Temerosos em relação a riscos de perder suas terras, membros das comunidades vieram à ALMG para participar da reunião e pedir soluções
Advogado dos quilombolas denuncia documento falso e pede investigações
Prefeito de Virgem da Lapa dará apoio incondicional á permanência de quilombolas
Quilombolas cobram regularização de terras

Omissão do Incra afeta quilombolas do Jequitinhonha

Depoimentos citam terras que já deveriam ter sido regularizadas e documento falso para embasar ação de reintegração.

10/03/2020 - 19:55

Muitas críticas à postura do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram reiteradas em diversos depoimentos feitos à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (10/3/20), durante audiência que debateu a violação de direitos de comunidades quilombolas localizadas no Vale do Jequitinhonha.

Requerida pela presidenta da comissão, deputada Leninha (PT), a reunião abordou a situação das comunidades Biquinha, Água Limpa, Campinhos e Capim Puba, na Fazenda Capão de Lizário, em Virgem da Lapa, ameaçadas por ação de reintegração de posse movida pela madereira Monte Fresnos Reflorestamento e Exploração.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião

As opiniões negativas em relação ao instituto questionaram o descaso do órgão no que tange à regularização fundiária dessas áreas. Para exemplificar, foi relatado o caso das comunidades de Biquinha e Água Limpa, que estariam na mesma área há aproximadamente 150 anos.

A certidão de autodefinição dessas áreas como remanescentes de quilombo foi concedida e publicada no Diário Oficial há 13 anos, mas até hoje não está regularizada pelo Incra.

Documento ilegal X certificação atrasada

Houve também denúncias de que a Monte Fresnos nem sequer possui documentos legítimos que comprovem sua propriedade sobre a área que reivindica. “É necessária uma séria investigação sobre os documentos, de origem duvidosa. Esses cidadãos estão sendo ameaçados de ser expulsos de suas terras com a conivência dos cartórios e do poder público”, criticou o advogado Élcio Pacheco, que defende as comunidades quilombolas do Estado.

Palavras endossadas nas falas do líder quilombola José Mauro Pereira e do procurador da República em Teófilo Otoni João Márcio Simões, que também ressaltou sua insatisfação em relação ao Incra. Essa visão também foi corroborada pelo presidente da Federação das Comunidades de Quilombos de Minas Gerais, Jesus Araújo, e pelo procurador regional Helder Silva.

Diálogo - Já a ausência de representantes do Incra à audiência foi lamentada pela presidenta da comissão. “Nós os convidamos para essa audiência. Seria muito importante ter um representante do instituto aqui para conhecer melhor a realidade dessas comunidades e nos dar um posicionamento”, ponderou a deputada Leninha. Ela também elogiou a atuação do Ministério Público no caso.

Elogios ao MP e críticas à omissão e ao desmonte do Incra ainda foram feitos pelos deputados Doutor Jean Freire e André Quintão (ambos do PT). Os dois, assim como a deputada Andréia de Jesus (Psol) e a presidenta da comissão colocaram os mandatos à disposição da luta dos quilombolas.

Apoio manifestado também por Marcelo Vilarino, antropólogo e assessor da Coordenadoria de Inclusão Mobilização Sociais do Ministério Público Estadual (Cimos), e Júnia Carvalho, defensora especializada em direitos humanos, coletivos e socioambientais da Defensoria Pública mineira.

Já o representante da Mesa de Diálogo e Negociação Permanente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Juliano D’Angelo, disse “estar aberto ao diálogo para que busquem juntos a melhor solução”.

Os parlamentares presentes à reunião, assim como o antropólogo Marcelo Andrade e o prefeito de Virgem da Lapa, Diógenes Limo da Silva (PSDB), aproveitaram, ainda, para lamentar os malefícios causados pela monocultura do eucalipto – desenvolvida pela Monte Fresnos na região, que, nas palavras do prefeito, “mata a terra”.

Diógenes Limo ainda manifestou o apoio incondicional da prefeitura à permanência das comunidades quilombolas nos territórios reivindicados pela madeireira.

O defensor Márcio Simões informou que, por ora, não há indicativo de que será cumprido o mandato de reintegração nesta quarta (12). Segundo ele, a Polícia Militar se comprometeu a informar o MP sobre qualquer ação relacionada ao caso.

Testemunhos e requerimentos – Ainda houve diversos depoimentos e testemunhos de membros das comunidades, como a líder quilombola Valdeci Carvalho e de representantes do mandato do deputado federal Padre João (PT-MG) e da Liderança da Minoria na ALMG.

Também foram aprovados requerimentos, destinados a vários órgãos públicos, inclusive na esfera federal, solicitando providências, investigação de denúncias, informações, entre outras ações.