Ambientalistas e lideranças comunitárias condenam a mineração na Serra do Curral
Deputados e ambientalistas criticam mineração na Serra do Curral

Comissão vê riscos de mineração para a Serra do Curral

Em visita à área a ser explorada pela Tamisa, ambientalistas denunciam ameaças para o abastecimento de água da RMBH.

09/05/2022 - 17:24

Uma paisagem de colinas escarpadas e vales profundos, entremeados por matas fechadas e campos rupestres. Assim é a área da Serra do Curral, na confluência entre Nova Lima, Sabará e Belo Horizonte, que pode ser impactada pela Taquaril Mineração S.A. (Tamisa) em seu projeto de exploração de minério de ferro.

Nesta segunda-feira (9/5/22), deputados da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) visitaram a área, para verificar os danos que a mineração poderá provocar. Eles estavam acompanhados de ambientalistas e lideranças comunitárias, que chamaram atenção para os riscos para o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Segundo a ambientalista Jeanine Oliveira, do projeto Manuelzão, os danos das cavas de mineração podem se espalhar por um raio de três a quatro quilômetros. Ela alertou que a mina da Tamisa pode comprometer o aquífero que abastece um novo sistema de captação de água que está sendo construído pela Vale como parte do acordo firmado com o Ministério Público após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Além disso, o trânsito de caminhões pesados vai impactar a fauna e a flora da região. “Os ventos vão levar a poeira de minério para praticamente toda Belo Horizonte. Isso vai ter um impacto grande sobre a saúde das pessoas”, acrescentou o dirigente do Movimento dos Atingidos por Barragens, Joceli Andrioli.

Os ambientalistas também apontaram os riscos para a proteção da Serra do Curral como patrimônio cultural dos belo-horizontinos. De acordo com Jeanine Oliveira, a área a ser minerada é a mais preservada da região e fica ao lado do Pico Belo Horizonte, ponto culminante dessa formação rochosa, com 1.390 metros de altitude. “Esse pico vai ficar ilhado pelas cavas norte e oeste da Tamisa e pelas cavas da Empabra e de Águas Claras, que já existem”, explicou.

Para deputada, autorização do Copam é irregular

Para a deputada Beatriz Cerqueira (PT), a autorização dada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) para um novo projeto de mineração na Serra do Curral é ilegal e irregular. “O governo mentiu. A Tamisa mentiu. Os defensores da mineração mentiram para a sociedade, dizendo que o impacto ambiental não é tudo o que está sendo denunciado”, afirmou.

A parlamentar considerou graves os riscos para a segurança hídrica da RMBH e lembrou que o licenciamento ambiental para a operação da Tamisa não poderia ter sido autorizado depois de iniciado o processo de tombamento da Serra do Curral como patrimônio cultural de Minas Gerais.

Beatriz Cerqueira disse que vai cobrar da Secretaria de Estado de Cultura explicações sobre o tombamento e defendeu a instalação de uma comissão de parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o processo de licenciamento ambiental da Tamisa. Segundo ela, o requerimento da CPI já tem 23 das 26 assinaturas necessárias para sua instalação.

Indígenas fazem ritual de proteção

Ao final da visita, três mulheres indígenas fizeram um ritual de defumação, invocando seres encantados e ancestrais para espantar os males da Serra do Curral e do mundo. “A serra é mais que um patrimônio cultural; é a proteção de todo o nosso povo, e isso o dinheiro não pode comprar”, afirmou Maria Flor Guerreira, que se define como “engravidadora de sonhos e plantadora de árvores”.