DEPUTADO JOÃO LEITE (PSDB), Presidente "ad hoc".
Discurso
Presta esclarecimentos sobre a realização dos debates.
Reunião
61ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/09/2010
Página 108, Coluna 1
Evento Fórum Técnico: "Segurança Pública: Drogas, Criminalidade e Violência".
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA. DROGA.
Observação Paticipantes dos debates: Hélio Emiliano Moreira, Júnior de Sabará, Ricardo Brisolla Balestreri, Raimundo Nonato Rodrigues Júnior, Deputado Sargento Rodrigues, Eduardo Costa, Moacyr Lobato de Campos Filho, Alan Vinícius de Abreu Louredo, Cláudio Corrêa, Aloísio Andrade, Roges Carvalho, Clóvis Carvalho, Hélcio Lúcio Alves Júnior.
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/09/2010
Página 108, Coluna 1
Evento Fórum Técnico: "Segurança Pública: Drogas, Criminalidade e Violência".
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA. DROGA.
Observação Paticipantes dos debates: Hélio Emiliano Moreira, Júnior de Sabará, Ricardo Brisolla Balestreri, Raimundo Nonato Rodrigues Júnior, Deputado Sargento Rodrigues, Eduardo Costa, Moacyr Lobato de Campos Filho, Alan Vinícius de Abreu Louredo, Cláudio Corrêa, Aloísio Andrade, Roges Carvalho, Clóvis Carvalho, Hélcio Lúcio Alves Júnior.
61ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 11/8/2010
Palavras do Deputado João Leite
Esclarecimentos sobre os Debates
O Sr. Presidente - Neste instante, daremos início à fase de
debates. A Presidência informa ao Plenário que os participantes
poderão formular perguntas por escrito ou oralmente, mediante
inscrição prévia e ficha própria distribuída pelas recepcionistas.
Esclarecemos que os interessados já encaminharam as suas
inscrições e seus questionamentos durante o transcurso das
intervenções. Informamos que também os telespectadores da TV
Assembleia poderão participar dos debates. Para isso, basta que
acessem o “site” da Assembleia, www.almg.gov.br, e preencham o
formulário para o envio de perguntas ou que liguem para o telefone
08007092564.
Debates
O Sr. Presidente - Há uma pergunta dirigida a mim, feita pelo Sr.
Hélio Emiliano Moreira, da Associação Batista Bem Viver: “Como
dinamizar e apoiar, de forma intersetorial e transversal, o
esporte para a juventude, evitando o caminho das drogas?”. O
esporte é, sem dúvida, algo fundamental. Estou vendo a Nísia, do
Conselho Regional de Educação Física, e sabemos como essa
disciplina é importante para nossas crianças e jovens. É preciso
investir na escola. O governo de Minas tem conseguido uma grande
vitória no esporte. Hoje está sendo realizada, em Patos de Minas,
a etapa final dos Jogos Escolares de Minas Gerais, com uma
presença histórica de 609 cidades e de muitas escolas. Tivemos um
grande esforço da Assembleia Legislativa, que aprovou para o
esporte o projeto estruturador Minas Olímpica. Os jogos escolares
são financiados com recursos do Estado, com um grande esforço da
Assembleia Legislativa. É importante lembrar que, amanhã, a
Secretária Renata Vilhena falará sobre como unir as outras
secretarias para apoiar a defesa social na prevenção da
criminalidade.
Há uma pergunta para o Secretário Balestreri e outra para o
Secretário Moacyr. A primeira veio por “e-mail” do Júnior, de
Sabará. Ele diz: “A partir do governo FHC, e até no governo Lula,
houve um fortalecimento do projeto neoliberal. Consequentemente,
há uma precarização das políticas sociais de segurança,
assistência social e educação.
Então qual é a influência da onda neoliberal nas políticas
públicas de segurança?”. A segunda pergunta que faz é a seguinte:
“Até então o Brasil não tem fábrica de armas nem plantação de
cocaína em larga escala. Por que o governo não investe maciçamente
no combate ao tráfego de drogas?”.
O Secretário Ricardo Brisolla Balestreri - Antes, Presidente,
gostaria de saber se teremos oportunidade de comentar a fala do
nosso querido Eduardo, que levantou questões fundamentais.
O Sr. Presidente - Claro. O senhor pode até se manifestar agora,
se quiser. Mas, se permite, Secretário, há aqui outra pergunta, do
Raimundo Nonato Rodrigues Júnior, que lhe é dirigida e que quero
ler de uma vez: “Por que o Pronasci é só para Agentes de Segurança
Pública de carreira e não se amplia para os de contratos
temporários e Agentes Socioeducativos, a fim de promover a
educação?”.
O Secretário Ricardo Brisolla Balestreri - Em primeiro lugar,
gostaria de fazer um comentário sobre a fala do Eduardo Costa, que
achei saborosa. Costumo ser muito transparente e digo claramente a
verdade em relação ao que temos hoje em termos de deficiências e
de avanços. Penso que o Eduardo expôs muito bem as questões e, com
a transparência que tenho, quero dizer que fico feliz em ver um
jornalista com muito conhecimento de segurança pública e de temas
sofisticados, por exemplo, a leitura do Robert Putnam, um dos
autores referenciais da ONU no campo da segurança pública. Isso
muito me apraz, porque acho que a mídia brasileira fica muito a
dever do ponto de vista de formação em segurança. No Viva Rio, em
São Paulo, encontrei um dos Diretores da maior rede nacional de
televisão e propus-lhe que pensássemos em, juntos, montar um curso
de segurança pública para jornalistas, sem nenhuma cara chapa-
branca ou qualquer coisa assim, mas para que tivéssemos mais
pessoas com uma formação como a sua, Eduardo. Sem querer fazer
média, não é a primeira vez que encontro jornalistas de muita
qualidade em Minas, entre eles pessoas que até sofreram
perseguições de órgãos jornalísticos exatamente por terem muita
qualidade - no meio da mídia, hoje, o excesso de qualidade é
também um problema, do ponto de vista dos donos, embora não de
todos, evidentemente, mas de parte deles.
À guisa de anedota, quero dizer, rapidamente, que há algum tempo
fui entrevistado por uma jornalista de um grande “site” brasileiro
que havia assistido a uma palestra que ministrei no Parlamento,
sobre direitos humanos e segurança pública. A jornalista, uma
pessoa visivelmente bem-intencionada, ficou muito entusiasmada e
resolvi conversar um pouco com ela. Nessa 1 hora de conversa,
disse-lhe que precisamos reduzir a letalidade policial; precisamos
introduzir, ao lado da arma letal, as armas menos letais ou não
letais, como queiram defini-las os especialistas; precisamos de um
policial que não ande só de viatura, mas que ande a pé, que é uma
forma nobre de conviver com a comunidade - não que deva ficar como
um poste, na rua, mas andar, andar de bicicleta, enfim, circular,
conversar e conviver com a comunidade. Aparentemente, ela achou
aquilo uma maravilha e, no dia seguinte, às 16 horas, horário
nobre, com direito à participação popular, publicou uma matéria em
que dizia, mais ou menos, que o Secretário Nacional de Segurança
Pública defende o desarmamento da polícia e a troca da viatura
pela bicicleta. Durante aproximadamente um mês fui o sujeito mais
xingado do País. Alguns “blogs” de policiais do Rio de Janeiro
chegavam a dizer que, quando eu fosse ao Rio, iriam me fardar, me
colocar em uma bicicleta e me deixar, desarmado, no Complexo do
Alemão, para fazer uma experiência.
Assim, fico muito feliz ao ver jornalistas de qualidade, porque
não temos de nos preocupar com o bê-á-bá das coisas de segurança
pública. É preciso haver uma formação melhor nessa área. A
segurança pública é hoje um tema essencial para a sociedade
brasileira, e precisamos que a mídia também forme melhor os
jornalistas nessa área. Assim, de todo coração, digo que fiquei
encantado em ver o seu conhecimento, a sua coragem e, ao mesmo
tempo, o seu espírito leve.
Sobre a sensação de ausência, de impunidade, concordo plenamente
com você, como já falei aqui mesmo, em Minas. Ao fazer esse
comentário, estarei respondendo a algumas perguntas que me foram
dirigidas: acho que essa sensação é oriunda do tipo de modelo de
segurança pública que temos no Brasil.
Realizamos muitos trabalhos no governo federal, do ponto de vista
de alteração da conjuntura e da cultura de segurança pública. No
entanto, o País ainda está nos devendo a reforma da segurança,
precisamos fazê-la. Seja qual for o próximo governo, espero que a
faça. De maneira bem específica, que faça a reforma das polícias.
Concretamente, há a sensação de ausência e de impunidade, não por
culpa dos policiais, mas do modelo. O Brasil é o único País do
mundo que tem duas meias polícias não interdependentes - se fossem
assim, seria bom -, mas intersubmetidas, ou seja, uma atrapalhará
a outra eternamente.
Eis uma polêmica, e não é posição do governo federal em consenso,
mas todos sabem que é a minha posição: como em todo o mundo
civilizado, precisamos trabalhar de forma integrada que não passe
pelo casamento, mas passe pelo divórcio absoluto das polícias. Em
qualquer país civilizado as polícias atuam de maneira divorciada e
por meio de cercos completos de polícia. Às vezes, quando dizemos
isso, interpretam como se tirássemos o poder de uma instituição.
Aqui no Brasil há uma fissura pelo poder, às vezes nos esquecemos
do bom atendimento à população. Este país precisa de instituições
nobres e respeitadas, o que chamamos de Polícia Civil e Militar
que tenham completude no seu fazer em áreas diferentes, de forma
que uma não entre em competição com a outra. Em diversos países as
áreas diferentes são geográficas. Pela complexidade do Brasil,
isso não seria permitido; mas, por exemplo, poderíamos atuar num
modelo de diferenciamento da atuação policial pelo tipo penal de
crime. Ou seja, uma polícia atuaria em crimes contra o patrimônio
e a outra em crimes contra a vida.
Para não parecer teórico, serei concreto: o cidadão tem a
sensação de que não adianta nada denunciar, pois, em que pese a
boa vontade e o heroísmo dos nossos policiais, que devem ser
aplaudidos, não são eles que estão mal, mas o sistema, que é ruim
e não foi repensado. Delitos aparentemente menores, mas altamente
lesivos, como, por exemplo, o estelionato, em muitas partes do
País são tratados como algo menor. Particularmente conheço casos
em que dizem: “Meu amigo, aqui mal conseguimos tratar dos
homicídios, como iremos trabalhar com estelionato?”. Esse crime
destrói a vida das pessoas. Por uma herança do modelo, o cidadão
deste país tem a sensação de que não adianta nada ir ao cartório.
Os governos transformaram ou tentam transformar a nossa Polícia
Civil, com grande vocação de investigação - apesar do esforço dos
nossos policiais civis de não permitirem isso - em polícias
cartoriais, ou seja, em policiais ou burocratas responsáveis por
registros de ocorrência atuando por detrás das mesas. Esse
cartório é imensamente aplastante para uma polícia com pequeno
efetivo. Eventualmente é preciso tomar uma decisão: ou
investigamos ou cuidamos do cartório, que acaba sendo exclusivo de
uma instituição para tratar de todos os crimes. O cidadão sabe que
fazer um registro de algo não fundamental em cartório não terá
consequência. Vou-me furtar de dizer-lhes, pois não gosto de
“ranking” e sinceramente não conheço nenhum caso em Minas, pois é
um dos Estados mais sofisticados do País em segurança pública.
Conheço imensas qualidades e também devem existir defeitos, pois
isso há em qualquer lugar, mas, do ponto de vista de sofisticação,
ele é um dos melhores sistemas. De maneira geral e como realidade
do sistema policial brasileiro, os cartórios funcionam muito mal.
Eduardo, a média de resolução de crimes de homicídio do País está
abaixo de 30%, uma tragédia. Um percentual baixo; significa que o
cidadão sabe que 70% dos casos de homicídio não são solucionados.
Como acreditará que outros tipos de crimes serão solucionados? É
um sistema maluco, que não funciona. Quando propomos reforma,
todos ficam muito preocupados em não perder poder e dizem: querem
tirar o meu poder. Fiquem com o poder da desmoralização de não
fazerem bem o trabalho, não permitam reformas, não tenham ousadia
alguma, mantenham tudo como está, não funcionando direito. Apesar
do heroísmo e da boa vontade dos Secretários, dos gestores e dos
que estão à frente do trabalho, esse é um sistema ruim, que deve
ser modificado. Apesar do muito que fizemos, muito ainda precisa
ser feito.
O sentimento de impunidade que o jornalista citou não se dá
somente na Justiça - e falamos muito da sua morosidade -, mas
começa no próprio sistema policial. Volto a dizer: a culpa não é
da polícia. Só é sua culpa quando não quer fazer reformas, mas
somente manter tudo como está para alcançar diferentes resultados.
Aliás, na psicologia, trata-se do princípio da loucura, ou seja,
esperam-se diferentes resultados fazendo-se tudo do mesmo jeito.
Quero dizer que o dinheiro para Minas Gerais foi apropriado. Mais
uma vez, serei contundentemente transparente. Em relação a esse
ponto de vista, Minas esteve bem com o governo federal, se bem me
lembro, em 2008, mas decaiu muito em 2009. Houve uma razão para
ter decaído. O Pronasci é talvez o único grande programa prático e
sistêmico de segurança pública da história brasileira, pois possui
grandes virtudes. Mas essas virtudes também trouxeram problemas.
Uma das coisas que mais cresceu no Pronasci foi o projeto Bolsa-
Formação. Quando disse a vocês que temos o maior programa de
formação policial do planeta, disse a verdade, sem nenhum
ufanismo. A cada quatro meses, há 200 mil policiais, bombeiros,
guardas-municipais e Agentes Penitenciários inscritos. No último,
em 24 horas, o sistema “no-break” caiu, pois quase 300 mil pessoas
tentaram se inscrever. Estamos pagando R$400,00 por mês a 174 mil
profissionais de segurança pública no País. São policiais que
ganham mal, eventualmente guardas e Agentes Penitenciários. Hoje
são investidos em torno de R$800.000.000,00 por mês para melhorar
um pouco a vida desses profissionais. Não sei como são os
proventos em Minas, mas sei sobre os do Rio Grande do Sul, meu
Estado. Pelo que me lembro, no Rio Grande do Sul, um Brigadeiro
ganha R$815,00. E R$400,00 a mais por mês pagos pelo governo
federal parecem pouco, mas fazem uma senhora diferença na vida
deles. Mas esse valor não é pago a troco de nada, e sim para o
policial estudar.
Quero dar uma notícia, Secretário, que muito nos orgulha a nós,
que defendemos a perspectiva de uma polícia não apenas
respeitadora, mas também protagonista de direitos humanos. O curso
voluntariamente mais procurado pelos policiais brasileiros é o de
direitos humanos, e sem que ninguém induza os policiais a fazê-lo.
Isso indica o valor da maior parte dos nossos policiais, que são
honestos, trabalhadores e dedicados, em que pese haver, como em
qualquer profissão de poder, alguns desviados de curso. Esse
trabalho que consome R$800.000.000,00, em 2009, deixou o Pronasci
numa baixíssima capacidade de investimentos. Não dá para retirar a
bolsa dos policiais. E é porque vai dar grita? Não, é porque estão
se qualificando; aliás, esse projeto exige que o policial tenha
ficha limpa. Assim, ele vai se esforçar mais para ganhar a bolsa e
se qualificar. Disse ficha limpa, denominação que, aliás, também
lembra outras coisas. Na realidade, para ganhar essa bolsa, exige-
se que o policial tenha ficha limpa também.
Estamos neste momento lutando para aumentar os recursos do
Pronasci. No segundo mandato de Lula, o governo federal aumentou
os recursos. No primeiro, foi pífio - sou muito franco com o meu
ponto de vista em relação a dinheiro. No segundo mandato, foi tão
pífio quanto no governo de Fernando Henrique. No segundo mandato
do Lula - vejam que sou franco em tudo -, aumentamos em cinco
vezes os recursos para a área da segurança pública. No entanto
ainda é muito pouco. Temos de nos aplaudir por isso, mas ainda
fazemos pouco. Por quê? Porque hoje investimos em torno de
R$2.000.000.000,00 por ano em segurança pública. No primeiro
mandato de Lula e no governo de Fernando Henrique, o investimento
era de R$400.000.000,00 a R$500.000.000,00. Estamos investindo.
Precisamos de R$8.000.000.000,00 a R$10.000.000.000,00. Aliás, a
Bolsa comeu, como disse, a maior parte dos recursos do Pronasci.
Tenho de dar um depoimento aqui. O governo de Minas Gerais, em
que pese ser de um partido de oposição ao governo federal, sempre
se portou muito bem. Algumas pessoas vão pensar se o que estou
dizendo é verdade. É época de campanha, mas a verdade está acima
de tudo. Não podemos tratar as pessoas como desinteligentes, como
burras, é preciso dizer a verdade. O governo de Minas sempre se
portou muito bem na relação com o governo federal. Em 2009, o
governo federal estava sem recursos para fazer o repasse. A boa
notícia é que o Governador fez uma visita ao Ministro Luiz Paulo
e, depois disso, nos novos programas, Minas está sendo tratada
merecidamente como prioridade, pelo seu esforço para um salto de
qualidade histórico na área da segurança pública. Alias, gostaria
de fazer um contraponto. O que define essas coisas não é a
situação de oposição.
Minas sempre manteve uma relação extremamente fina com o governo
federal, ao contrário de São Paulo, que sempre manteve com ele uma
relação extremamente grosseira e desinteligente. Nunca quis nenhum
tipo de parceria com ele. Notem que estou sendo imparcial, não
estou fazendo campanha para ninguém, pois estou falando de uns e
outros e dizendo que têm comportamentos diferentes. Temos que
honrar, em São Paulo, a Polícia Militar, no seu trabalho de
polícia comunitária, e também a Academia de Polícia Civil, que têm
sido antigas parceiras nossas, de qualidade. Entretanto, o governo
de São Paulo nunca quis fazer trabalho algum. Criou até
dificuldades para os policiais fazerem o curso universitário
gratuito que estávamos oferecendo - já que éramos nós que o
oferecíamos. E ressalto que não estávamos pedindo carteirinhas de
partido nem queríamos saber de que filiação eram as pessoas;
estávamos ali apenas para ajudar nossa polícia. Minas portou-se
muito bem e foi até insistente na parceria, mesmo quando tinha
pouco dinheiro, e o resultado dessa insistência - cobrem-me se não
for verdade, pois estou disponível - será uma grande melhora a
partir de agora, pois estamos angariando mais recursos.
A questão relativa a vagas também nos preocupa muito, tanto é
verdade que o Pronasci tem presídios para jovens adultos. Sou
muito franco ao dizer que o problema do sistema prisional
brasileiro não vai se resolver de uma hora para outra. Quero
apresentar um dado referente à questão das drogas que interessa a
esta plenária: no Brasil, cerca de 80 mil pessoas foram presas por
tráfico de drogas. Se vocês não viram essa pesquisa, que foi
patrocinada por nós, ficarão pasmos agora: dessas 80 mil, quase
90% foram presas sozinhas, desarmadas, sem cometer violência e são
primárias, ou seja, são pequenos traficantes. O problema é que,
nos presídios, estão sendo estragadas e cooptadas pelos grandes
traficantes. Batemos sempre nessa tecla porque não há outra em que
bater. Este país ainda não encara, com a devida seriedade e
profundidade, a questão das penas alternativas. Tínhamos que
esvaziar os presídios dos pequenos, que se “monstrificam” na vida
prisional, já que acabam se submetendo ao poder dos grandes, dos
poderosos, dos psicopatas que dominam os presídios. Direi ainda
algo polêmico - acredito que concordando com o espírito do
jornalista Eduardo Costa: neste país, precisamos aprender a ser
muito mais duros com os criminosos poderosos e mais recuperadores
com os pequenos, pois, se não os recuperarmos, se tornarão
grandes. Uma das situações que deve acabar - e estamos propondo
isso fortemente no PAC 2 - é a de presos na delegacia de polícia,
pois não é função do policial civil cuidar de preso, ele não
entrou na polícia para isso. O PAC destina-se basicamente à
construção, mas queremos inserir nele, além da construção de uma
malha para as polícias comunitárias, uma solução para o problema
de presos em delegacia de polícia.
Quanto aos salários, digo que todos deveriam ganhar bem, mas
quero me permitir citar três categorias, sem demérito das outras:
professores, policiais, operadores de segurança e agentes de
saúde, que deveriam ganhar muito bem, não somente porque seu
trabalho é difícil, mas porque é fundamental para a transformação
da sociedade brasileira. São as três categorias mais impactantes,
as que menos abandonaram a população. Talvez até tenham se portado
de forma equivocada, alguma vez, por falta de orientação, mas não
abandonaram o povo. Essas três categorias deveriam ganhar muito
bem, e eu, particularmente, com alguma ousadia - evidentemente sem
a permissão do governo -, tenho defendido - não falarei de nenhum
projeto de lei, e posso até perder meu emprego se falar - um piso
nacional mínimo, digno para os profissionais dessas três
categorias, e acredito que o Brasil comporta isso.
A Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Federal precisam de mais
efetivo, mas ressalto que, no segundo mandato do Presidente Lula,
ele já foi bastante aumentado. Seguramente aumentará mais, pois é
preciso.
O Júnior perguntou sobre a questão do neoliberalismo.
Sinceramente, Júnior, não creio que tenha havido qualquer
influência de neoliberalismo na questão da segurança pública, em
que o Estado brasileiro é muito presente, e, na verdade, no
Brasil, não se investe pouco. Se juntarmos o que investem os entes
federados e o governo federal, é muito. O problema é que passamos
trinta e tantos anos investindo muito mal. Estamos começando a
investir bem, Deputado, agora, particularmente nos últimos cinco
ou seis anos. Quando eu me tornei Secretário, só do governo
federal, pedi uma estatística que informasse, em média, quanto
investíamos em viaturas e em policiais, guardas municipais,
bombeiros, ou seja, em capital humano. Descobri, estarrecido, que
a média de investimentos em viaturas era de 37%; e a média de
investimentos em capital humano, nas pessoas que fazem a segurança
pública, era de 3,7%. Se isso fosse uma empresa, estaria fechando
as portas, porque não se faz nada de qualidade sem investimento em
capital humano.
Orgulha-me muito dizer que hoje o governo federal investe mais de
60% de seus recursos quintuplicados em capital humano. Deixou de
investir em viaturas? Não, só que se exigem critérios. Viatura não
é para circular tresloucada, em um faz de conta de segurança
pública; viatura não é para fazer demagogia, não é para comprar
frota, ligar o giroflex e a sirene e desfilar para que a população
tenha a impressão de que agora tudo se resolverá. Vocês vão achar
que estou dizendo uma bobagem, mas não estou: pela nossa pesquisa,
há viaturas, em alguns Estados, que duram de três meses a dois
anos e depois viram sucata. A viatura é necessária? É, mas deve
ser usada racionalmente, com política de garagem. Não é para
policial ficar circulando em um faz de conta, mas para policial
estar no meio da população dialogando e tem de ser chamada na hora
em que precisar ser usada. O governo federal inverteu totalmente
esse paradigma. Isso porque o governo federal hoje tem visão de
que segurança pública depende de conhecimento e inteligência. Se
truculência, se política de espetáculo, se ilusão do senso comum
resolvesse alguma coisa em segurança pública, estaríamos vivendo
num paraíso neste país.
Tenho de honrar a nossa última geração de gestores, Secretário
Moacyr, porque o Colégio de Secretários é extremamente
qualificado. Mas preciso ser contundentemente franco para dizer o
seguinte: antes destas últimas gerações de gestores, segurança
pública foi o campo ideal neste país para se fazer politicagem,
demagogia, ilusão pública; segurança pública sempre foi
politizada, sempre foi campo de amadorismo, de empirismo, de
clientelismo, de patrimonialismo. Havia pessoas que achavam que a
segurança pertencia a elas, como governantes, que distribuíam
cargos de segurança pública para amigos, e não, para
especialistas. Então, estamos invertendo essa lógica hoje. Porém a
mudança total de cultura demandará algum tempo, porque cultura é
uma coisa que não se muda do dia para a noite.
Quanto à última pergunta, do Raimundo, sobre o Pronasci: o
Pronasci foi erigido a partir da Conferência Nacional de Segurança
Pública. O Conselho Nacional de Segurança Pública surgiu dos
critérios de uma Conferência Nacional democrática, que estabeleceu
os critérios de eleição, que estamos seguindo.
Esqueci-me da questão sobre armas e drogas. Nesta semana, uma
revista publicou que nós, agora, no governo federal, estamos
fazendo política de fronteira para calar a boca de opositores do
governo. Não, estamos há meses tecendo, articulando e aplicando
uma política de fronteiras. Essa operação ocorreu agora em Mato
Grosso com l6 instituições, que não são instituições políticas.
Estavam presentes o Ministério Público, o Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado - Gaeco -, enfim, os
Conselhos de Segurança, vários participantes. Isso é o laboratório
para o novo programa Policiamento Especializado em Fronteiras -
Pefron. Já assinamos acordos com dois Estados brasileiros para
cuidar das fronteiras em conjunto. Queremos que as polícias
estaduais, onde há fronteiras secas, tomem conta delas, não deixem
só para as Polícias Federal e Rodoviária Federal, pois obviamente
elas sozinhas não conseguirão fazer isso. Há 10 Estados que já
assinaram o acordo, só o meu Estado, Rio Grande do Sul, não
assinou, mas disse que assinará nos próximos dias.
Em cada Estado de fronteira, constituiremos unidades
especializadas. Em Belém do Pará, temos já um curso de
especialistas nessa área. Estamos difundindo inteligência em
fronteira em todo o País e investindo pesadamente. Nos próximos
cinco meses, investiremos um mínimo de R$90.000.000,00 iniciais
para constituir as unidades de fronteiras secas. Já estamos
prevendo que os bandidos vão migrar para a fronteira marítima, e,
diante disso, há um programa de mais de R$30.000.000,00 para a
compra de equipamentos náuticos, a fim de, em convênio com os
entes federados, cuidar do guardamento costeiro. A Constituição
brasileira não prevê guarda costeira no Brasil, mas podemos
conveniar com os Estados. Estamos em toda a Bacia Amazônica,
inclusive onde há pirataria, que pode evoluir, porém não podemos
permitir que vá para a área marítima. Estamos constituindo
guardamento fluvial, e, para dar-lhes um exemplo, falo que
acontece seja em rios ou no mar, como na Baía da Guanabara, onde
fundearão navios na Copa do Mundo de 2014. E não é por causa da
Copa do Mundo, mas do povo daquela região, mas a Copa ajuda a
alavancar com mais rapidez essa política. Vamos dotar a Polícia
Militar do Rio de pelo menos duas lanchas de 36 pés e todo o
enxame que vai acompanhar para cuidar da Baía da Guanabara. Estou
falando aqui de partidos com interesses políticos diferentes. No
Estado do Amazonas, por exemplo, estamos comprando várias lanchas
de 36 pés, algumas maiores, inclusive, para cuidar de toda a Bacia
Amazônica.
Neste país, por influência dos 20 anos de ditadura e por absoluta
preponderância das montadoras automobilísticas, contra as quais
não tenho nada, pois são importantes para nos ajudar e prezadas
por nós, tentou-se fazer segurança pública somente por meio da
compra de viaturas e dos meios de comunicação rodoviários. Todo o
Brasil profundo ficou abandonado. A maior parte do nosso
território constitui o Brasil profundo. Não se chega a lugar
nenhum de carro, mas, sim, pelo ar ou pelos rios.
A segunda gestão do governo do Presidente Lula foi dedicada a
montar esses programas sistêmicos. Em um ano e meio de nossa
gestão, investimos, em parceria com os Estados, em torno de
R$200.000.000,00 na compra de helicópteros e outras aeronaves.
Tenho muito orgulho de dizer-lhes que, no nosso governo, hoje,
damos condições para que as polícias brasileiras cheguem a
qualquer lugar do Brasil profundo. Até dois ou três anos atrás,
não podíamos dizer isso, porque não havia como chegar. Em um ano e
oito meses, passamos recursos da ordem de R$200.000.000,00. Hoje
temos uma frota de aeronaves, um Conselho Nacional de Aviação de
Segurança Pública. Temos um trabalho tão bem feito que reduziu os
acidentes por falha humana a quase zero. Fomos convidados pela
Força Aérea Brasileira a participar do Cenipa, em função do nosso
sucesso contra acidentes aeronáuticos. Só para terem uma ideia,
estamos pagando hoje sete pilotos policiais brasileiros para
fazerem um curso no ITA, um dos melhores institutos do mundo. No
ano que vem, estamos prevendo mais 10 vagas. Queremos criar uma
inteligência nacional de pilotos. Isso vem junto com a rede
nacional de altos estudos em segurança pública.
Vocês talvez não saibam, mas temos hoje 73 cursos de pós-
graduação “lato sensu” - aliás, tivemos ou temos aqui em Minas
Gerais -, em que mais de 6 mil especialistas policiais, guardas,
bombeiros e agentes penitenciários se formam por ano,
gratuitamente, em segurança pública, no Brasil, com
transversalidade e com conhecimento de direitos humanos. A polícia
tem de ser dura, energética, mas dentro do conceito da moralidade
e da legalidade. Não há em nenhum lugar do mundo uma rede desse
tamanho.
Saiu uma reportagem em página inteira do “New York Times” sobre o
Brasil. O Brasil estar, positivamente, em página inteira desse
jornal sobre segurança pública é uma coisa inédita. É por isso que
eu dizia, Eduardo, ficar feliz com pessoas como você. A reportagem
terminou esplendidamente. O jornalista do “Times” entrevistou um
dos nossos policiais, aluno da UnB, e provocativamente disse que
olhava para o anfiteatro da UnB e não via ali sentados os
torturados. O policial civil do Distrito Federal respondeu-lhe que
o curso não era para converter torturadores, mas sim para formar
uma nova liderança para a polícia do Brasil, a fim de que nunca
mais haja tortura neste país. Assim terminou a matéria do “New
York Times”. O que é pauta para o “New York Times” não o é para a
mídia do Brasil, infelizmente. Vejam que não era nem ano
eleitoral.
Mais uma vez fico feliz de encontrar alguém da qualidade do
Eduardo, que, de maneira muito sensata e correta, levantou uma
série de elementos que nos ajudaram na explicação. Optei por falar
sobre elementos de fundo, sobre a questão da droga e do crime e
sobre o nosso papel como cidadãos. Numa outra oportunidade,
falarei sobre elementos mais concretos.
O Sr. Presidente - Muito obrigado. Está inscrito para se
manifestar o Deputado Sargento Rodrigues, a quem passo a palavra.
O Deputado Sargento Rodrigues - Sr. Presidente, muito obrigado.
Secretário Ricardo Balestreri, diferentemente do jornalista
Eduardo Costa, não comungarei com a máxima de que pela frente fala-
se bem e, quando se viram as costas, não. Penso um pouco
diferentemente de V. Exa. no que se refere aos dados, às ações e,
em especial, às políticas públicas do governo federal relativas à
segurança pública. Estava aqui atento, acompanhando a sua fala e,
portanto, iniciarei pontuando algumas frases ditas de trás para a
frente por V. Exa.: “A culpa não é dos policiais”. De fato, não é.
SO sistema é que é ruim.” Mas que sistema é esse? Numa frase
anterior, V. Exa. disse o seguinte: “Nós, do governo federal,
estamos fazendo a nossa parte”. Pergunto-lhe: que parte o governo
federal está fazendo? V. Exa. fala também que é um sujeito de pé
no chão e que é preciso fazer engajamento de redes populares. Ora,
se V. Exa. observar, aqui está repleto de redes populares,
associações e conselhos. Todos nós viemos participar de um
seminário em que apostamos e do qual, por isso, queremos ver
resultado prático. “Sem segurança pública não há desenvolvimento.
As drogas propiciam esse clima de violência.” Essas frases também
foram compiladas da fala de V. Exa.
Sou um ferrenho crítico da forma equivocada com que a União tenta
fazer segurança pública. Ela não precisa mais repassar as migalhas
aos Estados. A União não tem de comprar viatura. Em vez de se
preocupar em comprar viaturas e embarcações para mandar aos
Estados, ela deveria estar fazendo o que o jornalista cobrou, que
foi a contratação de efetivos para a Polícia Rodoviária Federal.
Isso é competência da União. Além disso, deveria estar contratando
a Polícia Federal para combater o tráfico de drogas e o
contrabando de armas - trata-se também de uma competência da
União. O que mais me incomoda na União é essa iniciativa do atual
governo. Quero deixar claro que todo o posicionamento que procuro
fazer na área de segurança pública é com uma visão técnica, pois
detesto posicionamento ideológico. O que me preocupa é o estado de
inércia. O governo federal sabe perfeitamente que, há décadas,
passa pelas nossas fronteiras pasta-base de cocaína, e, além
disso, o contrabando de armas é forte.
No dia 9/1/2007, aqui em Minas Gerais, um policial, Cb. Vandec,
tomou um tiro de fuzil 762, em São Gotardo, no Alto Paranaíba. Sr.
Secretário, armamentos como a AR-15, AK-47 e metralhadora Uzi não
são produzidos aqui no Brasil, mas na Rússia, na Alemanha, em
Israel e nos Estados Unidos. Portanto, vemos que o governo federal
continua inerte.
No que diz respeito à impunidade lembrada pelo jornalista Eduardo
Costa, lembro-me da reforma que fizemos na Lei de Execução Penal e
na Lei Processual Penal. Trata-se de uma competência da União, mas
não vejo o governo federal se empenhando em buscar uma solução.
Não vejo também, de forma clara, a União buscando fazer uma
segurança de fronteira, porque vemos quilos de pasta-base passando
pela nossa fronteira, a qual não é produzida no Brasil. Já temos
laboratórios de refino que produzem a cocaína, que é a droga, o
principal assunto do nosso fórum sobre drogas, criminalidade e
violência. É essa droga que preocupa a nós e às famílias que aqui
se encontram, e foi para isso que viemos participar deste debate.
Sinceramente, Sr. Secretário, gostaríamos de ouvir um pouco mais
com profundidade sobre as políticas públicas efetivas. Minas
Gerais e os Estados não querem - e não precisam - de recursos
repassados com essa política equivocada. Não precisamos da União
ditando quantas migalhas vão para o Estado. Precisamos da União
cuidando daquilo que é de competência da União. Polícia Rodoviária
Federal patrulhando rodovias federais e Polícia Federal cuidando
de fronteira e combatendo o contrabando de armas e drogas.
Infelizmente, até o presente momento, como acompanhador operante
de segurança pública há 26 anos, dos quais 15 anos na prática e há
11 nesta Casa, como Deputado Estadual, é lamentável que a União
ainda não tenha acordado. Faço esse desabafo de pé no chão, na
condição de pai, de chefe de família e de alguém que mora no
conjunto da sociedade e que enxerga que a droga e a arma são duas
pernas que caminham juntas, ou seja, não se separam.
Há tempos, a revista “Veja” publicou uma matéria, de forma
brilhante, em relação a esse assunto. Conhecemos os danos e os
números de armas e drogas que transcendem as nossas fronteiras, e
até hoje não vi uma política pública efetiva. Portanto, na
verdade, venho aqui fazer esta cobrança do governo federal. Minas
tem feito a sua parte, e V. Exa. falou isso aqui várias vezes. A
própria redução no número de homicídios contra policiais que se
iniciou em 2004, com o pico de 34, chegando a 8 no ano passado, é
uma demonstração clara e inequívoca de que Minas Gerais vem
fazendo a sua parte. Mas não dá para os Estados e os Municípios
continuarem enxugando gelo se a fronteira está aberta.
Se a União quer realmente fazer segurança pública, de forma séria
e efetiva, é preciso que ela cuide, única e exclusivamente, da sua
competência. Para isso a bolsa-formação seria uma ótima
iniciativa. Tenho certeza de que, se essa política de
R$800.000.000,00 estivesse mais bem acertada e direcionada, talvez
a nossa cracolândia, no Bairro São Cristovão, não estaria aqui, e
as clínicas também não estariam se abarrotando cada vez mais, nem
o tráfico, crescendo, e a dependência química, arruinando as
nossas famílias.
Faço um apelo a V. Exa. para que leve ao Ministro da Justiça e ao
governo Lula a necessidade de se cuidar daquilo que é da
competência da União. Muito obrigado pela atenção.
O Sr. Presidente - Daqui a pouco, o Secretário poderá responder
às provocações feitas não só nessa pergunta, mas também em várias
outras.
Pergunta para o jornalista Eduardo Costa, do Sr. Hélio Emiliano
Moreira, da Associação Batista Bem Viver: “Jornalista, a
destruição dos campos de futebol, conhecidos como campos de
várzea, pela especulação imobiliária pode ter contribuído para o
crescimento da dependência química da nossa juventude. Não seria o
esporte ou o futebol uma forma de terapia ocupacional?”.
O Sr. Eduardo Costa - Não tenho a menor dúvida. Sou um menino que
foi criado na periferia e que gastava os seus hormônios e a sua
energia jogando pelada num lote vago ao lado da minha casa. Também
participava de outras brincadeiras menos publicáveis, porém sadias
perto do que acontece hoje. O jovem rico geralmente mora num
condomínio e tem algumas opções de lazer, já o jovem pobre só tem
duas, o boteco da esquina e a televisão, sendo que nenhuma dessas
opções dá futuro.
O Sr. Presidente - Obrigado. Agora, o Secretário Moacyr Lobato
terá algumas perguntas para responder.
O Secretário Moacyr Lobato de Campos Filho - Eu começo, ainda que
resumidamente, jornalista Eduardo Costa, por algumas ponderações
feitas pelo senhor, na qualidade de debatedor, o que evidentemente
enriquece esta reunião. Uma delas me chamou muito a atenção, por
ser o núcleo de todas as outras que foram feitas, que é a questão
da integração, aliada à sua percepção de que ela pode não estar,
em níveis mais básicos, tão efetiva quanto se pretende.
O senhor chamou a integração de uma plantinha delicada, e
considero essa expressão absolutamente feliz, porque, quando venho
ocupar a tribuna da Assembleia Legislativa para defender a
integração como política plena de êxito em relação a tudo o que se
tem feito em matéria de segurança pública e defesa social no
Estado de Minas Gerais, não podemos fechar os olhos e negar que
isso seja relação humana, um tanto quanto difícil e delicada. Como
tal, encontramos, sim, questões que precisam ser diuturnamente
enfrentadas, seja do ponto de vista de uma ou outra aceitação ou
não aceitação ou ainda de alguma ausência de compreensão do que
efetivamente signifique uma relação posta nesses termos.
A propósito de quando você - vou tratá-lo assim porque a
intimidade de ouvi-lo todos os dias me permite fazer isso - diz e
aponta exemplos de condutas às vezes arrogantes e autoritárias e
de determinadas posturas, ouvi outro dia alguém citando um grande
antropólogo brasileiro - não me lembro se é Roberto DaMatta ou
Freire - que disse que a grande diferença nossa em relação ao povo
dos Estados Unidos é que, quando há uma abordagem dessa natureza,
o abordado diz assim: “Quem você pensa que é?” Ah, foi DaMatta
quem disse isso. Obrigado. Agora, quando é com a gente, é o
contrário: “Com quem você pensa que está falando?”. Isso é bem
sintomático. É um traço cultural, como aqui apontava de maneira
divertida em relação à mulher que para em fila dupla de carro,
etc.
Temos uma falta de educação e de civilidade pronunciada. Vemos
essa situação no dia a dia, nos cinemas, nos teatros, nos campos
de futebol. A nossa ausência de gentileza é preocupante. Isso
reflete obviamente também em condutas ligadas à defesa social. De
modo que o que me parece mais essencial é, sim, uma preocupação
sua que é compartilhada por todos nós quanto ao fato de que a
integração, embora pujante e de resultados expressivos, carece de
atenção e de vigilância diariamente, sem o que, não nos iludamos,
esse sistema tão exitoso em Minas corre o risco de esgarçar-se,
vamos dizer assim.
O Sr. Alan Vinícius de Abreu Louredo me pergunta: “O senhor falou
bastante sobre o sistema de integração de defesa social, dando
ênfase às Polícias e ao Judiciário. O que o senhor acha dos
Conselhos de Juventude ou da Juventude?”. Acho - e não é apenas
uma opinião minha -, ou melhor, eu compartilho da opinião no
tocante a que a sociedade civil organizada, em suas diversas
manifestações, tem importância absolutamente fundamental. Se nós
trouxermos os elos constitutivos de um sistema, seja de defesa
social, seja de justiça, encontraremos no meio dessa articulação a
sociedade civil, porque ela é a destinatária de todo esse esforço
e partícipe, obviamente, dessa relação. Portanto, toda e qualquer
manifestação de Conselhos de Juventude, de Conselhos de Segurança
Pública ou de qualquer outra instância que revele um grau de
maturidade e de organização da sociedade é claramente instrumento
absolutamente fundamental, essencial e mesmo pressuposto de
validade no estabelecimento de políticas dessa natureza, meu caro
Alan.
Temos outra pergunta formulada por Cláudio Correia: “Modelos de
polícia. Como lidar com os conflitos de competência na ação da
Polícia Militar e da Polícia Civil na investigação?”. Creio que há
duas coisas, fundamentalmente, a serem postas. Em primeiro lugar,
a observância da Constituição e da lei, as definições de natureza
constitucional e infraconstitucional em relação à competência de
qualquer das organizações. Em segundo lugar, fundamentalmente, a
capacidade de diálogo que as instituições obrigatoriamente têm de
ter em um processo de articulação que envolve todo o Sistema de
Defesa Social para encaminhar conflitos dessa natureza.
O Secretário Nacional de Segurança Pública externou aqui uma
opinião crítica em relação a esse aspecto. Em Minas vivemos uma
situação muito específica porque - eu não sei se seria casamento,
um divórcio ou uma união estável - temos instituições que são
seculares, bicentenárias, com história e tradição, com toda a
carga que envolve a elaboração e a existência de cada uma delas.
Portanto, há de ser, sim, sempre considerado como extraordinário
esforço aproximá-las com o objetivo final de redução da
criminalidade, de maior satisfação do ponto de vista da cidadania.
Não temos dúvida de que são questões que demandam e demandarão
permanentemente esse esforço, tendo em vista não apenas a situação
de reconhecimento constitucional das nossas instituições, mas
também tudo aquilo que elas representam e simbolizam em nosso
Estado.
Ainda responderia ao meu querido Prof. Aloísio Andrade, que
pergunta o que fazer para regulamentar o Fundo Estadual de
Prevenção às Drogas, sancionado há 13 anos. Vamos nos reunir, como
estamos fazendo hoje neste fórum próprio, não apenas para avançar
em matéria de propostas que naturalmente surjam daqui, mas também
para recuperar esses passivos eventualmente existentes. De
público, comprometo-me com esta luta, da qual o senhor é um dos
mais festejados paladinos.
Ainda diria à Rosana Maria, do Conselho Tutelar, que me pergunta
se tenho conhecimento de que adolescentes com dependência química
e cumprindo medidas socioeducativas estão acautelados em cadeias
públicas por falta de local adequado, sem fugir à profundidade e à
gravidade do tema, pois esse é um assunto delicado, que o nosso
esforço tem sido sempre o de prover, na medida da disponibilidade
de vagas, essa situação de modo que não haja uma convivência
perniciosa e indevida desses adolescentes. Mais uma vez, recorro à
informação trazida pelo Secretário Nacional de Segurança Pública,
que apresenta um contingente absolutamente impressionante - são
milhares e milhares de pessoas, presumo que sejam adultos,
pequenos traficantes presos sozinhos, desarmados - quanto à
inconveniência de esses indivíduos serem levados a unidades
prisionais e viverem, às vezes, situações indesejadas. Daí por que
ressalto, mais uma vez, a importância das medidas alternativas, a
validade absoluta da nossa central de penas alternativas - e aí
incluiria também, quem sabe, a questão das próprias Apacs, tão
caras aos mineiros, e mais uma expressão de parceria existente
entre o Sistema de Defesa Social, o Poder Judiciário e o próprio
Ministério Público. É uma experiência extraordinária, algo que nos
anima e nos encoraja a ir adiante, de modo que, se, em muitos
casos, os adultos não têm essa recomendação, o que se poderá dizer
em relação aos adolescentes eventualmente em conflito com a lei?
Portanto, nosso esforço tem em vista prover essas vagas e debelar
por completo uma circunstância como essa.
Faria ainda dois outros registros para dizer ao jornalista
Eduardo Costa que recente pesquisa sobre sensação subjetiva de
medo, realizada no âmbito do Sistema, revelou que 54% dos
entrevistados sentem-se seguros. Esse é um índice expressivo, que
tem uma característica muito interessante: tanto mais seguros se
sentem quanto mais próximos ou dentro de suas casas, de sua rua,
de seu bairro, enfim, da região por eles habitada estiverem.
Aproveito para homenagear expressamente a Superintendência de
Avaliação e Qualidade, que não só qualifica nossos policiais civis
e militares por intermédio de inúmeras iniciativas de cursos, mas
também produz verdadeiras referências, que são as pesquisas que
apontam o norte, o farol para a atuação do sistema.
Há, portanto, sem dúvida, uma situação razoavelmente boa em
termos de sensação subjetiva de segurança.
Tenho mais registros a fazer, mas há outras perguntas que me
foram repassadas por meio de “e-mails”. Prometo que, amanhã,
encaminharei as respostas para que os senhores verifiquem que
foram dadas pelo Secretário durante o fórum e assinadas por ele
exatamente para esses “e-mails” apresentados e outros que estão
com os meus colegas.
Sr. Presidente, farei esta consideração de forma breve, para que
V. Exa. tenha maior liberdade na condução final dos trabalhos.
O Sr. Presidente - Realmente estamos caminhando para o final, mas
ainda há dois inscritos: o Roges Carvalho, do Sindicato dos
Psicólogos, e o Cloves Carvalho, da Câmara Municipal de Andradas,
a quem solicito que se aproxime do microfone logo após o Roges
fazer uso da palavra.
O Sr. Roges Carvalho - Boa tarde a todos. Parabenizo os membros
da Mesa e cumprimento o Deputado João Leite. Eu precisava estar
aqui, o fórum está excelente. Com grande satisfação, parabenizo
ainda o Secretário Balestreri por sua fala. É muito bom ouvi-lo
não somente no rádio, mas também na tevê e nos encontros. V. Exa.
deve estar sempre conosco para trocarmos ideias, pois fala com
muita propriedade, tem uma escuta muito grande.
Nobre Deputado João Leite, não leio a “Veja”, porque a considero
muito tendenciosa, mas leio a “Radis”, revista da Fiocruz, de alta
qualidade, que trouxe uma reportagem excelente sobre o “crack”,
questão de saúde pública. O que está escrito aqui mostra
exatamente o que o Prof. Balestreri nos disse de forma
maravilhosa, esclarecedora, positiva, pé no chão, realista. A
questão das drogas - até o momento em que as conhecemos, pois a
todo momento surgem outras - passa por um tripé realmente. Temos
de estar atentos não apenas à educação, mas também à formação, que
deve ser permanente; temos de criar uma política nacional de
segurança, pois, sem ela, fica muito difícil. Caímos muito nos
chamados programas e campanhas, que são muito paliativos. É
necessário ter outra visão.
Pensar num modelo seria apagar tudo o que imaginamos sobre o
assunto e recomeçar enxergando o outro como centro de tudo, como
vemos as pessoas numa série de relações interpessoais. Na
realidade, penso que o uso da droga não é um problema, mas uma
consequência. É preciso enxergar a família, as relações
interpessoais, o emprego, a presença do Estado, que tem de ser
mais atuante, enfim, o desenvolvimento de ações na saúde, na
assistência social, na formação permanente em educação, em todos
os relacionamentos. Poderemos começar dessa forma. Se houver
disputa emancipatória - refiro-me à disputa em todos os lugares, e
não apenas àquela relacionada às drogas -, será a melhor coisa do
mundo. Precisamos, sim, disputar para sobreviver, mas tal disputa
tem de ser emancipatória, não pode ter uma mão pesada,
segregadora, dominadora e com o único propósito de exclusão
social. Temos de começar por aí e criar uma grande política
nacional de segurança pública para os Estados e Municípios. Assim,
poderemos avançar.
Parabenizo mais uma vez os membros da Mesa. Fiquei muito feliz
com a fala do colega Eduardo Costa, que passarei a ouvir cada vez
mais. Bom trabalho para nós e um excelente evento. Obrigado,
Deputado João Leite.
O Sr. Presidente - Muito obrigado. Com a palavra, o Vereador
Clóvis Carvalho, da Câmara Municipal de Andradas, no Sul de Minas.
O Vereador Clóvis Carvalho - Boa tarde a todos. É uma grande
emoção estar aqui mais uma vez para participar desta
importantíssima reunião. Na outra vez foi realizada uma audiência
pública, mas hoje está sendo realizado um fórum. Ficamos até meio
ansiosos. Viajei aproximadamente 600km. Nesta oportunidade,
cumprimento os componentes da Mesa na pessoa do Deputado João
Leite, Presidente da Comissão de Segurança Pública - aliás, também
faço parte dessa comissão na Câmara Municipal de Andradas.
Aproveito a oportunidade para agradecer a todos que estão nos
assistindo ao vivo em Andradas; à Câmara Municipal; aos meus
companheiros; ao André, Presidente do Consep; ao meu amigo
Hamilton, Vereador de Andradas, que me apoiou para que estivesse
aqui, assim como ao povo andradense e a minha esposa, Conselheira
Tutelar em Andradas, que, neste momento, está cumprindo o seu
dever. Cumprimento todos os presentes, o meu filho Lucas, enfim,
toda a minha família.
Parabenizo o jornalista Eduardo Costa por sua fala - aliás, tive
um imenso orgulho ao conhecê-lo hoje - e o Secretário Ricardo
Brisolla Balestreri. Ricardo, fico muito contente pelo seu
profissionalismo e por estar aqui hoje à frente de bambambã,
conforme dizem no interior de Minas. Na verdade, é assim que
pensam no interior, você vai falar com os bambambãs. Fico feliz
por estar aqui hoje trabalhando na defesa das pessoas do interior,
assim como faço na Câmara, aliás, sempre questiono as teses com as
quais não concordo. Conforme bem dito pelo Deputado Sargento
Rodrigues, quando ouvimos falar de políticas que são migalhas.
Entendeu, Balestreri? Sei que o senhor está desempenhando um
excelente papel. Discordo um pouco do Deputado Sargento Rodrigues
quando cobra só da União. Nós, Municípios, sofremos muito também
com as negações por parte do Estado.
Farei uma leitura para não me esquecer das palavras que quero
citar. Secretário Ricardo, fico muito feliz por estar aqui hoje
novamente, como Vereador e representante do povo, e poder ouvir do
Secretário o porquê de demorarmos tanto para agir preventivamente,
pois é provado que é bem melhor nos prevenirmos dos problemas que
correr para resolvê-los. Por exemplo, como Vereador, pedi uma
cabine policial na praça central da nossa maravilhosa cidade de
Andradas, tanto para prevenir quanto para inibir o crime e a
violência. No entanto, Secretário, foi esta a resposta que obtive:
é muito difícil, por falta de condições financeiras. Volto na
tecla de que não seria melhor prevenir e inibir o crime a resolvê-
lo? Essa é a minha primeira indagação.
Secretários Ricardo e Moacyr Lobato, a quem aproveito para
cumprimentar, esta é a minha segunda pergunta - aliás, trouxe-a
também com o auxílio do Conselho: quantas clínicas de tratamento
para dependentes químicos há em Minas Gerais? E entre elas,
quantas são públicas e oferecem esse tratamento gratuitamente?
Para concluir, gostaria de dizer que, como fiscal do povo,
entendo que há esforços a fim de combater esses temíveis tópicos
do crime. Ainda há muito por fazer da nossa parte, pois falta
muito no quesito prevenção. Deixamos muito a desejar com a falta
de clínicas de tratamento para dependentes químicos. É preciso
pensar que os nossos detentos, além de custar caro, não são
preparados para se reintegrarem à sociedade. Ficaria, então, muito
complicado, Secretário, dizer que estamos fazendo a nossa parte.
No entanto, fico feliz mesmo por buscarmos o caminho correto.
Muito obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Hélcio Lúcio Alves
Júnior.
O Sr. Hélcio Lúcio Alves Júnior - Boa tarde a todos os presentes
neste momento ímpar em que nos reunimos para tratar de um assunto
pertinente a toda a sociedade. A minha pergunta é dirigida ao
Secretário Balestreri, que disse uma coisa muito importante, que
coloco como “slogan”: liberdade, oportunidade e verdade.
Precisamos falar a verdade.
Tenho muita consideração pelo nobre jornalista Eduardo Costa por
ter dado espaço a nós, servidores administrativos da Polícia
Civil. Quero questionar também sobre as verbas de cursos, pós-
graduações ou graduações para os servidores administrativos da
Polícia Civil. Referem-se só às Polícias Militar e Civil, ao Corpo
de Bombeiros, aos Agentes Penitenciários, mas nós, que trabalhamos
também na segurança, queremos o mesmo direito. É a questão da
oportunidade.
Eu e minha esposa temos um pequeno comércio e estamos passando
pelo índice Sebrae. Em agosto de 2010, nossa empresa completa
cinco anos. A estatística diz que os pequenos empreendedores não
vivem mais do que isso. Tivemos várias pessoas sem experiência
trabalhando conosco. Minha esposa tinha 13 anos de experiência
como gerente no Mercado Central e, depois de muito tempo, adquiriu
a loja. Com a graça de Deus, ela se desenvolveu. Criamos emprego e
demos oportunidade. O que é mais interessante é que as pessoas a
quem demos oportunidade cresceram; outras, que não a tiveram,
envolveram-se na criminalidade e nas drogas. Acho fundamental a
oportunidade para os pequenos, não só para as grandes potências no
comércio, que aqui não citarei. Há até uma discriminação:
recentemente um traficante roubou um botijão de gás de meu
comércio para vender e adquirir droga. Não apareceu nenhum
policial, e até tivemos dificuldades para fazer a ocorrência. Mas,
se um supermercado de grandes empresários ou uma drogaria de
renome são assaltados, aparecem vários policiais, viaturas,
helicópteros. Os grandes comércios são resguardados, e, nós,
pequenos, temos essas dificuldades.
Acredito ser interessante finalizar citando uma frase de Francis
Huxley, antropólogo. Ele afirma em seu livro “O Sagrado e o
Profano” que um homem que busca além das aparências é um homem que
busca a verdade. Em síntese, é aquele que descortina horizontes,
faz acontecer, constrói, evolui e faz evoluir. Por que estou
citando essa frase? A comunidade precisa se dar oportunidade, os
gestores públicos dos órgãos do Estado precisam estar presentes
para dar apoio incondicional a esses movimentos. Estou aqui não
como servidor administrativo da Polícia Civil, estou com um
projeto de música que começou com 10, 15 crianças.
Hoje há mais de 100 crianças aprendendo a tocar instrumentos
musicais com um professor de música. Gostaria de mostrar à
Assembleia como esse projeto é bacana. Um desses meninos que
começou a aprender música foi assediado para o outro lado. Eu
falei que não queria. Vi o projeto e conversei com ele. Perguntei
se gostava de tocar violão e teclado e consegui trazê-lo para esse
projeto. Depois de alguns meses, quando ele tocou a “Nona
Sinfonia”, de Beethoven, “babei”. Um menino que tinha
probabilidade de ir para o crime aproveitou a oportunidade.
Como o projeto nas escolas, que tem o professor, quero oferecer
oportunidade aos pequenos. E que as instituições dos governos
federal, estadual e municipal tenham a sensibilidade de entender
esses pequenos, pois é uma oportunidade para combater a
criminalidade. Obrigado.
O Sr. Presidente - Obrigado e parabéns. Com a palavra, o Sr.
Ricardo Brisolla Balestreri, para responder e fazer suas
considerações finais.
O Sr. Ricardo Brisolla Balestreri - Realizarei uma façanha para
responder tudo. Em primeiro lugar, respeito muito a manifestação
do Deputado Sargento Rodrigues, mas discordo radicalmente. O tempo
de discutir se é tarefa do governo federal, estadual ou municipal
já passou. O advento do Pronaf trouxe uma nova mentalidade de
superar o jogo de empurra. A tarefa é de todos. Se o senhor disser
que fiscalizar fronteira é só tarefa da Polícia Federal e da
Polícia Rodoviária Federal, vou dizer que respeito, mas é um
entendimento antigo que não levou o Brasil a nada, somente a 500
anos de insuficiência das atuações na fronteira. Se não
envolvermos as Polícias Militares e Civis e os Corpos de Bombeiros
em ação de fronteira com as Polícias Federais, isso não levará a
nada. Essa antiga fórmula “funcionalista” de dividir o que é do
governo federal e o que é do governo estadual foi feita até o
advento do Pronaf e não resolveu nada. Voltar atrás não é o
caminho, é preciso ir para a frente criando integração entre os
diversos segmentos.
Preciso discordar de que o governo federal não fez nada. Ele fez
muito mais do que jamais se sonhou. Não é tudo, há muito a ser
feito. Não sou um sujeito corporativista, aumentamos o Orçamento
em cinco vezes, mas precisamos aumentar mais sete ou oito vezes.
Não faço defesa corporativa. Os Estados precisam muito da nossa
ajuda. Talvez Minas precise menos, mas sempre ouço do Secretário
que nenhum Estado dispensa recurso. Um dia, falei que Minas está
em situação confortável, que é um Estado rico, mas me disseram que
precisa, sim. A maior parte dos Estados brasileiros, paupérrimos
do ponto de vista de caixa, precisam muito. O Estado de Alagoas,
por exemplo, governado pelo meu querido amigo Teotônio Vilela
Filho, grande figura, filho do nosso Senador histórico Teotônio
Vilela, é um homem que está sempre humildemente e corretamente em
Brasília, reunido e discutindo conosco diretrizes de
assessoramento técnico e recursos para Alagoas. Ele é muito franco
ao dizer que, se não fosse o governo federal ajudar Alagoas, o
Estado, que é miserável, não teria de onde tirar recursos e
estaria em situação seis vezes pior.
Mais do que isso: priorizamos Alagoas, que foi um dos Estados que
mais recebeu verbas da União, exatamente porque não olhamos o
partido governante, não cometemos essa mesquinharia. Alagoas foi
um dos Estados que mais recebeu e que mais recebe a colaboração
federal e, se depender de mim, continuará recebendo colaboração
prioritária do governo federal. E poderia citar muitos outros
Estados que são pobres, como o Piauí e a Paraíba, e que, sem a
colaboração do governo federal, não sobrevivem na área da
segurança pública. Então, nós, do governo federal, superamos essa
visão de que, como a Constituição diz que esse é um problema do
Estado, ele tem de se virar; que, de nossa parte, temos de nos
virar com as políticas federais. No início, enfrentei dentro do
governo federal o argumento de que deveríamos cuidar da área
federal, cheia de carências, e deixar que os Estados se virassem.
Não penso assim; somos todos brasileiros e todos temos
responsabilidade com tudo.
Rapidamente - apenas lendo a lista, sem argumentar -, quero dizer
que, nesse aspecto, demos um salto. Isso não quer dizer que o
primeiro mandato do Lula tenha sido ruim - foi uma boa
administração, segundo um paradigma, digamos, preexistente -, mas
a segunda administração do Lula deu um salto de qualidade. Estou
dizendo isso até como professor de História que sou, o que me
obriga a olhar para trás e identificar onde houve o salto. O salto
foi o surgimento do Pronasci, uma decorrência do Sistema Único de
Segurança Pública - Susp. Em 2003, o Luiz Eduardo fez o excelente
trabalho, de que até participei como membro, da chamada
Arquitetura do Susp. Eu não era do governo; fui contratado como
especialista, e produzimos a Arquitetura do Susp, um sistema
teórico muito bem-montado sobre segurança pública. Depois, surgiu
o Pronasci, que é um sistema pé no chão, prático. E a partir do
Pronasci e com a nova visão da Senasp, tivemos algumas conquistas.
Vou apenas ler alguns dados que ilustram o que estou dizendo.
Fizemos a 1a Conferência Nacional de Segurança Pública, com a
participação de mais de meio milhão de pessoas, com presença muito
forte em Minas. Se isso não é algo importante e definidor, não sei
o que seja. Até o fim do ano ou início do ano que vem, vamos
apresentar os dados da primeira pesquisa nacional de vitimização
em segurança pública. Até há pouco tempo, o Brasil ficava em
posição de inferioridade na ONU nessa área porque só se pesquisava
com base em boletim de ocorrência policial - BOP -, e a comunidade
acadêmica internacional acredita que o BOP tem em média uma
deficiência de 18 vezes em relação à realidade. Mas os
pesquisadores do DataFolha, após o devido processo licitatório, já
foram contratados e já estão nas ruas, fazendo, pela primeira vez
na história deste país, uma pesquisa nacional de vitimização - não
tenho problema em brincar com isso porque de fato é a primeira vez
que isso acontece na história brasileira. Assim, poderemos ter um
quadro real do que está acontecendo na segurança pública do
Brasil.
Como prometi que iria apenas ler os dados, são mais de 700 mil
profissionais de segurança pública atingidos pelo ensino a
distância; 174 mil com bolsa-formação; 3 mil especialistas por
ano, com cursos gratuitos oferecidos pela Renaesp, e estamos dando
início agora aos cursos de mestrado e doutorado, o que ainda
queremos conseguir neste ano, Presidente - estamos em contato com
a Capes, para conseguir esses cursos, além do curso de graduação
em segurança pública, para deixar uma herança científica. Vocês
não sabem, mas o MEC declarou há uns três meses, depois de meses
de negociação, para orgulho brasileiro, reconhecer segurança
pública como uma área do saber. Hoje a segurança pública pode
entrar até em vestibular. Continuando, criamos o Sistema Nacional
de Aviação de Segurança e estamos criando agora o Sistema
Aquaviário. Ainda este ano vamos investir R$100.000.000,00 em
perícia, área que nunca recebeu recursos da segurança pública.
Também temos o banco de DNA de famílias de desaparecidos, no
Infoseg - vou dizer só o título, mas em outra oportunidade
poderemos conversar sobre isso. Outro dado é a redução dos crimes
ambientais, anunciada anteontem em todas as grandes redes de
televisão do Brasil. Sabem o que está por trás disso? A Polícia
Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional de
Segurança Pública. O crime de desmatamento vem caindo no Brasil
porque a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e,
principalmente, a Força Nacional de Segurança, com contigente
maior, apreenderam, em oito ou nove meses, o equivalente a mais de
8 mil caminhões de toras ilegais de madeira. Repressão qualificada
é o nome disso. É a nossa contribuição ao meio ambiente do Brasil,
por meio dos nossos bravos policiais.
Agora, com a polícia do Distrito Federal, ultimamos a formação da
primeira unidade de proteção a defensores de direitos humanos,
antigo pedido da ONU. Entre o governo federal e o Distrito
Federal, 60 policiais protegerão os principais ameaçados por
defesa de direitos humanos no Brasil. Mais uma vez, aproveito para
citar e homenagear o nosso querido Duane, o José Francisco e
outros que estão nos ajudando. Neste ano, com a grande ajuda de
Minas e por orgulho nosso, cidadãos brasileiros, realizaremos, no
final do ano, no Rio de Janeiro, o II Encontro Nacional de
Policiais Civis e Militares e Militantes do Movimento GLBT. Se
fôssemos moradores da Holanda ou da Noruega, isso não seria
estranho. Realizamos o 1º encontro nesta cidade, e o 2º tratará de
grupos vulneráveis, como está na pauta desta Casa.
Poderia continuar essa lista. Se isso é não fazer nada, não sei o
que é fazer. Apenas mais uma coisa: falamos em política de
fronteira, mas são mais de 500 anos de abandono das fronteiras. Se
não fosse a Operação Sentinela e o Policiamento Especializado de
Fronteiras - Prefon -, produtos do nosso governo federal, seriam
mais de 500 anos de absoluto abandono de fronteiras, pois ninguém
fez nada por elas no País. Apesar de o efetivo ter aumentado
razoavelmente na nossa gestão, precisamos aumentá-lo mais. É
demais esperar, é impossível que a Polícia Federal dê conta de
cuidar de 16.000km de fronteira seca. São necessários outros
sistemas. Esse é um trabalho que fazemos.
Ainda há várias perguntas a serem respondidas, mas vejo que o
Presidente tem um tempo a cumprir.
O Sr. Presidente - Sei que há muitas perguntas; além dessas,
encaminharemos-lhe outras. Solicitamos que responda às perguntas
dos “e-mails”.