Pronunciamentos

DEPUTADO JOÃO LEITE (PSDB)

Discurso

Declara posição favorável ao projeto de resolução que concede o título de Cidadão Honorário do Estado a Givanildo Vieira de Souza, o Hulk.
Reunião 20ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 25/06/2022
Página 68, Coluna 1
Assunto ESPORTE E LAZER. HOMENAGEM.
Proposições citadas PRE 181 de 2022

20ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 23/6/2022

Palavras do deputado João Leite

O deputado João Leite – Caríssimo deputado e presidente Agostinho Patrus, eu queria, diferentemente das posições que foram tomadas, parabenizá-lo por essa iniciativa. Poucas pessoas públicas pensariam nisso, e eu queria também aqui elogiar o autor. Eu tomo sempre muito cuidado, no meu sétimo mandato, de alguma forma, não fazer homenagem a atletas, mesmo que sejam pessoas que considero que têm uma vida importante, como os cristãos e os pastores. Procuro não homenageá-los porque, na minha história, não existe uma proposta minha indicando alguém, mas considero importante que se faça isso. Muitos não conhecem muito a história dos atletas brasileiros. O Zé Guilherme conhece mais porque vive na várzea de Belo horizonte, nas ligas do Estado todo, e sabe a história. Eu nasci numa vila em Belo Horizonte e depois comecei a jogar futebol.

A maioria dos meus colegas nasceram em vilas, favelas e experimentaram uma transformação social, e a única chance da criança brasileira é o esporte ou a cultura, a arte, a música. Nas outras coisas, existe impedimento para as crianças pobres. Sou de uma família de cinco irmãos, filho de um policial, nasci na Vila Oeste. Ontem eu visitava uma comunidade à noite, e eles reclamavam da iluminação. Eu fiquei me lembrando da Vila Oeste, da minha infância, não havia iluminação pública. Eu amava que não havia asfalto nem calçamento porque eu era goleiro na rua lá de casa, uma rua de terra; amava quando chovia porque a gente fazia cachoeira com a enxurrada. Essa foi a minha infância. Mas Deus me deu o privilégio de conhecer o mundo inteiro. Eu representei o Brasil como atleta pela Seleção Brasileira de Futebol e jogando no exterior, em Portugal.

Da minha casa nasceu a Igreja Batista Evangélica em Guimarães, onde nasceu Portugal. Pesquisa recente demonstra que os verdadeiros representantes brasileiros no exterior são missionários e atletas. Sabe, Zé Guilherme? Um dia eu cheguei para treinar no Atlético, e o porteiro falou assim: “Aquele homem está lhe esperando desde a madrugada”. Fui lá conversar com aquele senhor, e ele disse para mim: “Me ajuda, João Leite, eu estou há três dias dormindo nas ruas de Belo Horizonte. Eu sou do Jequitinhonha, vim aqui para trabalhar, não consegui trabalho e estou dormindo há três dias na rua”. Eu falei para ele: “Mas eu consigo trabalho para você. O meu pai é chefe da segurança de um banco e vai lhe ajudar”. E ele disse: “Não, com o que eu vi em Belo Horizonte, eu não quero trazer os meus filhos para cá, eu vou criar meus filhos no Jequitinhonha”. Eu falei então: “Vou lhe ajudar”. Paguei a passagem dele, dei um dinheiro para ele lanchar na viagem, mas fiquei com uma dúvida e perguntei: “Por que o senhor me procurou aqui em Belo Horizonte?”. E ele falou comigo: “João Leite, eu sou atleticano, a única pessoa que eu conheço em Belo Horizonte é você. Eu sabia, ouvindo suas entrevistas, que, se eu procurasse você, você ia me ajudar”.

Vão ao treinamento em um clube, vão ver como é. Quando você sai, há gente pedindo uma máquina de costura, há gente pedindo ajuda o tempo inteiro. Vão ao exterior para verem como é a atuação, a vida de um atleta. Eu tenho um filho atleta. Outro dia eu liguei para ele e lhe pedi para ajudar as crianças de Angola porque Angola torce muito para o time em que ele joga, que é o Benfica. E ele falou comigo: “Pai, você não está sabendo de nada. Eu mando material esportivo, eu invisto nas crianças de Angola. Pai, eu estou investindo lá”. A nossa igreja tem missionários lá. Nós cuidamos de 5 mil crianças.

Eu nunca fiz uma homenagem nesta Casa aos missionários, e agora vem uma homenagem a um atleta, e nós vamos falar que nós temos coisas mais importantes para fazer? Eles não estão aí propagando o que estão fazendo, não. Eu vi outro dia o Hulk alimentando pobres em Belo Horizonte. Saiu à noite alimentando as pessoas, e nós ficamos aqui falando de outras coisas. “São muito importantes os empresários.” Eu também creio que são importantes, mas não há coisa mais importante do que a nossa cultura, do que a nossa história, do que o meu início de vida na Vila Oeste; não há nada mais importante do que isso. A nossa história está aí para mostrar os nossos erros históricos de um BNDES, por exemplo, que empresta dinheiro sem juros para o empresário, e ele empresta a 12% para o pobre. É isso o que nós temos que olhar. É isso o que nós temos que olhar.

Agora, uma homenagem para um atleta internacional que representou o Brasil, emociona a gente, assim como os nossos artistas, a arte. Isso é emocionante. Nós somos a representação de um povo. Eu olho aqui e vejo a representação do nosso povo. O nosso povo é isso. Eu fico vendo a Comissão Pró-Ferrovias Mineiras, as pessoas são apaixonadas, são apaixonadas pela lembrança do trem. Aí nós vamos dizer: “Ah, não, nós temos que pensar no futuro”. Sim, temos, mas nós não podemos nos esquecer do nosso berço, não podemos nos esquecer de que o Brasil é reconhecido também por meio dos nossos embaixadores que são os atletas, dirigentes esportivos, dirigentes de federação. É fundamental isso para o nosso povo; é fundamental para o nosso povo a arte, a cultura a lembrança. Quando a gente fala em Jequitinhonha, o nosso peito enche por conta da arte, da musicalidade, de D. Izabel, que fazia as bonecas do Jequitinhonha – eu fui lá visitá-la no seu ateliê.

Então, gente, vamos respeitar o nosso esporte. A minha casa está cheia de atletas, atletas olímpicas. Minha mulher é atleta olímpica, minha filha é atleta olímpica do Brasil. E nós vemos o tempo todo pessoas dizerem que é de menos isso. Não é não; é gente que está o tempo todo dentro de uma quadra, dentro de uma piscina, dentro de um campo de futebol treinando e representando o nosso país. Alto lá, gente! Alto lá! A nossa cultura é a nossa história. Há um ditado judaico que diz: “Um povo que não conhece sua história é um povo sem futuro”. Muito obrigado, presidente.