DEPUTADA MACAÉ EVARISTO (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 12/09/2024
Página 50, Coluna 1
Indexação
38ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 10/9/2024
Palavras da deputada Macaé Evaristo
A deputada Macaé Evaristo – Boa tarde ao presidente; boa tarde à nossa presidenta; boa tarde à Mesa; boa tarde a todos os colegas. Eu queria agradecer, recordar e lembrar também que, no dia 1º/2/2023, eu não estava sozinha quando cheguei a esta Casa. Eu trouxe para a minha posse a minha mãe, Maria Antônia Cesária Evaristo, e a minha mãe espiritual, Yalorixá Carmen Holanda. Elas me deram as mãos quando tomei posse como deputada estadual desta Assembleia Legislativa de Minas Gerais, da qual tenho muito orgulho de fazer parte. Queria dizer que aprendi muito com cada um dos colegas deputados e, é claro, só cheguei aqui porque tive o respaldo de 50.416 mineiros e mineiras que confiaram a mim o seu voto.
Bom, de lá até hoje, foram 587 dias de dedicação total ao mandato que o povo mineiro me confiou. Estou emocionada, gente. Que eu sou chorona, vocês já sabem, não é? Bem, hoje eu venho dizer um até breve. No dia 9/9/2024, eu fui convocada a Brasília pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que me delegou a tarefa de assumir o Ministério dos Direitos Humanos. Ao responder, veio a minha memória o 1º/1/2023, quando o povo brasileiro subiu a rampa com o presidente Lula.
O presidente subiu de mãos dadas com Francisco Carlos do Nascimento, uma criança negra de 10 anos; Aline Sousa, mulher negra e catadora de recicláveis; Raoni Metuktire, grande líder e referência indígena; Ivan Baron, antigo amigo ativista pelos direitos PCD nas redes; Weslley Viesba Rodrigues, metalúrgico e beneficiário do Fies; Murilo de Quadros Jesus, professor e representante da vigília Lula Livre; Jucimara Fausto dos Santos, cozinheira; e Flávio Pereira, artesão. Na época, e até hoje, eu me emociono com a força dessa imagem. Aceitar ser ministra, confesso que não foi fácil. Eu coloco essa responsabilidade em prática.
Eu sou uma mulher preta, nascida em São Gonçalo do Pará. Gente, eu nasci numa família que apostou na educação, apostou na educação para vencer o racismo. A minha mãe foi vereadora, ela foi quase tudo, Bella. As minhas tias são trabalhadoras domésticas. O meu pai era ex-combatente, foi servidor, Betinho, auxiliar de serviço da Secretaria de Estado da Educação. Mas essa minha família me ensinou que a gente não é sozinho para lutar e que a gente luta não pela gente, mas pelos trabalhadores, pelas trabalhadoras, por homens e mulheres, por negras, negros, pretos, pobres e pessoas vítimas da opressão.
É por isso que eu entrei na política institucional com o compromisso de ser voz para quem não tem voz, de me colocar como mulher preta e periférica na construção de uma outra política. E é por essa razão que eu me licencio do meu mandato em Minas, por entender que, neste momento, minha missão alcançará todo o Brasil. Assumo com uma grande responsabilidade: dar encaminhamento a quase 7 mil denúncias de assédio, entre elas assédio sexual contra crianças e adolescentes, recebidas no Ministério dos Direitos Humanos no ano de 2024.
A minha prioridade é esta: fortalecer as políticas desse ministério, que são políticas que salvam vidas. E a gente vê… Nesse tempo que passei aqui, eu acompanhava a Comissão de Direitos Humanos, e a gente vê que isso não é só na Comissão de Direitos Humanos, porque direito humano é ter acesso à moradia; direito humano é ter direito à comida na mesa; direito humano é ser quem a gente nasceu, como a gente é.
Eu me lembro sempre da Bella, que diz que a gente não tem uma política forte para tornar as ruas visíveis para a população de rua, que a gente não tem… Eu sei que é difícil… Muitos deputados têm trabalhado com a pauta das pessoas idosas, e a gente sabe da dificuldade disso. No nosso país, cada vez mais, cresce o número de pessoas idosas e, muitas vezes, essa responsabilidade recai sobre as mulheres, as mulheres que já cuidam das crianças, as mulheres que cuidam dos jovens, as mulheres que são chefe de família e as mulheres, que, muitas vezes, idosas, cuidam de outras pessoas mais idosas, sem nenhum apoio. É preciso falar de política de cuidados.
Essa emoção é grande porque a responsabilidade é muito grande. Mas, antes de ir, claro, eu preciso muito agradecer a cada um e cada a uma, a cada deputado e a cada deputada, a cada trabalhador e a cada trabalhadora desta Casa: primeiro, pelo acolhimento, pelo carinho, pela atenção. Quero agradecer também pelos figths, porque esta Casa é isto: é o lugar de a gente defender nosso ponto de vista, nossos posicionamentos, que, muitas vezes, são antagônicos, mas isso não nos impede de querer o bem de cada um. Porque, mesmo que a gente tenha diferença de ideias, eu sigo acreditando no mundo. Pensar diferente não é motivo para a gente odiar e não é motivo para a gente querer o extermínio das outras pessoas.
Eu não posso ir embora sem pedir a vocês que cuidem do Estatuto da Igualdade Racial para Minas Gerais e que esta Casa aprove esse estatuto. Eu sei que a gente teve um apoio incondicional do nosso presidente Tadeu Martins Leite. Eu tenho muito orgulho de estar aqui com a nossa vice-presidenta. Eu sempre falo: “Gente, vamos inventar uma forma…” Nós temos que pôr a foto da Leninha nesta Assembleia Legislativa. Em 200 anos, é a primeira vez que a gente tem uma mulher vice-presidenta. Eu não consegui inventar… Mas continuo achando que nós temos que fazer isso e, um dia, estarei aqui, Leninha, se Deus quiser, para descerrar aquela cortininha e para a gente ver esse seu sorriso tão acolhedor nas paredes da Assembleia Legislativa.
Ajudem-me e ajudem as deputadas pretas a aprovar o Estatuto da Igualdade Racial. Muitas vezes, querem criar uma falsa ideia de que nós, população negra, somos minoria, mas, em Minas Gerais, nós somos 58% do Estado. Mas, quando você pensa o orçamento que nos alcança, é minúsculo. É a menor parte desse orçamento que alcança a população negra que está nas periferias dos nossos grandes centros urbanos, que está nos quilombos, que está nas comunidades tradicionais, que está no nosso povo do campo. Esse estatuto é muito importante, porque ele vai buscar e trazer mecanismos para que a gente possa trabalhar, em Minas Gerais, e para que esta Casa possa trabalhar, do ponto de vista orçamentário, para alcançar essas populações.
Para finalizar, eu quero dizer que Minas Gerais está mais forte no governo federal e que vocês podem contar comigo para defender os interesses do nosso estado, principalmente, claro, naquelas pautas em que a gente atua. Mas vocês sabem que é preciso desenvolvimento, melhorar a vida, a qualidade de vida de toda a população mineira, porque não tem jeito de a gente ser mineiro e não amar essas terras. Eu tenho um profundo amor pelo nosso estado, principalmente porque eu tenho um profundo amor pelas pessoas. Eu sou educadora, sou freiriana. E o Paulo Freire tem uma frase que eu amo e que me acompanha. Ele fala de amar as pessoas, de amar a gente, de amar o mundo. Sou educadora porque, primeiramente, eu amo as pessoas e eu amo o mundo, mesmo sabendo, gente, que podemos ser diferentes, ter divergências, ter antagonismos. Mas eu acredito na democracia, eu acredito neste espaço da Assembleia Legislativa. Acho que precisamos honrar este Parlamento – e eu o honro muito.
Sou muito grata e quero dizer a todos vocês que me licencio. Agradeço a todo mundo. Não posso me esquecer dos trabalhadores da Assembleia que nos acolhem, que cuidam de nós e nos carregam no colo. Agradeço às assessorias e à assessoria do meu mandato, assim como à assessoria de vocês, porque as assessorias aqui se ajudam mutuamente e nos ajudam muito. Então sou muito grata, muito grata. Quero dizer a vocês que o desafio não é pequeno, mas o Guimarães Rosa já nos ensinou que o que a vida nos pede é coragem. Nós vamos à luta! Temos muito trabalho a fazer. Quero deixar aqui um beijo no coração de cada um de vocês.
O presidente – Obrigada, deputada Macaé. Em nome do Parlamento, não tenha dúvida do orgulho e da honra que todos nós temos, neste momento, de vê-la tendo a oportunidade de representar – é claro – os 21 milhões de mineiros e, de certa forma, este Parlamento, pela primeira vez na história da Casa como ministra de Estado. Então que Deus a abençoe nesse novo caminho! Pelo seu conhecimento, pela sua competência e pelas suas lutas ao longo da sua jornada como parlamentar através dos movimentos, eu tenho certeza de que você vai levar esse mesmo trabalho, essa mesma vontade e essas mesmas conquistas para todo o Brasil neste momento. Então, em nome de todo o Parlamento, eu quero lhe parabenizar e desejar-lhe muita boa sorte. Que Deus a abençoe nesse seu novo desafio no governo federal!