Beatriz Cerqueira disse que vai buscar realizar uma reunião com membros do Executivo para tratar das especificidades do Cesec

Alunos e professores repudiam planos militares para escola

Comissão de militares teria visitado instituição para implantação de Colégio Tiradentes sem consulta à comunidade.

24/11/2021 - 19:45

A visita não anunciada de uma comissão formada por policiais militares no Centro Estadual de Educação Continuada (Cesec) de Ibirité gerou preocupações na comunidade escolar. Os visitantes teriam feito medições e tirado fotos do local com o objetivo de estudar a implantação de um Colégio Tiradentes, instituição educacional da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) no prédio.

Em visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) à escola nesta quarta-feira (24/11/21), alunos, professores e outros funcionários se mostraram contrários à ideia. Uma das críticas foi a ausência de diálogo, já que, como contou o diretor do Cesec, Édison Luis de Oliveira Preto, ninguém da instituição civil de ensino foi sequer informado acerca dos planos

Ainda de acordo com Édison Preto, apenas a diretoria da Escola Estadual Pedro Evangelista Dinis, que divide o prédio com o Cesec, estava ciente da visita dos militares e, mesmo assim, não tem conhecimento dos planos para a instalação do Colégio Tiradentes. “Não temos nada contra o Colégio Tiradentes, achamos bom ter outra escola na cidade, mas é preciso respeitar a comunidade escolar já estabelecida aqui”, disse o diretor do Cesec defendendo que a instituição militar seja construída em outro terreno.

Vários dos presentes, membros das comunidades escolares das duas escolas ali estabelecidas, expressaram esse mesmo desejo. A aluna Letícia Idália se emocionou ao falar sobre a qualidade do ensino da escola e a sua localização privilegiada, no centro do município, que permite que os alunos tenham acesso facilmente via transporte coletivo. 

Ela lembrou que a maioria dos matriculados trabalham nos horários que não estão na escola e precisam dessa facilidade de acesso para continuarem estudando. “Não tirem esse direito de nós”, disse. Funcionários também ressaltaram a importância de manter a instituição no mesmo local, o que permite inclusive a frequência de estudantes vindos de outros municípios da região. 

Trabalho

Houve, ainda, a preocupação com os postos de trabalho. A auxiliar de serviços gerais Valéria de Jesus da Silva questionou o que acontecerá com os funcionários contratados, enquanto o professor Bruno Fonseca apontou que também há dúvidas no caso dos servidores concursados. A estimativa da coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (SindUTE) de Ibirité, Mônica Correia, é que as duas escolas tenham, juntas, cerca de 90 servidores efetivos.

Posicionando-se contrariamente à implantação do Colégio Tiradentes no prédio das duas escolas, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) se comprometeu a atuar em favor da comunidade escolar e esclareceu algumas das dúvidas dos presentes. Ela explicou que o Colégio Tiradentes tem toda uma estrutura própria de funcionamento, com concursos específicos para servidores e seleção de alunos, que em geral são filhos de militares.

“Então, não é transformação das escolas em Colégio Tiradentes, é entrega do prédio das escolas para o funcionamento de outra instituição”, disse a parlamentar sobre a proposta que preocupa a comunidade escolar. Assim, segundo ela, funcionários contratados devem ter suas vagas de trabalho extintos, enquanto servidores efetivos devem ser alocados em outras escolas. Também os alunos precisariam, caso o projeto de implantação do Colégio Tiradentes se concretizasse, procurar outras escolas

Cesec também enfrenta falta de livros didáticos 

Durante a visita, outras demandas da comunidade escolar foram apresentadas, em especial em relação ao Cesec, que possui peculiaridades em relação às instituições regulares de ensino. A escola oferece cursos desenvolvidos em regime didático de matrícula por componente curricular (disciplina) ou conjunto de componentes curriculares, incluindo momentos presenciais e não presenciais, voltados para jovens e adultos que tenham idade mínima de 18 anos completos e que não tenham concluído o ensino médio em outra instituição. 

De acordo com o vice-diretor do Cesec, Deivy Wederson, essas peculiaridades não são levadas em conta nas decisões da Secretaria de Educação e a instituição é constantemente excluída de regulações ou tratada de forma inadequada. Ele reclamou, ainda, que o Cesec é deixado por último no que diz respeito, por exemplo, às contratações de professores e outros funcionários. 

Outro problema apresentado foi em relação ao material escolar. De acordo com o vice-diretor do Cesec, Deivy Wederson, a instituição já não recebe livros escolares há cinco anos. Também a professora de biologia do Cesec, Rosana Márcia, falou da falta de livros e disse que os professores têm elaborado apostilas, que se tornam material oficial da educação estadual, sem receber qualquer pagamento pelo trabalho.

Outro problema apontado foi o retorno obrigatório às aulas presenciais. A aluna do Cesec Paloma Rodrigues disse que trabalha como diarista e que o retorno repentino tem dificultado equilibrar as atividades. Ela demandou que a modalidade virtual fosse mantida como opção pelo menos até o fim do ano letivo, de forma a não levar à desistência dos estudantes. 

O diretor da escola, Édison Preto, explicou que fez essa demanda à Secretaria de Educação e não foi atendido. Segundo ele, as atividades virtuais da instituição, que oferece principalmente educação para jovens e adultos, trouxeram vários alunos de volta à escola, que chegou a atender cerca de 6 mil estudantes durante a pandemia. Ele teme que a maior parte deles desistam diante da impossibilidade de conciliação com as atividades laborais ou de pagamento das passagens para chegar até a escola. 

Beatriz Cerqueira ouviu as demandas e disse que, diante das peculiaridades do Cesec, vai buscar realizar uma reunião com membros do Poder Executivo para tratar das especificidades da escola.