O presidente da Unitec, que participou remotamente, explicou que, se voltar à operação, a fábrica pode faturar até R$ 500 milhões por ano

Fábrica de semicondutores fechada impede ganhos para Minas

Estado e acionistas privados desistiram da Unitec, projetada para ser a maior fabricante do produto na América Latina.

14/10/2021 - 15:48

Em meio a uma crise de abastecimento de semicondutores, que ameaça indústrias em todo o mundo, especialmente do setor automobilístico, Minas Gerais mantém uma fábrica fechada, que acumula dívidas trabalhistas e tributárias, e perde a oportunidade de vender um produto tão desejado no mercado. Essa situação foi debatida nesta quinta-feira (14/10/21), pela Comissão Extraordinária das Privatizações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Fundada em 2012, em Ribeirão das Neves (Região Metropolitana de Belo Horizonte), a Unitec Semicondutores foi projetada para ser a maior fabricante da América Latina desses circuitos eletrônicos, utilizados na fabricação de muitos produtos, como eletrodomésticos, computadores, celulares e equipamentos de saúde, além dos automobilísticos.

A princípio, a empresa recebeu aportes de recursos públicos, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), e de investidores privados. Atualmente, os principais acionistas são o BNDES e o grupo argentino Corporácion América, cada um com 40% de participação. O BDMG (8%), a IBM Corporation, a WS-Intecs e a Matec Engenharia possuem participações menores.

O atual presidente da Unitec, Marco Aurelio Barreto, explicou que os investimentos iniciais para implantação da empresa foram orçados em 400 milhões de dólares, mas que os aportes dos acionistas foram sendo realizados em reais. Com a desvalorização da moeda brasileira, os recursos não foram suficientes para finalizar a obra e colocá-la em franco funcionamento.

Com o fim da destinação dos recursos públicos, a fábrica foi definhando até parar de funcionar totalmente, no ano passado. Hoje, acumula uma dívida orçada em R$ 600 milhões, dos quais mais de R$ 4 milhões são referentes a salários atrasados e outras demandas trabalhistas.

Marco Barreto, que também é sócio fundador da Tauá Partners, especializada em gestão de empresas em crise, assumiu a gestão da Unitec em julho do ano passado, a convite dos acionistas. Ele afirmou que, na ocasião, estava sendo fechado um acordo com o Governo do Estado para o pagamento de dívidas com a empresa, pela construção de uma subestação de energia por ela financiada sob a promessa de ressarcimento do Tesouro estadual.

O acordo previa o pagamento de R$ 16 milhões em 24 parcelas de R$ 675 mil, mas apenas as três primeiras prestações foram liquidadas. “O Estado suspendeu o pagamento sem aviso e sem explicação”, lamentou. Segundo ele, o dinheiro seria usado para reestruturar a indústria, liquidar as dívidas com os funcionários demitidos e prepará-la para a venda ou captação de recursos privados, para finalmente ser colocada em operação.

O diretor financeiro de Crédito e Tecnologia do BDMG, Otávio Lobão Vianna, disse que o banco investiu cerca de R$ 56 milhões na empresa até 2017, quando cessou os aportes. Conforme informou, esse investimento já não representa impacto negativo nas contas da instituição financeira, mas a intenção é que o banco encerre sua participação na Unitec, após encontrar uma solução para ela. “Hoje, a posição dos sócios é buscar um investidor estratégico que consiga fazer o projeto rodar e liquidar as dívidas, gerar renda e tributos”, afirmou.

Mercado em expansão - O presidente da Unitec relatou que o ativo atual gira entre R$ 500 milhões e R$1 bilhão. Ele calcula que a planta já instalada custaria, hoje, mais de R$ 1,5 bilhão para ser construída. Se entrar em funcionamento, a Unitec, segundo ele, pode faturar até R$ 500 milhões anuais, com um lucro médio de R$ 100 milhões. 

“O mundo todo quer comprar semicondutores. É um mercado em expansão que não vai parar de crescer nunca”, alertou. Ele acredita que seriam necessários entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões para colocar as dívidas em dia e já começar a produzir.

Funcionários – O advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte, que representa os funcionários da Unitec em ação civil pública, Matheus Campos Caldeira Brant, reclamou que apenas parte do que o Estado pagou das dívidas foi direcionada para os trabalhadores. 

Ele disse não entender a falta de manifestação da empresa no processo que corre na Justiça para o cumprimento de compromissos trabalhistas e a falta de explicação do Estado para a supensão dos pagamentos do acordo. Segundo o advogado, ano passado foi feito um investimento privado de R$ 1,5 milhão na fábrica, dinheiro usado apenas para o pagamento do serviço de segurança patrimonial.

O presidente da Comissão Extraordinária das Privatizações, deputado Coronel Sandro (PSL), se solidarizou com os funcionários demitidos e afirmou esperar que se encontrem investidores privados para dar continuidade ao projeto, que pode trazer muitos ganhos à economia do Estado. 

“É uma atividade de vanguarda e o Brasil precisa se tornar autossuficente para não depender de fornecedores internacionais”, justificou.