Pronunciamentos

DEPUTADO JOÃO VÍTOR XAVIER (CIDADANIA)

Discurso

Declara posição favorável ao projeto de resolução que concede o título de Cidadão Honorário do Estado a Givanildo Vieira de Souza, o Hulk.
Reunião 20ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 25/06/2022
Página 72, Coluna 1
Assunto ESPORTE E LAZER. HOMENAGEM.
Proposições citadas PRE 181 de 2022

20ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 23/6/2022

Palavras do deputado João Vítor Xavier

O deputado João Vítor Xavier – Presidente, muito bom dia. Tenho certeza de que o senhor está feliz com a vitória do galo e tenho certeza de que o senhor acompanhou a vitória do galo na narração do nosso querido Caixa, na Itatiaia, não é, presidente?

Eu queria levar um pouquinho mais essa discussão. Eu acho que é importante que isso seja debatido, que a gente faça uma reflexão sobre essas questões. Acho que a primeira coisa que a gente precisa compreender, presidente, é que a diplomacia é um ato mundialmente reconhecido. E esse tipo de homenagem faz parte do processo diplomático da humanidade. A rainha da Inglaterra concede honrarias diplomáticas, como, por exemplo, reconhecer uma pessoa como cavalheiro da Coroa. E eu nunca vi ninguém criticando ou achando que o parlamento inglês, que é o mais reconhecido do mundo, perdeu a sua função por causa de homenagens que lá são prestadas. A Coroa britânica concede isso. Nunca vi ninguém desqualificando Winston Churchill por ser considerado Sir Winston Churchill, um cavaleiro da rainha, Sir Paul McCartney. Recentemente tivemos a oportunidade de ver um dos maiores corredores da Inglaterra, um dos principais atletas do atletismo inglês recebendo esse título de sir. Tivemos recentemente Lewis Hamilton recebendo o título de sir, que nada mais é do que uma honraria proposta pela rainha da Inglaterra, porque isso faz parte do processo de diplomacia da humanidade: o reconhecimento às pessoas, a valorização de pessoas que são consideradas notáveis em suas áreas, na ciência, na cultura, na gastronomia, no entretenimento. Nunca vi ninguém criticando alguém que recebe o prêmio nobel. Por quê? Porque são pessoas que, nas mais diversas áreas, ou para pacificação da humanidade ou para construção de uma sociedade melhor através da literatura, no Prêmio Nobel de Literatura, ou através das ciências, colaboram para a humanidade. Então o que a Assembleia Legislativa, ao conceder um título de cidadania honorária a uma pessoa de qualquer área que seja, faz é reconhecer os méritos daquela pessoa na construção de uma sociedade. Isso é parte de um processo mundial estabelecido de diplomacia. Porque é muito bonito a gente bater palma e encher a boca para falar Sir Winston Churchill, Sir Paul McCartney, quando é feito lá pela rainha da Inglaterra, e achar que, quando isso é feito aqui, não tem valor ou não pode ser valorizado.

Acho que tem muito valor, acho que deve ser valorizado e entendo que é um caminho saudável diplomático para reconhecimento de pessoas, como disse o Caixa, para que essas pessoas, tendo essa visibilidade, sejam bons exemplos para as nossas crianças.

Vou lhe contar uma história breve, presidente. Eu era garoto, começando a minha carreira na Rádio Itatiaia, estava no Rio de Janeiro com o colega que me antecedeu, o meu querido Mário Henrique Caixa. Foi a minha primeira viagem ao Rio de Janeiro como repórter da Rádio Itatiaia. Fomos nos hospedar em Copacabana. Fui de manhã passear com o Caixa e, chegando à Praia de Copacabana, vimos alguns meninos, que me pareceram crianças simples, de comunidade, na frente de uma banca de jornal. No domingo anterior, presidente, um jovem brasileiro chamado Gustavo Kuerten tinha conquistado, se não me engano, pela terceira vez, o título de Roland Garros, e esses meninos estavam lá em frente à banca de jornal. E na banca de jornal havia uma manchete sobre um cara, em que estava escrito assim: “O rei do Rio” e, do lado, a capa de um jornal falando sobre a conquista do Guga. Aí os meninos tinham esses dois exemplos: aquele que era chamado em um jornal de rei do Rio era o traficante Fernandinho Beira-Mar, e aquele que estava na capa do jornal do lado era um atleta brasileiro, chamado Gustavo Kuerten. Então a gente precisa valorizar os bons exemplos e as boas pessoas como estímulo para a sociedade, para que as pessoas escolham um bom caminho, para que aquela criança que estava em frente a uma banca de revista na Praia de Copacabana soubesse que o caminho dela não era o caminho do Fernandinho Beira-Mar, mas que o caminho dela era o caminho do Gustavo Kuerten. A gente precisa valorizar os bons exemplos, a gente precisa valorizar as boas pessoas para que elas permaneçam na nossa sociedade, para que elas permaneçam na nossa comunidade.

O Hulk é hoje um empresário extremamente bem-sucedido, acaba de inaugurar um hotel em João Pessoa, na Paraíba, que é um dos mais reconhecidos do Nordeste. Será que o gesto diplomático agora feito pela Assembleia não pode servir de entusiasmo para aumentar ainda mais a sua relação com Minas Gerais para que ele escolha investir mais em Minas Gerais, para que ele escolha empreender em Minas Gerais, gerar empregos em Minas Gerais, contribuir com a cultura, com o desenvolvimento do nosso estado?

Levo ainda para uma outra questão, presidente. Por que o champagne francês é o mais caro do mundo, ou melhor, por que o vinho espumante francês é o mais caro do mundo? Porque ele tem o nome de champagne. Porque, quando ele está na Itália, ele tem outro nome; quando está no Brasil, tem outro nome; quando é feito em outra região da França, tem outro nome. E isso porque houve um reconhecimento legal de que champagne é aquele vinho espumante feito na região de Champagne, na França. Isso faz com que o vinho valha mais, isso agrega valor ao produto.

Eu quero dizer, presidente, que o secretário de Cultura da cidade de Nova Lima estava presente nas galerias para acompanhar a votação do projeto, que é de minha autoria, que reconhece a queca de Nova Lima como um patrimônio cultural do Estado. Lamentavelmente ele foi embora se sentindo agredido com a fala do deputado Guilherme da Cunha, que entendeu como desqualificante ao processo. Eu lamento muito. Talvez falte reflexão ao deputado Guilherme de entender que esse tipo de valorização trará ao produto, ao negócio valor agregado à cidade de Nova Lima, àquelas mulheres simples que lá trabalham, que produzem um produto artesanal maravilhoso, que é a queca de Nova Lima.

Nunca vi ninguém falar que a qualificação DOC que é dada na Itália não tem valor, que aquilo ali é uma bobagem. Aquilo ali faz com que o produto italiano seja reconhecido no mundo inteiro; faz com que o Brunello di Montalcino valha mais do que o vinho que é produzido ali do lado; que o queijo suíço, que é reconhecido mundialmente como queijo suíço e que tem as suas características de produção, valha, mais no mundo; que o saquê francês valha mais no mundo; que o champagne, o vinho da França, que o vinho de Bordeaux, que tem origem controlada, legalmente certificado, valha mais no mundo. Isso é uma questão óbvia. A gente tem que valorizar o nosso produto! A gente tem que valorizar o que a gente produz. Eu quero, sim, que a queca de Nova Lima seja reconhecida como patrimônio, porque a queca de Nova Lima vai ter mais valor agregado como produto. Amanhã ou depois, os produtores de Nova Lima, tendo esse produto reconhecido como patrimônio cultural e imaterial de Minas Gerais, possam agregar produto, qualidade e venda, apresentar o seu produto em outros mercados, além de Nova Lima, que esteja amanhã no Super Nosso, no Verdemar, no Epa, no Carrefour e que esteja amanhã em qualquer outro lugar do mundo, como a gente compra um queijo Grana Padano, que tem uma certificação internacional, um reconhecimento pela sua origem. Por que a gente não pode ter isso com os nossos produtos? Será que a gente vale menos? Então acho que vale uma reflexão que vai além de um discurso ideológico superficial.

Quando você homenageia um cidadão, você está criando um vínculo com essa pessoa, para ela investir na cidade, para desenvolver o Estado, para ela se sentir parte daquela sociedade de uma maneira especial, aumentando seu vínculo. Ou será que nós não podemos trabalhar para que um cara como o Hulk, que acredito hoje... Peço-lhe tolerância, viu, presidente? Tenho usado pouco a palavra, queria pedir-lhe tolerância.

O presidente – Claro! Com a palavra, deputado.

O deputado João Vítor Xavier – Um cara como o Hulk, que é reconhecido hoje mundialmente, que é milionário, que deve ter R$200.000.000,00, R$300.000.000,oo, R$400.000.000,00, R$500.000.000,00 na conta, será que atrair esse cara para mantê-lo aqui, depois de uma aposentadoria, não é interessante economicamente para Minas Gerais, como um futuro investidor, um potencial gerador de emprego e de renda, no desdobramento da fortuna que ele construiu como atleta? Será que ter o Hulk inserido na nossa sociedade não faz sentido para as nossas crianças como um bom exemplo de sociedade? Será que reconhecer a queca como patrimônio cultural imaterial do Estado não é importante para valorizar esse produto, como os franceses fizeram, há mais de 200 anos, com o champagne, os italianos fizeram com o vinho, e as culturas do mundo inteiro fazem com os seus produtos? Será, presidente, que não é importante para nós, como sociedade, reconhecermos a cavalhada mineira – eu entrei com esse projeto – como parte da nossa cultura, para que a cavalhada possa atrair mais turistas de todos os lugares de Minas Gerais e do Brasil, gerando emprego com o seu Joãozinho, que tem uma venda, lá no Distrito Morro Vermelho, em Caeté? Isso é parte do processo diplomático, isso é parte do processo cultural, isso é parte do processo econômico.

Ignorar a importância diplomática, cultural e econômica é negar uma realidade construída na sociedade moderna, no mundo inteiro. Nós estamos negando o mundo, porque o mundo faz isso. A diferença é que, quando é feito em Paris, é chique e elegante; quando feito aqui, é tratado como se fosse desnecessário; quando é feito com o Brunello di Montalcino, “opa, é um vinho DOC”; agora, quando é feito com a queca de Nova Lima, alguém acha que não tem importância; quando a rainha da Inglaterra vai lá e concede um título de cavaleiro a Winston Churchill, o mundo aplaude, mas, quando é aqui, não tem valor; quando é dado o prêmio nobel, tem valor, mas quando a Assembleia de Minas dá um prêmio não tem? Acho que a gente precisa rediscutir essa questão, sim, e perdermos o medo de tratar isso como é. É um processo cultural, é um processo diplomático, é um processo de inter-relações sociais e é um processo econômico. É econômico, porque o champagne vale mais do que o frisante, o champagne vale mais do que o espumante, o champagne vale mais do que o Prosecco italiano, porque ele é champagne, porque ele é produzido na região de Champagne, na França, com características reguladas, com um reconhecimento mundial.

E a gente pode fazer isso com os nossos produtos: com o queijo da Canastra, com o queijo do Serro, com a cachaça mineira. E já aviso que estou entrando com um processo nesse sentido para o pão de queijo mineiro também, que é uma das nossas tradições, e com a queca de Nova Lima. Então, Leo, secretário de Cultura de Nova Lima, retorne ao Plenário da Assembleia, você é muito bem-vindo. A cultura de Nova Lima será valorizada por esta Casa, eu tenho certeza. E não é um projeto qualquer, é um projeto que valoriza as produtoras da queca de Nova Lima, as mulheres e os homens que produzem esse produto com valor histórico, cultural, afetivo e gastronômico, de grande importância para a nossa sociedade. Eu lamento se alguns não entendem que isso tem importância. Talvez se estudarem história da humanidade, o que países desenvolvidos fizeram, como França, Itália, Alemanha e Suíça, entendam que foi agregado de valor nos seus produtos e tenham a humildade de, em algum momento, rever esse conceito e discutir de uma forma mais racional esse processo. Muito obrigado, presidente.