DEPUTADO DOUTOR RONALDO (PDT)
Discurso
Comenta os problemas enfrentados pela Escola Estadual Antônio Francisco
de Oliveira, localizada no Município de Sete Lagoas, e outras escolas
públicas vítimas de ladrões e atos de vandalismo.
Reunião
54ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 18/07/2006
Página 50, Coluna 3
Assunto EDUCAÇÃO. SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante WELITON PRADO, ALENCAR DA SILVEIRA JR.
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 18/07/2006
Página 50, Coluna 3
Assunto EDUCAÇÃO. SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante WELITON PRADO, ALENCAR DA SILVEIRA JR.
54ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 12/7/2006
Palavras do Deputado Doutor Ronaldo
O Deputado Doutor Ronaldo - Gostaria de iniciar dizendo que na
Casa não é apenas o Plenário que funciona, porque também temos as
Comissões. Hoje, pela manhã, pude participar de três Comissões,
quando tratamos de assuntos cada um mais excitante e
impressionante que o outro. Ao que tudo indica, foi dito aqui,
pela manhã, que este espaço ficaria vago pela ausência dos
Deputados da base. Sou Deputado da base, mas não perco o meu
tempo. Procuro cumprir aquilo a que o povo me destinou, que é
representar a minha cidade na Casa.
Tratarei de um assunto que vem incomodando minha cidade. A
imprensa vem noticiando uma série de arrombamentos em escolas da
rede estadual.
A situação é grave, exige providências urgentes e vem causando
sérios danos ao patrimônio público.
Em Sete Lagoas, a Escola Estadual Antônio Francisco de Oliveira
foi arrombada seis vezes neste ano. Tenho em mão pelo menos três
boletins de ocorrência que registram tais fatos. Em 15 de maio, os
ladrões pularam o muro, destruíram várias fechaduras e furtaram
alimentos destinados à merenda escolar, além de uma balança.
Tentaram abrir a porta da secretaria e de outra sala, mas não
conseguiram; então, abriram a biblioteca e tentaram entrar numa
sala que funciona como depósito da biblioteca. Supõe-se que
estivessem à procura dos computadores destinados à escola, mas,
felizmente, eles não estavam lá.
No dia 16 de junho, um mês depois, eles voltaram a agir. De
madrugada, escalaram o muro, destruíram os cadeados da despensa e
levaram 18kg de carne e 5kg de salsicha.
Três dias depois, em 19 de junho, após escalarem o muro, os
ladrões arrombaram os cadeados e a porta da cantina e levaram
praticamente toda a merenda escolar. Foram 25kg de açúcar e 10kg
de feijão. Não pouparam nem sequer o vasilhame.
Em todos os episódios, restou um triste cenário de destruição e a
sensação de impotência da comunidade educativa diante do abuso, da
ousadia e do vandalismo. A maneira de agir foi semelhante em todas
as ocasiões, e restou provado que não são suficientes as medidas
de proteção que a escola pode adotar. Não há muro, cadeado ou
fechadura que contenham a ambição desses criminosos, que impeçam a
dilapidação constante e repetida do patrimônio público.
A direção, os professores, alunos e funcionários da Escola Antônio
Francisco de Oliveira estão perplexos diante de um problema cuja
solução não está ao seu alcance. Os computadores destinados à
escola não poderão ser instalados tão cedo. Por precaução da
Diretora, eles estão guardados noutro lugar e, assim, preservados
até agora. Mas para que servem esses computadores se os alunos não
podem utilizá-los?
Sei de escolas em Belo Horizonte que tiveram os computadores
furtados e, para que os alunos não ficassem prejudicados, fizeram
campanhas e eventos para conseguir comprar novos equipamentos.
Logo em seguida, esses também foram levados pelos ladrões. Até
quando será possível conviver com essa situação? Os sistemas de
alarme vêm-se mostrando ineficazes na prevenção desses crimes,
seja pela possibilidade de serem desativados pelos próprios
ladrões, seja pelo lapso de tempo entre o acionamento e a chegada
da autoridade, tempo esse que permite aos invasores escaparem do
local.
Até quando os alunos vão ficar sem a merenda escolar? Na mais
recente ocorrência, a escola de Sete Lagoas ficou até mesmo sem o
botijão de gás. Muitos alunos contam com a merenda, pois, em casa,
a família não dispõe de alimentação suficiente. A direção e os
professores costumam improvisar um lanche e até mesmo se cotizar
para não deixar esses alunos com fome, sempre que a merenda é
furtada. É muito triste, é lamentável.
A solução, a meu ver, não é nenhuma novidade. Será necessário
voltar ao sistema que se adotava há algum tempo: colocar um
zelador em cada escola. Esse funcionário morava com sua família,
em dependências especiais da própria escola. Além de prestar
pequenos serviços de manutenção, era uma presença constante, que
inibia a ação dos vândalos e dos ladrões. O zelador era um
auxiliar importante para a vida da escola, colaborando com as
atividades de rotina, auxiliando no controle do fluxo de alunos
nos horários de entrada e saída das aulas, fazendo serviços de
rua. Era um amigo para alunos e professores, era respeitado,
estimado e um guardião da escola.
A figura do zelador desapareceu com o advento da modernidade e dos
recursos eletrônicos sofisticados, mas imperfeitos. Desapareceu,
como infelizmente desapareceram as duplas de guardas civis, os
militares denominados pela população como Cosme e Damião, que
faziam patrulhamento a pé. Desapareceu, como também aconteceu com
os guardas noturnos, que percorriam as ruas anunciando a sua
presença com apitos. Eram eles muito mais que agentes de
segurança: eram como velhos conhecidos, a comunidade os tratava
com atenção, e era retribuída com zelo, consideração e muita
vigilância.
É certo que as cidades estão crescendo muito e que o perfil da
criminalidade mudou. O que inquietava antes a população era apenas
o ladrão de fundo de quintal, o ladrão de galinhas, de roupas no
varal, aquele que aproveitava um descuido do morador para entrar
nas residências e fugia quando percebia algum movimento. Hoje o
criminoso é ousado, invade as casas, rende os moradores, não teme
a polícia. Mas não podemos nos conformar com essa afronta à ordem
social. Não podemos permanecer lamentando as perdas e esperando o
próximo ataque. As escolas têm que funcionar normalmente, pois a
educação é a única esperança para um futuro melhor.
Os recursos públicos investidos na educação resultam do esforço de
cada cidadão, que paga os impostos e espera vê-los aplicados em
benefício da comunidade. Os cofres estaduais não são fontes
inesgotáveis que permitam, a cada três dias, como sucedeu em Sete
lagoas, consertar portas, trocar fechaduras, comprar cadeados e
repor todo o estoque de alimentos para a merenda escolar.
Professores e alunos estão reféns dos marginais. Este é um
capítulo reprisado da mesma e longa novela. Só variam os cenários,
os nomes das escolas.
Tenho a certeza de que cada um dos colegas Deputados - e somos 77
- pode relatar fatos semelhantes acontecidos em seus Municípios de
origem.
O momento, portanto, exige atitude. É hora de união em torno dessa
questão, buscando opiniões e sugestões de medidas eficazes para
conter essas agressões ao patrimônio público. Com esse objetivo,
requeri às Comissões de Educação e de Segurança Pública desta Casa
a realização de reunião conjunta para, em audiência pública,
debatermos o assunto. É apenas o primeiro passo, mas estou certo
de que as contribuições de especialistas e técnicos, aliadas aos
relatos dos alunos, pais, professores e diretores, poderão apontar
caminhos. Será necessário enfrentar de vez esse desrespeito aos
bens públicos e o vandalismo desenfreado, péssimo exemplo para os
alunos das escolas públicas.
Alguns Municípios, depois de arcarem com muitos prejuízos causados
por esses arrombamentos nas escolas, colocaram vigilância
contínua, guardas municipais, inclusive nos fins de semana. A
experiência vem se mostrando satisfatória e talvez possa ser
estendida às escolas estaduais. A presença de policiais nas
escolas seria benéfica para garantir segurança aos alunos e
professores nos horários de entrada e saída das aulas, para evitar
o ataque de grupos rivais de outras escolas, como ocorreu
recentemente, em Belo Horizonte; mais benéfica ainda seria durante
a noite e nos fins de semana, ocasiões em que os ladrões mais
agem.
Deixo, portanto, o meu apelo às autoridades da educação e da
segurança pública, para que analisem, com empenho, a situação das
escolas estaduais. Deixo o meu convite aos colegas Deputados para
que estejamos mobilizados a favor dessa luta. Peço aos pais,
alunos, professores e diretores que se unam aos nossos esforços.
O Deputado Weliton Prado (em aparte)* - Dr. Ronaldo, parabenizo V.
Exa. pelo assunto seriíssimo que traz a esta Casa, na tarde de
hoje. Sou membro efetivo das Comissões de Educação e de Segurança
Pública desta Assembléia. Esse não é um problema isolado, ou seja,
como V. Exa. bem retratou, não é só de Sete Lagoas, mas de vários
Municípios do Estado de Minas Gerais - 853 ao todo. Em grande
parte deles, existe o problema crônico de aumento de violência,
arrombamento e drogas na porta das escolas, que precisa ser
tratado com firmeza e urgência por parte das autoridades. Fico
feliz ao vê-lo abordar esse assunto, que é muito sério, e sugerir
alternativas para diminuir os efeitos. Uma delas seria realmente
contar com o zelador, que ajuda muito, é amigo e companheiro dos
estudantes e está ali para cuidar de tudo. Porém, de forma muito
triste, vimos que uma portaria da Secretaria de Estado de Educação
obriga a retirada de todos os zeladores das escolas estaduais.
Alguns trabalhavam há 15, 20, 25 anos nessa atividade, ou seja,
dedicaram grande parte ou até toda a vida às escolas, aos alunos,
à comunidade. E agora, da noite para o dia, são obrigados a sair
do emprego, sem perspectiva de vida, inclusive, porque tudo o que
construíram está na escola, assim como sua dedicação, seu amor.
Portanto, o problema é muito sério. V. Exa. foi muito feliz e
tocou na ferida, no cerne da questão. É muito importante minimizar
o problema e garantir a volta dos zeladores. Sabemos que se trata
de uma questão estrutural. Hoje o Brasil tem o maior número de
jovens da sua história - são mais de 34 milhões. O que era para
ser comemorado, infelizmente, tornou-se um grande pesadelo, porque
várias esferas do poder público não se prepararam para atender a
toda essa demanda; não existem políticas para as áreas da cultura
e do esporte. Por exemplo, o jovem não consegue o primeiro
emprego. Falam do primeiro emprego, exigem experiência, mas, como
ter experiência se não houve a primeira oportunidade? Geralmente,
quem comete atos ilícitos são os próprios jovens. São eles que
mais matam e morrem. Além disso, são as principais vítimas do
crime organizado, do narcotráfico, que, às vezes, adota crianças.
Muitas meninas se prostituem para comprar uma sandália ou alimento
para sua família. De fato, a situação é muito triste; o problema é
social. Para resolvê-lo, somente por meio da educação. Não canso
de citar Paulo Freire: "A educação sozinha não transforma a
sociedade. Sem ela, tampouco a sociedade muda". Valorizamos também
os servidores que, infelizmente, têm os menores salários de todo o
País.
Parabenizo-o mais uma vez, Deputado Doutor Ronaldo. V. Exa. pode
ter certeza de que contará com o apoio desta Casa e das Comissões
de Segurança Pública e de Educação.
O Deputado Doutor Ronaldo - Deputado Weliton Prado, muito
obrigado. Certamente o Governador Aécio Neves, que tanto tem feito
pela segurança e pela educação em nosso Estado, será sensível a
tais solicitações e apoiará iniciativas para resolver
definitivamente essa incômoda situação.
O Deputado Alencar da Silveira Jr. (em aparte) - Deputado Doutor
Ronaldo, gostaria de parabenizá-lo e lembrar-lhe que isso não está
acontecendo só no Estado, como o Deputado do PT abordou. Iniciou-
se na Prefeitura de Belo Horizonte, na rede municipal, que é da
administração do PT. Foram eles que retiraram o zelador, que
tomava... Fico boquiaberto quando uma pessoa solicita aparte só
para fazer média com a platéia. Estou ciente da sua preocupação e
de como leva a sério as suas ponderações. V. Exa. traz uma
preocupação do que está ocorrendo principalmente em Belo
Horizonte, na rede municipal, subordinada à administração do PT, e
na rede estadual.
Certamente, V. Exa. sobe a esta tribuna em nome de toda a
população de Sete Lagoas, pois sabe muito bem atender aos seus
anseios e respeitá-la. Portanto, V. Exa. faz jus aos que o puseram
aí. A população de Sete Lagoas está de parabéns por ter um
representante como V. Exa.
O Deputado Doutor Ronaldo - Deputado Alencar da Silveira Jr.,
muito obrigado.
* - Sem revisão do orador.