Subsecretário apresentou condicionantes da legislação para a instalação de serviços de oncologia

Legislação não permite novo centro oncológico em Muriaé

De acordo com normas relacionadas ao SUS, Hospital São Paulo não poderia criar unidade em suas instalações.

10/12/2019 - 19:12

“Tendo como base a legislação atual do Sistema Único de Saúde (SUS), não é possível permitir que o Hospital São Paulo credencie um Centro Oncológico”. Com essa frase, o subsecretário de Regulação do Acesso a Serviços e Insumos de Saúde, Nicodemus Silva Júnior, explicou aos representantes da Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo porque sua principal demanda não poderá ser atendida pelo Estado.

A situação da entidade filantrópica foi discutida nesta terça-feira (10/12/19), em audiência pública na Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O Hospital São Paulo realiza atendimentos de alta complexidade, incluindo as áreas de ortopedia, neurologia e cirurgia oncológica, pelo SUS.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião

De acordo com a diretora administrativa do Hospital São Paulo, Rita de Cássia Castro, o repasse de R$ 70 mil pago pelo governo é pouco para a demanda de alta complexidade que a instituição tem e que atende Muriaé e demais cidades da região da Zona da Mata. “Temos a estrutura física e humana, mas precisamos do recurso, para fazer o diagnóstico cedo e operar os pacientes, quando isso ainda é possível”, explicou.

Além da criação do Centro Oncológico, outras demandas apresentadas pela instituição foram o aumento do teto de pagamentos para procedimentos de alta complexidade, como ortopedia e neurocirurgia, e o recebimento das cirurgias oncológicas pelo valor previsto no Código Brasileiro de Ocupações (CBO).

O deputado Doutor Wilson Batista (PSD) explicou que atualmente é usado um número diferente do CBO para pagar os profissionais. “Cada paciente oncológico que é curado com cirurgia economiza até R$ 200 mil para o SUS. São tumores tirados logo no começo da doença e que dão mais chances de cura aos pacientes. E esses médicos não podem ser remunerados como se deve”, reforçou.

De acordo com o subsecretário Nicodemus, tudo no SUS precisa de contrato do Estado com o prestador, com participação do município, regulamentado pela Lei 8.666, de 1993. E os gastos financeiros em oncologia no SUS, repassados via fundo estadual, estão divididos entre 15% para cirurgia, 30% com radioterapia e 55% com quimioterapia. Além disso, ter um centro oncológico implica em ter obrigatoriamente um serviço de residência médica, o que é caro.

“Esse prestador de serviço, segundo a lei, tem de ter uma unidade para cada 500 mil habitantes. Na região da Zona Mata já existem cinco centros desse tipo. Então, não há base legal para a criação de mais um serviço de oncologia. Para o hospital ter esse centro é preciso haver crescimento populacional ou extinção de algum dos serviços existentes”, afirmou o subsecretário.

Outra opção seria a construção de um hospital geral com cirurgia oncológica, mas isso só se justificaria se os atuais prestadores não estivessem dando conta da radioterapia e quimioterapia dos pacientes na região, o que não é o caso. “Os dados e informações apresentados não sustentam essa possibilidade”, enfatizou o representante do governo.

Hospitais filantrópicos - O presidente da comissão, deputado Carlos Pimenta (PDT), falou que, em Minas, os hospitais filantrópicos estão enfrentando bastante dificuldades, tendo em vista o atraso nos repasses de atendimentos feitos pelo SUS. “Sem contar os pacientes, que chegam a esperar até seis meses por uma mamografia ou uma biópsia. Esse tempo faz uma diferença enorme para quem tem câncer”, reforçou.

O deputado Doutor Wilson Batista disse que, em Muriaé e no Estado, as demandas se resolvem apenas na base da “força política”, sendo que as pessoas “que estão na ponta não se abrem para dialogar e são parciais”. “Quem sofre é quem está no dia a dia do centro cirúrgico. Quem poderia ajudar está nas secretarias. Mas essas pessoas não vão nos hospitais; se fossem, mudariam de convicção”, completou o parlamentar.