DEPUTADO FÁBIO AVELAR (PTB)
Discurso
Comenta o convênio assinado entre a Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA.
Reunião
416ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/12/2002
Página 41, Coluna 3
Assunto ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. SANEAMENTO BÁSICO.
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/12/2002
Página 41, Coluna 3
Assunto ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. SANEAMENTO BÁSICO.
416ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 28/11/2002
Palavras do Deputado Fábio Avelar
O Deputado Fábio Avelar - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
senhores das galerias, senhores que nos assistem pela TV
Assembléia. Inicialmente gostaríamos de deixar registrado nosso
pesar pelo falecimento do ilustre ex-Deputado Raul Lima Neto,
parlamentar que prestou, com muita grandeza, seus serviços a esta
Casa, representando o povo mineiro.
O assunto que me traz à tribuna, mais uma vez, é o recente
convênio feito entre a Prefeitura e a COPASA, assinado na última
terça-feira. Sinto-me no dever de trazer minhas considerações,
tendo em vista que tenho acompanhado o desenvolver dessa
negociação, ao longo dos últimos quatro anos. Tive a oportunidade
de me manifestar contrariamente aos termos do convênio que estava
prestes a ser assinado e hoje quero fazer minhas observações sobre
esse contrato assinado recentemente. Antes de iniciar meu
pronunciamento, quero fazer um breve histórico do que vem
ocorrendo.
Há mais ou menos quatro ou cinco anos, tivemos o início das
conversações entre a COPASA e a Prefeitura, para encontrar uma
maneira de se realizar um acerto entre as partes para renovar um
contrato de concessão de tamanha importância, não só para Belo
Horizonte, como para a própria COPASA e, por que não dizer?, para
o Estado de Minas Gerais. Então, essa discussão foi iniciada há
mais ou menos quatro ou cinco anos. Quando eleito Deputado, tentei
trazer esse assunto para a Assembléia Legislativa. Tivemos aqui a
realização de várias audiências públicas, procurando envolver todo
o segmento representativo da Região Metropolitana de Belo
Horizonte, entidades sindicais, Prefeituras, AMBEL, e, naquela
oportunidade, já observávamos a necessidade de realizar uma grande
discussão sobre o assunto.
Tivemos a oportunidade de apresentar requerimento a esta Casa
criando comissão para acompanhar essa negociação. Sempre lembramos
a maneira fechada com que foi conduzida, basicamente entre a
COPASA e a Prefeitura de Belo Horizonte. Tivemos, também, a
oportunidade de fazer uma visita ao então Prefeito Célio de Castro
e expusemos a necessidade de se ampliar o debate. Prometeu a
criação de uma comissão intitulada Comissão de Notáveis, para a
qual indicaria pessoas, em conjunto com o Governo do Estado,
representando toda a comunidade da Região Metropolitana.
Infelizmente, o Prefeito não cumpriu a palavra. Exatamente três
dias após o nosso encontro, mandou uma mensagem para a Câmara
Municipal. Na verdade, um “projeto frankenstein”, criando uma
unidade de saneamento na cidade - embora fosse necessário promover-
se essa integração. Depois desse encontro, tivemos, através da
imprensa, a minimização da divulgação do que estava ocorrendo com
essa negociação. Aproximadamente há 20 ou 30 dias ficamos
assustados, ao vermos a veiculação de que esse convênio seria
assinado de uma hora para outra. Causou-nos estranheza o fato de
um convênio de tamanha importância ser assinado ao final de uma
administração. Por um dever de consciência, procuramos levantar
novamente esse assunto. Naquela ocasião, contactamos a equipe de
transição do Governo Aécio Neves, que, com muita honra, ajudamos a
eleger participando ativamente de sua campanha. Sentimo-nos no
dever de levar a nossa preocupação, mostrando o que poderia ser
prejudicial à COPASA. Cumprimentamos o Governador Itamar Franco,
por haver entendido aquela necessidade. Foi adiada a assinatura do
referido convênio, de modo a apresentar esse trabalho à comissão
de transição, iniciando-se uma negociação. Infelizmente, houve a
assinatura na última terça-feira, e não observamos mudanças
significativas no texto original.
Registramos aqui para dar satisfação aos meus eleitores e ao povo
mineiro, em especial aos companheiros da COPASA, que, em
determinados momentos, entenderam que eu era contra essa
assinatura. Tenho procurado, sempre que possível, reafirmar que
isso não é verdade. Sempre lutei e busquei encontrar solução para
que esse contrato fosse assinado. Entendo que é de fundamental
importância para a COPASA, para a Prefeitura de Belo Horizonte e
para o povo mineiro. Apenas não concordava com alguns termos que
estavam sendo negociados e que, em meu entendimento, seriam
prejudiciais à COPASA e ao Governo do Estado.
Na sexta-feira passada, dia 22, fizemos contato com o Presidente
da COPASA, Dr. Rubens Coelho, manifestando-lhe a nossa apreensão.
Ele nos enviou a minuta do convênio que seria formalizado. Durante
o fim de semana, estudei esse documento, a fim de apresentar
formalmente ao Presidente da empresa as nossas considerações.
Encaminhei, então, a S. Exa. um ofício, cuja cópia foi entregue
também a todos os Diretores e aos sindicatos representativos da
empresa. Agi dessa forma porque esse convênio, nos termos em que
foi assinado, prejudica a COPASA e o Estado de Minas. Vou mais
longe: o Governo se curvou diante da pressão exercida pela
Prefeitura de Belo Horizonte. Acredito que houve omissão por parte
do Governo. Foram tantos os prejuízos que a equipe do Governo
Aécio Neves, por meio de uma análise jurídica mais acurada do
instrumento, certamente irá concluir que o contrato trará
prejuízos para o Estado, podendo comprometer a continuidade dos
serviços prestados pela COPASA. Queira Deus que esteja errado!
Como funcionário de carreira da empresa, estou torcendo por que
esteja errado, porque a COPASA não pode correr o menor risco de
ter o seu serviço de saneamento - que está voltado para a
qualidade de vida do povo - comprometido.
Registrando os pontos mais polêmicos, que deveriam ter passado
por uma discussão mais aprofundada, ressalto que o instrumento
jurídico assinado tem pouca consistência. Não é um contrato de
concessão. Pela primeira vez na história da COPASA, uma renovação
foi feita sem a assinatura de um contrato de concessão. Foi
assinado um convênio, que, como já disse, é um instrumento
jurídico frágil, que apresenta uma série de deficiências, sem
fazer menção ao patrimônio da empresa, à modalidade de rescisão
contratual, caso necessária.
Algumas cláusulas estão abrindo precedentes seriíssimos, que
estarão sujeitos a contestações judiciais. A alínea “b” do § 2º,
que trata das atribuições do município, diz: “assegurar que a
tributação de competência municipal sobre os serviços da COPASA
fique limitado à prestação de serviço de esgotamento sanitário,
com a alíquota máxima de 2%”.
A partir da assinatura do convênio, a Prefeitura de Belo
Horizonte poderá tributar a COPASA-MG até o limite máximo de 2%.
Hoje, a empresa não recebe nenhum tipo de tributação dos
municípios mineiros. Esse é um grave precedente.
Outro precedente grave está na alínea “h”: “a COPASA é obrigada a
arcar com os custos do Programa de Recuperação Ambiental e
Saneamento dos Fundos de Vale e dos Córregos em Leito Natural de
Belo Horizonte até o valor máximo de R$170.000.000,00”. No meu
entendimento, essa é uma cláusula ilegal e pode receber
contestação judicial.
Outra cláusula que gostaria de levantar é a do item 3.2., em que
consta que o produto da arrecadação das tarifas do serviço de
abastecimento de água e esgotamento sanitário no município será
repartido entre a SUDECAP e a COPASA-MG, na proporção de 4% para a
SUDECAP e 96% para a COPASA-MG.
Com isso, fica assegurado à Prefeitura o repasse mensal de 4% do
que a COPASA-MG arrecada em Belo Horizonte. Conforme tem sido
divulgado pela mídia, seria esse o percentual máximo de
participação da COPASA-MG na Prefeitura. Mas não é só isso. Temos
a participação de 4% da arrecadação de Belo Horizonte, mais cerca
de 2%, que é um cálculo aproximado do custo desses
R$170.000.000,00 de que a Prefeitura vai participar junto com a
Prefeitura. Então, iria para 6%. Temos, ainda, mais um percentual
de 2%, que é o percentual da tributação. Assim, iríamos para 8%.
Outro item bastante estranho é o 3.5.1., que determina: acrescem-
se ao valor a ser creditado à SUDECAP, e que serão destinados ao
Fundo Municipal de Saneamento, os valores despendidos pelo
município para o custeio de seu consumo de água e de esgotamento,
considerando-se para isso os próprios municipais e os demais
imóveis utilizados diretamente pela Prefeitura.
Em um cálculo que fizemos, isso seria aproximadamente 2% do que a
COPASA-MG arrecada em Belo Horizonte. Já alcançaríamos, então, um
percentual próximo de 10%. Além disso, abriríamos um precedente
gravíssimo, porque hoje a COPASA-MG não dá nenhum tipo de isenção
a nenhuma Prefeitura das 600 com as quais opera, a nenhum tipo de
usuário. Essa é uma forma dissimulada de se dar uma isenção
tarifária às contas de água da Prefeitura.
Vejam a ironia: se a Prefeitura, por exemplo, tiver isenção das
suas contas, e a COPASA-MG for responsável pelo pagamento dessas
contas, sem nenhum tipo de controle do consumo da água,
partiríamos para uma situação estranha. Se a Prefeitura necessitar
de mais recurso, basta que não controle o seu consumo de água.
Só para concluir, no item 3.6. consta que “... na definição,
fixação, revisão ou ajuste das tarifas de fornecimento de água e
de esgotamento sanitário, aplicadas aos usuários finais destes
serviços, o Estado e a COPASA obrigam-se a considerar em sua
composição todos os custos e obrigações aqui mencionados”. Quer
dizer, todo cidadão do Estado de Minas Gerais, incluindo aquele
que está em uma cidade mais pobre do Norte de Minas, do vale do
Mucuri ou do vale do Jequitinhonha, vai ser responsável por esse
custo adicional que a COPASA-MG estará repassando, a partir desse
contrato, à Prefeitura de Belo Horizonte, no montante aproximado
de 10% por mês, isso sem considerar que abriremos as portas para
que nossos convênios dessa modalidade sejam avocados por outras
Prefeituras.
Queira Deus que esteja errado, mas estamos muito preocupados com
a continuidade e a sobrevivência da COPASA.