Pronunciamentos

DEPUTADO LELECO PIMENTEL (PT)

Discurso

Solicita que seja retirada dos anais da Assembleia Legislativa fala anterior de deputados do Partido Liberal - PL - sobre o uso do livro “O Avesso da Pele” em aulas na rede estadual do Município de Juatuba e sobre possível politização da morte do papa Francisco pela esquerda.
Reunião 21ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/04/2025
Página 57, Coluna 1
Aparteante CRISTIANO SILVEIRA
Indexação

21ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 22/4/2025

Palavras do deputado Leleco Pimentel

O deputado Leleco Pimentel Presidente, eu chego a solicitar aqui, pelo mesmo art. 83, que essa fala inteira seja retirada dos anais desta Casa. Primeiro porque se trata de uma ilação, leviandade ou capacidade de interpretação, que é, ao meu ver, incapacitante daquilo que nós acabamos de ouvir, no Plenário. Por quê? Eu quero usar esse termo “ilação” para não cometer aqui nenhuma heresia, já que nós estamos aqui com a hipocrisia dos deputados do PL, que acabaram de dizer que nós temos ideologia ou estamos politizando o falecimento do papa Francisco. Primeiro quero dizer ao deputado Bruno Engler que nós não negamos a política para fazer política. Ao contrário de V. Exa., nós sempre demos aqui o testemunho de quem era o papa Francisco, a partir da Laudato si, a partir da Economia de Francisco e Clara, a partir do testemunho do papa Francisco. Por esta razão, nós nunca tivemos a hipocrisia de fazer 1 minuto de silêncio para aparecer nas redes sociais, em que, lamentavelmente, todo mundo sabe do joguinho que vocês usam para as suas fake news. Vocês alimentam, alimentam de mentira e de fake news uma horda de pessoas que hoje não desejavam ter o papa Francisco, que botou o dedo na ferida, que disse aos senhores que o terrorista Estado de Israel é quem está matando na Palestina. Na Palestina, a mesma terra do Jesus, que anteontem o mundo inteiro comemorava a sua Páscoa, ou seja, Jesus venceu a morte e quis, na data desta mesma Páscoa, que o papa Francisco, lutando contra pneumonia nos dois pulmões, tivesse a honradez de fazer a sua Páscoa. A Páscoa é passagem, deputado amigo e companheiro Betão, a passagem digna de quem teve coerência e não daqueles que vêm aqui ao Plenário, deputado Cristiano. Já esteve aqui, no Plenário, o deputado que me antecedeu, chamando-me, inclusive, de palavras sexistas, usando a sua transfobia, porque eles têm ódio da população LGBTQIAPN+, eles têm ódio daqueles e daquelas que tratam de fato das liberdades. Mas liberdade, para nós, está sob o jugo da democracia e não na liberdade da ilação, da interpretação equivocada. Inclusive ler um livro aqui, em Plenário, para tentar acomodar o seu possível distúrbio sexual; uma pessoa dessa precisa ir a um psiquiatra. Nós não podemos continuar deixando que o Plenário desta Casa seja um lugar de tratamento psiquiátrico. E olha que eu respeito a opinião das pessoas. Mas, interpretação, a gente tem que ter o mínimo; temos que ter a mínima capacidade para subir à tribuna e falar sobre um livro didático ou para interpelar uma companheira, presidenta da Comissão de Educação desta Casa, como se ali estivesse sendo inquirida para que o ajudasse a interpretar os fatos.

Deputado Cristiano, eu lhe concedo aparte com toda a liberdade e a garantia de que o senhor possa utilizar o seu tempo aqui também, porque as ofensas são muito grandes. A palavra está com o senhor.

O deputado Cristiano Silveira (em aparte) Obrigado, deputado Leleco. Eu quero me manifestar porque o Partido dos Trabalhadores foi atacado da tribuna, de maneira leviana e irresponsável, não é? Na verdade, quando falam do trabalho que é realizado na educação deste país, é bom que se lembrem de que foi o governo do PT que criou as creches do Proinfância que cuidam de crianças de zero a 5 anos, um grande programa; e o Caminho da Escola, que permite que crianças possam ir às escolas inclusive em locais onde há as piores estradas. Foi o governo do PT que criou os principais projetos educacionais, a lei do Fundeb, o Prouni, o Reuni, o Fies, enfim, e agora criou o Pé-de-Meia para garantir que os meninos adolescentes fiquem na escola. Diferentemente do que fez o governo passado, do qual o deputado que lhe antecedeu é defensor, aquele que negociava verbas em barras de ouro, deputado Wilson. Esquema! Lembra-se disso, deputado Betão, das verbinhas em barra de ouro no MEC? Escândalo!

Agora eu queria perguntar ao deputado que o antecedeu, Leleco, se ele conhece o trecho deste livro aqui, abrem-se aspas: “Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado, de moto. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei as menininhas: três, quatro, bonitas, de 14 e 15 anos, arrumadinhas, no sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima. Voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas, e eu pergunto: 'Meninas bonitinhas, de 14 e 15 anos, se arrumando no sábado, para quê?'. 'Ganhar a vida', afirmou”. Sabe quem é o autor da frase desse livro? Jair Bolsonaro, o líder de vocês. Jair Bolsonaro. É o trecho do livro que eles deveriam ter citado aqui, quando se mostram indignados com esse tipo de situação. Jair Bolsonaro.

O deputado Leleco Pimentel Gratidão, deputado Cristiano. É por isso que eu tenho a tranquilidade de dizer mais uma vez: vocês precisam lavar a boca com sabão, escovar bastante a memória, a mente, para não serem incoerentes. E olha, o papa Francisco não merece de vocês nenhum pedido de minuto de silêncio, nem qualquer interpretação que façam para utilizar nas redes sociais. Vocês deviam ter mais respeito, porque, de fato, quando nós nos somamos aqui ao pedido de 1 minuto de silêncio, não era para fazer deboche daquilo que o papa Francisco nunca deixou de ser. Vocês querem saber? O papa Francisco condenou o Estado de Israel, os Estados Unidos e o seu ex-presidente inominável e agora inelegível por atacarem e matarem os palestinos. O papa Francisco condenou a ação do capitalismo de Elon Musk e daqueles cujos nomes vocês vêm aqui vomitar a todo tempo, porque vocês sofrem do complexo de vira-lata. Vocês se ajoelham até diante do pensamento, porque não pensam. E, com muita dificuldade, entendi agora que tenho um livro bom para ler, porque, se vocês o criticam, é porque o livro é bom. E não é pela capa, é pelo conteúdo.

E, talvez, a capacidade… Eu peço a quem se sentar a esta mesa, ao lado do presidente, que tenha a postura de saber que está representando a Assembleia. Assim como eu pedi que se retirasse dos anais desta Casa aquela quantidade de palavras e de interpretações que só enojam o Parlamento mineiro, peço também que vocês retirem a palavra em relação à interpretação, ao que pensam do papa Francisco, sabem por quê? Porque, com certeza, não vai servir a nenhum bolsonarista que o papa Francisco tenha uma condição política e não só religiosa, porque ele era chefe de Estado e, na sua envergadura moral, conseguiu fazer com que a humanidade entendesse e interpretasse que o caminho que ele deseja não é o caminho de vocês. O papa Francisco não condena a pessoa LGBT, o papa Francisco não condena a pessoa que está na Palestina porque nasceu na Palestina, o papa Francisco não condena os pobres. E vocês, ao fazerem com que toda essa nojeira que vomitam, a todo tempo, de ódio aos pobres, de ódio a todos os que pensam diferente de vocês, tentam macular como se fosse só da esquerda ou daquilo que vocês têm incapacidade para interpretar.

Desculpe-me, presidente, mas foi lamentável, neste Plenário, hoje, a gente ter que responder a pessoas que deveriam estar lavando a boca e a consciência com sabão. Mas sabe aquele sabão de decoada, aquele sabão que vem da cinza? Só assim para a gente compreender como essas mentes insanas continuam a jorrar o ódio pela saliva nojenta, que uma vez me fez até vir aqui para limpar este microfone que uso.

Desculpem-me ter utilizado tantas palavras para responder aos ataques de violência que os deputados do PL vieram aqui fazer. Primeiro o teatrinho, o teatro de que vinham aqui pedir um minuto de silêncio para o papa Francisco, em sua memória. Não demorou mais que cinco minutos para cair a máscara, o decoro, a falta de coerência, a incapacidade de pensamento, e eles mesmos vieram aqui demonstrar que o que estavam fazendo, desculpem-me, meus amigos das artes cênicas, era um teatrinho, para poder vender nas suas mídias, colocar logo para as curtidas. E eu acho que vocês se deram muito mal, porque vieram violentar – violentar – os ouvidos daqueles que utilizam este espaço para as defesas mais coerentes possíveis. Mas demonstraram a falta de escrúpulo que vocês permanecem tendo aqui, no Plenário.

Eu vim até aqui para poder falar, deputado Betão, da incoerência do governador em Ouro Preto, na minha terra, neste final de semana. Mas, infelizmente, a gente teve que vir aqui para gastar o tempo para responder a essa violência desmedida, cruel, desalmada, e que ninguém, nem quem ouve nem quem senta neste Plenário, tem que sofrer.

Por essa razão eu quero dedicar os minutos finais, agora sim, a dizer da importância do momento para a história do papa Francisco. Papa Francisco, alguns o chamam de Chico, alguns o confundem com o próprio Cristo, mas todos, imbuídos da natureza humana, percebem que a sua fabulosa forma de caminhar, peregrino, junto aos mais pobres, fez com que a humanidade se sentisse mais próxima. Mesmo não querendo que todos tivessem que vir para a religião católica, pois abriu um espaço de diálogo profundo com as igrejas do mundo, abriu um espaço profundo com os chefes de Estado. Mas nunca deixou de colocar os pés onde os mais pobres sempre pisaram.

Hoje, pela manhã, ouvi dois deputados na comissão que presido, de Defesa da Habitação e da Reforma Urbana – a deputada Carol e o deputado Rodrigo Lopes –, dando o testemunho quando estiveram com o papa Francisco na ocasião em que ele se encontrou com a juventude, na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro; dando o testemunho de como se sentiram diante de alguém que, de tanto carisma e amor, foi confundido com o próprio sorriso. Papa Francisco, que não precisou ficar tirando camisa em hospital para mostrar a sua dor. Estou fazendo aqui um paralelo para compreenderem que há uma pessoa com tanto medo, que perdeu até a dignidade e agora anda fazendo imagens do hospital para tentar comover a população diante do julgamento que ainda nem houve, em que é apenas réu. Mas o papa Francisco não era réu, não se sentou do lado dos tiranos, não se sentou do lado dos ricos, não comeu no banquete dos ricos. Ele esteve ao lado dos pobres e, por essa razão, hoje pode ser representado pelo Pe. Júlio Lancellotti ou até por aqueles que tiram o seu tempo para, ao invés de vociferar palavras de ódio de onde estão, cuidar das pessoas em situação de rua.

Papa Francisco doou lavanderia para lavar a roupa daqueles que não têm onde morar. Papa Francisco se colocou junto da juventude LGBTQIAPN+ – se quiserem, eu digo todas as palavras que significam cada letra dessas. Papa Francisco dialogou com as igrejas do mundo, pedindo que a humanidade lutasse para cuidar do planeta. Louvado seja, louvado seja, louvado seja aquele que luta pela vida – laudato si. Nesses termos, termino a minha homenagem, a homenagem deste que é pequeno, mas que jamais faria da imagem do papa Francisco um lugar para colher likes. Aliás, muita gente desse grupo político bolsonarista, até poucos dias, durante a enfermidade do papa, desejou que o papa morresse, mas o papa, na sua altivez, venceu a morte, e nós vamos vencer o bolsonarismo, porque isso é muito cruel com a humanidade. O papa nos deixou esse legado de que não devemos tratar com violência e que devemos combater aqueles que querem o mal, e nós vamos combater o bolsonarismo na sociedade, na memória do papa Francisco. Obrigado a todos. Desculpem-me se os ofendi.