DEPUTADO DOMINGOS SÁVIO (PSDB)
Discurso
Comenta a Medida Provisória nº 512, de 2010, que estabelece incentivos
fiscais para a instalação da montadora da FIAT Automóveis S.A. no Estado
de Pernambuco.
Reunião
96ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/12/2010
Página 174, Coluna 1
Assunto INDÚSTRIA. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL. TRIBUTOS.
Aparteante VANDERLEI MIRANDA, GUSTAVO VALADARES, LAFAYETTE DE ANDRADA, ZÉ MAIA, GIL PEREIRA, NEIDER MOREIRA, ADEMIR LUCAS.
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/12/2010
Página 174, Coluna 1
Assunto INDÚSTRIA. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL. TRIBUTOS.
Aparteante VANDERLEI MIRANDA, GUSTAVO VALADARES, LAFAYETTE DE ANDRADA, ZÉ MAIA, GIL PEREIRA, NEIDER MOREIRA, ADEMIR LUCAS.
96ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 15/12/2010
Palavras do Deputado Domingos Sávio
O Deputado Domingos Sávio - Sr. Presidente, colegas Deputados,
público que nos acompanha pela TV Assembleia, o que nos traz a
esta tribuna é a oportunidade de refletir sobre algo extremamente
grave, que deve ser objeto de preocupação de todos os mineiros e,
por que não, de todos os brasileiros. Estamos diante de uma ação
que pode gerar efeitos implacáveis, terríveis para Minas Gerais.
Essa ação de alguma forma alimenta algo que vem sendo condenado
pela própria sociedade, especialmente pelo Parlamento: a prática
da guerra fiscal. Só que agora ela traz a complacência, por que
não dizer, a iniciativa, o DNA do mais alto Poder da República,
sob a tutela do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da
República. É algo que pode gerar um prejuízo gravíssimo para todas
as Minas Gerais.
No meu entendimento, algo foi tramado fora dos princípios
republicanos e sem debate, vindo a público como um grande presente
de papai Noel que o Presidente Lula preparou para o seu Estado
natal. Que o Presidente tenha um gesto por Pernambuco, ainda que
não tivesse nascido lá, não seria nada demais, pois é bom quando
alguém se dispõe a ser generoso. É perfeitamente compreensível que
o Presidente queira fazer algo pelo Estado onde nasceu, mas é duro
perceber que essa atitude representa uma verdadeira apunhalada nas
costas do povo mineiro. Isso revela um absoluto descompromisso com
o pacto federativo, criando desequilíbrios fiscais e aprofundando
a guerra fiscal.
Não quero que isso pareça mero discurso de Oposição, pois não o
é. Trata-se de uma reflexão a respeito do que o nosso país está
vivendo. O Presidente, no apagar das luzes, por meio de medidas
provisórias e atos construídos sem debate, estabelece a
possibilidade de tramar um prejuízo enorme para Minas Gerais e um
desequilíbrio competitivo na Federação. A lei que trata dos
incentivos fiscais no País estava prestes a ter concluída sua
vigência. O Presidente Lula toma a iniciativa, por meio de medida
provisória, de prorrogá-la até 2020. O primeiro ato dessa trama é
prorrogar até 2020 o incentivo fiscal. Muitas vezes, a Bancada do
PT criticou insistentemente a política de incentivo fiscal,
querendo dizer que se tratava de coisa dos neoliberais.
Além disso, de maneira tramada, o Presidente acrescenta alguns
artigos a essa lei e estabelece que a empresa que adquirir alguma
unidade de qualquer atividade industrial até 29/12/2010 terá essa
unidade como beneficiária do incentivo fiscal e, inclusive, poderá
ampliar ou modificar a produção. Isso foi feito de maneira
tramada. Obviamente, a Fiat, como uma multinacional, uma empresa
de capital, sensível ao capital e ao lucro, vai em Jaboatão de
Guararapes, em Pernambuco, compra uma pequena indústria de cabos
elétricos, chamados chicotes, e dá uma verdadeira chicotada em
Minas Gerais. Compra uma indústria de chicotes, enquadra-a na lei
que trata dos incentivos fiscais e que o Presidente Lula acaba de
prorrogar para 2020 e já anuncia que irá fabricar veículos e
instalar uma fábrica de automóveis a partir de uma indústria de
chicotes. Como se isso não afetasse em nada Minas Gerais.
Ora, se o Presidente, generoso com seu Estado, quer construir uma
fábrica de automóveis em Pernambuco, ótimo, que busque uma fábrica
que não exista no Brasil. No entanto, buscou a Fiat, pela qual os
mineiros lutaram e com a qual diversos governos - não só o que a
acolheu há três décadas - atuaram como parceiros na viabilização
de investimentos. A Fiat, que recebeu tudo de Minas, agora, por um
gesto do Presidente Lula, prepara-se para levar seus investimentos
para Pernambuco. Isso é uma traição ao povo mineiro, é um absurdo.
Eu disse que isso foi tramado sem nenhum debate. Se alguém sabia
disso, seguramente eram os Ministros ou ex-Ministros do PT de
Minas. É preciso alertar essas lideranças. Se ainda há alguma luz
no fim do túnel, é preciso que essas lideranças mostrem a cara e
defendam Minas Gerais, sob pena de sua credibilidade ser
comprometida diante dos mineiros.
Antes de conceder aparte aos Deputados, quero apenas concluir o
raciocínio. Além da questão dos Ministros, é importante alertar
que Betim é hoje administrada por uma ex-Deputada Federal do PT:
Maria do Carmo. Ainda assim, a cidade de Betim e o Estado de Minas
Gerais estarão sendo feridos de morte com o direcionamento de
investimentos da Fiat para Pernambuco.
O Deputado Vanderlei Miranda (em aparte) - Dada a exiguidade do
tempo, caro colega Domingos Sávio, quero apenas somar a minha voz
à de V. Exa. Lamentavelmente, o Presidente Lula nos dá um presente
de grego neste Natal de 2010 com a decisão, tomada por medida
provisória, de levar parte dos investimentos da Fiat para o
Nordeste.
Numa irônica coincidência, a Fiat comprou ali, como V. Exa. bem
colocou, uma fábrica de chicotes, o que me faz entender que essa
medida provisória na verdade ressuscitou a lei da chibata. Ora,
agora, numa triste coincidência, o movimento dos marinheiros
contra essa lei foi iniciado em um navio chamado Minas Gerais.
Como aqueles marinheiros, precisamos mostrar a nossa reação, a
nossa indignação. Como V. Exa. bem disse, Minas Gerais cedeu muito
para a Fiat, abriu muitas portas para a Fiat, que deve muito ao
nosso Estado. No entanto, agora, na hora de fazer um investimento
de alto vulto, esse investimento vai para o Nordeste. O mais
vergonhoso nisso tudo é que se abriu uma janela que cria um
mecanismo que permite que essa indústria passe a ter direito aos
incentivos e mude até mesmo o objeto da sua produção: deixa de
fabricar chicotes para fabricar automóveis. Portanto, como V. Exa.
disse, o Presidente Lula nos dá uma chicotada e, a meu ver, com a
medida provisória, ressuscita a lei da chibata contra nós,
mineiros. Só nos resta a indignação.
O Deputado Domingos Sávio - Agradeço ao nobre Deputado Vanderlei
Miranda, que, além de fazer uma analogia apropriada, insiste na
linha de raciocínio que tentei transmitir a quem nos acompanha. Se
estivéssemos falando da aquisição de uma empresa para produzir
chicotes ou cabos elétricos que apenas fosse ampliar a sua
produção com benefício fiscal, seria uma coisa. Mas o Presidente
Lula emendou a Lei de Incentivo Fiscal dizendo que a empresa que
se adequar a ela até 29 de dezembro fará jus ao incentivo fiscal,
podendo até ampliar e modificar a sua linha de produção. Como
Minas Gerais, que hoje tem a fábrica da Fiat, vai competir com a
fábrica que a Fiat, graças a essa iniciativa do Presidente Lula,
vai montar em Pernambuco, se ali o governo federal não vai cobrar
nada dela, vai-lhe dar isenção de IPI? Mas o governo federal vai
cobrar da Fiat em Minas. É o mesmo que o Presidente Lula dizer
que, a partir de agora, quer tirar de Minas, tomar de Minas para
dar para Pernambuco. Isso rompe com o pacto federativo; é mais
sério que discutir apenas uma atitude de incentivo fiscal. É uma
traição ao povo mineiro. Curiosamente, quem assume no próximo dia
1o, quem recebe das mãos do Presidente Lula o comando do País veio
aqui pedir o voto dos mineiros dizendo “eu sou mineira”. Não é
possível que a Presidente Dilma não sabia de uma coisa tão grave
como essa, agora, se sabia, deve uma resposta aos mineiros; não
pode permitir que Minas Gerais seja apunhalada.
Vou conceder aparte ao prezado Deputado Gustavo Valadares e, na
sequência, aos outros colegas, porque percebo que esse tema nos
deixará, a todos nós, às vésperas do final dos nossos trabalhos,
chocados. Estamos chocados, é certo, mas, ao mesmo tempo, temos de
ficar indignados e reagir. Minas tem de virar uma única voz contra
essa atitude absurda do governo federal contra os mineiros.
O Deputado Gustavo Valadares (em aparte)* - Deputado Domingos
Sávio, nesta tarde na Assembleia Legislativa, V. Exa. traz tão bem
esse assunto à tona, mas queria apenas completar. Não bastasse a
inércia quanto à BR-381 e ao nosso metrô; não bastasse a falta de
investimentos por parte do governo federal na segurança pública do
nosso Estado; não bastasse o pós-eleição com a vitória de Dilma e
nós, mineiros, termos apenas um Ministério; não bastasse estarmos
perdendo espaço no governo federal, o governo do Presidente Lula é
da Presidente eleita Dilma e nos dá mais esse presente de grego.
Esse é o retrato do que foi o tratamento do Presidente Lula e de
seu governo para com os mineiros. Fomos tratados como Estado de
segunda classe, sem o respeito e a dignidade que merecemos. A
medida provisória a que V. Exa. se refere foi feita na calada da
noite, já previamente combinada. O que me deixa mais assustado e
indignado é que foi combinada entre quatro paredes com executivos
da própria Fiat, que, há 30 anos, foram recebidos aqui com todas
as benesses que um governo podia dar. Benesses que, naquela época,
para que trouxessem indústrias, beiraram à irresponsabilidade
fiscal; mas nós, mineiros, concedemos todos os benefícios
possíveis para que a Fiat se instalasse no Estado. Hoje essa
empresa está instalada em Betim, que é administrada por uma
Prefeita do PT, colega de Congresso Nacional do Presidente Lula,
quando foi Deputado, e de todos os Deputados que acompanham o
governo hoje. A partir de janeiro, o PT tem e terá um Ministro de
Desenvolvimento Econômico que foi Prefeito da nossa Capital e que,
com certeza, Deputado Gil Pereira, desde o início sabia das
articulações nebulosas que estavam sendo feitas às escondidas, no
final da noite, nas madrugadas, sem terem, no mínimo, a dignidade
de comunicar no tempo certo aos nossos representantes, como nosso
Governador, nossos Senadores eleitos e nosso Vice-Governador.
Nenhum deles sabia da manobra que estava sendo feita. Fomos todos
pegos de surpresa ao mesmo tempo. Espero que o pronunciamento de
V. Exa. e que as vozes desses Deputados que irão aparteá-lo
ultrapassem os limites desta Assembleia Legislativa e que ecoem
pelos quatro cantos de Minas. Que antes do final do ano possamos
demover a Fiat de dar esse passo atrás e de praticar essa
infidelidade com Minas e com os mineiros. Parabéns a V. Exa. Conte
comigo, pois a qualquer hora e a qualquer tempo estarei pronto
para, junto a V. Exa., trabalharmos para que atos como esse,
praticados milhares, centenas de vezes ao longo desses oito anos
pelo Presidente Lula, não venham a ocorrer mais. Nós, mineiros,
não podemos aceitar traição. Obrigado, Deputado Domingos Sávio.
O Deputado Lafayette de Andrada (em aparte)* - Deputado Domingos
Sávio, serei breve para não tirar o tempo de V. Exa. Quero dizer
que isso foi uma indignidade. Minas se sente traída. Lembramos
que, durante as eleições, a candidata Dilma veio a Minas Gerais
pedir os votos dos mineiros tentando convencê-los de que nasceu,
passou sua infância e juventude aqui, que se sentia mineira e que
por isso queria os seus votos. E os mineiros os deram, e ela foi
vencedora em Minas Gerais. Agora, esse é o presente de final de
ano que o governo do PT e de Dilma dá aos mineiros, uma verdadeira
traição, Deputado Domingos Sávio. Traindo Minas Gerais, fazendo um
acordo às escuras, na surdina e dando esse anúncio às vésperas do
Natal para todos os mineiros: a partir de agora, a Fiat irá para
Pernambuco. A grande verdade é que uma parcela da Fiat irá montar
uma nova fábrica, um novo centro industrial no Estado de
Pernambuco. Quero saber onde estão os membros do PT de Minas. O
que dirão as lideranças mineiras do PT sobre isso? Não vejo neste
Plenário nenhuma voz indignada. Será que os petistas mineiros são
mais petistas que mineiros? Cadê eles para defender Minas Gerais?
Cadê as lideranças do PT para defender o nosso Estado? Silenciam
vergonhosamente, traidores que são do nosso Estado. Essa é a
grande verdade. A nossa indignação expressa a indignação de todo o
povo mineiro, Deputado Domingos Sávio. Muito obrigado pelo aparte.
O Deputado Domingos Sávio - Obrigado, Deputado Lafayette de
Andrada.
O Deputado Zé Maia (em aparte)* - Deputado Domingos Sávio, a
presença de V. Exa. no Congresso Nacional será extremamente
importante. O pronunciamento que V. Exa. faz aqui traz à luz essa
grave denúncia. Temos de tratar isso como denúncia, porque o
Presidente Lula, caro Deputado Domingos Sávio e companheiros
presentes no Parlamento, além de não ter tido a coragem de, com a
ampla maioria que possuía no Congresso Nacional, aprovar a reforma
tributária, um compromisso do Presidente no seu programa de
governo, incendeia a guerra fiscal do País. E, como bem lembrou V.
Exa., esse é um problema federativo. Ele coloca Estados contra
Estados, regiões contra regiões, beneficiando, caro Deputado
Domingos Sávio - se olharmos o mapa eleitoral - com essa medida os
Estados em que a sua pupila, a Presidente eleita Dilma Rousseff,
teve melhor desempenho eleitoral. É muito grave o que o Presidente
Lula faz no apagar das luzes do seu governo. É um fim melancólico
de um homem que pousou como estadista. Ele toma um medida, uma
decisão muito pouco republicana e muito mais grave que as suas
consequências. Traz enormes prejuízos para Minas Gerais a forma
como ele foi implementada, no segredo, no sigilo, na calada da
noite e nos gabinetes, sem trazer à tona um debate de uma
discussão tão importante como essa. Isso é profundamente
lamentável. E digo ao povo mineiro: o Vice-Presidente José
Alencar, de Minas Gerais, foi um homem extremamente fiel e
decisivo para as duas vitórias - sobretudo a primeira - do
Presidente Lula. O pagamento que Lula dá a Minas, aos mineiros e
ao Vice-Presidente José Alencar tão leal a ele é, ao apagar das
luzes, “cuspir no prato que comeu”, traindo o companheiro José
Alencar e o povo de Minas Gerais, caro Deputado Domingos Sávio. O
Presidente Lula venceu duas eleições em Minas Gerais. Os votos
deste Estado foram decisivos para sua vitória, e agora com a sua
candidata também venceu em Minas Gerais. Enquanto Lula e Dilma
juravam amor a Minas, na calada da noite, era tramado um golpe
mortal ao povo de Minas Gerais, uma verdadeira traição que haverá
de entrar para a história do País. Isso é profundamente
lamentável. Por que, em setembro ou em agosto, o Presidente Lula
não editou essa medida? Por que não trouxe para o debate das
eleições o que pretendia fazer com essa medida provisória que
estendeu por mais 10 anos a guerra fiscal no Brasil, que, como
Presidente da República, deveria encerrar e colocar a discussão no
Congresso Nacional? Ele faz ao contrário, e é preciso fazermos
esse registro. O povo de Minas deve levantar a sua voz e,
sobretudo, se sentir traído por um Presidente da República que, em
três eleições, saiu majoritário e vitorioso no Estado e teve, como
Vice-Presidente da República, um mineiro. O pagamento é com
traição. Encerro dizendo, Deputado Domingos Sávio, que pior que a
traição foi como ela se perpetrou: na calada da noite, no segredo,
no sigilo, nos palácios, nos gabinetes, às escondidas. É
profundamente lamentável assistir a um fim melancólico de um homem
que se diz estadista, o Presidente Lula. Parabéns, caro Deputado
Domingos Sávio. Espero que V. Exa., da tribuna do Parlamento
federal, possa levantar a sua voz como sempre tem feito na defesa
dos mais altos interesses do povo de Minas Gerais. Temos uma
enorme confiança de que V. Exa., para defender Minas, desempenhará
esse papel com a mesma competência e o mesmo talento que tem feito
nesta Casa.
O Deputado Domingos Sávio - Obrigado, Deputado Zé Maia. Com a
compreensão do Presidente e dos demais colegas presentes, quero
dar a palavra ao Deputado Gil Pereira e ao Deputado Neider
Moreira, pois acho importante e relevante esse tema para Minas
Gerais. É importante ouvir o aparte desses colegas.
Falamos da condição absurda que fere o pacto federativo, pois o
Presidente objetiva destinar incentivo fiscal para a Fiat se
instalar e fabricar veículos em Pernambuco, sendo que essa mesma
empresa tem uma fábrica em Minas, onde não haverá esse incentivo,
e entendemos que a situação é igual à da transferência de uma
unidade daqui para lá. Isso não afeta apenas Betim ou o governo do
Estado mas também cada cidadão que está agora nos acompanhando,
cada um dos 20 milhões de mineiros. Isso significa menos
arrecadação para Minas. Não é apenas o empregado da Fiat que corre
risco, mas também as empresas que produzem peças para a Fiat,
enfim, toda a cadeia produtiva do automobilismo. Além do mais,
essa atitude afeta o imposto que o governo arrecada para investir
na saúde, na educação e na segurança pública. É tirar de Minas
Gerais para dar a outro Estado.
O Deputado Gil Pereira (em aparte)* - Deputado Domingos Sávio,
gostaria de parabenizá-lo pela iniciativa. Pedi para protocolar e
colocar nos jornais da Assembleia a coluna que Carlos Lindenberg
escreveu com muita altivez. Gostaria de falar mais um pouco sobre
essa questão. Já que ele queria ajudar a Fiat, poderia muito bem
colocá-la na área mineira da Sudene. São R$4.500.000.000,00 de PIS
e Cofins que serão dados para a Fiat. Poderia muito bem colocá-la
em Montes Claros, no Norte de Minas, já que pertencemos a área
mineira da Sudene. O Presidente Lula poderia fazer essa gentileza,
pois, quando vem à Minas, sempre diz que o nosso Estado está acima
de qualquer coisa. Vamos fazer ecoar essa questão em todo o
Brasil.
Embora o Vice-Presidente José Alencar esteja adoentado, é um
guerreiro. Então, vamos convocá-lo e pedir-lhe que dê a sua
palavra em defesa de Minas. Ele, como Vice-Presidente e Senador,
sempre defendeu Minas Gerais, o Norte de Minas. Peço que
encaminhemos um telegrama, “e-mail” ou fax ao Vice-Presidente,
que, embora esteja adoentado, está lúcido e trabalhando com garra.
Da mesma forma que ele descerá a rampa do Palácio do Planalto com
o Presidente Lula, poderá fazer com que Minas suba a rampa e
reverta essa situação da nova fábrica da Fiat, que sai do nosso
Estado, como V. Exa. disse, perdendo empregos e impostos. Se ele
quer beneficiar a Fiat deverá fazê-lo incluindo a nova planta na
área mineira da Sudene, e não levando-a para Pernambuco. Parabéns
pelo seu pronunciamento. Tenho certeza de que, em Brasília, V.
Exa. estará sempre em defesa do nosso Estado.
O Deputado Domingos Sávio - Obrigado, Deputado Gil Pereira. Antes
da manifestação do Deputado Neider Moreira, gostaria de lembrar
que só de incentivo fiscal, como disse o Deputado Gil Pereira, são
R$4.500.000.000,00. A Fiat será beneficiada com esse valor em
Pernambuco apenas no tocante a um imposto. Isso que estão fazendo
com Minas Gerais é uma covardia. Não nos atenderam com a BR-381,
com o Rodoanel em Belo Horizonte e com uma série de outras coisas.
Recentemente estive em Brasília, numa reunião da Bancada Nacional
do PSDB, para a qual fui convidado como Deputado Federal recém-
eleito. Lá estava o Senador Aécio Neves, também recém-eleito,
articulando uma luta para conseguir convencer o governo a votar a
compensação da Lei Kandir. Portanto, para garantirmos o direito de
Minas, praticamente temos de mendigar junto ao governo federal.
Fazemos isso para que seja votada a inclusão no orçamento de 2011,
apesar de Minas ter garantido na Lei Kandir o direito de ser
compensada. Temos de travar uma luta para que o governo do PT, o
governo do Presidente Lula dê a Minas o que já é um direito nosso.
Agora fazem isso conosco.
Concedo aparte ao Deputado Neider Moreira, que também vive em uma
cidade onde sofre com esse tipo de política. Então, é preciso
darmos um basta em tudo isso, não é Deputado?
O Deputado Neider Moreira (em aparte) - Deputado Domingos Sávio,
faço coro a suas considerações e a seus argumentos extremamente
significativos, consistentes e relevantes, como os de todos os
colegas que o apartearam. É preciso fazermos aqui uma pequena
reflexão sobre o passado que vivemos na instalação da Fiat.
Primeiramente, queria falar da ingratidão da Presidente eleita,
Dilma, com seu Estado natal. Quantas vezes esteve aqui para pedir
votos para a Presidência da República, dizendo-se a maior mineira
de todas. Em segundo lugar, cito a ingratidão do governo federal,
do Presidente Lula, com o Vice-Presidente José Alencar, que, em
todos os momentos dificílimos do governo, com denúncias
gravíssimas que sequer foram apuradas, esteve sempre a seu lado,
estendendo-lhe a mão. Agora, recebe como pagamento uma obra dessa
natureza, uma medida provisória absurda que só prorroga a guerra
fiscal entre os Estados. Em terceiro lugar, é importante
relembrarmos que, à época da instalação da Fiat em Minas Gerais, o
Estado, para viabilizá-la, já que a empresa não tinha condições
para tal no momento, foi seu sócio. Durante muitos anos, o governo
indicava seu Presidente - meu conterrâneo, Miguel Augusto
Gonçalves de Souza, foi um deles. É, portanto, uma ingratidão
tremenda dessa empresa com um Estado que a recebeu de braços
abertos e faz com que ela tenha, no Brasil, a maior operação
automotiva do grupo no mundo. Em quarto lugar, é um absurdo o que
o governo federal faz com nosso Estado no momento. Quando a
empresa se instalou no País, nenhum incentivo foi dado para
viabilizar a instalação de suas fábricas em Minas. Agora, fazem
tudo para retirar investimentos daqui. Ressalto que, naquele
momento histórico, o Estado se endividou.
Há até irresponsabilidade fiscal, como bem disse o Deputado
Gustavo Valadares. Precisamos levantar a voz deste Parlamento. É
preciso fazer algo para evitar que a medida provisória prossiga e
que a guerra fiscal entre em um círculo vicioso, e não virtuoso,
comprometendo as finanças de todos os Estados nesse pacto
federativo injusto, para não dizer - usarei uma palavra chula -
“sacana”. Muito obrigado pelo aparte.
O Deputado Domingos Sávio - Deputado Neider Moreira, sou eu quem
agradeço. Concluo, Sr. Presidente, lembrando que, contrariando
tudo o que o PT pregou contra os incentivos fiscais, o Presidente
Lula, no apagar das luzes, vem com uma medida provisória e
prorroga até 2020 o incentivo fiscal, ou seja, a guerra fiscal,
fazendo a covardia de dar incentivo a uma empresa que já está
instalada no Brasil. Por que o Presidente não foi buscar uma
empresa cujas instalações ainda não estão no País? Não, ele foi
buscar uma empresa mineira, para nos criar toda essa dificuldade.
Com certeza, toda a Assembleia mineira e todos os 53 Deputados
Federais eleitos por Minas precisam se unir e fazer uma oposição
rigorosa perante o governo federal, sem aceitar essa atitude
covarde contra Minas Gerais impetrada pelo Presidente Lula no
apagar das luzes de seu mandato.
O Deputado Ademir Lucas (em aparte) - Gostaria de cumprimentar V.
Exa. pelo pronunciamento em defesa das causas de Minas.
Lamento profundamente que, no apagar das luzes do seu governo, o
Presidente Lula promova uma verdadeira traição ao povo de Minas
Gerais. Passadas as eleições, quando não precisa mais do povo,
apunhala Minas Gerais com essa atitude de alterar medidas
provisórias, de conceder incentivos e de buscar aumento das
próprias receitas dos Estados para atender a compromissos
politicamente pessoais e prejudiciais a Minas Gerais. Em mandatos
anteriores, votei neste Parlamento recursos do Estado de Minas
Gerais, dinheiro do povo mineiro a ser colocado numa parceria, sem
o que essa empresa não se instalaria em Minas Gerais. Isso é
lamentável. Imagino até mais, Deputado Domingos Sávio: que o
Presidente Lula, para fazer média, efetuou um acordo com o
Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, a fim de construir uma
refinaria em Pernambuco. O Presidente Chávez saiu fora. Não fará
mais a refinaria, não concederá recurso e, agora, o Presidente
Lula quer fazer média com recursos de Minas Gerais, levando-os
para Pernambuco. Joga nosso Estado contra os pernambucanos para
pagar uma dívida que não é nossa.
Minas Gerais investiu muito na Fiat Automóveis e não merecia essa
atitude do governo. O Presidente, ao sair, mancha sua biografia
com essa atitude contra o povo e contra o Estado de Minas Gerais,
que liberou seu dinheiro suado a fim de trazer a Fiat para Minas
Gerais. A decisão do Presidente altera a medida provisória e cria
incentivos para a aplicação de recursos, atitude que deveria ser
discutida na Justiça para que os recursos fossem destinados a
Minas Gerais. É lamentável que Lula, ao encerrar seu mandato,
viole e manche, mais uma vez, a sua biografia, fazendo isso com
Minas e com os mineiros. Essa é uma atitude de lesa-pátria contra
Minas. Deveríamos aproveitar esse resto de mandato, de três ou
quatro dias, para votar um ato de protesto contra o Presidente
tornando-o “persona non grata” ao Estado de Minas Gerais.
O Deputado Domingos Sávio - Deputado Ademir Lucas, quero dizer a
V. Exa. que encaminharei requerimento de repúdio a essa
iniciativa, o qual exija tratamento adequado e justo para com
Minas Gerais. Quero também deixar registrado nos anais desta Casa
um apelo à Presidente que ainda não tomou posse e que veio aqui
nos lembrar que é mineira. Ela tem a oportunidade de iniciar o
mandato mostrando que é mineira. Mais que isso, que é uma
brasileira sensata e republicana, que respeita a todos, não
permitindo essa atrocidade contra Minas Gerais.
O povo mineiro é um povo generoso porque tem memória. Só pode ser
generoso quem é capaz de se lembrar e reconhecer o que foi feito.
É bom que o Presidente Lula saiba que somos generosos. Justamente
por isso, por termos memória, não esqueceremos que fomos
apunhalados pelas costas e covardemente subtraídos. Sua
Excelência, por meio de uma medida provisória, promove a
transferência de investimentos da Fiat, que seriam destinados a
Minas, para Pernambuco, com incentivos fiscais. Todas as empresas
de peças e todos os empregos gerados passarão a ter incentivo
fiscal em Pernambuco por uma decisão do governo federal. Isso é
traição ao povo mineiro.
O Deputado Zé Maia (em aparte)* - Só uma informação, Deputado
Domingos Sávio. A ida para Pernambuco não é uma mera coincidência.
A matéria do Carlos Lindenberg destaca bem essa questão.
Pernambuco é a terra natal do Presidente Lula, que está traindo
Minas Gerais.
O Deputado Domingos Sávio - V. Exa. recapitula o que disse na
abertura da minha fala.
O Presidente foi dar um presente para a sua terra natal - nada
contra isso -, só que tirou dos mineiros, tomou de Minas Gerais.
Lula apunhalou pelas costas e promoveu uma atitude não
republicana, uma atitude que desequilibra o pacto federativo, que
prorroga a questão do incentivo fiscal até 2020. Isso piora a
situação, porque estabelece que uma simples fábrica de chicote -
cabo elétrico, chicote do automóvel -, adquirida pela Fiat, possa
ser transformada num montadora de automóveis. Isso é uma chicotada
que o Presidente Lula está dando no povo mineiro.
* - Sem revisão do orador.