DEPUTADO CARLOS MOSCONI (PSDB)
Discurso
Comenta a criação do Fundo Estadual do Café, anunciado pelo Governador
Antonio Augusto Junho Anastasia em visita ao Município de Varginha.
Comenta a falta de política do Governo Federal para o café e os programas
de apoio aos produtores de café do Governador Aécio Neves.
Reunião
68ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 15/09/2010
Página 40, Coluna 2
Assunto AGROPECUÁRIA.
Aparteante ADELMO CARNEIRO LEÃO.
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 15/09/2010
Página 40, Coluna 2
Assunto AGROPECUÁRIA.
Aparteante ADELMO CARNEIRO LEÃO.
68ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 8/9/2010
Palavras do Deputado Carlos Mosconi
O Deputado Carlos Mosconi* - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e
Srs. Deputados, visitantes das nossas galerias, telespectadores da
TV Assembleia. Venho fazer um comunicado muito importante para o
Estado de Minas Gerais, que diz respeito a uma iniciativa do
Governador Antonio Anastasia. Em visita a Varginha, na semana
passada, com o ex-Governador Aécio Neves, o Governador Anastasia
comunicou a criação do Fundo Estadual do Café. Há muito tempo essa
providência era esperada pelos cafeicultores de Minas Gerais.
Alguns antecedentes podem justificar a iniciativa do Governador,
tomda com muita base, competência, cautela, sensibilidade e
procedência após um longo estudo. O Brasil é o maior produtor de
café do mundo, sendo que 50% do café brasileiro é produzido em
Minas Gerais. Portanto, o nosso Estado é o maior produtor de café
do País. O café é diversificado em algumas regiões do Estado - Sul
de Minas, Zona da Mata, cerrado mineiro - e chegou ao Sul de Minas
há mais de 100 anos, para ficar. Nas últimas décadas, essa
atividade tem enfrentado crises inesgotáveis. O produtor de café é
um herói, pois, não se sabe como, consegue manter sua atividade
firme, embora com péssima remuneração e sem nenhum tipo de lucro
após um ano exaustivo de trabalho. É preciso trabalhar todo o ano
intensamente; após esse ano de luta, o resultado é negativo.
Esse quadro vem persistindo ao longo dos anos, sem que grande
parte dos produtores rurais tenha tomado outra direção e mudado de
atividade econômica. Isso é muito importante, porque o café, além
da estabilidade financeira que poderia trazer, o que,
lamentavelmente, não tem acontecido nos últimos anos, também
funciona como um fator de equilíbrio social no meio rural, gerando
trabalho durante todo o ano, principalmente na época da colheita.
Com a lavoura do café, durante todo o ano o trabalhador rural tem
emprego.
Essa situação já vem se arrastando há tempos. Durante meus
mandatos de Deputado Federal, acompanhei de perto e intensamente
as negociações relativas ao café em Brasília. Vários parlamentares
e membros do Congresso Nacional tínhamos uma atividade intensa com
o governo federal relativamente ao café. Algumas vezes, essas
atividades resultavam em êxito parcial, mas na maioria das vezes
em nada resultavam. A situação do café foi mudando no País e no
mundo, o mercado internacional foi se ampliando e a qualidade do
café tornou-se uma questão crescente e fundamental. O Brasil,
continuando a ser o primeiro produtor de café do mundo, vê-se às
voltas com países como Alemanha, que é o grande exportador de café
do mundo sem produzir um grão sequer. Ou seja, quem ganha dinheiro
com o café do Brasil não são os produtores brasileiros nem mesmo o
próprio Brasil, mas os comerciantes internacionais. Assim, a
situação atual é aparentemente favorável, porque o mercado é
crescente - o consumo tem aumentado gradativamente em todo o
mundo, mesmo no Brasil -, mas, infelizmente, a receita não aumenta
na mesma proporção. Então, por muitos anos passamos por essa
chamada crise do café, que culminou com uma reunião realizada no
ano passado, em Varginha, onde se encontraram aproximadamente 30
mil produtores de café e as lideranças do setor em todo o Brasil,
sob o comando do Conselho Nacional do Café, representado por seu
Presidente, Gilson Ximenes.
Hoje, a situação é um pouco diferente porque, por várias razões,
o preço do café está um pouco melhor do que há alguns meses: é
mais convidativo e faz mais justiça ao produtor. Mas, apesar dessa
mudança, quero dizer, Sr. Presidente, que, nas negociações feitas
com as autoridades do café em Brasília, a situação não mudou nem
um centímetro. É verdade que o governo federal nunca fechou as
portas para a negociação - sempre esteve pronto para negociar -,
mas não foi feito nada de positivo ou concreto que pudesse mudar
um pouco a perspectiva e o panorama do café no País, dando
tranquilidade tanto ao produtor quanto ao trabalhador rural. Pelas
inúmeras e infindáveis negociações que foram feitas, que apontavam
para uma perspectiva positiva, os produtores sempre ficaram com a
expectativa de que as coisas iriam dar certo, mas isso nunca
aconteceu. A verdade é que o governo federal nunca tomou sequer
uma medida concreta a partir da qual pudéssemos entender que as
coisas, agora sim, iriam mudar. Não estou nem me referindo à
questão das dívidas, que implica uma negociação muito mais ampla,
profunda e abrangente e envolve segmentos importantíssimos do
café, que não têm dívida alguma. Quanto aos que têm alguma dívida,
é normal que, se há segmentos de uma atividade econômica
importante como o café que tenham dívidas, a negociação seja feita
com os bancos, as instituições bancárias e financeiras. Mas a
negociação era muito mais ampla do que isso e envolvia questões
muito mais profundas do que o endividamento. Na verdade, não se
estava negociando o endividamento, mas a situação do café em nosso
país. Tudo isso tem levado o café a esse quadro de frustração.
Diante disso, há mais de um ano começamos a conversar com o
governo de Minas Gerais e as autoridades e lideranças do café no
Estado - em que incluo sempre o Conselho Nacional do Café, pela
importância de sua atuação. O Governador Aécio foi extremamente
receptivo a esse início de conversa e até mesmo liderou o pós-
movimento de Varginha junto ao governo Federal, levando-lhe nossas
reivindicações. O Governador lutou estoicamente a favor da
cafeicultura mineira e nacional, mas, infelizmente, não obteve
êxito junto ao governo federal. A partir daí, em Minas, começamos
a pensar que, se o governo federal entende que o café não é mais
tão importante para a economia do País como no passado, o governo
mineiro não pode ter o mesmo entendimento. O governo de Minas tem
de entender que o café é muito importante para a economia do
Estado, além de ser um enorme fator de equilíbrio social, com a
geração de milhões de empregos em Minas Gerais - empregos com
estabilidade, que poderiam gerar salários e condições de trabalho
bem razoáveis.
Dessa forma, Sr. Presidente, em novembro do ano passado,
realizamos uma audiência pública na Assembleia com a presença do
Secretário de Agricultura, Dr. Gilman Viana; do Secretário de
Ciência e Tecnologia, Dr. Alberto Portugual; do então Vice-
Governador, Antonio Anastasia; de lideranças da área agrícola da
Casa e ainda de parlamentares de Brasília que aqui estiveram. Essa
reunião foi exatamente para chamar a atenção do governo de Minas
para um problema tão grave, ao qual o Estado não pode apenas
assistir de longe: o encaminhamento das questões relativas ao
café. Minas deve participar dessas questões de peito aberto e
buscar profundamente soluções para o problema. O Governador Aécio
e o Vice-Governador Anastasia mostraram-se extremamente sensíveis
à questão. Sempre quiseram levar essa conversa adiante, ouvir
lideranças e especialistas - em Minas há muitos especialistas
competentes e experientes, alguns estão fora de Minas, em outros
Estados do Brasil.
A partir dessa conversa e de outras medidas tomadas há algum
tempo pelo governo mineiro, como a certificação de café, a criação
dos centros de excelência do café - um deles, que é
superimportante, é o de Machado, no Sul de Minas -, visando à
melhoria da qualidade do produto oferecido à população do País e
do exterior, oferecendo outra configuração do café ou até mesmo da
sua remuneração, por meio de um processo de melhoria de qualidade,
avançamos de modo a que Minas pudesse entrar na definição da
política adequada do café para nosso Estado e nosso país. Queremos
que Minas Gerais lidere uma política do café para o Estado e para
o País, pois terá mais sensibilidade para se envolver na questão.
Com a criação do fundo, apesar de ser apenas uma ideia, mas uma
forte iniciativa do governo, Minas Gerais terá recursos para dar
certa sustentação, no bom sentido da palavra, à atividade do café.
Ou seja, irá estabelecer preço mínimo, investir pesadamente na
pesquisa, fazendo com que haja melhoria considerável da qualidade
do nosso café. O café de Minas, do cerrado, do Sul de Minas e da
Zona da Mata, possui grande qualidade no País.
Enfim, Sr. Presidente, trata-se de uma iniciativa que honra Minas
Gerais, que mostra sua competência em um setor tão tradicional do
Estado, que não pode acabar. Em algumas regiões, muitas vezes a
atividade agrícola tem certa dinâmica, mas, por razões
tecnológicas, climáticas ou de outras naturezas, essa atividade se
transfere para outras regiões. No caso de Minas, temos como
exemplo a minha região, Sul de Minas, onde o café é a maior
riqueza. Há mais de 100 anos, ele chegou lá, de onde não quer sair
mais.
O Deputado Adelmo Carneiro Leão (em aparte)* - Deputado Carlos
Mosconi, agradeço-lhe a oportunidade. A política do café é uma
questão que também me inquieta, pois envolve a necessida de
fortalecermos nossa agricultura. Ouço V. Exa. falar com ênfase da
sensibilidade do governo, que há oito anos está aqui. O que é a
política do café e o que o governo do Estado de Minas Gerais
ofereceu aos produtores? Apenas sensibilidade? A pergunta não é
dirigida a V. Exa., mas ao governo. Que sensibilidade é essa em
que se fazem audiência pública, debates, discussões sem que esse
pessoal tenha recebido efetivamente apoio em termos de política de
Estado e de governo para garantir a rentabilidade e a
sustentabilidade da política do café? Será que acontecerá como as
outras propostas para o próximo ano?
O Deputado Carlos Mosconi* - Caro Deputado Adelmo Carneiro Leão,
essa proposta foi lançada agora. Apenas estava fazendo uma
comparação entre a sensibilidade do governo do Estado e a do
governo federal, pois, no último caso, não há nenhuma no que diz
respeito ao café. Participei de “n” negociações em Brasília.
O governo federal acha que café já era, não existe mais, enquanto
para nós, em Minas Gerais, ele é fundamental, pois gera milhões de
empregos. V. Exa. conhece muito bem o Estado e sabe o que estou
dizendo. Encontramo-nos outro dia em Machado, uma forte produtora
de café, onde há um centro de referência de qualidade de café
criada pelo governo do Estado.
Digo que o governo manteve a sensibilidade porque ele nos ouviu.
Fizemos audiência que teve como resultado Minas entrar na questão
do café. E entrou. Entrou criando o Fundo Estadual do Café, caro
Deputado. Passamos alguns anos cobrando isso de Brasília, sem
nenhum resultado, e felizmente foi diferente em Minas. Minas teve
sensibilidade, o Governador Aécio Neves foi muito competente, e o
Governador Anastasia foi muito pronto a entrar e resolver uma
questão crucial para a atividade econômica do Estado e para a
geração de emprego com estabilidade social: o café.
Meu caro Deputado, agradeço o aparte de V. Exa., que sempre
enriquece nossos pronunciamentos. Estou aqui para cumprimentá-lo e
mostrar que o governo de Minas felizmente demonstrou essa
sensibilidade e resolveu entrar na definição de uma política
adequada para o café, criando, para começar, o Fundo Estadual do
Café. Muito agradecido.
* - Sem revisão do orador.