DEPUTADO RICARDO DUARTE (PT)
Discurso
Transcurso do Dia Mundial de Luta contra a Aids.
Reunião
90ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 05/12/2006
Página 73, Coluna 3
Assunto SAÚDE PÚBLICA. CALENDÁRIO.
Aparteante FAHIM SAWAN, CARLOS PIMENTA.
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 05/12/2006
Página 73, Coluna 3
Assunto SAÚDE PÚBLICA. CALENDÁRIO.
Aparteante FAHIM SAWAN, CARLOS PIMENTA.
90ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 29/11/2006
Palavras do Deputado Ricardo Duarte
O Deputado Ricardo Duarte* - Sr. Presidente, Deputadas e
Deputados, representantes da imprensa e todos que assistem à TV
Assembléia, mais uma vez, como faço todos os anos nesta época
desde o início do meu mandato - 2003 -, venho a esta tribuna para
lembrar o Dia Mundial de Luta contra a Aids. A escolha desta data
seguiu critérios próprios das Nações Unidas, que, desde 1987,
realiza o movimento em 1º de dezembro com o objetivo de reforçar a
solidariedade, a tolerância, a compaixão e a compreensão com as
pessoas infectadas pelo vírus HIV.
No Brasil, a data passou a ser adotada em 1988. Desde essa época,
no dia 1º de dezembro, por minha iniciativa, fazemos na nossa
cidade um importante movimento não somente pela solidariedade, mas
especialmente para que as pessoas se lembrem de que é uma doença
mortal e provoca muito sofrimento, e há como evitá-la. Considero
que o dia 1º de dezembro é um momento político importante, pois
coloca o tema da aids e as suas conseqüências na agenda da
sociedade, permitindo que o debate ultrapasse os especialistas e
alcance toda a sociedade.
Este ano, a campanha comandada pelo Ministério da Saúde e pelas
Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde tem como tema “A vida
é mais forte que a aids”. Com esse “slogan”, a campanha pretende
utilizar o testemunho e a luta de pessoas que vivem com o vírus
como forma de combater a discriminação, o preconceito e o estigma
que envolve a doença por meio da informação e da conscientização
da sociedade.
Lançando o conceito de Prevenção Positiva, a campanha quer
destacar que, com o tratamento, as pessoas infectadas podem ter
melhor qualidade de vida, novas perspectivas, trabalhar, estudar e
relacionar-se afetivamente. Dessa forma, pretende combater a
discriminação e o preconceito que envolve a doença. É necessário
também destacar que esse tema ressalta a importância do
cumprimento da legislação que garante direitos às pessoas que
vivem com o HIV e a aids.
Conforme a Constituição brasileira, as pessoas que vivem com o
HIV, assim como todo e qualquer cidadão e cidadã, têm obrigações e
direitos garantidos no art. 196, que diz: `Saúde é direito de
todos e dever do Estado´. No caso da aids, isso significa direito
à própria vida com dignidade e pleno acesso a uma saúde pública de
qualidade.
Por outro lado, reduzir o estigma e a discriminação é ainda uma
das principais medidas para uma eficaz e eficiente resposta à
aids. Isso envolve diretamente as populações mais vulneráveis à
epidemia, tais como: “gays”, homossexuais, transgêneros,
transexuais, travestis, prostitutas, usuários de drogas
injetáveis, mulheres, principalmente as de baixa renda, crianças
em situação de risco social, além de populações em regime de
confinamento.
Desde o início da epidemia, organizações da sociedade civil lutam
para ver garantidos e implantados esses direitos constitucionais e
pressionam o governo e a própria sociedade.
É preciso considerar, entretanto, que hoje a aids tem diminuído o
índice de infecção entre homossexuais e usuários de drogas e
atingido mais idosos com mais de 50 anos, mulheres, negros e
adolescentes, especialmente populações das pequenas e médias
cidades das periferias e que têm nível educacional mais baixo.
“Segundo boletim epidemiológico divulgado há poucos dias pelo
Ministério da Saúde, de 1996 até o ano passado, a aids entre
pessoas do sexo masculino com mais de 50 anos aumentou de 18% para
30%. Entre mulheres de todas as idades houve acréscimo na taxa de
9,3 % para 14,2%. E, entre os negros e pardos, o índice aumentou
de 40,2% para 45,6%”. Apenas no Sudeste do País houve diminuição
na incidência da aids e aumento em todas as outras.
“O aumento de casos entre os idosos ocorre principalmente em
razão da resistência ao uso de preservativo durante as relações
sexuais. Segundo informações do Ministério da Saúde, mais de 91%
dos homens acima de 50 anos se recusam a usar preservativo. E,
entre 1980 e 2006, o número total de casos de aids no Brasil é
450.000. Como boa notícia, aparece a queda nas transmissões
verticais - da mãe para o filho - ocorridas durante o parto e a
amamentação.” É um avanço espetacular, pois mostra o acerto no
projeto de tratamento dos doentes de aids que vem, ao longo dos
anos, sendo feito pelo Ministério da Saúde, com o exame preventivo
nas gestantes. A realização de cesariana e o uso do medicamento
durante o parto e uma dose dada ao bebê ocasionaram importante
diminuição de crianças contaminadas pelo vírus da aids.
O Deputado Fahim Sawan (em aparte)* - Sr. Presidente, Deputado
Ricardo Duarte, quero parabenizá-lo, primeiramente, pela luta
contra a aids na Assembléia Legislativa. V. Exa., com quem tive o
prazer de trabalhar, foi Presidente da Comissão de Saúde e é um
médico militante. Sei que foi um dos primeiros clínicos, neste
Estado, a desenvolver esse trabalho no diagnóstico e na cura da
aids, que tanto preocupa a nossa população.
Este dia aqui comemorado, notificado ou para chamar atenção, é
muito importante. Tenho muito cuidado em dizer que comemoramos um
dia de luta contra a epidemia de uma doença ou da luta contra as
drogas, enfim, contra todos esses malefícios. As datas são
importantes para avivarmos a lembrança da população, mas o que
importa mesmo é o trabalho no dia-a-dia. Sei que V. Exa. é um
Deputado e um médico que busca esse trabalho constantemente e que
o traz da vida profissional para a Assembléia. Parabenizo-o,
portanto.
É muito importante esse relatório que V. Exa., neste momento,
traz ao conhecimento de todos os mineiros, por meio da Assembléia
Legislativa, da TV Assembléia, relatando todos esses números, as
fatalidades, além de trazer à lembrança o melhor convívio que
todos temos com os pacientes, que hoje são tratados. São pessoas
que convivem com todos com segurança e com maior tranqüilidade. Os
pacientes, diagnosticada a doença, tratam-se, convivem igualmente
e recebem tratamento igual ao dos não infectados pela doença.
Tenho pacientes que diagnosticamos há 12 ou 13 anos e cuja carga
viral acompanho até hoje. Estão aí fazendo caminhada de 8km por
dia, convivendo com todos, com uma vida tranqüila, modernamente
proporcionada pelos medicamentos.
Não podemos deixar de ressaltar, Deputado, ao alertar a
população, a importância de terem a consciência de que é melhor
não ter aids. Não queremos ter câncer simplesmente pelo fato de
haver cura, como também não queremos contrair aids pelo fato de
estar controlada. Trabalho muito com a prevenção, Deputado. Dou
palestras para adolescentes de escola em escola e sei da
importância de levar aos jovens as informações, como faz V. Exa.
Portanto, manifesto-lhe o meu apoio ao trabalho de V. Exa. nesta
Casa, de que sou testemunha, e lembro a todos os mineiros este
dia. De todos os dados referidos por V. Exa., segundo boletim do
Ministério da Saúde, ressalto um: o aumento da contaminação entre
homens e mulheres acima de 50 anos de idade.
Principalmente os homens, que não se acostumam ao uso de
camisinha e que são resistentes, deveriam entender que os remédios
que aumentam a sua potência e fazem com que tenham vida sexual
ativa são realmente fantásticos e vieram mudar o paradigma dos
homens acima dos 50 anos. Todavia, não vale a pena comprometer a
própria vida, a vida das suas esposas, das suas mulheres nem dos
seus filhos por causa de uma relação sexual.
Então, entre todos os assuntos ressaltados por V. Exa., deixo
esse alerta, que muito me tem preocupado. Já nos preocupamos muito
com os homossexuais masculinos, como V. Exa. disse, e com os
usuários de drogas. Já nos preocupamos muito com a transmissão da
aids a mulheres de maneira geral. V. Exa. ressalta o grande avanço
e o trabalho que vem desenvolvendo o Ministério da Saúde com as
secretarias para evitar a transmissão do vírus da mãe para a
criança. E hoje temos essa atitude bem comprovada por meio de
dados estatísticos. Preocupa-nos agora a irresponsabilidade dos
homens, principalmente dos acima de 50 anos, que se tornaram mais
potentes exatamente pelo uso de remédios como o Viagra e Cialis,
que são ótimos e mudaram a filosofia de vida deles. Entretanto,
não vale a pena, simplesmente pela potência sexual, deixar de se
prevenir, de, em bom termo, usar camisinha e se infectar com o
vírus da aids apenas por uma relação sexual. Parabéns, Deputado
Ricardo Duarte!
O Deputado Ricardo Duarte* - Obrigado, Deputado Fahim Sawan.
Apenas para lembrar, Deputado Carlos Pimenta, nos anos 80, quando
começamos a cuidar dos doentes de aids, todos tinham morte em
menos de 4 ou 5 meses. Assistíamos a maioria deles apenas para
aliviar o sofrimento. A partir do uso de medicamentos,
especialmente do coquetel tríplice, a vida dessas pessoas melhorou
muito; continuam vivas por mais de 20 anos.
Gostaria de citar o caso de uma criança que nasceu comigo,
infectada pela mãe. À época, não havia esse tipo de tratamento às
gestantes. Hoje a criança tem 18 anos e sua vida está muito boa.
Há também o caso de uma senhora de 84 anos, que, apesar de
contaminada pelo vírus da aids, ainda está bastante ativa, prova
de que a sobrevida dessas pessoas aumentou muito. Até por isso há
risco de diminuição da vigilância ou diminuição da prevenção por
parte das pessoas. Fica parecendo que a aids não é mais tão
mortal. Na verdade, são doentes crônicos, bem cuidados, mas
certamente vão morrer de aids.
O Deputado Carlos Pimenta (em aparte)* - Também gostaria de
cumprimentá-lo pelo pronunciamento. Sou testemunha, durante esses
quatro anos, da sua preocupação, do seu trabalho, das suas
iniciativas, principalmente quando presidiu a Comissão de Saúde,
de que eu era membro. As nossas ações e as de várias outras
pessoas são importantes. É necessário comprometimento de vários
órgãos, não só do governo e da Assembléia, mas também de órgãos
religiosos para que comecem a encarar isso à luz da realidade que
vivemos. Sou católico apostólico romano praticante, e, muitas
vezes, tenho discordado da doutrina da minha igreja sobre o uso de
preservativo. Todavia, isso não vem ao caso. Temos de fazer com
que haja maior envolvimento.
A aids, Ricardo, tem-nos causado muita preocupação,
principalmente em alguns Municípios do interior. Aqui vemos alguns
órgãos não governamentais, algumas ações, como distribuição de
preservativos, de camisinhas, às vésperas de datas festivas, do
carnaval, do “réveillon”, mas sem continuação.
No interior não temos nem isso. A verdade é que o sexo é
praticado de forma indiscriminada e irresponsável, sem orientação.
Tomei a precaução de apresentar um projeto em que se propõe as
matérias sobre sexualidade nas escolas estaduais. Existe um
projeto aqui, em Minas Gerais, mas não é praticado. Não conheço
nenhuma escola que ministre uma matéria sobre sexualidade,
orientando e informando nossos jovens. Assim, essas leis são
feitas com a máxima boa- vontade, mas são engavetadas.
Entendo que é chegada a hora de tomarmos uma posição muito firme.
Só em Minas Gerais, nascem 2 mil bebês por ano com aids. As mães
não são obrigadas a fazer exame de aids, porque não há a cultura
médica de se pedir o exame no controle pré-nupcial ou pré-natal.
São 2 mil bebês que nascem com aids por ano em Minas Gerais, e 20
mil no Brasil. Como o Brasil avançou, é necessário tirarmos essas
leis das gavetas, propor outras novas e fiscalizar para que sejam
executadas. A mais importante delas é a da obrigatoriedade do
exame de aids no pré-natal. Com essa medida, poderemos evitar o
nascimento de 2 mil bebês com aids por ano somente em Minas
Gerais. Parabéns pelo seu trabalho.
O Deputado Ricardo Duarte* - Obrigado, Deputado Carlos Pimenta.
Queria dizer que o exame do HIV faz parte do protocolo de pré-
natal no nosso Estado. Ele não pode ser obrigatório, até porque
algumas gestantes se negam a fazê-lo. Isso mostra outro problema,
que é a pouca quantidade de gestantes que fazem pré-natal
adequadamente no Estado. Quase 700 Municípios de Minas já têm
casos de aids notificados. Também a taxa de mortalidade
experimentou uma queda de 9,8%, em 1996, para 6%, em 2005. Podemos
dizer que os cuidados das equipes de saúde com a gestante
portadora do HIV, associados à medicação durante a gestação e
parto, além do uso de medicamentos em recém-nascidos, contribuíram
para a redução das transmissões de mãe para filho.
Também o relatório do Unaids, programa conjunto das Nações Unidas
sobre HIV-aids, em relação ao Brasil, confirma esses dados e
também indica que as pessoas que vivem na pobreza e com baixo
índice de educação formal são as mais vulneráveis ao HIV. Além
disso, aponta para o crescimento do número de mulheres infectadas
no País e para o fato de que os novos grupos que se tornam mais
vulneráveis, além das mulheres, são os negros e os adolescentes,
como também os homens mais velhos.
O forte crescimento do número de novas infecções entre jovens
tornou-se uma tendência mundial. Pessoas entre 15 e 24 anos
respondem por 40% dos 4,3 milhões de novas infecções em 2006, ou
seja, 1.720.000. Na Rússia, situada numa região com um dos mais
altos índices de expansão da epidemia, 80% das pessoas que vivem
com HIV têm menos de 30 anos.
De um total de 39,5 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo
em 2006, 63% delas estão na África subsaariana. Dos diagnósticos
positivos, 37,2 milhões são adultos, 17,7 milhões representam
mulheres - maior número de mulheres até hoje registrado - e 2,3
milhões referem-se a crianças com menos de 15 anos.
Na América Latina, a epidemia se mantém estável: 1,7 milhões de
pessoas vivem com o HIV na região. O número de novas infecções
chega a 140 mil, e 65 mil pessoas perderam suas vidas em
decorrência da aids. O uso de drogas injetáveis e sexo entre
homens sem preservativos são as causas mais importantes de
infecções em diversos países da América Latina.
A Unaids reconhece o bom resultado da combinação entre prevenção
e tratamento, como ocorre no Brasil, que mantém a epidemia sob
controle.
Em Minas Gerais, no VI Congresso Brasileiro de Prevenção das DSTs
e Aids, que aconteceu em novembro, em Belo Horizonte, o Ministério
da Saúde anunciou edital de compra de 1 bilhão de preservativos
para 2007. E, neste ano, foram distribuídos 148 milhões de
preservativos.
Também é importante registrar que a Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte, procurando combinar prevenção e tratamento da Aids,
lançará, numa grande festa popular, uma revista nesse dia 1º de
dezembro com o título “Saúde e Educação de Mãos Dadas contra a
Aids. Haverá um “show” gratuito do Pato Fu.
Também nós, aqui na Assembléia, estamos realizando atividades
educativas e distribuindo preservativos e o laço vermelho, que é
símbolo da luta contra aids e é visto como símbolo de
solidariedade e de comprometimento. Esperamos que esta Casa
legislativa mantenha, como uma tradição, a sua participação no dia
1º de dezembro, expressando assim seu compromisso na luta contra a
aids.
Aproveito a oportunidade para agradecer aos funcionários da Casa
e ao Presidente, que promoveu hoje - e promoverá amanhã e sexta-
feira - esse movimento para lembrar que a aids é uma doença grave,
mortal e passível de prevenção, especialmente se houver
solidariedade com as pessoas, pois o preconceito é odioso. Muito
obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância.
* - Sem revisão do orador.