Comunidade escolar cobra ensino regular no Estadual Central
Professores e alunos demonstraram indignação com desativação de turmas; comissão irá ao governo pedir providências.
03/12/2020 - 15:10Como pode estar ociosa uma escola com a história, a localização e a infraestrutura que tem o Colégio Estadual Central de Belo Horizonte, nome pelo qual é mais conhecida a Escola Estadual Governador Milton Campos?
Esta foi a pergunta que resumiu o sentimento de indignação manifestado por estudantes, professores e diretores da escola em audiência pública realizada nesta quarta-feira (3/12/20) pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.
O objetivo da reunião foi discutir a necessidade de oferta de vagas para o ensino regular na instituição, fechadas quando começou, em 2017, a implantação do ensino integral, no qual os estudantes permanecem dois turnos na escola.
“Um absurdo isso, queremos a reabertura do ensino regular da escola e da Unidade II para favorecer a todos os alunos”, cobrou a aluna Emanuelle Pires. A mesma reivindicação foi feita pelos demais convidados da comunidade escolar. Segundo eles, a escola tem condições de oferecer os dois modelos de ensino, tanto o integral como o regular.
Como desdobramento da audiência, pedida pela presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT), foi aprovado requerimento de visita da comissão à secretária de Estado de Educação, Júlia Sant'Anna, para discutir a situação das Unidades I e II do Estadual Central, que ocupam quarteirões próximos, no bairro de Lourdes. A deputada ainda conclamou pais, professores, funcionários, alunos, ex-alunos e parlamentares a se unirem numa campanha de valorização e defesa da escola.
Perdas de vagas - O Estadual Central possui duas unidades. O diretor da escola, Reinaldo Cordeiro, informou que na Unidade II está sendo finalizada uma reforma, e que 28 turmas da Unidade I foram fechadas desde a opção pelo ensino integral. Hoje, para uma capacidade de 704 alunos no molde atual, há 674 alunos.
O plano de atendimento do Estadual Central para 2021, segundo ele, prevê 894 vagas para o ensino integral, em 29 turmas, na Unidade I.
Quanto à Unidade II, o diretor ressaltou que ela, além de ter 20 salas, é também o espaço que abriga a bibioteca, a rede de laboratórios e o complexo esportivo. “A reutilização desse espaço é de fundamental importância para a manutenção da história da cidade”, defendeu ele.
História da escola se confunde com a de Minas, diz professor
Leonardo Antônio Muniz, professor de geografia, fez um relato emocionado sobre a história do Estadual Central, frisando que foi a primeira escola de ensino médio de Minas Gerais, tendo sido implantado em 1854, inicialmente em Ouro Preto, que na ocasião era a capital do Estado.
Depois transferida para Belo Horizonte, a escola está desde 1954 nas dependências que ocupa hoje, em que há uma edificação projetada por Oscar Niemeyer, a convite do então governador e depois presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, que foi aluno do colégio, destacou Leonardo.
O professor ainda se lembrou de personalidades dos mundos político, cultural e esportivo que passaram pelo Estadual Central, como os ex-presidentes Getúlio Vargas e Dilma Rousseff, o ex-jogador Tostão e o compositor Toninho Horta.
“Penso que o governador Romeu Zema não vai querer ter em sua biografia a mancha de ir contra o patrimônio histórico e cultural de uma escola que tem 166 anos de idade, no momento em que se comemoram os 300 anos de Minas Gerais”, afirmou Leonardo.
O professor ainda relatou que, quando começou a dar aulas na escola, em 2001, 5,5 mil alunos eram atendidos nas Unidades I e II, número que veio caindo nos últimos anos, segundo ele por vários fatores de ordem social, econômica e estrutural.
Prejuízos - O Estadual Central teve que ser reformado recentemente, mas, segundo afirmou o professor Leonardo à comissão, hoje teria capacidade plena de atender a um número maior de alunos.
Muitos estudantes, por necessitarem de renda, optam pela qualidade e pela localização da escola, próxima ao Centro, onde encontrariam mais chance de trabalho. Esse benefício foi prejudicado com o fim do ensino regular, uma vez que esse perfil de aluno não consegue frequentar o integral.
Segundo a aluna Deise Rires, essa situação afetou também a parceria do Minas Tênis Clube com a escola, para que esta fosse frequentada por atletas do clube vindos do interior e que também não têm tempo livre para o ensino integral.
Já a pedagoga Patrícia Ribeiro lamentou que, além de perder alunos, a escola esteja também perdendo professores e profissionais qualificados.
Parlamentares defendem escola
A deputada Beatriz Cerqueira lembrou que em 2019 a comissão esteve na escola e conheceu toda a estrutura do local, quando a demanda da comunidade escolar pelo retorno do ensino regular foi apresentada, sem um retorno por parte do Estado.
“Há uma necessidade de atendimento que não justifica a situação em que se encontra. Demanda pra estudar existe, pois nem Minas Gerais nem o Brasil zeraram sua dívida histórica com a educação de crianças e adolescentes”, criticou a parlamentar.
Na mesma direção, o deputado Professor Cleiton (PSB) disse que o Estadual Central está sendo vítima de “uma decisão política infeliz e que causa indignação.” Segundo ele, a Escola Governador Milton Campos é um centro de excelência que não pode passar pelo desprezo com que segundo ele vem sendo tratado pelo governo do Estado.
O deputado Betão (PT) concordou com a indignação manifestada na audiência e disse que qualquer fechamento de escola ou redução de turmas representa um dano à população. “Ainda mais de uma estrutura como essa colocada na audiência”, frisou.