Deputado Cristiano Silveira elogiou o livro Nossa Comida Tem História:
Rogério Tavares convida a população a conhecer também os eventos promovidos pela AML
Para José Newton, a culinária no Estado alimenta os sentidos e reforça a mineiridade

Aula de literatura e história ilustra 300 anos de Minas

Lançamento de obras inspiradas pelo tricentenário reforça compromisso do Legislativo em proteger valores culturais.

05/12/2020 - 11:50

Neste sábado (5/12/20), o Legislativo cumpriu mais uma etapa do calendário comemorativo do tricentenário de Minas Gerais por meio de um evento que foi, ao mesmo tempo, aula de história e manifesto em defesa da cultura do Estado, especialmente da literatura e da gastronomia. O seminário virtual Tradição e Modernidade: as reinvenções criativas da arte em Minas Gerais, transmitido pela TV Assembleia, agora está disponível no canal da ALMG no Youtube.

Foram lançados durante o encontro o livro "Nossa Comida Tem História", organizado por José Newton Meneses, professor do departamento de História da Fafich/UFMG e diretor do Centro de Estudos Mineiros da UFMG; e a edição nº 79 da Revista da Academia Mineira de Letras – Dossiê dos 110 anos da AML. A iniciativa da Assembleia faz parte da agenda comemorativa dos 300 anos de Minas.

O livro, que explora aspectos históricos e culturais da gastronomia mineira, em breve estará disponível para download em múltiplos formatos, no hotsite dos 300 anos de Minas, no Portal da ALMG. A Revista da Academia Mineira de Letras (AML) também estará disponível para todos, em formato digital, na página da AML na internet, a partir do dia 25 de dezembro, data de aniversário da instituição.

Independência e Liberdade marcaram literatura mineira

O presidente da ALMG, deputado Agostinho Patrus (PV), foi representado na cerimônia pelo 2º-vice-presidente, deputado Cristiano Silveira (PT). O discurso do presidente destacou, entre outros aspectos, que um dos marcos iniciais da literatura produzida no Estado foi a poesia de inconfidentes como Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa, participantes do movimento inspirado pelo iluminismo, pautado por ideais de independência e liberdade.

Relembrando a herança da antiga Assembleia Provincial, fundada em Ouro Preto, Agostinho Patrus, no texto lido pelo deputado Cristiano Silveira, afirmou que toda a história da Assembleia Legislativa é pautada pela defesa dos mesmos ideais, com a participação cada vez maior da população nos processos legislativos.

Em sua palestra, a doutora em Literatura e professora emérita da UFMG, Eneida Maria de Souza, destacou a diversidade cultural e o modo específico de o mineiro ver o mundo. Para ela, a cultura mineira é uma "mescla de singularidades", da cultura erudita portuguesa com a cultura local, e da racionalidade com as crenças religiosas que aqui também se misturaram.

Entre outros, a professora usou os exemplos de Ciro dos Anjos e Guimarães Rosa, o empreendedorismo de Juscelino Kubitschek, a obra de Silviano Santiago e dos compositores Milton Nascimento e Fernando Brant para dar uma verdadeira aula sobre a multiplicidade da arte mineira.

Valorização - Outro palestrante, o jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras (AML) Rogério Tavares, completou a "aula" discorrendo sobre a formação da confraria literária, há 100 anos, em Juiz de Fora (Zona da Mata), e sua relevante permanência até hoje na cena cultural do Estado, colaborando com a guarda e a preservação dessa memória literária, bem como com a educação e a ciência.

"Também nos empenhamos em partilhar toda essa produção cultural do Estado. Precisamos, mais do que nunca, de um País civilizado, que respeite, ame e reverencie sua cultura", disse o acadêmico, agradecendo ao presidente da ALMG pela parceria que viabilizou o lançamento da revista da AML.

Cozinha mineira se forjou na fartura e na diversidade de influências

O livro "Nossa Cozinha Tem História" foi construído a partir de uma afirmação categórica do historiador José Newton Meneses: "A comida mineira não é invenção da fome". Ele diz isso para se contrapor à ideia de que episódios de escassez, ao longo da história, é que teriam formado a tão variada e complexa "cozinha mineira".

Para o pesquisador e organizador da publicação, os documentos e registros históricos apontam na direção contrária: foi a diversificação das gentes e a fartura de ingredientes, a economia pujante, a riqueza estrutural, a diversificação no abastecimento interno e a multiplicidade de práticas alimentares que culminou em uma comida que vai muito além de matar a fome; mas que também alimenta os sentidos e reforça a mineiridade "formada ao redor da mesa".

No seminário, José Newton apresentou um texto rico em referências históricas e poesia ligada à gastronomia. "A culinária de Minas tem a ver com vasculhar os quintais, aproveitar tudo o que eles têm e ainda desejar o que eles não têm", disse ele em um dos trechos de sua palestra. 

Falou com propriedade sobre as iguarias criadas em Minas, citou o pão de queijo, os doces, "o rei milho e a rainha mandioca", e tantos outros sabores presentes na culinária do Estado. Mas fez também uma ponderação crítica com relação à desigualdade social que, infelizmente, é responsável por ainda faltar comida na mesa de muitos mineiros e de brasileiros em geral.