Reunião abordou o papel do farmacêutico, que poderia aumentar o acesso das mulheres a orientações sobre a saúde
A farmacêutica Kirla Detoni ressaltou que o contexto social das mulheres influencia na sua saúde
Conselho de Farmácia conscientiza mulheres sobre o uso racional de medicamentos

Farmacêuticos podem promover saúde e segurança da mulher

Vítimas mais comuns de intoxicação por remédios são as mulheres; campanha promove uso racional de medicamentos.

17/05/2022 - 15:27

A capilaridade dos farmacêuticos, presentes na maioria dos municípios mineiros, é uma das características que possibilitam que esses profissionais sejam parte importante das redes que favorecem políticas de saúde integral das mulheres. Tais políticas devem levar em conta inclusive fatores sociais que impactam na saúde delas e a atuação dos farmacêuticos pode ser importante também para a prevenção e o combate à violência doméstica.

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Essas foram algumas das questões salientadas na manhã desta terça-feira (17/5/22), em audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião tratou de campanha do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF) pelo uso racional de medicamentos na saúde da mulher e de outras campanhas da instituição voltadas a esse público.

Políticas evoluem, com visão mais integral da saúde da mulher

Como explicou a vice-presidente do CRF, Márcia Alfenas, as políticas de saúde da mulher na maior parte do último século refletiam a visão sobre o lugar que era a elas destinado socialmente: de mães e domésticas. Assim, a assistência se limitava aos cuidados com a gravidez e o pós-parto. Isso começou a mudar, de acordo com a convidada, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e, com o avanço das mulheres no mercado de trabalho e nos espaços de poder, essas políticas também avançaram.

A partir da década de 1990, teriam sido dados alguns passos, então, em direção a uma visão mais integral da saúde da mulher, considerando-a como sujeito autônomo.

Mas o trajeto ainda não foi percorrido por completo, conforme salientou Kirla Detoni, integrante do Grupo Técnico de Trabalho da Mulher, do CRF. “As mulheres têm uma expectativa de vida maior do que os homens, mas adoecem mais do que eles”, disse ressaltando que essas condições de saúde são atravessadas por especificidades de raça e classe, que ainda não são levadas em consideração nas políticas de saúde.

Nesse sentido, Kirla Detoni destaca que mais mulheres do que homens vivem em situações de pobreza, em especial por discriminações no mercado de trabalho e papeis exercidos diante da família, com destaque para a responsabilidade com o cuidado com os filhos.

Esse tipo de contexto resulta em desigualdades, por exemplo, no acesso à educação no que diz repeito ao uso racional de medicamentos. Fatores sociais também impactam, como destacado pela participante da reunião, em maiores índices de sofrimentos psiquiátricos nas mulheres do que nos homens.

Educação para a saúde pode ser mediada por farmacêuticos

O papel do farmacêutico, nesse contexto, seria aumentar o acesso das mulheres a orientações sobre a saúde. Como explicou a presidenta do CRF, Júnia de Medeiros, a educação é fundamental para a garantia da saúde de todos, mas é para as mulheres que as orientações mais podem fazer a diferença.

Segundo ela, dados dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats) apontam que medicamentos são a principal causa de intoxicação no Brasil, à frente de drogas ilícitas e inseticidas, por exemplo. Ainda, a maioria das pessoas intoxicadas são mulheres.

Por isso, ela explicou que a campanha de 2022 do Conselho focou nas mulheres ao tratar do incentivo ao uso racional de medicamentos. A deputada Ana Paula Siqueira (Rede) salientou que os dois anos de pandemia aumentaram problemas de ansiedade e depressão, bem como outras enfermidade físicas e psíquicas, o que certamente afetou o consumo de remédios. Assim, educação para o uso racional de medicamentos tornou-se ainda mais urgente.

Combate à violência doméstica pode contar com ajuda de farmacêuticos

O papel dos farmacêuticos no “letramento em saúde”, ensinando mulheres a usar racionalmente medicamentos e a ganhar, por exemplo, autonomia reprodutiva com conhecimentos sobre a saúde sexual, foi destacado por todos os convidados. Mas o papel desses profissionais pode ir além, como defendeu Elaine Baptista, coordenadora do Grupo Técnico de Trabalho da Mulher do CRF.

Ela ressaltou, por exemplo, que, presentes em quase todos os municípios e acessíveis a todos os estratos econômicos da população, farmacêuticos podem ser atores importantes no combate à violência doméstica. Esse é um dos focos do projeto Minas de Superação, promovido pelo Conselho. Entre outras ações, o projeto oferta cursos para os profissionais com temas relacionados à escuta e ao acolhimento de mulheres vítimas de violências de gênero.

Saúde é uma questão política

A relação da saúde de cada cidadão com as discussões políticas em nível federal também foram ressaltadas na reunião. O diretor da Federação Nacional dos Farmacêuticos, Rilke Públio, destacou que mudanças atualmente em discussão no Congresso Nacional podem reduzir o financiamento do SUS e dificultar, por exemplo, o acesso a remédios à população mais pobre.

Ainda, podem reduzir, segundo Rilke Públio, o número de profissionais da saúde disponíveis à população, que, além de ter mais dificuldades para conseguir os medicamentos, terá mais dificuldades em ter a mediação profissional para seu uso adequado. Júnia de Medeiros, presidenta do CRF, concordou com o colega e deu como exemplo o debate, também no Congresso, de proposta que pode permitir a venda de medicamentos no supermercado, dificultando o uso racional dos remédios.