A deputada Leninha e o deputado Professor Cleiton solicitaram a audiência sobre a Campanha da Fraternidade
Para o padre Mateus Silva, a realidade das escolas estaria longe da situação ideal de humanismo
Educação integral é o caminho para autonomia e emancipação da população brasileira

Campanha da Fraternidade prega por educação humanista

Comissão debate importância da iniciativa, promovida pela Igreja, que este ano tem como tema "Educação e Fraternidade".

16/03/2022 - 19:20

Uma educação humanista, solidária, de resgate das relações sociais e compromissada com o meio ambiente. Essas são premissas básicas defendidas pela edição de 2022 da Campanha da Fraternidade, promovida pela Igreja Católica e que tem como tema este ano “Fraternidade e Educação”.

Deputados, educadores e representantes da Igreja refletiram sobre a importância da campanha, principalmente em um contexto de pandemia, que agravou problemas enfrentados há décadas em uma sociedade desigual. O debate foi realizado pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerias (ALMG), nesta quarta-feira (16/3/22), por solicitação da deputada Leninha (PT) e do deputado Professor Cleiton (PSB).

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Leninha ressaltou que a educação é emancipadora, ao lembrar famosa frase do antropólogo e educador Darcy Ribeiro, que dizia que a crise na educação não é uma crise, é um projeto. “Uma escolha política que se nega a ouvir o povo empobrecido do País”, ratificou a deputada.

“O tema (da campanha) vem em um momento importante, um contexto internacional também de guerra na Ucrânia, de pandemia. As pessoas precisam de sabedoria, solidariedade e amor”, afirmou o deputado Doutor Jean Freire (PT). “É um momento em que precisamos resgatar relações construídas no discurso do distanciamento, por causa da pandemia. Não podemos permitir que ocorra distanciamento afetivo no espaço escolar”, acrescentou Professor Cleiton.

Essa educação humanista, no entanto, passa também pela valorização dos profissionais do setor. O deputado Betão (PT) e a deputada Beatriz Cerqueira (PT), assim como os demais colegas, defenderam as demandas de professores em greve nas escolas e nas universidades estaduais, em busca por melhores condições de trabalho e reajustes salariais. Concomitantemente à audiência pública, ocorria na ALMG assembleia do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE).

Despertar da solidariedade

Representando Dom Joaquim Mol, reitor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Carla Santiago lembrou que a educação foi tema de outras edições da Campanha da Fraternidade, o que mostra a importância que a Igreja Católica atribui a esta temática como formadora de visão de mundo.

Ela salientou que o Papa Francisco defende um pacto mundial pela educação, tendo como um dos princípios o fato de que a educação não se limita à escola. “Para educar uma criança é necessária uma aldeia inteira”, diz provérbio africano utilizado pelo Papa.

Secretário-executivo das Campanhas da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o padre Patrick Batista afirmou que o grande objetivo da iniciativa é despertar a solidariedade em relação a problemas concretos da sociedade.

Nesse sentido, citou, entre as finalidades específicas da atual edição, analisar o contexto da educação na cultura atual e os desafios potencializados pela pandemia; verificar o impacto das políticas públicas na educação; pensar o papel da família e da sociedade no processo educativo; e promover uma educação comprometida com novas formas de economia, em especial, a serviço dos mais pobres.

Desafios

Leci Nascimento, presidente do Conselho Nacional do Laicado do Brasil (Regional Leste II), abordou alguns desafios sociais que podem ser combatidos com o apoio da Igreja e da campanha, como a falta de políticas públicas estruturantes, o racismo contra jovens negros, a violência contra as mulheres e as precárias condições de trabalho de educadores, principalmente na rede pública, que conta também com salas lotadas, problemas estruturais e professores mal remunerados.

Na mesma linha, o padre Mateus Silva, pároco do distrito de Córrego do Ouro, no município de Campos Gerais (Sul de Minas), e professor designado na rede pública, salientou que a missão dos educadores de promover transformações na vida das pessoas hoje é um tanto quanto utópica. Isso porque a realidade das unidades educacionais estaria longe da situação ideal de humanismo – enquanto escolas carecem de infraestrutura e precisam redobrar esforços para assumir gastos essenciais, crianças e adolescentes chegam para as aulas com fome devido à falta de alimentos em casa.

“É importante refletirmos sobre o lugar da educação e o modelo que temos escolhido. A educação pode reproduzir a cultura da indiferença, egoísmo, isolamento, exploração irracional de recursos naturais. É preciso pensar o relacionamento com os outros, uma nova economia fraterna, solidária e da partilha, um compromisso com o cuidado do meio ambiente”, resumiu o padre Júlio César Resende, representante da Pastoral Educacional da Diocese de Oliveira (Centro-Oeste).