DEPUTADO DINIS PINHEIRO (PSDB), Autor do requerimento que deu origem à reunião
Discurso
Transcurso do 100º aniversário de fundação do Instituto de Educação de
Minas Gerais.
Reunião
70ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/09/2006
Página 42, Coluna 4
Assunto CALENDÁRIO. EDUCAÇÃO.
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/09/2006
Página 42, Coluna 4
Assunto CALENDÁRIO. EDUCAÇÃO.
70ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 27/9/2006
Palavras do Deputado Dinis Pinheiro
Exmos. Srs. Deputado João Leite, representando o Deputado Mauri
Torres, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Minas
Gerais; Vanessa Guimarães Pinto, Secretária de Educação,
representando o Exmo. Sr. Aécio Neves, Governador do Estado;
Profa. Marília Sarti, Diretora do Instituto de Educação; Vereador
Paulo Lamac, representando a Câmara Municipal de Belo Horizonte;
Elci Pimenta Costa Santos, Diretora Superintendente Metropolitana
“A” do Instituto de Educação; Joana D´arc Gontijo, Presidente da
Associação de Professores Públicos de Minas Gerais; Mário Assis,
Presidente da Fapaemg; senhoras, senhores, imprensa presente,
queridos jovens da fanfarra e do coral e queridos pais, o homem,
em sua curta vivência terrena, utiliza-se de dois marcos para o
diálogo e o registro histórico: o tempo e o lugar. O tempo remete-
nos à primeira década do século XX, especificamente ao dia 16 do
mês de dezembro do ano de 1906. O lugar é a cidade de Belo
Horizonte, na clássica Casa Rosa, em meio a verdes e frondosas
árvores, com jardins pintados de emílias azul-claras.
Nesses marcos, tem-se o registro de nascimento da escola normal
modelo, atual Instituto de Educação de Minas Gerais - Iemg. A
certidão de nascimento é o Decreto nº 1.960, de lavra do Dr. João
Pinheiro da Silva, então Presidente do Estado de Minas Gerais.
Permita-me, Sr. Presidente, neste diapasão, citar os marcos
referenciais da filosofia educacional do Instituto Estadual de
Educação, extraídos de discussão e análise crítica acerca do
homem, da sociedade, do conhecimento e da educação. A escola é uma
das instituições sociais que tem por finalidade realizar os ideais
que as sociedades humanas colocam para si. Portanto, ela não pode
trabalhar alheia ao conjunto de valores e preceitos que expressam
esses ideais.
A sociedade precisa tornar-se justa, solidária, participativa, ou
seja, é importante que todos tenham acesso às mesmas
oportunidades, que o ideal político democrático se estabeleça com
a participação e o compromisso de todos. Para tanto, o homem
precisa ser solidário e crítico, ou seja, sensível aos demais e,
sobretudo, capaz de analisar informações, filtrá-las, para
escolher as alternativas mais adequadas ao seu contexto. Também se
espera que o homem seja ético, responsável, coerente com o que diz
e faz; comprometido com o contexto no qual se insere, consciente
dos seus direitos e deveres, autônomo.
Em relação à educação, espera-se que seja transformadora,
qualitativa, participativa e dinâmica. Por transformadora entende-
se uma educação que permita mudanças nas visões de mundo tanto dos
educandos quanto dos educadores, uma educação dinâmica, adequada
às necessidades apresentadas pela sociedade. Também deve ser de
qualidade e favorecer a participação da comunidade no processo
ensino-aprendizagem. É um direito essencial de todos e precisa ser
eficaz na formação de cidadãos reflexivos, críticos, autônomos.
Para a concretização desses ideais de sociedade, conhecimento,
educação e homem, o Instituto de Educação, representado por seus
professores, chegou às seguintes conclusões sobre a prática
pedagógica: o processo ensino-aprendizagem, tido como a relação
mais complexa da escola, exige um planejamento coletivo e adequado
às necessidades da comunidade na qual se insere a escola; deve ser
um processo dinâmico, prazeroso, integrado e afetivo e contribuir
para formar pessoas que se importam umas com as outras. O
planejamento didático, portanto, deve ser interdisciplinar,
dinâmico, aberto a novas propostas, fundamentado em estudo e em
pesquisa, reavaliado, discutido, refeito coletivamente sempre que
necessário.
Muito apropriado e com elevado poder de síntese e expressão
contida no lema do Instituto: “Educar-se para educar”. A educação,
senhoras e senhores, e, por conseguinte, o Instituto associam-se
indelevelmente à capacidade de viver e de ser feliz da pessoa.
Essa existência terrena, frágil e temporária, como já
afirmáramos, necessita de preparo oriundo de processo contínuo nas
áreas social e educacional. Requer, como um dos pilares,
instituições sólidas comprometidas com a existência e a razão de
existir.
Insubstituível na história e na formação de milhares de pessoas
ao longo do século, o Instituto ocupa espaço nas searas mineira e
nacional. Dá resposta aos desafios. Enfrenta-os com a humildade de
sempre aprender e com a capacidade dos que não fogem ao múnus do
educador.
A afirmação do realce à educação está em todos os campos. No
âmbito da Carta Magna Federal, merece destaque extraído do art.
1º, fundamento do Estado Democrático de Direito, em que se
constitui a República Federativa do Brasil, a dignidade da pessoa
humana.
Ainda no bojo da Constituição Federal, encontramos que a educação
é o primeiro dos direitos sociais citados no art. 6º. Todos os
entes federativos - União, Estados e Municípios - têm por
obrigação, e por conseguinte finalidade pública, proporcionar os
meios de acesso à educação.
Não há, senhoras e senhores, como colimar os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, tal como proposto
no art. 3º, sem a intervenção da educação. Sra. Secretária de
Educação, Vanessa Guimarães, que realiza um trabalho valoroso, ela
é causa necessária para a construção de uma sociedade livre, justa
e solidária; garantia do desenvolvimento nacional; erradicação da
pobreza e da marginalização; redução das desigualdades sociais e
regionais; e promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
A desigualdade entre as pessoas é um tom desabonador, uma das
mazelas que assolam nosso país, desafiadora de governos e
governados.
O escritor genebrino Jean-Jacques Rousseau, já no século XVIII,
preocupava-se com o tema da desigualdade. Em obra intitulada
“Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens”, ele
diz, em síntese, que o homem é naturalmente bom, nasceu bom e
livre, mas sua maldade ou sua deterioração adveio com a sociedade
que, em sua pretensa organização, não só permitiu, mas impôs a
servidão, a escravidão, a tirania e inúmeras leis que
privilegiavam uma classe dominante em detrimento da grande
maioria, instaurando a desigualdade em todos os segmentos da
sociedade humana. Conclui o filósofo: “A origem da desigualdade
entre os homens é o próprio homem, que usa inadequadamente os
instrumentos de que dispõe para organizar-se como grupo social,
desrespeitando a liberdade individual, a bondade e a inocência
inatas no ser humano e desconhecendo que a igualdade entre os
seres se manifesta de todas as formas na natureza, desde que se
saiba ver com isenção de vícios e maldades que acabaram sendo
privilegiados na sociedade moderna”. Sem precisarmos recorrer à
tese do “bom selvagem” noticiada por Rousseau, também autor do
livro “Emílio ou da Educação”, temos de concordar que a
desigualdade não é natural, mas socialmente edificada.
A educação, queridos jovens e estudantes, é pilar indispensável
ao acesso social. Ela está intimamente ligada à disparidade
social.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea - lançou no mês
de agosto a segunda edição de sua publicação anual “Brasil: Estado
de uma Nação”. O livro trata de questões correlatas:
macroeconomia, educação, demografia e previdência, entre outras.
Na parte relativa à educação, o Coordenador do texto, Cláudio
Moura Castro, economista especializado no tema, parte do princípio
de que deficiências na quantidade e na qualidade da educação são
as duas causas relevantes no baixo crescimento econômico
registrado no País. Também credita à educação as imensas
diferenças existentes no mercado. Segundo ele, cerca de 40% da
disparidade salarial no Brasil pode ser atribuída aos desníveis na
formação da mão-de-obra. Aqueles que possuem diploma superior, por
exemplo, ganham, em média, três vezes mais por hora de trabalho
que os que têm nível médio incompleto. Ainda mais: cerca de 26%
das diferenças na receita geral da população, não apenas as
relativas ao trabalho, também são provocadas pela desigualdade na
formação. Infelizmente, essa desigualdade tende a crescer face ao
aumento da complexidade do processo produtivo que reclama força de
trabalho bem mais preparada. Assim diz Moura e Castro: “A educação
é o que nos concede maior facilidade para aprender ao longo da
vida. Se a tecnologia e as máquinas evoluem o tempo todo, só quem
estudou mais consegue aprender o novo num ritmo aceitável”.
Deputado João Leite, para ele a educação é o equipamento
intelectual que permite às pessoas transformar experiência em
produtividade. Os caminhos para o progresso individual sem
escolaridade são estreitos, muito estreitos. Temos de fazer parar
o círculo vicioso da desigualdade.
Destaca o livro do Ipea: “Com a universalização do ensino, o
principal filtro está dentro das escolas, e não no acesso a elas.
O miolo da diferença está na qualidade da educação oferecida. Os
mais pobres não apenas freqüentam escolas piores, mas têm maior
dificuldade em aprender e avançar no sistema. Até o uso de
computadores requer um nível de escolaridade acima da média de
sete anos da força de trabalho brasileira.
Assim, a melhoria da educação básica não é só um imperativo
econômico, mas também uma urgência social no sentido da redução
das desigualdades, já que a mobilidade das pessoas no mercado de
trabalho depende, de forma cada vez mais imediata e fundamental,
de boas escolas”.
Sr. Presidente e Sra. Secretária, a homenagem que hoje a
Assembléia presta ao Instituto de Educação é sem dúvida o
reconhecimento de que, ao longo do século de existência e nos anos
vindouros, desempenha e desempenhará, como instituição de ensino,
missão insubstituível. Homenagem esta que estendemos a todos os
professores, aos funcionários, aos serviçais que aqui se
encontram, aos queridos e brilhantes alunos e à Sra. Marília
Sarti, ilustre Diretora, que, com dedicação e competência,
encontra-se à frente dessa nobre missão.
Nesse lugar e nesse tempo, não poderíamos deixar de refletir
sobre esse papel para Minas e para todos os mineiros. Haja vista,
queridos ouvintes, o cenário nacional de disputas em que a ética e
os bons propósitos são engavetados, enlameando-se o espaço público
e privilegiando o privado.
Em meio a sanguessugas, mensalões e dossiês, impera a descrença e
lamentavelmente se vive o ciclo da desilusão e depressão de
valores.
A educação surge uma vez mais como imprescindível. Sra. Diretora,
o Instituto de Educação é chamado mais uma vez a contribuir, na
mesma medida em que os grandes homens públicos - realçamos como
tal o nosso Governador Aécio Neves, aqui hoje representado pela
Sra. Vanessa, nossa ilustre Secretária, que realiza um trabalho
admirável -, esta Casa Legislativa e, certamente, a instituição
homenageada não faltarão à resposta sólida e proporcional aos
desafios. Educar-se para educar possui tom reflexivo e um
constante convite para verificarmos nosso atuar e nosso agir.
Nessa linha é bom rememorarmos Paulo Freire - o grande educador -
para quem o ser humano é sempre inconcluso com permanente
movimento de procura.
Destaca Freire, em repúdio ao determinismo, que o ser é fruto
histórico, algo original e singular, que se reconhece e é,
portanto, presença no mundo.
“Se sou puro produto da determinação genética ou cultural ou de
classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-me no mundo; e,
se careço de responsabilidade, não posso falar em ética”.
Integro, senhoras e senhores, família na qual a educação tem
realce e convivência. Aí, considero-me um privilegiado. Aliás,
tive a grata felicidade de conhecer a Dra. Bianchi, que estudou
com a minha mãe durante anos e anos. Há mais de 50 anos, a minha
mãe, Irene Pinheiro, ex-aluna e ex-funcionária do Instituto de
Educação, aposentada no Serviço de Orientação Educacional - SOE -,
dedica sua vida a essa desafiante, porém gloriosa tarefa de
educar. Teve a oportunidade de conviver com Helena Antipoff -
educadora ímpar e inesquecível - e, ainda hoje, preside a Fundação
Helena Antipoff - na minha amada terra natal, que é Ibirité -
destaque no cenário educacional do nosso Estado.
Recordo-me, com saudades, dos tempos em que tive oportunidade de
acompanhá-la quando ali se dirigia para trabalhar, sempre recebido
com carinho por suas colegas, e em especial por D. Nininha, a quem
deixo o meu fraternal abraço.
Admiro, com todas as forças que a palavra exprime, a atuação dos
educadores. Sem dúvida, vida para vidas. A homenagem ao Instituto
de Educação ressalta homens e mulheres - seres humanos na exata
expressão - que viveram para que outros tivessem oportunidade de
vida.
Peço permissão para finalizar com as palavras de Paulo Freire,
que são um hino de amor à vida e do acreditar na educação, assim
como tantas e inominadas pessoas, a quem agora prestamos a nossa
homenagem: `Gosto de ser gente,... porque sei que a minha passagem
pelo mundo não é predeterminada, preestabelecida. Que o meu
`destino´ não seja um dado, mas algo que precisa ser feito e de
cuja responsabilidade não posso me eximir. Gosto de ser gente
porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura
tomo parte é um tempo de possibilidades, e não de determinismo.
Daí que insista tanto na problematização do futuro e recuse sua
inexorabilidade. Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou
um ser condicionado mas, consciente do não-acababamento, sei que
posso ir mais além dele. Gosto de ser gente porque, como tal,
percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que
não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais,
que não se compreende fora da tensão entre o que herdo
geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem
muito a ver comigo mesmo. É a posição de quem luta para não ser
apenas objeto, mas sujeito também da História.´
Que Deus abençoe vocês! Que Deus abençoe o Instituto de Educação!
Que Deus abençoe esses queridos jovens! Muito obrigado.