A Comissão de Direitos Humanos defende o direito dos Araújo de permanecerem no terreno onde vivem há quase quatro décadas

Comunidade quilombola luta contra despejo em Betim

Família Araújo vive há quase quatro décadas em terreno no Jardim Brasília e corre o risco de ficar sem ter onde morar.

03/05/2022 - 19:00

Depois de quase quatro décadas vivendo em um terreno cedido pela prefeitura de Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), a Família Araújo corre o risco de ser despejada. Descendentes de quilombolas, eles alegam que não têm para onde ir e reclamam da falta de diálogo com o poder público municipal.

Nesta terça-feira (3/5/22), a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) conheceu de perto a situação dos Araújo. “Só saio daqui morta”, avisa a matriarca da família, Zulmira Rosa Gomes Araújo, de 78 anos.

Os Araújo alegam que o terreno onde vivem, de 1.800 m², foi cedido pelo então prefeito Newton Amaral (1983-85) ao patriarca da família, mais conhecido como Zé Preto, que era gari da prefeitura e enfrentava dificuldades para criar os dez filhos.

Nos tempos difíceis, eles plantavam banana, mandioca, cará e cana-de-açúcar. A área, no entanto, nunca foi registrada em nome da família. Em 2017, a prefeitura iniciou um processo judicial para reaver a posse do terreno e já obteve ganho de causa em 1ª e 2ª instâncias.

Para família, por trás do despejo estaria intenção de valorizar terreno

A Lei federal 14.216, de 2021, determinou a suspensão dos despejos judiciais enquanto durasse a pandemia de Covid-19. Mas desde o dia 1º de abril de 2022, os despejos já podem ser realizados, o que preocupa os Araújo.

“Falaram que somos invasores. Somos uma família de quilombolas e queremos o direito de viver em nossa terra”, afirmou Alexandre dos Santos Araújo, um dos dez filhos de Zé Preto e Zulmira. “Jogar a gente para fora sem direito a indenização é sofrido. A gente lutou muito para chegar até aqui”, completa o irmão dele, Márcio dos Santos Araújo.

“Quando meu pai veio para cá, isso aqui era tudo mato. Agora querem colocar a gente na rua. Isso está muito errado”, criticou Cleusa dos Santos Araújo. Para os irmãos Araújo, o que estaria por trás do interesse da prefeitura em despejar a família dali é a valorização do terreno. Localizado no Jardim Brasília, ele fica perto do Hospital Regional, da PUC Minas e do Shopping Monte Carmo.

Na luta para permanecer em suas casas, a família solicitou à Fundação Palmares o reconhecimento como comunidade quilombola. Eles alegam que são uma comunidade negra que mantém sua organização social e suas tradições culturais por meio da apropriação do seu território.

Além disso, a Defensoria Pública ajuizou uma ação que pede a anulação do processo de reintegração de posse pela prefeitura.

Para a presidenta da Comissão de Direitos Humanos, deputada Andréia de Jesus (PT), a decisão judicial para despejar os Araújo é racista e arbitrária. Segundo ela, o processo de reconhecimento da comunidade quilombola pela Fundação Palmares precisa ser acompanhado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

“Esses conflitos só avançam porque há uma omissão do Incra em titular as terras quilombolas”, afirmou a parlamentar. Segundo ela, o relatório da visita da comissão será encaminhado aos órgãos federais, como Incra e Fundação Palmares, para que a União se responsabilize pela comunidade dos Araújo.