91ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 18ª LEGISLATURA, EM 20/12/2018

Palavras do deputado João Vítor Xavier

O deputado João Vítor Xavier – Deputado Rogério Correia, gostaria de tê-lo aparteado, mas, como não foi possível, peço que V. Exa. acompanhe a minha fala, cuja concessão agradeço ao presidente Dalmo. Muito provavelmente, somos diferentes em quase tudo no campo ideológico. Sou liberal na economia e conservador nos costumes, e V. Exa. é o oposto: conservador na economia e liberal nos costumes. Mas, nesses 10 anos de Parlamento, aprendi a respeitar e a conviver com quem pensa diferente de mim, a tolerar as divergências e a entender que sempre temos o que aprender com quem pensa diferente de nós. Acima de tudo, temos de trazer para esta Casa e para qualquer casa parlamentar os valores da verdadeira democracia, que são a tolerância, o respeito, o debate de ideias, e não de pessoas. Provavelmente, nessas últimas horas, alguém já deve ter citado Montesquieu e a célebre frase “posso discordar de absolutamente tudo o que o senhor pensa, mas lutarei até o último dia para que o senhor possa dizê-lo”. O fato é que os que hoje lutam para que o adversário não possa se manifestar não sabem que amanhã serão eles tolhidos pelos seus próprios adversários. É assim que funcionam os regimes de exceção, seja de direita, seja de esquerda, seja monárquico, seja qualquer um. Aquele que hoje luta contra a fala do seu oponente é aquele que será punido amanhã, quando o seu oponente estiver no poder. Não sou do PT, não simpatizo com o PT, não acredito no PT e, como já disse a V. Exa. várias vezes, considero que o PT errou em muitos momentos, como considero que o meu partido tenha errado em diversas ocasiões - e também muito me envergonho de algumas de suas figuras e de algumas de suas posturas nos últimos anos de vida pública. Mas isso não me tira a obrigação de reconhecer a virtude dos homens, dos parlamentares e das pessoas que se colocam à disposição da construção democrática, do debate democrático. V. Exa. leve para Brasília o meu respeito, que adquiriu nesses oito anos de convivência, convivência sempre ideologicamente oposta. Foi difícil concordar com o senhor na maioria dos momentos, porque pensamos diferente. Mas que bom que podemos estar aqui representando aqueles que nos elegeram e que pensam diferente, porque é importante que essas pessoas sejam representadas. É importante que pessoas que, como eu, acreditam numa economia mais liberal e numa menor intervenção do Estado tenham espaço aqui. Também é importante que pessoas que pensam como o senhor tenham espaço aqui, até porque, se não houvesse pessoas que pensam como o senhor, o senhor não seria eleito pelo voto popular. Acredito na democracia. Nos últimos tempos, estou muito doído, muito machucado pelo que estou vendo e muito desanimado. Estou desanimado com os corruptos e com os intolerantes, os desrespeitosos, aqueles que não sabem conviver num processo democrático, e peço muito a Deus que essas pessoas sejam tocadas pelo Divino Espírito Santo, para que possam compreender a beleza da democracia na sua essência e entender que, quando temos a tolerância de conviver com aqueles que são diferentes de nós, tornamo-nos pessoas melhores. Já tentei entender, por várias vezes, o que me trouxe para a política, já que sou jornalista, radialista, pessoa da comunicação. Mas compreendo cada vez mais que Deus me colocou aqui para que eu possa aprender a conviver com o diferente, a respeitar as ideias distintas e a aprender que o meu ponto de vista nem sempre é soberano e, na maioria das vezes, também não é o correto e que, se eu aprender um pouquinho com aquele que está ali do lado, posso me tornar uma pessoa melhor e ajudar a sociedade a ser melhor. Desejo a V. Exa. um excepcional mandato em Brasília. Tenho certeza de que praticamente tudo o que o senhor defenderá em Brasília será diferente do que acredito, mas acredito que a diferença faz parte da democracia e que só nos tornaremos um País verdadeiramente democrático quando aprendermos que aqueles que pensam diferente de nós são capazes de dar contribuição e trazer uma visão distinta que melhorará aquilo que nós também estamos criando. Boa sorte a V. Exa. Leve o meu respeito, leve o meu abraço de amizade, acima de tudo, porque aqui o que se deve disputar são as ideias das pessoas. As ideias disputam; as ideias são divergentes; as ideias são combatidas; as ideias são discutidas, e não as pessoas. Boa sorte a V. Exa. no seu mandato em Brasília.