DEPUTADO ELMIRO NASCIMENTO (PFL)
Discurso
Lê justificativa de requerimento dirigido ao Secretário de Estado de
Planejamento e Gestão - SEPLAG -, Antonio Augusto Junho Anastasia, e ao
Governador Aécio Neves sugerindo a criação de assessoria aos prefeitos,
principalmente quanto à aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Reunião
21ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 20/04/2004
Página 51, Coluna 2
Assunto ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA.
Aparteante Chico Simões.
Legislatura 15ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 20/04/2004
Página 51, Coluna 2
Assunto ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA.
Aparteante Chico Simões.
21ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 13/4/2004
Palavras do Deputado Elmiro Nascimento
O Deputado Elmiro Nascimento* - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, apresentei, na semana passada, requerimento sugerindo
ao Secretário Anastasia e ao Governador Aécio Neves a criação de
assessoria para dar sustentação, informação e orientação aos
Prefeitos, principalmente os de pequenos municípios, para que
possam adequar sua administração à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Há convênios a serem assinados por intermédio do Estado e da
União. Tendo em vista que vários Deputados foram Prefeitos, como
Chico Simões, Sebastião Navarro Vieira, Bonifácio Mourão, eles
sabem como é difícil adequar a administração dessas Prefeituras à
lei, principalmente à Lei de Responsabilidade Fiscal. Mais de 600
Prefeitos são punidos não porque querem nem por negligência, mas
por falta de conhecimento. Essas punições criam grande transtorno
e podem afetar a administração e o seu futuro político.
Lerei a justificativa do meu requerimento para que todos os
Deputados o apoiem. (- Lê:) “O Estado sempre manteve em sua
estrutura órgão destinado à permanente assistência administrativa
dos municípios. Tal presença se justificava, no passado, em face
das dificuldades inerentes à falta de comunicação, à inexistência
da internet, do telefone, do fax e de uma legislação avançada no
controle e na fiscalização da aplicação do dinheiro público. Por
isso o Estado ia ao encontro do homem do interior.
Assim, o antigo Departamento de Assistência aos Municípios - DAM
- e, posteriormente, a Superintendência de Articulação com os
Municípios - SUPAM - prestaram relevantes serviços orientando a
área de engenharia, de contabilidade, de licitação, de prestação
de contas, etc. A assistência e a resposta às consultas faziam-se
diante de casos concretos. E aí residem hoje as maiores
dificuldades enfrentadas pelos administradores, não só dos
pequenos, mas também dos municípios de maior porte e
representação.
O Tribunal de Contas do Estado, dotado de estrutura de alto
nível, pela sua finalidade constitucional, atende, em parte, aos
anseios municipais. Mas, sendo órgão julgador, suas respostas
somente são dadas às consultas em tese, em função de não ser
permitido ao Juiz antecipar o seu julgamento.
O Ministério Público, com suas importantes conquistas e
prerrogativas na fiscalização da correta aplicação da lei, não
possui competência para responder às consultas de Prefeitos e
Câmaras. A sua missão, entre outras, é fiscalizar as ações dos
poderes constituídos e a correta aplicação da lei, propondo,
diante de fatos concretos, as ações cíveis públicas necessárias.
A evolução administrativa do País, decorrente da Lei de
Responsabilidade Fiscal, impôs ao gestor público sérias e graves
responsabilidades, cujas conseqüências são tão severas que o
simples desrespeito a uma norma desse texto pode levar o agente à
pena de reclusão. Não há dúvida ou contestação quanto à
importância e ao avanço contido nessa moderna legislação.
Entretanto, a sua implantação tem causado sérios e graves
problemas aos administradores, e particularmente aos servidores
públicos municipais, face à escassez de pessoal técnico
especializado, não só nas cidades de médio e grande porte, mas
particularmente nas pequenas comunidades.
A maior gravidade reside no fato da ausência do Estado junto aos
municípios. O número de Prefeitos investigados pelo Ministério
Público gira em torno de 600 em Minas Gerais, segundo divulga a
imprensa. O número é elevadíssimo. É certo que, entre os
Prefeitos, pode e deve haver alguns que não conduzam a
administração com a seriedade, o zelo e a competência com que
esperavam os munícipes. Mas daí a chegarmos a uma cifra
correspondente a 70% dos administradores municipais é algo
inadmissível. Não podemos aceitar a hipótese de que a corrupção
generalizou-se no Estado de Minas Gerais. Precisamos analisar, com
maior rigor, as razões para que tais acontecimentos sejam tão
freqüentes no cenário político-administrativo de nosso Estado.
O Governo do Estado precisa estar presente, orientando e
garantindo, sem interferir na autonomia municipal, as condições
indispensáveis para a realização de uma administração honesta,
séria e competente, que, respeitando as leis, não permita o
massacre indiscriminado dos administradores municipais, trazendo
para a nossa população um profundo descrédito pela classe política
de Minas Gerais, celeiro dos maiores e melhores homens públicos
desta País, destacando-se Milton Campos, Juscelino Kubitschek e
Tancredo Neves.
Diante do vácuo provocado pelo afastamento do Estado de sua
função primordial de prestar assistência e assessorar, em casos
concretos, os municípios, tem surgido um número interminável de
empresas de assessoria jurídica, contábil e administrativa,
dizendo-se, cada uma delas, ser portadora de profissionais de
notório saber jurídico e especialidade comprovada e apresentando-
se como verdadeiros portais do direito.
Entretanto, a função de orientar e executar as políticas públicas
em suas áreas essenciais, tais como saúde, educação, assistência
social e segurança pública, pertence ao Estado, cuja presença é
constitucionalmente obrigatória. As demais entidades podem e devem
atuar, mas de maneira supletiva, não podendo se transformar para
os Prefeitos, na ânsia de se apegarem a algo concreto, muitas
vezes por equívoco ou falta de informação, em tábua de salvação.
O Governador Aécio Neves, responsável por uma administração
moderna e dinâmica, naturalmente haverá de ter a sensibilidade
indispensável para entender a angústia do administrador público
interiorano e instituir, em Minas, um órgão de assistência
permanente aos municípios, não só para auxiliá-los na solução de
casos concretos, mas principalmente para preparar os técnicos
municipais para este novo tempo decorrente da aplicação da Lei de
Responsabilidade Fiscal, para servir de elo entre os municípios, o
Ministério Público e o Tribunal de Contas Estadual.
Isso irá possibilitar uma administração pública desempenhada de
forma correta e harmoniosa, fazendo com que o gestor público seja
respeitado e admirado por suas posições e decisões em prol de suas
comunidades.
Tenho absoluta convicção de que esta Casa Legislativa saberá
acolher qualquer proposta nesse sentido do Sr. Governador do
Estado, para que a administração central de Minas Gerais possa
reencontrar-se com o povo mineiro naquilo que é mais caro para
todos nós: a liberdade, aliada à honestidade e à honradez no trato
com a vida pública, em face do espírito libertário de nosso povo,
pois não foi em vão que Tancredo Neves bem se expressou em seu
discurso de posse: “Mineiros, o primeiro compromisso de Minas é
com a liberdade”.
Essa liberdade inerente aos mineiros é fruto da existência e do
legado de homens públicos honestos e respeitados que, ao longo de
nossa história, escreveram as páginas mais significativas e caras
do nosso povo.
Esse compromisso de Minas com a liberdade encontra-se em perigo
diante do quadro de descrédito que está se formando em relação aos
políticos e particularmente aos Prefeitos, administradores sempre
acatados e respeitados por nossa população na condição de líderes,
intérpretes e porta-vozes de suas comunidades.
O homem não pode ser destruído pelo exercício do cargo público.
Precisa exercê-lo e deixá-lo recebendo o respeito e a admiração de
seus governados, não só devido ao cumprimento de seus compromissos
políticos mas, sobretudo, deve ser respeitado por suas ações
honestas e transparentes.
O Deputado Chico Simões (em aparte)* - Muito obrigado, Deputado
Elmiro Nascimento.
Primeiramente, parabenizo V. Exa. pelo pronunciamento.
Nós, que somos do interior, percebemos que, muitas vezes, o
Prefeito, coitado, é cheio de boas intenções, é uma pessoa boa e
correta, mas não tem o conhecimento da administração pública, que
envolve muitas obrigações. Algumas vezes, esses agentes políticos
estão sendo assessorados por pessoas que, de maneira proposital,
fazem com que se envolvam em algum tipo de irregularidade, para
que terceiros levem vantagens. Na hora de responder pelas
irregularidades, a responsabilidade recai exatamente sobre quem
está à frente do Poder Executivo, principalmente do ordenador de
despesas.
De uma maneira fraterna, devemos nos aprofundar um pouco nessa
reflexão. Essa situação é, simplesmente, conseqüência do sistema
em que hoje vivemos.
Discutimos esse sistema nos corredores e percebemos a preocupação
de cada Deputado. Infelizmente nunca pensamos de forma coletiva.
Isso é fruto de um Estado dilapidado pela política praticada ao
longo desses dez anos, em que o Estado é sucateado para que a
iniciativa privada o substitua. Portanto, a discussão deve ser
mais ampla. Temos de aproveitar o momento para, independentemente
da bandeira, refletirmos, pois presenciamos, principalmente V.
Exa., que é um grande Deputado - e tenho certeza de que lida com
vários Prefeitos no dia-a-dia -, o problema, motivo do seu
brilhante pronunciamento. Realmente temos de rever o papel do
Estado.
É importante o Estado possuir esse órgão, solicitado por V. Exa.,
para assessorar os Prefeitos. Hoje o Estado, alegando a existência
da LRF, deixa de aplicar recursos na saúde e em outros setores
fundamentais.
Portanto, Deputado Elmiro Nascimento, que é do PFL, um partido
ideologicamente diferente do PT, acredito que determinadas
bandeiras devem ficar acima das nossas ideologias. Vamos resgatar
o Estado e fazê-lo cumprir o seu papel. Muitas vezes Prefeitos e
pessoas honradas são processados, não por sua culpa, mas porque
não contaram com uma assessoria decente do Estado.
Parabenizo V. Exa. Conte com o nosso apoio. Continuaremos com a
discussão, para chegarmos à origem do problema e para que os
Prefeitos possam trabalhar de maneira correta. Assim, os Prefeitos
que forem dignos e corretos sairão da mesma forma que entraram.
Hoje uma pessoa honrada corre o risco de sair como ladrão.
Obrigado.
O Deputado Elmiro Nascimento* - Obrigado, Deputado Chico Simões.
Com certeza suas palavras abrilhantarão meu pronunciamento. V.
Exa. foi Prefeito e conhece bem as dificuldades. As dificuldades
sempre existiram, mas antigamente havia apoio e estrutura. Hoje
não há mais. Sem dúvida, o Governador Aécio Neves modernizou muito
a máquina pública e dinamiza bastante as ações de Governo para
beneficiar o povo e logicamente estará sensível a isso.
Não nos referimos aos processos de cassação de mandato promovidos
e praticados por decisão política das Câmaras Municipais. A nossa
preocupação está centrada nos processos movidos pelo Ministério
Público, todos fundados na legislação que confere a esse órgão o
exercício de funções de fiscalização e de promoção de ações
visando combater a improbidade administrativa.
A generalização que presenciamos preocupa-nos sobremaneira,
porque agride em demasia a tradição mineira. A conquista de uma
democracia ampla, resultado da Constituição cidadã de Ulysses
Guimarães, precisa ser preservada pelos homens, responsáveis pela
aplicação de seus preceitos e conquistas.
É preciso que se crie, com urgência, no âmbito do Estado de Minas
Gerais um órgão de assistência para os problemas efetivos, e não
para aqueles em tese, e que ele tenha, no bojo de sua competência,
além de assistir permanentemente os municípios, o diálogo com o
Ministério Publico, com o Tribunal de Contas e também com outros
órgãos incumbidos de responsabilidades semelhantes, para que os
municípios recebam orientação segura e treinamento efetivo para
correta aplicação dos dispositivos decorrentes das nossas
conquistas democráticas.
Se para os atuais Prefeitos de pouco valerá qualquer providência
para a promoção do que sugerimos ao Governador Aécio Neves e ao
ilustre Secretário Antônio Anastasia, temos a plena convicção de
que para os próximos Prefeitos será da maior valia, não só para a
efetiva integração dos municípios no projeto desenvolvimentista de
Minas Gerais, mas principalmente para resgatar o respeito e a
dignidade que precisa merecer o Prefeito Municipal. Muito
obrigado.