Pronunciamentos

DEPUTADO JOÃO LEITE (PSDB)

Declaração de Voto

Lamenta demissão do jogador de vôlei Maurício Souza, após declarações sobre o anúncio da bissexualidade do novo Super-Homem.
Reunião 25ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 3ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/10/2021
Página 23, Coluna 1
Assunto (LGBT).

25ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 28/10/2021

Palavras do deputado João Leite

O deputado João Leite – Obrigado, presidente. Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, todos os servidores que nos acompanham esta manhã, eu queria, Sr. Presidente, compartilhar com esta Casa e com o povo mineiro um sentimento que de alguma forma veio para a minha vida e me fez lembrar meu tempo como atleta. Meu tempo como atleta foi um tempo de muitas alegrias, mas de muitas dificuldades também, porque, com 21 anos de idade, eu tomei uma decisão que transformou a minha vida. Com 21 anos de idade, eu entreguei minha vida para Jesus e passei a frequentar uma igreja. E, no meu coração, havia uma gratidão muito grande pela transformação que Jesus fez na minha vida. Conhecer a igreja, conhecer os irmãos, a juventude da igreja àquela altura trouxe um impacto muito grande à minha vida. Eu me lembro da relação com os outros atletas àquela altura, no vestiário, na concentração, em jogos. Havia no meu coração a vontade muito grande de levar a mensagem de Jesus. Eu me lembro da primeira coisa que fiz, vendo um automobilista, o Alex Dias Ribeiro, que corria na Fórmula 1 e colocava, na lataria do carro de Fórmula 1, uma mensagem: Cristo salva. Eu desejei fazer a mesma coisa na minha camisa do Atlético, de goleiro. Eu jogava. Então, de um lado, havia o escudo do Atlético; do outro lado, essa inscrição: Cristo salva. Eu imaginei que seria uma coisa boa, mas logo veio a proibição. Foi proibida aquela inscrição na minha camisa. A CBF proibiu. Se eu jogasse com a aquela camisa, com aquela inscrição, o Atlético perderia os pontos. Eu tive então de tirar aquela camisa. Foi interessante porque, àquela altura, isso causou um impacto muito grande junto à imprensa. Vieram a Belo Horizonte para me entrevistar. Eu não me esqueço de uma pergunta de um repórter, de uma pergunta final naquela coletiva. Ele disse para mim: “E agora, João Leite? Proibiram Jesus na sua camisa”. Naquelas coisas do Espírito Santo de Deus mesmo, eu respondi: “Da minha camisa, eles podem tirar Jesus, mas do meu coração não. Eu vou seguir Jesus”. Eu tinha 21 anos de idade. Hoje tenho 66 anos de idade e continuo firme com Jesus. Minha esposa – nós estamos casados há 42 anos – está firme com Jesus. Meus filhos estão firmes com Jesus. Minhas netas estão frequentando a igreja. Nós chegamos a um tempo agora... Depois eu passei a entregar bíblias dentro do campo. Chegou um momento em que eu fui proibido também de entregar bíblias dentro do campo. Mas jogando, Coronel Sandro, na Cortina de Ferro, na Romênia, na Iugoslávia, jogando nos países mulçumanos, eu entregava bíblia para o goleiro adversário, entregava bíblias para os adversários. Eu achava que, naquele tempo, era difícil falar a mensagem de Jesus, posicionar-me, mas vejo que agora a coisa está mais difícil ainda. Nós estamos apoiados – imaginem – na Declaração Universal dos Direitos Humanos, arts. 18 e 19. Depois da morte de 6 milhões de judeus, da morte de muitos homossexuais, de ciganos, veio a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O art. 19 da Declaração diz que todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão. Esse direito inclui a liberdade, sem interferência, de ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras. O art. 18 fala da liberdade de pensamento, consciência e religião. Esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença, a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular. Solicito só mais 1 minuto, Sr. Presidente. O art. 5º da Constituição Brasileira praticamente copia a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Eu vi, com muita tristeza ontem, em nosso país, em Minas Gerais, uma espécie, Coronel Sandro, deputado Carlos Henrique, de tribunal da inquisição. Um jovem atleta, atleta olímpico, atleta da Seleção Brasileira, Coronel Henrique, fez uma manifestação. Imediatamente reuniu-se um tribunal para julgá-lo e condená-lo sem defesa, um atleta olímpico brasileiro. Lembro-me da minha esposa disputando a Olímpiada em Moscou, capitã da Seleção Brasileira de Voleibol, me contar que tinha de passar por um exame para ver os hormônios, para ver se não ela tinha mais hormônios masculinos. Depois a minha filha, disputando a Olimpíada em Pequim, atleta olímpica também, tinha de passar por esses exames. Hoje as mulheres estão enfrentando homens nas quadras. E isso tudo foi apagado. Queria dizer da minha tristeza. Foi uma noite triste para mim, imaginando o que passou o atleta Maurício de Souza, um herói brasileiro, um atleta olímpico, representou o Brasil, ergueu a bandeira brasileira, vestiu a camiseta da Seleção Brasileira e lhe é imposto um tribunal poderoso, um clube, o Minas Tênis Clube, clube poderoso, empresas, Gerdau e Fiat, a mesma Fiat que abandonou Minas Gerais para ir para Pernambuco. Falei com o deputado Sargento Rodrigues: “Deputado Sargento Rodrigues, temos de trazer o Maurício de Souza na Comissão de Segurança Pública”. Ele foi atacado. Constituíram um tribunal de que poderíamos falar, lembrando a história, do Santo Ofício, para julgar, condenar sem defesa. Está na Constituição brasileira: todo ser humano tem direito à defesa. Ele perdeu o emprego dele. Mandaram embora um atleta olímpico! E estamos vendo muitos se manifestando: “É isso mesmo!”. É isso mesmo? Rasgamos o nosso país, a nossa Constituição. Somos signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos e vermos um atleta ser sacrificado num altar daqueles que se julgam juízes, donos do pensamento humano, do sentimento fundamental para nós: de família, de propriedade, da nossa fé, da nossa opinião. É isso que estamos vivendo no Brasil hoje. Ou reagimos ou vamos ver onde moramos, a nossa casa, vamos ver – como acontece muitas vezes, na igreja do deputado Carlos Henrique – pessoas nuas no Carnaval ou numa banda que sai em Belo Horizonte invadirem a igreja. E alguns querem dizer que é direito fazer isso. Enfrentamos uma legislação aqui agora que dizia que, se impedíssemos afeto em lugares público, teríamos de pagar uma multa, a igreja teria de pagar uma multa; teríamos de ver os nossos filhos, eu ver as minhas netas na igreja e pessoas trocando carícias lá e, se não permitíssemos isso, receberíamos multa. Tem de mudar, delegado! Delegado Heli, o senhor é um defensor da Constituição. Tem de mudar! Temos de reagir. Não podemos aceitar. Solicito ao deputado Sargento Rodrigues que traga na Comissão de Segurança Pública esse atleta. Ele tem de ser homenageado. Não quero saber o que ele falou. Ele tem o direito de falar, como também temos. Ao impedir a fala de um cidadão brasileiro, mineiro, estamos questionando também o direito de eu estar aqui falando, que é um direito fundamental. É pétreo! É pedra! É isso que defendo. Obrigado, presidente.