DEPUTADO IVO JOSÉ (PT)
Discurso
Comenta a manifestação no Município de João Monlevade em favor da
melhoria da rodovia BR-381, destacando a precariedade do trecho
entre os Municípios de Ipatinga e Belo Horizonte.
Reunião
305ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/11/2001
Página 56, Coluna 1
Assunto TRANSPORTE.
Aparteante José Henrique.
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/11/2001
Página 56, Coluna 1
Assunto TRANSPORTE.
Aparteante José Henrique.
305ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 13/11/2001
Palavras do Deputado Ivo José
O Deputado Ivo José* - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs.
Deputados, telespectadores da TV Assembléia e pessoas presentes
nas galerias, ocupamos a tribuna nesta tarde para trazer-lhes
informação sobre evento que aconteceu na última sexta-feira em
João Monlevade, mais precisamente na BR-381. Houve manifestação
organizada pela Associação dos Municípios do Médio Piracicaba -
AMEP -, presidida pelo Prefeito João Brás, do Município de São
Domingos do Prata. Fomos convidados, mas não pudemos comparecer
porque, naquela oportunidade, estávamos na Assembléia Legislativa
coordenando o fórum técnico sobre o rio das Velhas, realizado na
última sexta-feira à tarde. Essa manifestação veio trazer a
insatisfação de uma região expressiva, como a do Vale do Aço, do
vale do rio Doce e do vale do Piracicaba. A Zona da Mata e o Leste
de Minas reivindicam a duplicação da rodovia que liga Belo
Horizonte ao Vale do Aço e até Governador Valadares há vários
anos. A paciência tem limite. Conclamamos esta Casa a se unir às
forças da sociedade que lutam por essa obra, aos Prefeitos, aos
Vereadores e aos parlamentares daquela região, que estão se
manifestando insistentemente.
Exporei com maiores detalhes o que aconteceu na última sexta-
feira naquela região. Os jornais “Hoje em Dia” e “Estado de Minas”
retratam muito bem o ocorrido. Precisamos mudar essa dura
realidade para oferecer segurança às pessoas que trafegam por
aquela estrada e para que haja desenvolvimento naquela região que
tem sido esquecida; basta olharmos a proposta orçamentária do
Governo. Farei leitura do que foi publicado nos jornais,
retratando essa manifestação. No jornal “Estado de Minas” foi
publicado: “Protesto reúne moradores e até representantes de
partidos políticos rivais que lutam pela duplicação do trecho da
rodovia, que registra média de dez acidentes por dia. Vida está
sob ameaça em 240km. Um protesto realizado na tarde de ontem, na
altura do km 340 da BR-381, em João Monlevade, a 114km de Belo
Horizonte, reuniu moradores de nove municípios e representantes
dos mais diferentes partidos políticos, em alguns casos rivais
históricos, em torno de um objetivo comum, a duplicação da
rodovia. Às 15 horas, um caminhão foi atravessado na estrada,
fechando o tráfego nos dois sentidos”.
Em meia hora de manifestação foi formado um congestionamento que,
segundo a PRF, chegou a quase 10km de extensão.
Moradores, Prefeitos, parlamentares e representantes de entidades
da sociedade civil reclamam das péssimas condições do trecho de
240km da BR-381, compreendido entre Belo Horizonte e Ipatinga.
Segundo dados da Associação dos Municípios da Microrregião do
Médio Rio Piracicaba - AMEP -, entre 1999 e 2000 foram registrados
7.383 acidentes, provocando a morte de 282 pessoas e deixando
outras 3.341 feridas. Pelos números, é registrada média de mais de
10 acidentes por dia.
A PRF tem outros números que, apesar de menores, não deixam de
ser alarmantes. Pelos dados da polícia, de 1999 até julho deste
ano, 316 pessoas morreram, e outras 3.536 ficaram feridas em 5.439
acidentes. O total representa média de quase seis acidentes
diários somente no trecho entre BH e Ipatinga. “Já perdi a conta
do número de acidentes que vi e de pessoas que socorri no tempo
que estou aqui, para não falar nas que morreram”, observa um dos
patrulheiros do trecho, que preferiu não ser identificado.
Mais forte que os números, no entanto, são as marcas na memória e
no corpo de quem sentiu na pele os efeitos das más condições da
rodovia. Um exemplo é o aposentado Edilson Silvério, condenado a
passar o resto da vida em uma cadeira de rodas por causa de um
acidente sofrido na BR-381, no dia 24/12/92. Além de deixar o
então empresário Edilson Silvério paraplégico, o acidente provocou
a morte de Geraldo Roque Frade e deixou mais duas pessoas feridas.
“Vim participar, em solidariedade, porque a estrada é mesmo muito
perigosa”, afirmou. Ele não se lembra das circunstâncias do
acidente.
Já o Chefe da Inspetoria do CREA de João Monlevade, José Mário da
Silveira Estrela, lembra-se bem do acidente que sofreu no dia
28/8/2000. O Palio onde estava o engenheiro civil e de estradas
foi atingido por um caminhão que perdeu o controle e invadiu a
contramão. Estrela teve três costelas fraturadas e um afundamento
no esterno, mas conseguiu se recuperar, assim como outro amigo que
estava no veículo. Já o então Diretor Executivo da AMEP, Henrique
Eduardo Dias Júnior, que também estava no carro, não teve a mesma
sorte e morreu na hora. “Dos ferimentos, eu me recuperei, mas o
trauma psicológico não desaparecerá nunca”, conclui. E esse
Secretário Executivo falecido era um grande amigo deste Deputado.
Custo do frete aumenta em 38%: Além de mortes e ferimentos, as
péssimas condições do trecho da BR-381 entre Belo Horizonte e
Ipatinga também provocam grande prejuízo financeiro. Buracos,
falta de acostamento e pavimentação precária são responsáveis por
um acréscimo de 38% no custo do transporte rodoviário pelo trecho.
É o que afirma o Presidente da Câmara da Indústria Mineral da
Federação das Indústrias de Minas Gerais - FIEMG -, José Fernando
Coura, que também acumula o cargo de Presidente do SINDIEXTRA,
representante das indústrias de extração mineral e vegetal do
Estado.
Segundo Coura, Minas Gerais é responsável por 15% de todas as
exportações do País, sendo que 55% dessas exportações são do setor
mineral.
Essa região, cortada pela BR-381, responde por 70% da produção de
minerais e 100% da produção de celulose no Estado, mas ninguém
quer investir ali por causa da dificuldade e do alto custo de
escoamento da produção, salienta.
O Presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do
Médio Piracicaba - AMEP - e Prefeito de São Domingos do Prata,
João Braz Martins Perdigão - PFL -, afirma que, há pelo menos dez
anos, vêm sendo realizadas reuniões, audiências públicas e
seminários sobre uma duplicação do trecho, mas nenhum dos projetos
propostos saiu do papel até hoje. Reuniões de gabinete não
funcionaram e por isso resolvemos trazer o pessoal para a rua.
Dessa vez, precisa funcionar, desabafa. O DNER, responsável pela
rodovia, afirma que não tem dinheiro para a duplicação e que está
tentando conseguir um financiamento com o Banco Mundial - BIRD -,
mas ainda não há prazo previsto para as obras.
Basta correr os olhos em torno dessa reportagem, para
constatarmos como é grave a situação nessa rodovia. Estamos aqui
para buscar o fortalecimento do Legislativo, a fim de mudar essa
situação.
O Deputado José Henrique (em aparte)* - Deputado Ivo José, sempre
admiramos sua luta pela duplicação da BR-381. Na última sexta-
feira, estávamos no Município de Mantena para a criação do comitê
da bacia hidrográfica do rio São Mateus. Conhecemos bem o
histórico do movimento pela duplicação da BR-381. Lembro-me de que
participávamos de uma audiência pública, no Vale do Aço, quando
foi iniciada uma campanha pela duplicação, por meio da qual todas
as lideranças do vale do rio Doce e do Vale do Aço reivindicavam a
mesma coisa, em um documento. A partir daquele momento, tivemos
encontros, no Governo Eduardo Azeredo, com o Secretário de Obras e
com o Diretor-Geral do DER-MG. Lembro-me até hoje de uma reunião
que fizemos em Governador Valadares, quando foi lançada a proposta
de um consórcio para privatização da rodovia. Lembro-me, ainda,
das críticas do Secretário de Obras, Dr. Israel Pinheiro, que
dizia que a BR-381, no trecho que liga Belo Horizonte a João
Monlevade, feita na época da instalação da Cia. Belgo-Mineira, foi
construída com a seguinte técnica: “Soltaram um burrinho, que saiu
andando pelas montanhas e fazendo curvas pelas partes íngremes da
região. Assim, foi-se cortando a rodovia”. É uma rodovia
construída há mais de 40 anos. Ela é perigosa. O tráfego cresceu
muito, pois a região é muito populosa. A rodovia não atende mais à
demanda do tráfego. Acho que essa lembrança vem em boa hora, para
que, com o Governo Estadual e o Governo Federal, possamos fazer um
planejamento para a duplicação daquela rodovia. Sabemos que no
orçamento federal não constam recursos para a duplicação. Devemos
fazer essa reivindicação justa, porque ela é chamada “rodovia da
morte”. Nós, que somos utilitários dessa rodovia quase todos os
finais de semana, sabemos do perigo que corremos.
O Deputado Ivo José* - Muito obrigado, Deputado José Henrique,
conhecedor profundo dessa região. V. Exa. esteve presente em todas
as manifestações promovidas por esta Assembléia.
Queremos buscar o fortalecimento de todos os Deputados desta
Casa, e não somente dos que percorrem as regiões do Vale do Aço,
do vale do rio Doce, da Zona da Mata, do vale do Mucuri, porque a
Assembléia, naquela oportunidade, abraçou essa causa. Apoiamos
totalmente o movimento oriundo da sociedade, a fim de
transformarmos a estrada da morte em estrada da vida. Muito
obrigado.
* - Sem revisão do orador.