Pais e professores receberam a Comissão de Educação para visita técnica em Nova União

Moradores de Nova União rejeitam adesão ao Mãos Dadas

Escola Estadual do Carmo protesta contra remoção de turmas do 6º ao 9º ano e teme fechamento de escola rural.

01/10/2021 - 17:30

Moradores do bairro do Carmo, no município de Nova União (Região Metropolitana de Belo Horizonte), manifestaram insatisfação quanto à decisão da prefeitura de aderir ao projeto Mãos Dadas, do governo estadual. Cerca de 30 pais de alunos da Escola Estadual do Carmo receberam a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em visita técnica realizada à instituição nesta sexta-feira (1º/10/21). 

A proposta da prefeitura é que a escola, que existe há cerca de 60 anos, encerre as turmas do 6º ao 9º ano, e os alunos passem a ser atendidos pela Escola Estadual Coronel J. Nunes Melo Júnior, na região central do município, a cerca de sete quilômetros da atual sede. Parte do trecho para se chegar ao novo local é asfaltada.

Atualmente a escola conta com 172 alunos, sendo que 82 deles podem ser impactados com a medida. Nenhum representante do Executivo do município acompanhou a visita.  

O projeto Mãos Dadas está contido no Projeto de Lei (PL) 2.675/21, do Governo do Estado, encaminhado à ALMG em abril deste ano e que aguarda parecer na Comissão de Constituição e Justiça. A Comissão de Educação já realizou diversas visitas e debates com comunidades escolares atingidas pela política de ampliar a municipalização do ensino fundamental.

Comunidade é contrária à municipalização

Durante a visita, a presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT), reuniu-se na Igreja do Carmo, ao lado da escola, com a comunidade, que é contrária à municipalização. Ela acalmou os pais dizendo que, apesar do que o prefeito Ailton Rosa deseja, ainda não está decidido se de fato o Executivo irá aderir ao projeto. “Viemos ouvir vocês e vamos trabalhar para defender o que a comunidade quer. Eu acredito que a Assembleia tem de escutar as pessoas e, a partir daí, agir. Esta não é uma batalha perdida”, afirmou.  

A diretora da escola, Maria Penha Dias, agradeceu pela visita e pela oportunidade de expor o problema à comissão. “O prefeito se reuniu conosco anunciando a municipalização como se fosse uma medida definitiva, não houve qualquer diálogo. Precisamos batalhar pelo que queremos. A municipalização vai nos prejudicar muito”, disse.   

Mãe de um aluno do primeiro ano, Elisângela Nunes Pereira destacou que a Escola Estadual do Carmo é uma escola rural, o que significa que mover as turmas para a região central também penalizará muito as comunidades e assentamentos que ficam no entorno do município e são atendidos pela instituição. 

“Nós, adultos, poderíamos aguentar todo dia esse trajeto para trabalhar, mas por que obrigar crianças a passar por isso? A pegar estrada de terra, enfrentar chuvas, tendo de sair cedo, sem se alimentar direito, sendo que hoje a escola está no coração da nossa comunidade? O prefeito, ao invés de estar do nosso lado, quer que a gente perca o que nós temos. Tínhamos de estar lutando para ter mais, ter um curso técnico aqui, de agropecuária, de acordo com nossa realidade. Vamos retroceder”, enfatizou. 

Moradora de assentamento que fica próximo da região há cerca de 15 anos, Maria de Lourdes Guimarães Souza criticou a ausência do prefeito à visita técnica da ALMG.

“Ele é professor, começou a carreira dele aqui, e não está aqui hoje. Hoje é a municipalização, amanhã vai acabar com a escola. Essa escola é como se fosse uma extensão da casa da gente. Queremos nossos filhos e netos perto de nós. Hoje eu só tenho elogio às professoras, que cuidam das nossas crianças como se fossem delas”, afirmou. 

Outros pais presentes à reunião também manifestaram seus receios quanto ao fechamento da escola.

“Infelizmente, o Estado quer diminuir a sua presença no ensino fundamental e, sem esses alunos, pode argumentar que a escola está vazia e não é mais necessária na comunidade. Considero que esse encontro hoje foi muito importante, vocês comprovaram a importância da escola", ressaltou Beatriz Cerqueira.