Pronunciamentos

DEPUTADO JOÃO LEITE (PSDB)

Discurso

Elogia a discussão em torno do projeto de lei que dispõe sobre o uso obrigatório de coletes salva-vidas em lagos, lagoas, rios, riachos, represas e cachoeiras, pelos frequentadores desses locais.
Reunião 27ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 3ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/11/2021
Página 13, Coluna 1
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA. TRANSPORTE E TRÂNSITO.
Proposições citadas PL 2063 de 2020

27ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 11/11/2021

Palavras do deputado João Leite

O deputado João Leite – Caríssimo presidente, deputado Agostinho Patrus, meu amigo; deputadas e deputados, eu fui relator dessa matéria na Comissão de Segurança Pública e discuti muito com o deputado Sargento Rodrigues e outros deputados também um pouco do que já aconteceu aqui. É muito interessante porque eu creio que o projeto do querido irmão deputado Carlos Henrique já cumpriu o objetivo dele: de educar, de discutirmos essa questão; ela não é simples como alguns pensam que é. “Ah, as pessoas! Como é que os mais pobres...”. Eu nasci na beira de um curso d'água. A gente se banhava naquele curso d'água. Inventávamos para aqueles que não sabiam nadar câmara de pneu de bicicleta. Viu, querido Guilherme da Cunha? A gente improvisava tudo. Se há uma coisa que...

Talvez o deputado Carlos Henrique, conhecedor da Bíblia, tenha se inspirado na torrente do Negev. O Negev é um deserto em Israel, e agora estão sendo criadas 160 cidades no deserto. Diz o texto bíblico, Toninho Arantes, que é para a volta daqueles que foram para a diáspora, daqueles cristãos novos que viveram o tempo da Inquisição na Espanha, na Península Ibérica, em Portugal, e muitos vieram para o Brasil. Temos um livro agora da Dra. Neusa Fernandes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro: 300 anos de Inquisição nas Minas. Aqueles cristãos novos que fugiram da Inquisição e que foram aqui, nas Minas Gerais, também perseguidos. O Negev é um deserto, uma coisa impressionante. Muitas pessoas ali, no deserto, se chovia na cabeceira do deserto – se é que o deserto tem cabeceira – e vinha aquela torrente trazendo tudo, grandes pedras... É o que acontece também nos cursos d'água; nos cursos d'água acontece muito isso.

Eu creio, inclusive, que, no 2º turno, passando pela comissão, nós temos que tratar disto: educação; dizer para as pessoas que pode chover na cabeceira, deputado Alencar da Silveira Jr. O que acontece na Tereza Cristina? A D. Rita, minha amiga, lá da Vila Bethânia, fala comigo: “João, quando o céu escurece, eu já vou para a beira do Arruda para ver se está chovendo nas cabeceiras, porque aí tenho que juntar as minhas trouxas e sair”. Esse é outro risco sobre o qual não falamos, mas que pode perfeitamente estar nesse projeto proposto pelo nobre deputado Carlos Henrique. Educação. Só de virmos aqui e de o deputado Guilherme da Cunha subir aqui e falar sobre a matéria, nós estamos educando.

Hoje, na Comissão de Ferrovias, estávamos discutindo os roubos que estão acontecendo de ferro-gusa. Para vocês terem uma ideia, em um mês, os ladrões ganham R$600.000,00 com o preço hoje do ferro, do minério, não é? Então, eles sobem nos vagões, empurram o ferro-gusa – cada lingote pesa 4kg – e jogam para fora da composição, depois juntam e vendem para o ferro velho. E o que eles fazem para isso acontecer? Eles cortam aquela mangueira de ar do vagão e fazem o trem parar de uma vez, muitas vezes descarrilhando o trem e eles correm riscos. Educação hoje... Estava o presidente do inquérito, o delegado Kleyverson; o representante da VLI, o Cel. José Geraldo Azevedo. Nós tivemos uma aula dos riscos ferroviários na Região Metropolitana de Belo Horizonte por conta do roubo de ferro-gusa nos vagões.

O projeto do deputado Carlos Henrique é importante. Nós temos que aprimorá-lo? É claro. É por isso que um projeto de lei passa pelas comissões e vem ao Plenário. Já ouvi várias contribuições aqui, mas, para mim, a maior contribuição é que nós estamos discutindo esse tema. Eu não me lembro de termos discutido esse tema. Tem que ser colete? Não, pode ser boia. Agora depende do local. Há local que historicamente... Falamos aqui de Jaboticatubas. Recentemente tivemos lá uma – alguns falam que é tromba d'água – chuva das cabeceiras, que levou um carro, matou gente. Nós estamos tratando de um tema importante. Se não passar nada do projeto do deputado Carlos Henrique, ficou a educação. As pessoas... Eu nasci numa vila, com um córrego do lado da minha casa. A gente tinha que lidar com aquilo. Nós não tínhamos todas as informações. A Assembleia Legislativa está cumprindo esse papel; a TV Assembleia está transmitindo e a rede da TV Assembleia vai falar sobre esse assunto. Não é assim na praia? “Qual é o tamanho da praia?”. Nós falamos: “Ah, vários lagos, o curso do rio...”. Não é em todos os lugares que as pessoas vão nos lagos e nos cursos do rio. E as praias, gente? Coloque lá. Quem sabe tem que haver uma bandeira vermelha naquele lugar? Quanto custa uma bandeirinha vermelha dizendo que ali é um lugar de risco?

Então, eu queria parabenizar o deputado Carlos Henrique por levantar esse tema. O deputado Virgílio, com a sua larga experiência, disse aqui: “Vamos discutir, gente!”. Quem está com medo de discutir? “Ah, não! Não serve. Vamos jogar fora”. Não. Na praia é assim.

Por fim, queria dizer para vocês, encerrando, que amanhã eu parto para a montanha. Amanhã eu ando 40km na montanha – são os legendários. Eu já fiz isso cinco vezes; amanhã será a sexta vez. Eu passo por cursos d'água. Muitas vezes por onde passo – são 300 homens caminhando – vejo muita gente bêbada dentro desses lugares correndo um risco muito grande. Será que o Estado tem que legislar sobre isso? Claro que tem, gente! Perguntem ao Coronel Sandro, ao deputado Sargento Rodrigues. Cai no colo da polícia e cai no colo dos bombeiros! Depois tem que ir lá. Eu me lembro muito lá perto de casa, na Vila onde nasci, de um corpo desaparecido. Os bombeiros tinham de estar lá, mergulhando, para achar o corpo. E as famílias ali sofrendo, à beira do rio, esperando os bombeiros encontrarem aquele corpo submerso.

Então eu apoio, concordo que temos de discutir. O deputado Carlos Henrique dá uma lição para nós de discutir um tema tão importante para os pobres. Quem passeia pela montanha... Eu tenho toda minha roupa, tenho um calçado especial para caminhar pela montanha, para passar dentro d'água. Eu tenho, mas as pessoas carentes precisam dessa educação, precisam usar uma boia, precisam usar, quem puder, um colete. São necessárias placas mesmo ou bandeiras anunciando os lugares mais perigosos. Orientar as pessoas também, que não combinam.... Você está em cima da cachoeira e encher a cara? Beber, desiquilibrar e morrer. O Estado tem a ver com isso? Claro que tem. O Estado tem a ver. Vamos discutir, vamos ficar com medo da discussão não. Muito obrigado, presidente.