Cicalt, em Belo Horizonte, recebeu visita da Comissão de Educação nesta segunda (2)

Centro Interescolar enfrenta precariedades estruturais

Burocracia e dificuldade de relacionamento com a Plug Minas e com a Secretaria de Educação seriam causas de problemas.

02/05/2022 - 14:07 - Atualizado em 02/05/2022 - 14:46

Mofo, goteiras, infiltrações, bichos peçonhentos, falta de energia elétrica, de internet, de professores e de segurança patrimonial são apenas alguns dos problemas enfrentados por alunos e professores no Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (Cicalt), que fica no Horto, em Belo Horizonte. A instituição recebeu visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (2/5/22).

Coordenadora do curso técnico de artes circenses e teatro do Cicalt, Rainy Campos relatou à presidente da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT), diversos problemas enfrentados pelo corpo docente, dentre eles a dificuldade de comunicação com a Secretaria de Educação e a falta de esclarecimentos quanto ao papel da Plug Minas, que seria responsável pela administração da infraestrutura do espaço onde funciona a Cicalt, mas não apresentou nenhum tipo de planejamento para resolução dos problemas.

“Estamos sem luz há um mês, mas, mesmo antes do roubo dos cabos, o diálogo sempre foi muito difícil. O mato aqui crescendo, pedimos à Plug Minas pra resolver e acabamos tendo de tirar dinheiro da escola pra cortar o mato, porque a situação ficou insustentável”, explicou.

Transferência

Professora do ensino regular, Solange Maria Vilaça de Faria explicou que, em 2021, o governo, contra a vontade da comunidade e do corpo docente, transferiu estudantes do ensino regular da Escola Estadual Amélia de Castro Monteiro, que ficava no bairro Sagrada Família, para o espaço da Cicalt, no Horto. A escola, que tinha 66 anos de existência, estaria, conforme o subsecretário de Educação relatou em audiência pública da comissão em 2020, em um espaço inadequado.

No entanto, os alunos foram alocados em condições muito piores do que as que estavam anteriormente, tanto que chegou a ser sugerido pelo diretor do Cicalt, Michael Vieira Rodrigues, que os estudantes retornassem ao prédio antigo, onde hoje o governo alocou outra Escola Estadual.

“Mas a secretaria permitir que isso acontecesse seria admitir que eles cometeram um erro e isso eles não vão fazer. Então os estudantes estão aqui em salas lotadas e sem infraestrutura, com carteiras insuficientes, laboratórios que não podem ser usados e o patrimônio da antiga escola jogado num auditório sem ter feito qualquer auditoria”, ressaltou o diretor.

Michael Vieira Rodrigues disse que ele e alguns professores usaram e usam muitos recursos pessoais, como internet, caixa de som e cabos adquiridos com o próprio salário para dar aula.

“Com todas as dificuldades, tentamos fazer essa escola funcionar todos os dias. Fizemos matrículas sem energia, fazendo atividades em casa. Temos demandas muito específicas e somos constantemente tolhidos pela Secretaria de Educação e pelo Plug Minas, mesmo quando recebemos a emenda parlamentar de R$ 700 mil da deputada Andréia de Jesus (PT). Não nos foi permitido empenhar o dinheiro como queríamos. Temos uma escola com sete cursos técnicos artísticos e uma escola regular de ensino médio, funcionando simultaneamente, dividindo espaços. E uma infraestrutura sem manutenção básica desde 2019 ”, pontuou.

Evasão escolar tornou-se um problema

Sem a manutenção dos espaços e sem a assistência necessária aos alunos, a escola sofre com a evasão, algo que, segundo os estudantes, é o que o governo deseja. “Estão de olho no espaço para ser vendido à iniciativa privada, por isso o sucateamento. A outra escola era boa, mas fomos tirados de lá porque disseram que não estava em boas condições. Hoje estamos aqui, em meio a mofo e aranhas e outra escola funciona lá”, relatou a aluna do primeiro ano do curso de Técnico de Desenvolvimento de Sistemas, Joice Raissa Maciel da Silva.

Os alunos questionaram também o fato de estudantes da Trilha do Futuro, projeto do governo estadual que oferece gratuitamente cursos técnicos a estudantes e egressos do ensino médio, terem vale-transporte e direito à refeição, enquanto os estudantes dos cursos técnicos artísticos do Cicalt não têm o mesmo apoio. “Os recursos estão muito mal investidos. Recebemos computadores, mas estão guardados, sem ter onde colocar. Falta luz, não temos carteiras ou salas para estudar”, afirmou Joice.

Após ouvir o corpo docente e a comunidade, a deputada Beatriz Cerqueira, que acompanhou a fusão das duas escolas e a situação do Cicalt desde 2019, avaliou que a manutenção do espaço piorou. “Como já havíamos dito em 2020, a fusão foi completamente desnecessária. E tudo piorou. Por isso, faremos uma audiência pública, na qual a presença da Secretaria de Educação e da diretora do Plug Minas é fundamental, para esclarecermos uma série de questões”, completou.