DEPUTADO JOÃO LEITE (PSB)
Discurso
Pesar pelo falecimento do jurista Evandro Lins. Comenta o papel
desempenhado pela Comissão de Direitos Humanos.
Reunião
422ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/12/2002
Página 35, Coluna 3
Assunto HOMENAGEM. (ALMG). DIREITOS HUMANOS.
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/12/2002
Página 35, Coluna 3
Assunto HOMENAGEM. (ALMG). DIREITOS HUMANOS.
422ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 17/12/2002
Palavras do Deputado João Leite
O Deputado João Leite - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras.
Deputadas, público das galerias, telespectadores da TV Assembléia.
Ocupo esta tribuna para tratar de dois assuntos. O primeiro é,
como Presidente estadual do PSB, a manifestação da nossa dor pelo
passamento do companheiro, eminente jurista e homem público,
Evandro Lins, fundador do partido, com Antônio Houaiss, em 1945,
tendo também participado da reorganização do PSB durante o
processo de redemocratização do País. Estamos de luto pela perda
desse nosso companheiro imortal, tão importante para a história da
democracia brasileira. Evandro Lins faleceu ao voltar de uma das
muitas homenagens que lhe foram prestadas em Brasília. Manifesto,
portanto, a tristeza de todos os membros do PSB pelo passamento
desse brasileiro tão ilustre.
O segundo assunto, Sr. Presidente, Srs. Deputados, diz respeito
ao importante papel desempenhado por esta Casa, especificamente
pela Comissão de Direitos Humanos.
Os trabalhos que o Ministério Público do Estado está realizando e
que a nossa grande imprensa traz estampados vêm reforçar o papel
da Assembléia Legislativa e da Comissão de Direitos Humanos.
Muitas vezes, alguns tentam reduzir a importância dessa Comissão
à questão prisional. Mas o seu papel vai muito além. Refiro-me,
especialmente, às manchetes que trazem hoje os jornais sobre a
morte da modelo Cristiane Ferreira. Um dos nossos jornais traz:
“Modelo foi assassinada, afirma a Promotoria”. Meses atrás, na
Comissão de Direitos Humanos, o pai da Cristiane buscou justiça. E
é esse o papel dessa Comissão - dar ao cidadão mineiro acesso
total à justiça, não interessando quem seja. A denúncia recebida,
naquele momento, referia-se à morte de uma cidadã mineira e a todo
o processo, repleto de equívocos e irregularidades. O papel da
Comissão foi, portanto, dar a um pai, que reivindicava que a
memória de sua filha fosse tratada com dignidade, e que os fatos
fossem esclarecidos.
Provocada por um requerimento de minha autoria, imediatamente a
Comissão realizou uma audiência pública, a fim de esclarecer a
situação. Após tomar posse da documentação, o Ministério Público
reabriu o caso e temos, desde então, acompanhado todo o trabalho
que está sendo feito. Para as autoridades, tratava-se de suicídio.
E somente quatro meses após a morte da jovem Cristiane, foi aberto
inquérito policial.
O papel principal desempenhado por esta Assembléia e pela
Comissão de Direitos Humanos foi enfrentar o problema para que
tudo fosse apurado; não temê-lo, e ficar do lado da justiça. As
denúncias do envolvimento de pessoal do alto escalão do Governo
fizeram com que a família viesse à Comissão e apelasse para que
fosse feita justiça. E é isso o que esperamos.
Por decisão do Ministério Público, já por esses dias tornar-se-á
público todo o inquérito e será revelado o que vem sendo até agora
guardado: as informações relativas às investigações e a divulgação
dos fatos.
Conforme está nos jornais de hoje, “O Ministério Público derrubou
definitivamente, ontem, a hipótese de suicídio da modelo Cristiane
Aparecida Ferreira, de 24 anos, ao contrário do que havia
concluído a Polícia Civil”. O Ministério Público já tem em suas
mãos a análise das fotos da modelo morta, feita por peritos da
UFMG, demonstrando que ela teria sido agredida antes de morrer.
O Ministério Público solicitou e marcou para quinta-feira a
exumação do corpo da modelo Cristiane Ferreira, que está sepultado
em Contagem. O pedido de exumação veio após a divulgação de um
laudo feito por Roberto Pereira Campos, professor de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais. Ao analisar seis fotos do
corpo da modelo, tiradas pela perícia, Campos concluiu que
Cristiane apresentava sinais de violência no nariz e na mão,
indicativos de que houve luta antes da morte, e que ela morreu por
asfixia.
Esperamos, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, que a justiça seja
feita, e a verdade, ao final de tudo, apareça. Algo, porém, fica
claro para todos nós nesse episódio. Houve, sem dúvida, por parte
das autoridades, uma tentativa de encobrir toda a situação. Isso
as coloca em situação delicada. Por que demorou quatro meses a
abertura de um inquérito sobre a morte de uma cidadã de Minas
Gerais?
Análises estão sendo feitas pelo Ministério Público. Estão
ouvindo pessoas que não tinham sido ouvidas nem chamadas no
processo. Algumas situações nos deixam impressionados, como por
exemplo, o fato de uma pessoa, que tinha envolvimento com
Cristiane, ter sido seqüestrada em Belo Horizonte um mês antes de
sua morte. Essa pessoa tinha envolvimento com ela. Por que as
autoridades não a ouviram? Por que não foi feita, anteriormente, a
análise das fotos que os peritos estão fazendo agora e concluindo
que ela foi vítima de violência? Por que não foi feita com cuidado
a análise, por parte das autoridades, da possibilidade de sua
morte por asfixia?
Sem dúvida, agora teremos, por parte do Ministério Público, maior
cuidado na investigação e apuração. Toda a população de Minas
Gerais terá acesso às informações, a partir do momento em que o
processo se tornar público. Acompanharemos tudo, desde o momento
em que a família, inconformada com a versão de suicídio, procurou
a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Esse é o
papel daquela Comissão. Esse é o verdadeiro papel dos direitos
humanos, ou seja, comparecer aos locais onde foi negada a justiça,
onde foi negado o direito.
Na exumação, veremos também, Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Sras. Deputadas, público presente, o laudo que comprova se a jovem
estava grávida. Nada disso importou anteriormente para as
autoridades, que concluíram por auto-extermínio, suicídio.
Colocaram tudo dentro da gaveta, tentando abafar a situação.
Esperamos que tudo seja esclarecido.
Que esse pai que buscou a Comissão de Direitos Humanos da
Assembléia Legislativa possa ter as informações que envolvem a
morte de sua filha e que lhe foram negadas anteriormente pelo
Poder Executivo do Estado de Minas Gerais. É responsabilidade do
Poder Legislativo, do Poder que representa a população de Minas
Gerais enfrentar essas situações e não temer nada. É isso que a
população de Minas Gerais espera de seus representantes: que não
se escondam, mas busquem trazer à luz a verdade. É essa a nossa
expectativa nas próximas horas. Queremos trazer a público toda a
investigação realizada pelo Ministério Público, tirando seu
caráter sigiloso, para que possamos conhecer toda a realidade da
situação que envolveu a morte de uma jovem de Minas Gerais. Foi
perdida uma vida e à família foi negado o direito humano de ter
respostas, de ter acesso ao inquérito e de ver a justiça ser
feita. Se é um assassinato, existem culpados que devem ser
julgados de acordo com a legislação e devem cumprir suas penas. É
isso que a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa
defende. Neste momento, nós, da Comissão, nos sentimos realizados
ao ver vir a público o esclarecimento de algo que estava
totalmente escondido, em resposta à família e à sociedade de Minas
Gerais. Obrigado.