Pronunciamentos

DEPUTADO AGOSTINHO PATRÚS (PTB), Presidente "ad hoc"

Discurso

Transcurso do 100º aniversário de nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Reunião 215ª reunião ESPECIAL
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 01/11/2002
Página 12, Coluna 3
Assunto HOMENAGEM.
Proposições citadas RQS 1613 de 2002

215ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª LEGISLATURA, EM 28/10/2002

Palavras do Deputado Agostinho Patrús


Palavras do Sr. Presidente

Sentimento e reflexão constituem a grande marca da obra do autor em que Minas é a ponte tanto para o mundo quanto para a natureza das coisas. Esse mineiro e homem do mundo sempre mostrou uma firme coerência no testemunho de sua escrita.

O jovem jornalista, já em Belo Horizonte, vindo de Itabira, recepcionou, em 1924, a caravana modernista que veio conhecer Minas e trouxe até nós, entre outros, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.

Transferindo-se para o Rio de Janeiro, integrou o Ministério da Educação e Saúde, como Chefe de Gabinete de Gustavo Capanema, o político mineiro que se cercou dos intelectuais da época e soube, recorrendo aos talentos de cada um deles, promover nossa cultura. Essa aliança entre políticos e intelectuais, que seria revivida por Juscelino Kubitschek, preocupar-se-ia tanto com a construção do futuro quanto com a preservação do passado de nossas artes. Ao mesmo tempo em que a arquitetura moderna de Niemeyer e Lúcio Costa ganhava chancela oficial, o serviço do patrimônio histórico e artístico nacional era criado, com toda ênfase no Barroco de Aleijadinho e Ataíde. Drummond foi atuante defensor da preservação de nossos monumentos e de nossas cidades históricas.

Ouro Preto, ameaçada pela chuva, com seus tesouros em perigo, mereceu estes seus versos: “minhas casas fustigadas, minhas paredes zurzidas, minhas esteiras de forro, meus cachorros de beiral, meus paços de telha vã estão úmidos e humildes”.

Se as casas que são sentinelas do tempo tornam eterno o espírito de Minas, esse mesmo espírito impregna a memória do poeta, feita “de cacos, de buracos de hiatos e de vácuos”.

Na palavra poética de Carlos Drummond, a lembrança “chega àquele ponto onde é tudo moído no almofariz do ouro uma Europa, um museu, o projetado amar, o concluso silêncio”.

Tímido, ele contrariou o silêncio e, já na velhice, ousou falar do amor e do corpo. Sempre lúcido, às vezes amargo, observou as coisas que o rodeavam com ironia ou humor. O itabirano, na verdade, buscou o perene e o universal. Ou, de volta aos versos de “A Máquina do Mundo”, eleito por escritores e críticos como o melhor poema brasileiro de todos os tempos, nosso poeta buscou “essa total explicação da vida, esse nexo primeiro e singular”. Mesmo que essa contemplação se dê “no sono rancoroso dos minérios”, ela “dá volta ao mundo e torna a se engolfar, na estranha ordem geométrica de tudo”.

Aquele que compôs o melhor poema brasileiro de todos os tempos pode também ser considerado o melhor dos poetas brasileiros. Esse poeta responde pelo nome de Carlos Drummond de Andrade, que Minas e Itabira viram nascer, há 100 anos, com o testemunho daquele que, embora torto, era um anjo. Esse anjo agora evocamos para dizer: vai, Carlos, sê eterno como lembrança! Muito obrigado!”