DEPUTADO LAUDELINO AUGUSTO (PT)
Discurso
Comenta a Páscoa e sua relação com a atividade política.
Reunião
20ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/04/2004
Página 49, Coluna 2
Assunto RELIGIÃO. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
Legislatura 15ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/04/2004
Página 49, Coluna 2
Assunto RELIGIÃO. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
20ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 7/4/2004
Palavras do Deputado Laudelino Augusto
O Deputado Laudelino Augusto* - Mineiras, mineiros, Sr.
Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, concidadãos e
concidadãs nas galerias e os que nos acompanham pela TV
Assembléia, estamos em plena Semana Santa. Para muitos é um
simples feriadão. Até que é bom! Neste corre-corre da vida,
precisamos de uma folga, de um feriado. É um direito dos
trabalhadores, mas para nós, brasileiros, mineiros, temos muito
forte na nossa história e na nossa cultura a questão religiosa.
Era Páscoa quando o Brasil foi alcançado pelos portugueses, dizem
descoberto, mas, na verdade, foi quando chegaram às costas do
Brasil. O primeiro monte recebeu o nome de Monte Pascal. Está na
nossa história o povo cristão, evangélico, católico.
Venho à tribuna para deixar uma mensagem, desejar vida nova a
todos, especialmente à política. Isso mesmo, Páscoa na política. É
nosso trabalho como legisladores. A Páscoa está ligada aos judeus.
Eram escravos no Egito e foram libertados. É uma linda história
bíblica. Sob a liderança de Moisés, conseguiram que o Faraó
finalmente admitisse a saída do povo. Passaram pelo deserto e pelo
Mar Vermelho. A libertação da escravidão para a tão importante
terra prometida ficou na história. Ano após ano, o judeu vem
celebrando a libertação da escravidão para a liberdade. Um povo
que tem um Deus vivo não pode ser escravo.
No Cristianismo, o próprio Cristo, durante uma festa de Páscoa,
passou pela morte e deu a sua vida, fazendo uma nova Páscoa de
libertação, de saída, não da escravidão física para uma terra
prometida, mas tirando-nos da escravidão maior, que é a interior,
que é a escravidão das mentes, dos corações, escravidão do pecado
para uma vida de liberdade.
Fomos criados para ser livres. Que relação isso teria com a
política? A ligação é grande, e daí nosso desejo de falar sobre a
Páscoa na política. Hoje existe escravidão, miséria, sofrimento,
mas o ser humano nasceu para ser livre e feliz. A transformação
passa pela política.
Cabem-nos também ações concretas e a elaboração de leis que, uma
vez executadas, garantam liberdade, vida digna e plenitude a nosso
povo.
Na saída do Egito, na antiga Páscoa, Moisés recebeu os dez
mandamentos, as leis de Deus, para que o povo fosse organizado e
respeitasse a vida um do outro. Devido à mentalidade da época,
falava-se mais em proibição: não matar, não roubar, não cobiçar,
com o objetivo principal de organizar a população. Poderíamos
dizer que era uma constituição, uma lei maior.
Nós, como políticos e legisladores, temos o compromisso de
elaborar leis. Talvez não devam proibir tanto, como era a
mentalidade do Antigo Testamento, mas privilegiar a linguagem do
amor e da justiça: amar uns aos outros, como é a mentalidade do
Novo Testamento. Aliás, já temos um documento social da doutrina
cristã em que um pastor da Igreja Católica, o Papa Pio XI, diz que
a política é a mais perfeita forma de vivermos o mandamento do
amor.
Sendo assim, celebrar a Páscoa na vida é celebrá-la na política.
O Evangelho fala da justiça e do amor, diz-nos para procurar
primeiro o reino e a justiça; pois o resto será acrescentado. Como
nós, políticos e legisladores do Estado, poderemos contribuir para
que a Páscoa aconteça em nossa história? Precisamos muito agir. Há
diversas situações de escravidão. A cada dia, aumentam as notícias
e denúncias de miséria, sofrimento, uso de drogas, violência,
pessoas sem as condições mínimas de vida. Precisamos permitir que
passem para uma situação de liberdade.
Essa libertação deve acontecer no coração e também nas
estruturas. O pecado e a maldade nascem do coração humano, mas
cristalizam-se nas estruturas. Daí surge nossa importância como
políticos. Precisamos converter os corações, mas também
transformar as estruturas, que, às vezes, ajudamos a reproduzir, a
sustentar, a manter. Devemos ser políticos da mudança dos
corações, das mentalidades e das estruturas em geral.
Já fizemos, certa vez, uma reflexão sobre o chamado poder, que
deve ser vivido por nós como um serviço à sociedade. Quem sabe não
precisamos dessa transformação neste momento? A Páscoa em nossa
vida de político talvez seja essa: passar de uma situação de
poder, privilégio, vantagem e autoridade sobre os outros para uma
situação de serviço e disponibilidade, colocando os bens públicos
a serviço de toda a coletividade.
Páscoa é vida nova. Estamos aqui, neste dia, para desejar que
todos trabalhemos por essa vida nova. Estamos preparando para
iniciar em maio um grande seminário da IV Semana Social
Brasileira, com o seguinte tema: Mutirão por um novo Brasil.
Precisamos reunir nossos esforços, pois é possível uma mudança.
Nosso País está sendo visto por todo o mundo como uma esperança.
Há uma hora e meia, estava conversando com um jovem que passou um
ano na Europa, em uma experiência de trabalho voluntário. Disse-me
que passou por vários países europeus e que aquele continente está
de olho no Brasil, para ver uma transformação e ter um sentido na
existência. Há países riquíssimos sem sentido na vida. Como
exemplo, cito a Suécia, que já desenvolveu tudo que podia, mas
apresenta um alto índice de suicídio entre a juventude. Que
sentido de vida é esse?
O Brasil possui potencial, e podemos - devemos - fazer um mutirão
por um novo País. Será essa a Páscoa que o povo espera de todos
nós? Que a Páscoa aconteça na história!
Alguém pode estar pensando que estou procedendo a um sermão de
Semana Santa, ou seja, um discurso religiosamente político ou
politicamente religioso. É isso mesmo. Precisamos juntar os dois,
pois realizamos freqüentemente essa separação, como se fé fosse
uma coisa e política fosse outra. Talvez essa seja uma das causas
de o Brasil ser o maior país cristão do mundo e de ser também um
dos campeões em violência e em mortalidade infantil. Se não fosse
a Pastoral da Criança, com seu trabalho maravilhoso, e o trabalho
de tantas entidades, a situação estaria pior. Hoje, na parte da
manhã, o Deputado André Quintão falou sobre a questão da criança e
do adolescente e sobre as frentes parlamentares em defesa dos seus
direitos em Minas Gerais. Há trabalhos maravilhosos sendo
realizados. Se não fosse isso, o Brasil estaria em uma situação
pior com relação à criança. Então, como um país cristão apresenta
tantas incongruências e contradições? Talvez essa questão se deva
à política. Nós, políticos, cristãos ou não, temos colocado este
Poder a serviço de uma sociedade nova, justa e solidária?
Não desejarei feliz Páscoa a ninguém, porque ela é feliz ou não.
A Páscoa é de Jesus. Fico preocupado porque, quando desejam feliz
Páscoa, estão desejando que ganhemos muitos ovos de chocolate.
Isso não tem relação com a Páscoa. Trata-se de consumismo puro.
Desejamos a todos, aos Deputados e Deputadas, às suas famílias, às
comunidades, às pessoas que nos acompanham das galerias e de casa,
que participem da fecundidade libertadora da Páscoa, que é sempre
feliz para todos os que assumem o projeto da vida. Desejamos que a
nossa Assembléia Legislativa, que nos traz até algumas angústias,
já que, neste ano, ainda não votamos quase nada devido a vetos e
negociações, assuma um compromisso de Páscoa, ou seja, de abrir um
espaço cada vez maior para a participação da sociedade. A
democracia representativa tem de dar lugar à democracia
participativa. Aliás, as nossas comissões realizam isso muito bem
com suas audiência públicas. Esses são sinais de Páscoa
acontecendo.
Desejo que a nossa Assembléia Legislativa e todas as casas que
elaboram leis em todo o Estado participem. As Câmaras Municipais,
estão preocupadas com a redução de Vereadores. Elas têm de se
preocupar com isso, mas têm de se preocupar também com a qualidade
dos seus Vereadores. Talvez fosse favorável aumentar o número de
Vereadores, mas em outro contexto de mentalidade, ou seja, do
poder como serviço - quem sabe até como voluntários? Há cidades
que necessitam de mais Vereadores. Aliás, já há associações de
moradores que, voluntariamente, se reúnem. Há também os conselhos
paritários. Temos de dar mais valor a eles, pois poderiam ajudar
na administração de uma cidade. Mas existem cidades em que os
Vereadores ganham um salário exorbitante. Muitos já votaram o
salário para o ano que vem maior que o dos Deputados. A lei proíbe
isso.
Mas não é isso que pretendo dizer. Trago uma mensagem positiva da
Páscoa na política, para que sejamos agentes transformadores de
uma vida de angústia, de miséria e de sofrimento em uma vida de
liberdade. Espero que todos participem intensamente da fecundidade
libertadora da Páscoa. Um abraço a todos.
* - Sem revisão do orador.