DEPUTADO LEONÍDIO BOUÇAS (PST)
Discurso
Comenta seu retorno à Assembléia Legislativa e a situação econômica do
Estado.
Reunião
3ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 26/02/2003
Página 19, Coluna 2
Assunto DEPUTADO ESTADUAL. ORÇAMENTO. (ALMG).
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 26/02/2003
Página 19, Coluna 2
Assunto DEPUTADO ESTADUAL. ORÇAMENTO. (ALMG).
3ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 20/2/2003
Palavras do Deputado Leonídio Bouças
O Deputado Leonídio Bouças* - “Sr. Presidente, Srs. Deputados,
imprensa, amigos presentes na galeria, amigos da TV Assembléia,
que, com seu trabalho, levam as imagens da Assembléia Legislativa
de Minas Gerais para todas as regiões do Estado, povo de Minas,
hoje é um dia especial para mim. É com grande alegria que volto a
esta tribuna, e, com minha alegria, renascem meus sonhos. Sonhos
de educador e médico que, conhecendo a realidade de Minas e do
Brasil, acredita numa vida nova para todos nós. Agradeço a Deus
por dar-me, novamente, a oportunidade de servir ao meu povo, povo
de Minas Gerais. Agradeço aos meus conterrâneos de Pompéu, minha
cidade natal, do Oeste de Minas, onde aprendi a apreciar a
mineiridade, a deleitar-me em ser comedor de pequi e ser da terra
da liberdade. Agradeço a minha gente amiga e desbravadora do
Triângulo e Alto Paranaíba, desde Canápolis, Centralina, Araporã,
Monte Alegre de Minas, Tupaciguara, Campina Verde, Santa Vitória,
Araguari e Nova Ponte, Abadia dos Dourados, Monte Carmelo,
Douradoquara, Cascalho Rico, Coromandel, até Carmo do Paranaíba,
Frutal, Planura, entre tantas outras. Agradeço a minha querida
Uberlândia, que me acolheu ainda criança, preparou-me para a vida
como homem e cidadão e projetou-me no mundo político como
Vereador, Presidente da Câmara Municipal, Vice-Prefeito e Deputado
Estadual pela segunda vez.
Meus caros Deputados, minhas caras Deputadas, volto renovado,
verdadeiramente animado; volto, acima de tudo, fortalecido
intimamente, porque o verdadeiro homem público deve estar
preparado para os momentos graves. E o momento é grave porque
Minas está em queda. Os jornais têm publicado, com insistência, a
situação mais que difícil da economia do Estado. Não precisaríamos
dos jornais para nos apercebermos de que, mesmo com a situação
difícil que o Brasil vive há muitos anos, o clima de decadência
sentido em Minas é antagônico ao clima de euforia que tomou conta
de outros Estados, como Goiás, a Bahia, entre tantos outros.
Abro um parêntese para aplaudir a equipe do jornal “O Tempo” que
fez uma série de reportagens, mostrando a situação econômica deste
Estado. Ouvi atentamente os pronunciamentos do Deputado Carlos
Pimenta, que abordou problemas na educação, na saúde e foi
aparteado por colegas. Digo com grande preocupação: os problemas
são muitos, mas não haveremos de resolver nenhum deles, de ser
depositário fiel dos anseios e das aspirações do povo de Minas,
enquanto não conseguirmos levantar Minas Gerais.
Lerei belo editorial, escrito pelo Deputado Federal Vittório
Medioli, cujo título é “Minas em Queda”, para que aqueles que
estejam nos assistindo pela televisão e não tenham tido a
oportunidade de lê-lo, tomem conhecimento.(- Lê:)
“Não é a burocracia que gera riqueza, ela gasta riqueza produzida
por quem trabalha na produção, por quem investe, por quem arrisca
seu nome, sua poupança, seu talento, sua casa, tendo sempre ao
lado um `leão´, que, em nome do bem comum, tira-lhe 40% daquilo
que gera. O Estado se desviou de sua função a ponto de mergulhar
no descrédito. Apenas cobra e pouco ou nada devolve ao
contribuinte, ao cidadão.
Minas é um exemplo cruel. Abandonou a sociedade se arrogando
apenas o direito de lhe cobrar uma fatia intolerável. Resultado:
pelas bordas de seu imenso território fogem, a cada dia, pequenos,
médios e grandes empreendimentos. Milhares de empresas optaram por
Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e até pela Bahia.
Outras fecharam as portas sem que ninguém se preocupasse em
compreender as razões. O empobrecimento de Minas se enxerga sem
lupa.”
Mais adiante, desfia uma série de exemplos de empresas que
desistiram de trabalhar em Minas Gerais: de Muriaé, foram para o
Espírito Santo e o Rio de Janeiro; de Uberlândia, foram para Goiás
e Mato Grosso; e de Santa Rita de Sapucaí foram para a Bahia. (-
Lê:)
“O abandono do sistema viário e das vias de acesso pesou também
na decisão de outras mudanças.
A atividade empresarial em Minas assumiu as características de
atividade heróica, e o Estado convive há séculos com a vergonhosa
pobreza do Jequitinhonha, do Mucuri e de São Mateus - os vales que
disputam a liderança da miserabilidade brasileira, tratados com
esmolas. Nesses bolsões de abandono se nasce sonhando com uma
oportunidade de emprego e se morre prematuramente na fila das
esmolas. A desesperança contagiou regiões antigamente prósperas,
que hoje sonham entrar na antiga SUDENE para serem contempladas
nos programas de cestas básicas.”
Ouvi neste Plenário vários Deputados da outra legislatura se
referirem ao Triângulo, a Uberlândia, como novos Deputados dessa
região - os primos ricos do Estado -, e hoje a pobreza toma conta
daquela área.
As empresas fogem para os Estados vizinhos, já não procuram se
estabelecer em Minas Gerais. Com a pobreza do Triângulo, do Sul de
Minas, da Zona da Mata, o que haverá de sobrar para o
desenvolvimento deste Estado? (- Lê:)
“A decadência, num clima tão sombrio é inevitável. A saída é
exportar café, aço, celulose, e para quem não pode exportar
produto, só resta exportar a si mesmo. Milhares de mineiros moram
nos Estados Unidos, e outros milhões sonham em se mandar para lá.
A miséria é debelada apenas pelo desenvolvimento, um fator que
merece preocupação, cuidados e muita vontade. Mas o que espanta é
o fato de muitos não se aperceberem disso, ou seja, de tratarem o
empreendedor apenas como contribuinte de impostos, poço sem fundo,
saco de pancadas, plantação que não precisa de cuidados. Tudo
irresponsavelmente, como se uma sociedade organizada pudesse se
sustentar sem o alquimista que concilia as forças do trabalho e do
capital para transformá-las em salários, impostos, produção e
progresso. O empresário mineiro hoje é um “dom quixote” que entra
num caminho com menos de 5% de possibilidade de sucesso e 95% de
fracasso. Minas Gerais, enquanto caravanas de empresas passavam
para outros Estados, ficou como cão de guarda: latindo para que as
empresas apressassem o passo.”
Por isso, digo que o momento é grave, pois, com a queda
econômica, há a queda social. Vejam o Índice de Desenvolvimento
Humano do nosso Estado em comparação com o de outros Estados de
menor peso econômico. Devido a isso, o Governo de Minas tem sido
matadouro de políticos. Nesse contexto, impõe-se a nossa união.
Num momento em que governa o Estado, Aécio Neves, um homem jovem,
com experiência e talento político reconhecidos nacionalmente,
trabalha por uma reestruturação administrativa do Estado que dê
novas condições internas ao desenvolvimento. Além disso, existem
as condições externas, tão preocupantes quanto as internas.
Na cerimônia de posse do Conselheiro Simão Pedro Toledo - meu
antigo colega, vizinho de gabinete - como Presidente do Tribunal
de Contas do Estado, tive oportunidade de ouvir nosso Governador
falar da necessidade de um novo pacto federativo.
Quero convidar todos os Deputados para que nos constituamos numa
força sinérgica com o Governador Aécio Neves, a fim de que Minas
assuma a frente pelo restabelecimento de um novo pacto federativo.
Assistimos, nos últimos anos, à brutal concentração de recursos
no Governo Federal. Veio tanto o Fundo de Estabilização Fiscal que
retirou receita dos Estados e dos municípios quanto a Lei Kandir,
o FUNDEF e o aumento incomensurável das contribuições como a CPMF,
a COFINS e tantas outras, sem que os Estados e municípios não
participem do bolo. A carga tributária no Brasil pulou de pouco
mais de 20% para mais de 35% do PIB. Isso é um verdadeiro assalto
ao bolso dos contribuintes sem darmos para o povo a resposta por
que ele tanto anseia. Mas os recursos estão concentrados na União.
Aos municípios e aos Estados se dá muito pouco, o mínimo, mas a
União recebe todos os recursos.
O que vimos, caros companheiros, em meu entendimento, foi a
tentativa de transformação da República Federativa do Brasil em
“república unitária”. Quero chamar a atenção sobre esse ponto. No
Brasil, estão rasgando a Constituição, falando em república
federativa, porque, para ser uma república federativa legítima, os
Estados teriam o direito de legislar sobre assuntos de seu
interesse. O que vimos no País foi o aniquilamento econômico das
unidades federativas, num primeiro plano, para, num segundo
momento, impor-se o autoritarismo político.
Vejam a verticalização das coligações eleitorais, subordinadas às
eleições estaduais, às eleições presidenciais, que são somente a
ponta do “iceberg”.
Numa república federativa legítima, os Estados são autônomos,
embora não soberanos. Vejam o caso dos Estados Unidos da América,
onde em um Estado tal procedimento é legal, enquanto em outro,
não.
Num país de dimensões continentais como o nosso, é preciso que se
cumpra em primeiríssimo lugar o art. 1º da Constituição Federal,
que anuncia que a República Federativa do Brasil é formada pela
união indissolúvel dos Estados, dos municípios e do Distrito
Federal, constituindo-se em um Estado democrático de direito.
Confesso que foi justamente por acreditar há quatro anos que
somente no Congresso Nacional poderíamos lutar por um novo pacto
federativo que me candidatei a Deputado Federal, em 1998. Sentia-
me frustrado, impotente como Deputado Estadual, já que haviam
usurpado o poder dos Estados e dos municípios. O poder está
concentrado na União.
Mas, hoje, estou aqui novamente para que possamos nos unir,
juntar esforços e apoiar o Governador Aécio Neves, para que Minas
seja outra vez a voz da liberdade e para que o nosso País seja uma
república federativa de verdade. Muito obrigado.
* - Sem revisão do orador.