Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social discutiu situação de comunidade em Sabará

Moradores de Sabará querem que verba da Vale vá para moradia

Ouvida em reunião, comunidade do Alto Boa Vista, área de risco da cidade, cobra do prefeito politica habitacional.

16/07/2021 - 20:30

A destinação a programas de habitação popular em Sabará (Região Metropolitana de Belo Horizonte) dos R$ 7,5 milhões a serem recebidos pelo município em função do acordo do Governo de Minas com a Vale foi a principal reivindicação de moradores do Bairro Alto Boa Vista, em audiência pública realizada, nesta sexta-feira (16/7/21), pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social. 

Eles relataram a precariedade de condições das famílias em áreas de risco, que temem a inundação de suas casas quando chegar a estação chuvosa. Membros da Associação Vera Maria Mendes, que representa a comunidade, lamentaram a ausência do prefeito do município, Wander Borges, na reunião da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). 

Solicitado pela deputada Ana Paula Siqueira (Rede), o encontro teve como objetivo debater o desenvolvimento, por Estado e município, de uma política habitacional para famílias de baixa renda em Sabará. Também participaram representantes do Governo de Minas e lideranças envolvidas na luta por moradia.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Filha de Vera Maria Mendes, liderança comunitária que dá nome à associação dos moradores, Eliana Peres integra o Movimento de Habitação de Sabará e mora na cidade há 44 anos. Ela relatou que a proximidade da época de chuva já faz com que fique preocupada, já que sua casa é a primeira a alagar. “É muito triste o que eu passei, com ratos e baratas caindo em cima de mim. E agora, posso passar por isso de novo”, disse.

Eliana Peres denunciou que a Prefeitura tentou fechar a única saída de emergência que ligava a comunidade à BR-381, mas ainda resta uma passagem pequena que permite aos moradores escaparem em caso de enchente. A moradora lamentou ainda ter perdido na inundação todo o material de construção que comprou para fazer cômodos mais altos na sua moradia. 

Aluguel - Também integrante do Movimento de Habitação de Sabará, Débora da Silva afirmou que mora com a esposa e dois enteados menores de idade. “Não temos condições de comprar terra. Pagamos aluguel e gastamos muito com medicamento”, afirmou ela, acrescentando que o preconceito pelo fato de serem lésbicas dificulta que recebam ajuda das pessoas. 

Outra integrante do movimento, Silvana Fonseca, relatou que teve câncer de mama e foi abandonada pelo marido. A doença a fez precisar muito do auxílio da prefeitura local, o que se torna difícil devido ao acesso precário ao bairro. “Pago aluguel, água e luz, tenho outros problemas de saúde e ganho só um salário mínimo. Não estou conseguindo, Preciso de uma casa própria”, reivindicou. 

Protestos - Dirigentes da Associação Vera Maria Mendes lamentaram a ausência do prefeito e alertaram que, caso ele não se disponha a negociar uma solução, os moradores vão para a rua protestar. O presidente Rafael Costa reivindicou a utilização dos recursos da Vale para habitação popular em Sabará. “Somos mais de 400 famílias. E queremos construir uma solução digna para essas pessoas”, disse. 

Já Marco Antônio Rios, membro do Conselho Fiscal da associação, destacou que o plano de governo do então candidato Wander Borges falava em um projeto de gestão para áreas de risco e de projetos habitacionais populares e sustentáveis. Mas que, após as eleições, o prefeito tem fechado as portas aos defensores da moradia popular. 

Falta investimento em habitação

Na opinião do ex-deputado e ex-vice-prefeito da Capital, Paulo Lamac, Sabará não vem utilizando os instrumentos disponíveis para gerar oportunidades e melhoria das condições de vida da população mais pobre. Munido de mapas da região limite entre este município e Belo Horizonte, ele considerou que a área encontra-se povoada na Capital e enfrenta grande pressão por ocupação na cidade vizinha. 

“Parte dessas regiões abriga vertentes de milícias que fazem loteamentos clandestinos com uso intensivo de equipamentos e de armas. A omissão do poder público nesses locais gera todo esse quadro de precariedade e de violência”, apontou. Como solução, Lamac apontou a necessidade de a Prefeitura de Sabrá promover um projeto estruturado de habitação popular. 

Ocupação - Já o frei Gilvander Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais (CPT-MG), defendeu a ocupação de terras por membros da comunidade como forma de sensibilizar o poder público local. “Só em Belo Horizonte, com a luta de 119 ocupações e apoio da CPT e outras entidades, foram construídas mais de 30 mil moradias, ajudando 130 mil famílias”, rememorou. 

Ele disse que a Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab) possui grande terreno em Sabará que poderia ser utilizado para construção de casas para os moradores do Bairro Alto Boa Vista. 

No entanto, a assistente social da Cohab Salete de Oliveira, informou que esse terreno foi ofertado num acordo judicial para as 8 mil famílias da ocupação Isidora, na Capital. Segundo ela, o quadro econômico do Estado dificulta a execução de políticas na área habitacional.

Também se solidarizou com os moradores Henrique Carvalho, superintendente de Integração e Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. Ele divulgou que o governo está elaborando um plano habitacional para o Estado e que a escuta da comunidade de Sabará é importante nesse sentido. Em relação aos relatos das moradoras,

Providências - Após ouvir os convidados, a deputada Ana Paula Siqueira fez a leitura de diversos requerimentos de providências a serem aprovados na próxima reunião da comissão, em resposta ao problema debatido. Entre eles, está o pedido para que o prefeito de Sabará se reúna com membros dos movimentos de moradia para avaliar aprovação da política habitacional proposta em campanha.

A comissão também vai solicitar gestões para que o dinheiro do acordo com a Vale seja aplicado na habitação popular.