Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras debateu assunto nesta quinta-feira (9)
Segundo o arquiteto Afonso Guimarães, o projeto visa a preservar o meio ambiente
Para o geógrafo Luiz Gustavo Vieira, o uso recreativo do espaço ajuda na conservação ambiental
Trem turístico Belvedere-Olhos D'Água vai respeitar legislação ambiental

Defendido parque ferroviário no ramal Belvedere-Olhos D'Água

Para participantes de audiência, iniciativa vai possibilitar recuperação de área abandonada, além de geração de renda. 

09/09/2021 - 13:58

A implantação de um parque linear na região do ramal ferroviário Belvedere-Olhos D'Água, entre os municípios de Belo Horizonte e Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), abrigando uma estação ferroviária para trem turístico, estruturas de lazer e área verde, foi defendida em audiência pública nesta quinta-feira (9/9/21). A reunião foi realizada pela Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Participantes da reunião destacaram, de modo geral, que a medida possibilitaria a recuperação da área de propriedade da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), que está abandonada, além de alavancar o turismo na RMBH, gerando trabalho e renda. Além disso, a iniciativa levaria em conta a importância ambiental da região.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

O presidente da Fundação Doimo, Elias Tergilene, apresentou projeto elaborado com essa finalidade e defendeu a implantação da iniciativa por meio de uma parceria público-privada. “Há mais de três anos, solicitamos à União a utilização da ferrovia. O trem turístico iria do Belvedere ao Instituto Inhotim, em Brumadinho, na RMBH, sendo a primeira etapa até o bairro Olhos D’água, que é um polo gastrocervejeiro”, contou.

Ele acrescentou que o projeto é amplo e favoreceria toda a RMBH. “Queremos fazer um projeto com pé no chão, aproveitando a linha e dormentes que já estão lá. Temos fauna e flora, além disso”, disse.

O presidente da fundação sugeriu que a mão de obra para operar o parque venha da favela Morro do Papagaio. “Trata-se de um projeto socioeconômico também”, defendeu.

Aproveitamento - Arquiteto da Dávila Arquitetura, Afonso Walace Guimarães de Oliveira relatou que, nesse projeto elaborado, se trabalhou com a expectativa de gerar a recomposição da linha em questão e criar um parque linear ferroviário, que possibilite que a população aproveite o espaço.

Ele explicou que a iniciativa vai possibilitar que o turista pegue o trem na estação, desça no bairro Olhos D’Água e desfrute do local e, posteriormente, possa retornar para Belo Horizonte. Outra possibilidade é caminhar ou andar de bicicleta ao lado da linha ferroviária, aproveitando a paisagem.

“A iniciativa também significa preservar a Serra do Curral e o Manancial do Cercadinho”, acrescentou.

Representantes de ONG’s defendem criação de parque 

Diretor da ONG Apito, Sérgio Motta de Mello, também defendeu a implantação de um parque linear ferroviário na área e apresentou uma proposta que elaborou.

“Criamos há 12 anos essa sugestão que vai no sentido do projeto apresentado agora. Pretendemos recuperar a ferrovia e trazer possibilidades para melhor aproveitamento da região”, contou.

O diretor da ONG Trem, André Louis Tenuta Azevedo, também enfatizou que concorda com a criação de um parque ferroviário no espaço.

“Já é a terceira vez que nos reunimos para pedir o aproveitamento dessa área pela população. E o que percebemos é o adiamento dessa definição”, cobrou. Ele relembrou que a definição de uso do espaço foi transferida da SPU para o Governo de Minas.

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da Minas Trilhos, Antônio Augusto Moreira de Faria ressaltou que a Fundação Doimo trouxe uma perspectiva interessante, uma vez que o projeto apresentado une aspectos técnicos, ambientais e sociais.

Importância ambiental da região é enfatizada

Geógrafo do Departamento de Projetos da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), Luiz Gustavo Vieira pontuou a importância ambiental da área em questão, dada a biodiversidade e os recursos hídricos.

Ele explicou que as ferrovias começaram a ser abandonadas no mundo todo na década de 60 e que começaram a ser reativadas nos anos 90. Luiz Gustavo destacou ainda pesquisa que mostra que a principal forma de reutilização desses espaços pelo mundo é a recreativa.

Em sua opinião, a utilização para fins de turismo, lazer e conservação traria diversos resultados positivos como conservação ambiental e geração de renda.

O presidente da comissão, deputado João Leite (PSDB), que solicitou a reunião juntamente com os parlamentares Gustavo Mitre (PSC), vice-presidente da comissão, Laura Serrano (Novo) e Coronel Henrique (PSL), salientou que essa demanda do setor é antiga e também enfatizou os aspectos ambientais envolvidos.

“Essa linha tem grande potencial. A SPU é detentora da guarda da área, que tem localidades sensíveis. Toda a região é tombada pelo Iphan. Além disso, é preciso preservar também a Serra do Curral. Há ainda o Manancial do Cercadinho. Qualquer tentativa de construção traria impacto hídrico e ambiental”, explicou.

União - A superintendente de Transporte Ferroviário da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade, Vânia Silveira de Pádua Cardoso, explicou que a autorização da União é fundamental para que iniciativas como a do Belvedere deem certo. 

“O Governo do Estado começou entendimento com a União, proprietária da área, para deflagrar um Project Management Institute (PMI) e estudos com a iniciativa privada seriam conduzidos. No entanto, falta autorização para todo o trecho. Da forma como está hoje, não permite conexão até Olhos D’água e Inhotim, que é nosso interesse. Então a primeira autorização precisa ser auditada. Estamos aguardando que isso aconteça para prosseguir. Porque o Estado não tem competência para dar destinação àquela área”, explicou. 

Ela destacou que Minas tem sido referência nas discussões nacional sobre modal ferroviário e que o Estado possui um plano estratégico único no País.