma, que mais desmata esse bioma. No último ano, de 11.013ha em todo o País, 38%, deputado Elismar, 38% desse bioma importantíssimo para o nosso estado foram desmatados em Minas Gerais, tombados, jogados ao chão.
A gente aprende muito nas escolas, onde temos o nosso primeiro contato, que com certeza esse é um bioma presente em regiões de muitos colegas deputados, inclusive no Vale do Jequitinhonha. E uma estatística triste também é que, nos últimos anos, enquanto se fala muito do Vale do Lítio – não gosto de assim chamá-lo –, na minha terra também tem crescido o desmatamento. Cidades, como a nossa querida Araçuaí, vem despontando nesse desmatamento e batendo recorde na temperatura mundial, com a marca de 44,8ºC.
E, na semana do Dia Nacional da Mata Atlântica e há poucos dias, também perdemos um grande brasileiro, um grande mineiro, uma figura que rodou mais de 120 países, um ser humano fantástico. E eu vendo o companheiro segurar essa máquina maravilhosa aqui, não posso deixar de me relembrar, mais uma vez, do companheiro Sebastião Salgado, uma figura que, com a sua máquina, não mostrava simplesmente as imagens da fotografia, aquela imagem estática, mas também uma imagem dinâmica. Você conseguia enxergar além do que estava ali porque havia uma acessibilidade humana fantástica atrás daquela câmera.
Eu sou um apaixonado pela fotografia e tenho um irmão que faz fotojornalismo, que é jornalista e amante da fotografia. Desde novo sou um amante da fotografia e comecei a acompanhar os trabalhos de Sebastião Salgado há muito tempo. Não era deputado ainda quando visitei pela primeira vez o Instituto Terra, na nossa querida Aimorés. Todas as vezes que fui lá estava acompanhado do meu grande amigo, que fez residência médica junto comigo, filho daquela terra, o Dr. Márcio Lima. Ele me levou lá e me apresentou aos servidores do Instituto Terra, que me contaram a história daquele lugar. Conhecer o Instituto Terra foi algo fantástico na minha vida; visitar várias vezes o Instituto Terra foi algo maravilhoso na minha vida. No entanto eu precisava conhecer a figura que criou o Instituto Terra, na verdade, conhecer o casal, ele e a sua esposa, a Lélia, que juntos criaram o Instituto Terra. Durante a sua vida, ele transmitiu aos seus filhos, Juliano e Rodrigo, a paixão pela arte de fotografar. Mais do que isso, transmitiu a paixão de colocar essa arte – como eu acredito que devemos fazer com tudo na nossa vida, inclusive na nossa profissão – a serviço da humanidade. Seja eu, na posição de médico, seja quem segura uma câmera, seja quem utiliza um quadro para lecionar, seja quem usa os microfones, seja qualquer instrumento da nossa arte, devemos todos colocar o nosso trabalho a serviço da humanidade. E foi exatamente isso que Sebastião Salgado fez: colocou o seu instrumento de trabalho a serviço da humanidade.
Como eu estava dizendo, a sua fotografia mostra além de algo estático; mostra além das imagens. A sua fotografia mostra povos “invisibilizados”; a sua fotografia defende o meio ambiente. A sensibilidade dele colocou a sua câmera, o seu conhecimento e o respeito que espalhou pelo mundo e que recebeu do mundo como instrumentos para defender a mãe Terra, sobretudo voltando para o seu ambiente, para sua aldeia, para o local onde nasceu e viveu. Na fazenda que pertencia à família, usando as suas lentes, estudando muito, ele, que vivenciou na infância um local com água, com nascentes, com verde, viu aquela região ser devastada. Quem nunca visitou, eu vos convido. Visite o Instituto Terra, vá ao Instituto Terra, nome fantástico que ele e a Lélia escolheram para dar àquele instituto.
Eu tive a felicidade, há um tempo atrás, através desta Assembleia, de parabenizar e estar presente nos 25 anos do Instituto Terra, com a presença do governador, diga-se de passagem, do Estado do Espírito Santo. Estava lá presente naquela data, assinando protocolos para expandir a ação do Instituto Terra, que é verdade, não ficou só ali. Andou este país e o mundo fazendo trabalhos maravilhosos. Ele conseguiu, através da sua vivência naquela região, resgatando na sua memória o que viu na sua infância, e tendo depois uma região destruída, devastada, fazer brotar água. Esse casal, esse instituto já plantou mais de dois milhões de árvores. Pensem o que cada um de nós pode fazer pela humanidade se usarmos os nossos instrumentos a serviço da humanidade.
O País perde não simplesmente o fotógrafo, o País perde não o cidadão comum. O País perde um grande líder, um ser humano com uma sensibilidade incrível. Um ser humano capaz de mostrar, na sua arte de fotografia, como eu dizia, aquilo que muitas vezes nós não percebemos ao entrar em uma floresta, em uma mata.
Diz um conto que, certa vez, um mestre pediu aos seus alunos – dois alunos – que passassem um dia em uma floresta. Depois de um dia, perguntou o que eles viram. Eles falaram que viram árvores, eles falaram que viram riachos, que ouviram o cantar de pássaros. Pediram para eles continuarem mais e perguntaram o que eles viram ao retornar à floresta mais uma vez, e eles não conseguiram ir muito além disso. Não sabiam o que o mestre queria saber mais do que isso, do que esse barulho, esse cantar corriqueiro, esses ruídos que saem de uma mata. Depois de mais um dia, pela terceira vez, o mestre recomendou: “Prestem bem atenção”. E eles conseguiram ouvir o barulho do vento passando sobre as árvores, o barulho de uma folha ao cair no chão.
Sebastião Salgado conseguia passar isso na sua foto. As fotografias desse mestre… Que quem tem a possibilidade de visitar o Instituto Terra possa sentir isso nessas fotografias. Quando você olha uma fotografia, ela pode ter sido feita por muitas pessoas pelo mundo afora. Mas quando você vê a história… Como tudo na vida, quando você conhece a história de quem faz uma quitanda, de quem faz o almoço, quando você conhece a história, o sabor é diferente. O valor, na mais pura expressão da palavra valor, tem que ser diferente. A foto e a arte de Sebastião Salgado era diferente – era diferente. Ele tinha acessibilidade aos mais pobres. Ele tinha acessibilidade aos quilombos e aos indígenas. Ele tinha acessibilidade aos afetados pelas tragédias. Eu tive a oportunidade de conhecer e de estar, em muitos momentos, com figuras fantásticas que muito me ajudaram na minha formação. E Sebastião Salgado foi um deles. Eu estive algumas vezes com ele.
Da última vez, nós colhemos, pela manhã, no sítio do meu amigo, o Dr. Márcio, belas jabuticabas – isso foi quando o Instituto Terra completava 25 anos – e nós as levamos para o Sebastião Salgado. Eu pude saborear aquelas jabuticabas com aquele companheiro de tanta acessibilidade, pude dialogar sobre a arte de fotografar, sobre a acessibilidade de andar por este mundo afora e nunca se esquecer de voltar para a sua terra, nunca se esquecer de voltar ali, de pisar o pé ali e de passar vários dias no Instituto Terra, como ele e a Lélia faziam. Eu tive essa alegria, deputado Leleco.
O deputado Leleco também conhece muito bem a região. Nós já estivemos juntos, por meio da comissão de repactuação, em Aimorés, cidade que também sofreu grande impacto com esse crime de Mariana. O Instituto Terra também esteve colaborando muito em muitas reparações.