Pronunciamentos

DEPUTADA ANDRÉIA DE JESUS (PT)

Discurso

Critica veto total à proposição de lei que amplia a área da Estação Ecológica de Fechos.
Reunião 16ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 26/04/2024
Página 23, Coluna 1
Aparteante ANA PAULA SIQUEIRA, CRISTIANO SILVEIRA, LELECO PIMENTEL
Indexação
Proposições citadas PL 96 de 2019
VET 9 de 2024

Normas citadas DEC nº 36073, de 1994

16ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 24/4/2024

Palavras da deputada Andréia de Jesus

A deputada Andréia de Jesus – Boa tarde, presidente; boa tarde, membros da Mesa, colegas deputadas e deputados. Cumprimento todos os presentes na Casa, lutadores e defensores do meio ambiente, defensores da água, defensores da vida. Quero cumprimentar todos que estão aqui, que estão lutando para a derrubada do veto e que também defendem o direito de a gente garantir um fundo de erradicação da miséria. Sejam bem-vindos a esta Casa. Participar de um debate, de um espaço político é um dever, é um direito.

Estamos aqui, nesta tarde, e eu me escrevi e quero começar a minha fala parabenizando a deputada Ana Paula Siqueira, uma mulher negra, mãe, cujo esforço a gente acompanha diariamente, de fazer escuta e transformar o anseio de Minas Gerais em projetos de lei sensíveis, cuidadosos e que não atendam somente as mulheres negras, que são maioria neste estado, e não só as mães, que também são maioria neste estado, e não só os ambientalistas, que fazem o trabalho que o Estado está negando. A deputada é uma mulher que, ao trazer um projeto de lei como esse, que defende e amplia uma área de preservação tão importante como essa de Fechos, a Estação Ecológica de Fechos, está defendendo o interesse de uma nação inteira, está defendendo o interesse da humanidade. E é por isso, Ana Paula, que quero começar falando da minha admiração pelo seu trabalho, pelo trabalho das mulheres. Hoje é um dia em que a gente está aqui desde bem cedo, fazendo debate, demonstrando por que o nosso bloco, o conjunto de parlamentares da oposição defende, neste dia, a derrubada do veto do governador.

É importante demais o papel que as mulheres vêm cumprindo na política, porque o olhar delas não é fechado para um grupo de interesses como historicamente a gente já viu acontecer. Nós estamos lutando contra um excesso de testosterona, e o recado aqui é para dizer que nós chegamos também para mudar as estruturas e o pensamento de um estado não só conservador, mas pensado para atender a interesses que hoje já não cabem no mundo. O mundo tem observado o Brasil. O presidente Lula tem dado um exemplo para o mundo inteiro de como dar um passo atrás e pensar o desenvolvimento econômico, pensar o desenvolvimento, mas de forma sustentável, respeitando principalmente o meio ambiente. Não dá para pensar mais o meio ambiente como algo fora do ser humano, como um objeto que pode ser explorado economicamente e depois simplesmente indenizado quando os desastres acontecem, quando a morte bate à porta das pessoas e já não há como reverter a situação, porque os danos são permanentes.

A iniciativa da deputada Ana Paula foi votada nesta Casa e aprovada. Infelizmente, com o Veto nº 9/2024, a Lei nº 25.628, aprovada na Assembleia Legislativa, que amplia a área da Estação Ecológica de Fechos, criada por um decreto, o Decreto nº 36.073, de 1994, está para ser discutida na Casa. Nós estamos trabalhando para convencer os 56 deputados presentes que irão votar esse veto. Para quem está aqui acompanhando, o veto é uma resposta contrária do governador a uma decisão desta Casa.

Nós, o conjunto de parlamentares, entendemos que o projeto de lei da deputada Ana Paula, que provocou várias comissões, que foi debatido em audiência, que foi a Plenário em dois turnos, que foi aprovado, que foi para sanção, para a mão do governador… Na hora de o governador promulgar, ele veta, devolve-o para a Assembleia e fala: “Este assunto, eu não tenho interesse”. Esse assunto é a ampliação de uma área de preservação num estado onde já tivemos cenas de morte do maior crime contra a humanidade, do maior crime trabalhista, do maior crime ambiental, do crime que deixou mais de 200 pessoas vitimadas: o crime ocorrido em Brumadinho, o crime que aconteceu em Brumadinho, praticado por uma mineradora que até hoje segue impune, só alimentando os cofres públicos para tentar limpar a cara dos acionistas. Essas empresas têm pessoas por trás delas. Este estado segue sendo negligente, mas a negligência é do governador, porque esta Casa aprovou o projeto a partir da escuta desses que estão aqui, em Plenário, lutando pela manutenção dessa lei que o governador insiste em ignorar.

Então o governador Zema… Hoje cedo, eu já falei sobre isso, no caso da Estação de Arêdes, e, agora, de Fechos. A estação ecológica, a preservação de áreas que garante a manutenção de água no Estado, água em vários bairros e em várias regiões deste estado está ameaçada, e essa ameaça está na mão do governador. Esse debate que nós estamos fazendo há horas é na esperança de que o governador ligue para a sua bancada aqui e diga: “Olha, foi um erro ter vetado. Eu me sensibilizei, a partir dos debates, da presença do povo. E sei que, neste momento, é um dano para a humanidade não preservar as estações ecológicas. Por isso, o veto a esse projeto de lei é um crime”. O governador pode voltar atrás. Pode orientar a sua bancada. É nisso que nós acreditamos. Nós não estamos aqui sem esperança. Nós estamos cumprindo uma tarefa histórica, que é defender o futuro da humanidade, deputada Macaé. Nós não vamos desistir disso enquanto tivermos voz, tivermos consciência de que estamos ouvindo uma demanda que está sendo discutida no mundo.

A água é um bem de disputa no mundo. E o Estado de Minas Gerais tem água em abundância. Nós precisamos preservar isso. E isso começa, deputada Ana Paula, com a consciência de que há áreas preservadas porque existem comunidades tradicionais em números maiores do que municípios. Refiro-me a um estado do tamanho de muitos países ou maior do que muitos países. O Estado de Minas Gerais tem 853 municípios. Só de acompanhar as comunidades quilombolas, as aldeias indígenas, que são as pessoas que, verdadeiramente, preservam o meio ambiente pelas práticas tradicionais e pelo respeito à terra – porque não se relacionam com a terra como objeto de consumo e de venda –, a gente sabe que, hoje, eles são mais de oitocentos. Então nós temos mais comunidades tradicionais do que municípios. Hoje, não há área preservada que não esteja preservada, porque há comunidades tradicionais preservando-a.

Então quando o governador nega uma lei que garanta a preservação, ele novamente autoriza a invasão de terras tradicionais, ele novamente autoriza a perseguição daqueles que estão lá preservando, porque eles vão seguir preservando. As comunidades quilombolas não esperaram a princesa Isabel; elas fizeram antes. Elas buscaram a sua liberdade, a preservação dos territórios. Elas vão continuar preservando. O que estamos fazendo aqui, o que os nossos apoiadores, aqueles que têm consciência planetária estão cobrando do governador é que ele faça política pública, que ele execute política pública. Chega de fazermos isso na garra. Refiro-me a nós, povo preto, povo que resiste, ambientalista. A lei é justamente para construir políticas, campanhas, construir estratégias, para que essas invasoras, colonizadoras, que impedem a soberania do Estado de Minas Gerais, não sigam ameaçando o planeta Terra, ameaçando o Estado de Minas Gerais, de nos deixar não só com sede, mas também com novas epidemias e pandemias.

A deputada Ana Paula Siqueira (em aparte) – Deputada Andréia, obrigada. Andréia, esse veto é de um absurdo tão grande que eu queria compartilhar com todos o trabalho que foi acompanhado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o trabalho que os movimentos sociais tiveram, o impacto que isso tem, o número de horas trabalhadas, para que um governador, sem compromisso com a vida dos mineiros e das mineiras, num simples ato, numa canetada, possa jogar tudo fora.

Em 2011, as organizações da sociedade civil, aliadas com o entorno da Estação Ecológica de Fechos, criaram a campanha pública: “Fechos, eu cuido!” Em 2012, o projeto que, naquela época, recebeu o nº 3.512/2012, foi protocolado aqui na Casa. Em 2015, o projeto foi arquivado. Em 2017, o Núcleo de Geoprocessamento do Ministério Público elabora um relatório sobre os atributos naturais de relevância para a conservação nas áreas propostas para ampliação ecológica de Fechos. Então o ministério faz aqui a emissão do relatório, dizendo dessa relevância. Em 2018, a estação ecológica recebe o projeto com ação de comunicação e mobilização social comunitária em torno da importância hídrica da expansão, realizado pelo Comitê de Bacia do Rio das Velhas e pelo Subcomitê Águas de Moedas. Em 2018, o Ministério do Meio Ambiente publicou a Portaria nº 473, reconhecendo o Mosaico da Serra do Espinhaço, abrangendo a Estação Ecológica de Fechos; Cordilheira do Espinhaço reconhecida pela Unesco como reserva mundial da biosfera. Em 2019, eu reapresentei o projeto aqui, na Casa, e naquela ocasião ele recebeu o nº 96/2019. Em 2019, aconteceu o III Fórum Ambiental, realizado na Faculdade Milton Campos, que recebeu cerca de 100 pessoas que debateram sobre o futuro da Estação Ecológica de Fechos. O evento também foi o encerramento das atividades do projeto hidroambiental “Fechos, eu cuido!”, que promoveu uma série de ações para discutir o potencial hídrico e a expansão da estação, alcançando mais de 20 mil pessoas, 20 mil pessoas envolvidas na discussão da proteção da Estação Ecológica de Fechos – uma realização do Comitê de Bacia do Rio das Velhas, do Subcomitê de Águas de Moeda, com o apoio técnico da Agência Peixe Vivo.

Em 2021, nós realizamos a audiência pública pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável aqui, na Assembleia. Em 2014, nós realizamos uma audiência pública pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização; em 2021, fizemos uma outra audiência pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e, em 2022, uma outra audiência pública pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Em todas essas discussões aqui, na Casa, gente, os pareceres, os encaminhamentos foram todos favoráveis e demonstraram a necessidade da ampliação da Estação Ecológica de Fechos.

Eu estou trazendo esse histórico aqui, deputada Andréia, para demonstrar que nós não estamos falando de algo que não tenha sido profundamente debatido. O projeto entrou na pauta no final do ano passado porque já tinha passado por tudo aqui. Eu quero, inclusive, agradecer à equipe técnica da Assembleia, a todos os técnicos de comissão que nos acompanharam, a todos os técnicos que fizeram os estudos porque nós não aprovamos aqui projetos sem serem estudados pela equipe da Assembleia. Então, todos eles nos ajudaram com os relatórios, com a elaboração dos pareceres, fora todo esse cronograma. Foram várias reuniões técnicas em que os especialistas da Casa também nos acompanharam para a comparação de um estudo aqui, de outro estudo ali, para a comparação dos mapas daquilo que o Estado – o Estado não –, que a Vale apresentou: qual era o impacto de um mapa e de outro mapa.

Então, assim, houve muito trabalho para a gente chegar até aqui. Eu digo que houve, inclusive, gente, muito recurso público envolvido na discussão desse projeto de lei, dessa lei que foi aprovada na Casa e que agora o governador veta. Com isso o governador mostra não só o descaso com a questão propriamente dita da proteção das nossas águas, como também com a questão do valor público, do dinheiro público que foi empenhado para que a gente pudesse chegar até aqui. E vale a pena ressaltar para todos os belo-horizontinos e as belo-horizontinas que estão nos escutando: o impacto do veto do governador Zema muito em breve estará na torneira da casa de vocês, estará nas empresas de vocês, estará nos prédios públicos onde os servidores atendem e onde a população precisa de serviço; e vai ser sentida a ausência de água.

Então, o veto do governador é um anúncio da ampliação da escassez de água em Belo Horizonte, quarta capital mais rica do Brasil, quarta cidade com maior destaque no Brasil. Nos próximos anos seremos impactados com a falta de água e essa legislatura será lembrada por toda a população, porque é a única legislatura que tem o poder de contribuir para que Belo Horizonte não fique sem água. Eu, deputada Andréia, vou poder dizer, inclusive para os meus filhos, que são crianças, que lutamos, lutamos muito para que esse erro do governador não fosse repercutido aqui pelos nossos colegas e nossas colegas deputadas. Obrigada.

A deputada Andréia de Jesus – É exatamente isso, não é, deputada Ana Paula, deputados e deputadas que estão aqui na Casa? Sairemos daqui hoje, e creio, com uma resposta positiva para o Estado de Minas Gerais e principalmente para a região metropolitana. Moro em Ribeirão das Neves, uma cidade em que diversas vezes nos últimos anos, nos finais de semana, Ana Paula, que a gente sabe que é o dia de lavar roupa, de fazer faxina na casa, e não havia água. A justificativa, como disse muito bem aqui a deputada Macaé, é um problema técnico, mas os problemas técnicos recaem quase sempre sobre aqueles mais vulneráveis, que pagam pelo serviço, mas não usufruem dele. É onde o serviço já chega muito tardiamente. É um direito fundamental, escrito na Constituição, deputado Cristiano, mas o acesso à agua virou luxo. E, quando a gente está discutindo aqui Estação Ecológica de Fechos e outras estações, estamos dizendo que estamos defendendo a vida e o direito das pessoas de acessarem um bem fundamental, que nem deveria ser cobrado, mas nem chega ainda para a maioria dos mineiros. Estamos dizendo que a gente precisa correr. Já há pesquisa mostrando que, para enfrentar a crise climática, o calor intenso, a falta de abastecimento de água, precisamos reagir antes de 2025. Há data para que a crise se aprofunde. Então, esse debate neste dia de hoje é para demonstrar inclusive que, no Estado de Minas Gerais, a gestão está nas mãos de uma pessoa que é irresponsável com o futuro da Nação.

O deputado Cristiano Silveira (em aparte) – Obrigado, deputada Andréia.

Deputada, passamos a manhã toda do dia de hoje fazendo a discussão do veto ao projeto de Arêdes. Durante todo o período da manhã, as falas foram no mesmo sentido: apontar o momento que estamos vivendo de gravidade climática, de uma crise climática nunca antes vista, de um aquecimento global em curso. Minas Gerais é um dos estados mais afetados pelas altas temperaturas hoje em nosso país e temos um movimento que vem sendo feito, especialmente por esse governo, que é de dar respostas contrárias ao que a sociedade anseia, ao que a sociedade precisa, ao que é necessário para tentar mitigar os efeitos do que está ocorrendo. Olha, a todo momento aqui temos de lutar e resistir para que aquilo que foi feito no passado, talvez num contexto nem tão dramático nem tão grave sobre as questões ambientais, este Parlamento e os governos que passaram, criando as áreas de proteção, as estações ecológicas, novos parques estaduais, as unidades de conservação ambiental, enfim… E agora, nesta legislatura, em específico, ou neste mandato, em específico, do governador Romeu Zema, é resistência para tentar garantir aquilo que foi instituído lá atrás. Era para a gente estar discutindo o que dá para ampliar, onde mais é possível proteger, onde é possível recuperar e quais outras áreas do Estado, e são várias que já foram apontadas por vários parlamentares, que exigem e urgem a atenção do Estado para as suas proteções. Mas nós estamos aqui discutindo o retrocesso: redução de área de Arêdes e permuta de área – ruim para caramba – em detrimento da outra que é relevante do ponto de vista ambiental. Essa área aqui que nós estamos discutindo, para quem está nos acompanhando, é um projeto importantíssimo, gente! A área ganharia, dentro da proposta aqui foi votada, 222ha de florestas, campos ferruginosos, cerrado e mata atlântica, o que corresponde ao aumento de 36% do limite atual. Com isso, ela passaria a proteger outras quatro nascentes, a garantir abastecimento de água para cerca de 80 mil pessoas, além da criação do corredor ecológico entre os Monumentos Naturais de Serra da Calçada e Serra da Moeda.

É isto que o governador vetou: um projeto que responde imediatamente as demandas, as necessidades, os problemas e a crise que nós estamos vivendo. Estamos em curso nas questões ambientais. Quando é que as pessoas vão parar para perceber que isso é importante, que isso tem a ver com a nossa própria existência e com a existência das futuras gerações? E nem assim, deputada Ana Paula, porque, mesmo diante dessas tragédias, como foi Mariana, Brumadinho e outras que aconteceram, parece que não houve nenhum aprendizado. Enquanto agentes do poder público, nós temos que dizer “não”, dizer “basta”. Esse é o nosso limite.

A sociedade mineira grita pelo que está sofrendo, e a gente tem, como resposta, o ataque àquilo que, com muito custo, foi instituído, por exemplo, a estação ecológica. E, quando você quer ampliar esse espaço, porque ele é necessário, você tem um veto do governador, por ele ser muito amigo das mineradoras e entender que nada é mais importante do que o avanço predatório de quem faz, de quem executa e de quem explora sem observar a legislação e o respeito ao meio ambiente e à dignidade humana.

Então a gente precisa chamar os colegas parlamentares para esta reflexão: o voto pela derrubada do veto do governador tanto no projeto de Arêdes quanto no caso da Estação Ecológica de Fechos. É o mínimo que nós devemos fazer para poder dizer que estamos atentos, ouvindo os anseios da população.

Eu acho engraçado o governo de Minas anunciar que Minas participa de eventos internacionais para discutir o meio ambiente. Minas vai à Copa em 2026; Minas vai aos Estados Unidos participar. E para apresentar o quê? O governador deveria ter vergonha na cara e chegar a esses eventos, a esses congressos mundiais que tratam da questão climática e falar: “Nós queremos acabar de detonar a Serra do Curral; nós queremos arrebentar com Arêdes; nós queremos impedir o avanço da proteção de Fechos.” É isso o que o governo tinha que apresentar nesses eventos. Eles estão indo lá falar o quê? O que o governo tem para apresentar?

É um absurdo! Sem dizer que está aí gastando a fortuna do dinheiro público para poder falar mentira para o resto da comunidade internacional. É isso. Eu queria registrar também a minha posição pela derrubada do veto do governador, o Veto nº 9/2024.

A deputada Andréia de Jesus – Obrigada, deputado Cristiano. A gente vai seguindo com esse compromisso pela derrubada do veto tanto da Estação Ecológica de Arêdes como da Estação Ecológica de Fechos. O nosso compromisso é com a vida, e o nosso compromisso com a vida não permite que a gente tenha conchavos com mineradora e com aqueles que não têm compromisso com a Minas sem miséria e com aqueles que cuidam de quem cuida. Por isso a gente vai seguir discutindo o Veto nº 9/2024, a derrubada dele e a garantia da manutenção da lei que nós já aprovamos na Casa. E nós precisamos, nesse processo de convencimento, garantir que os deputados que já votaram para aprovar o Projeto nº 25.628 mantenha o seu voto. Com isso a gente derruba o veto!

O governador pode discordar, mas esta Casa precisa manter uma decisão que já foi tomada. Nós entendemos a importância da estação e da ampliação desse espaço, a extensão desse território. E, quando a gente fala do fim da miséria, do acesso à água, nós estamos falando de um estado que também é conhecido pelo queijo. E aí eu me pergunto: Como a gente ainda vai ser conhecido mundialmente pelo queijo se seguimos destruindo o meio ambiente e secando as nossas águas? O queijo do Serro, o queijo canastra. Como a gente vai falar de um patrimônio mundial? Como os produtores vão sobreviver se a gente não consegue preservar um bem fundamental para a existência do ser humano, que é a água? O nosso corpo é majoritariamente composto por água. A gente precisa de água na manutenção de toda a vida, na produção, na geração de renda, mas principalmente para a gente seguir. A humanidade precisa da água.

Nós estamos falando isso, governador Zema, para você. Quem está no Plenário, neste momento, ocupando as cadeiras, com as suas bandeiras, faixas, com o seu corpo político, tem consciência do papel que está cumprindo. Nós queremos a derrubada do veto, queremos manter a lei, queremos a expansão da área da Estação Ecológica de Fechos. Queremos cumprir o compromisso que a gente assumiu em diversas audiências, em diversos debates, mas principalmente o compromisso com o Estado soberano, que defende o que a gente tem de mais precioso, que são as nossas riquezas ambientais, minerais, para o futuro dos nossos filhos, para o futuro da humanidade.

O deputado Leleco Pimentel (em aparte) – Quero agradecer à deputada Andréia e aos deputados que estão aqui, conscientes desta movimentação, que eu acho que é um misto de conscientização e obstrução. Vamos entender que os deputados que aqui estão se utilizando da fala estão objetivamente tratando de vetos, como é o caso do Veto nº 9/2024, do governador Romeu Zema Neto. Tem nome. Não é apenas uma firula de Plenário, em que o governador intitulou alguém ou deu responsabilidade para alguém. A responsabilidade sobre esses crimes… Crimes, porque esta é uma Casa de lei, uma Casa que elabora lei. E nós temos um governador que descumpre lei e que manda lambuzar na nossa cara, no plano da Assembleia, a sua forma, o seu modus operandi, o seu jeito de estar de joelhos para as mineradoras novamente. E mineradora também tem nome, gente. Só que a gente nunca acha um desses filhos de chocadeira que esteja condenado pelos crimes que cometeu. Diga-me um, deputada Andréia, que está preso em nome das 19 mortes que cometeram lá em Bento Rodrigues, distrito de Mariana. Diga-me um. Diga-me um que esteja preso porque cometeu o crime lá em Córrego do Feijão, em Brumadinho, deixando uma chaga contra o nome das cidades de Mariana e de Brumadinho. Diga-me um. Nem o padre fake, que apareceu elaborando relatórios do consultor. Nem o padre fake, que as mineradoras constituíram como aquele que deveria ser o consultor de meio ambiente, está preso.

Portanto, o modus operandi dos criminosos é a troca sucessiva do comando. Eu não sei como é que nós não conseguimos mostrar isso para o povo de Minas Gerais, para que o povo não mantivesse este governador aí, porque ele demonstrou a que veio e, se demonstrou a que veio, está fazendo aquilo que prometeu. Num passado bem pertinho de nós, houve outro também que foi eleito falando que ia fazer um monte de coisas, e o povo falava: “Não vai ter coragem de fazer isso, não”. E teve, teve coragem de fazer pior, porque filhos de chocadeira não têm que dar satisfação para a mãe. Porque chocadeira, eu quero ainda lembrar, não carrega os sentimentos que a mãe, e aqui eu quero invocar a mãe Terra, tem.

Quando a gente chama a mãe Terra na figura feminina, na figura da mãe, a gente está dizendo o respeito que a gente tem com a casa comum. Aqui como já exortou alguém, lembrando das palavras do Papa Francisco na Laudato Si', na economia de Francisco e Clara, nós não estamos conversando com pessoas que sabem do que nós estamos falando que está presente nesse documento. Porém a gente também está aqui para denunciar que esta Casa de leis está sendo afrontada porque não as cumpre.

O governador Zema é, por assim dizer, aquele que institui a forma de andar nas brechas da lei, é aquele que autoriza as empresas a tomarem conta do governo para poder ganhar dinheiro. Há poucos meses, a gente estava aqui com aquele que era o secretário da Desestatização do governo federal, que embarcou no governo, conseguiu os seus bilhões com a Localiza e depois cascou fora para o México. A gente anda ouvindo falar que o Mattar está por aí de novo, está rondando e continua sem cargo. Coitado, ele pediu para nem receber porque é um voluntário do governo. E agora a gente descobriu que a Fiemg é que resolveu fazer esse papel. A Fiemg assumiu e outro dia passou uma vergonha aqui na Assembleia Legislativa, quando tiveram que desfazer um contrato chamado distrato, porque iam tomar a sala da Filarmônica.

É essa turma que está mandando no governo. Eles gostam de grade para expulsar o povo. Eles gostam de fazer com que a gente venha aqui reclamar deles e depois distribuem os dividendos. Eles gostam de retirar aqueles que são os criminosos para que não sejam presos ou identificados pela Justiça, mas mineradora tem nome. E as pessoas que estão por trás das mineradoras andam pelos corredores aqui e, vez ou outra, nos perguntam se a gente usa aliança, se a gente usa celular, e quer colocar a gente que está numa luta anticapitalista no mesmo lugar daqueles que defendem.

Eu estava conversando hoje com a Leninha sobre isso, desculpe, com V. Exa., nossa vice-presidente, que as pessoas encontram um debate que é propício a revisar a consciência. Muita gente que vai para o seminário ou vai na igreja evangélica ou vai lá no seu terreiro para fazer um exame de consciência, pedir perdão a Deus. Eu acho que o Zema podia pedir perdão ao povo mineiro, retirar esses vetos, tomar rumo e começar a governar, porque até agora o que ele tem feito é só receber os mandos dos donos do capital. Quem estiver de joelhos para o capital vai ter a sua cabeça um dia oferecida no altar dos santos, dos deuses para quem rezam, porque a cabeça daqueles que não têm consciência do que nós estamos falando não pode estar no lugar da representação a votar.

Obrigado, deputada Andréia. Desculpe a todos se os ofendo, mas nós temos uma defesa e testemunho da casa comum e é por isso que a gente vem aqui, com coerência, falar. Obrigado.

A deputada Andréia de Jesus – Obrigada, deputado Leleco, que contribuiu com a discussão.

Eu encerro a minha contribuição dizendo que o meu compromisso é de fato com a derrubada do veto, e todo nosso debate aqui é para derrubar o veto e garantir que a lei seja cumprida. Que esse debate feito durante todo o dia hoje sirva para conscientizar não só o governador, que tem o poder de ligar para esta Casa agora e retirar esse veto, orientar a sua bancada, mas para que os colegas deputados e deputadas, que podem, neste momento, votar com consciência humanitária para que a gente tenha garantida a água, o meio ambiente sustentável e áreas preservadas neste Estado, para a gente pensar no futuro da humanidade, no futuro nosso e, como eu já disse em outros momentos, para a gente não morrer pedindo água. Eu venho de uma família que sempre dizia isso. Minha avó dizia isto: “É muito triste morrer pedindo água”. Não quero que fique na história deste governador que as pessoas vão morrer pedindo água. Governador, a responsabilidade está nas suas mãos. Eu sigo aqui, com meus pares, confiantes de que a gente vai derrubar o veto e garantir a expansão da área da Estação Ecológica de Fechos.