DEPUTADO CARLOS MOSCONI (PSDB)
Discurso
Comenta a reunião da Comissão de Saúde com autoridades e técnicos da
Secretaria de Estado da Saúde para tratar das medidas preventivas contra
a bactéria multirresistente Klebsiella Pneumonial Carbapenemases - KPC -
no Estado. Comenta as providências do Ministro da Saúde, José Gomes
Temporão, para regular a venda de antibióticos no País e a carência de
médico no serviço público de saúde.
Reunião
78ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/11/2010
Página 49, Coluna 3
Assunto SAÚDE PÚBLICA. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/11/2010
Página 49, Coluna 3
Assunto SAÚDE PÚBLICA. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
78ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 27/10/2010
Palavras do Deputado Carlos Mosconi
O Deputado Carlos Mosconi - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
telespectadores da TV Assembleia. Venho à tribuna fazer alguns
comentários a respeito do surto de infecção bacteriana que está
ocorrendo em alguns hospitais de Brasília e preocupando não só a
população do Distrito Federal, mas também do País inteiro. Hoje,
fizemos uma reunião na Comissão de Saúde com autoridades e
técnicos da Secretaria de Estado de Saúde, especialmente da
Vigilância Sanitária. Estiveram presentes as Sras. Adriana
Zapaterra e Nádia Aparecida, que trouxeram informações a respeito
das providências que a Secretaria vem tomando para que esse surto
não ocorra em Minas Gerais.
Tivemos uma reunião longa e produtiva com as referidas técnicas,
muito competentes e solícitas, que trouxeram informações
necessárias para tranquilizar a opinião pública de Minas Gerais a
respeito desse tipo de infecção. Não há nenhum indício de que esse
surto possa ocorrer no Estado, apesar de já existirem alguns casos
detectados, mas nada fora da rotina, felizmente sem nenhuma vítima
fatal. A posição da Secretaria é de que Minas está tranquila com
relação a essa questão até o presente momento.
As providências cabíveis para prevenção já foram tomadas, entre
elas o envio a todos os hospitais de Minas Gerais de um alerta
técnico feito pela Secretaria preconizando medidas preventivas.
Segundo a Vigilância Sanitária de Minas Gerais, a simples
existência nos hospitais do Estado de comissões de controle de
infecção hospitalar, desde que funcionem adequadamente, já seria
suficiente para conter o problema no âmbito desses hospitais.
Saber que o Estado já teve a atenção chamada firmemente para essa
questão nos tranquiliza, e a divulgação feita hoje pela TV
Assembleia ajuda a levar essa informação a todas as cidades
mineiras que recebem nossa transmissão.
Mas aproveitamos a ocasião para discorrer um pouco sobre a
realidade do sistema de saúde do País e as medidas tomadas pelo
Ministro da Saúde, Temporão, a respeito do problema. A situação em
Brasília, onde 18 pacientes internados nos hospitais da cidade
vieram a falecer, é grave e muito preocupante. A respeito, o
Ministro já tomou algumas medidas preventivas mais corriqueiras,
como a higienização do pessoal que trabalha em hospitais - hoje
não se diz mais lavar as mãos, mas higienizá-las, o que, nesses
ambientes, é fundamental e indispensável - e a restrição ou
diminuição de visitas a esses locais - embora as infecções mais
graves ocorram mais frequentemente nas UTIs. Além dessas medidas
já determinadas - limpeza, higiene do hospital e cuidado com as
pessoas que o frequentam -, há uma medida importantíssima,
fundamental: a proibição da venda de antibióticos sem receita
médica pelas farmácias do Brasil.
Fato é, Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, que
hoje estamos pagando o preço da nossa incompetência e omissão. O
uso indiscriminado de antibióticos de todas as espécies - da
primeira à última geração, dos mais leves aos mais fortes - leva a
situações como essa. As bactérias vão passando por transformações
e adquirindo resistência aos antibióticos usados inadequadamente,
porque sem orientação médica. O indivíduo consulta na farmácia o
antibiótico que pode ministrar para sua criança, que está com
febre, e, embora não saiba o que tem a criança ou mesmo outro
paciente, o farmacêutico, até mesmo de boa-fé, indica um
medicamento. Ora, esse medicamento, que pode não ser o indicado
para a doença da pessoa em questão, que ninguém sabe ao certo qual
é, ainda é usado em dose muito menor do que a correta, o que acaba
sendo muito prejudicial para aquele paciente e para os demais,
porque as bactérias vão adquirindo uma resistência enorme,
ocasionando situações como essa. No caso em questão, falam até de
uma superbactéria, nome incorreto, porque não se trata nem mesmo
de bactéria, mas de uma enzima produzida por algumas bactérias,
que provoca todo esse dano, levando alguns pacientes até à morte.
Assim, o uso indiscriminado de antibióticos tem de ser contido de
toda maneira no Brasil. Não podemos mais conviver com essa
situação, que leva a problemas como o que enfrentamos hoje.
Naturalmente, muitos doentes não morreram por essa razão, mas as
doenças vão tendo o tratamento muito dificultado em função desse
vício - vício mesmo - que tem o Brasil, até por uma questão
cultural.
Bem, o Ministro tomou essa providência e quero dizer que no
Congresso Nacional há muitos projetos de lei que visam à proibição
da venda de remédios, principalmente de antibióticos, sem receita.
Mas, porque esses projetos de lei vão contra interesses comerciais
de grandes indústrias, sua tramitação em Brasília acaba
emperrando, Sr. Presidente, lamentavelmente.
É uma lástima dizer isso, mas é verdade. Os projetos não andam,
porque ferem os interesses comerciais, a ganância das indústrias,
que não abrem mão de poder vender livremente o seu produto,
causando prejuízo à saúde da população indiscriminadamente.
O Ministro tomou a providência, que louvamos e esperamos que seja
cumprida. Porém, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na
reunião, chamamos a atenção para uma questão que nos parece
extremamente importante. Será que o Brasil tem condições de fazer
com que toda a sua população receba receitas médicas em mãos? Será
que toda a população brasileira - das grandes cidades, das cidades
pequenas do interior - que tem uma pessoa doente na família, ao
levá-la a uma unidade de saúde, seja lá o que for - um pequeno
posto de saúde, uma unidade básica de saúde, um pronto
atendimento, um hospital -, pode receber uma receita médica
naquele momento? Essa é uma situação delicada com que o País se
deparará depois dessa resolução do Ministro, porque entendemos,
Sr. Presidente, que o Brasil não tem condições para isso. Não
quero dizer com isso que o Ministro não deveria ter tomado essa
decisão. Ela é necessária até para expor a precariedade e a
fragilidade do nosso sistema, fazendo com que ele possa se adequar
para cumprir uma norma tão importante. Agora poderemos observar,
com todas as letras, as pessoas reclamarem que não conseguiram uma
receita para o filho doente, com febre de 40°, com dor de ouvido e
de garganta. E não conseguirão essa receita amanhã nem depois de
amanhã. Como farão?
Essa situação mostra a precariedade e a pobreza do nosso sistema
de saúde, no qual precisamos investir. Lamentavelmente, isso
ficará mais evidenciado agora. Queremos que essa norma seja
cumprida. Vamos fazer com que o programa Saúde da Família se
espalhe muito mais pelo País inteiro, para atender a toda a
população brasileira. Se hoje os PSFs estivessem funcionando, com
equipes, não teríamos esse problema, pois haveria médicos à
disposição da população durante as oito horas do dia,
providenciando um tratamento que não apresenta sofisticação
alguma, nenhuma dificuldade, que pode ser feito com a maior
facilidade em qualquer cidade. Não é preciso estrutura grande,
cara, nada disso. É preciso decisão e vontade dos nossos
governantes para que os PSFs sejam implementados em todo o País.
Com medidas competentes, altamente eficientes e baratas,
perfeitamente possíveis de serem adotadas no País, salvaremos um
número grande de pacientes.
Sr. Presidente, trouxe aqui a notícia de que a situação no Estado
de Minas Gerais é bastante razoável e que, felizmente, a
Secretaria de Saúde já tomou providências que visam conter o que
poderia ser uma situação preocupante, com o início dos surtos de
infecção no Estado, causados por bactérias muito difíceis de serem
combatidas. Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado.