Prefeituras reclamam da pior crise hídrica dos últimos anos e denunciam que Rio Fanado segue ameaçado de extinção

Sem Ruralminas, obras no Rio Fanado dependem de consórcio

Contra escassez de água reclamada por prefeitos, gestor diz que saída para construção de barragens depende de convênio.

05/12/2019 - 16:51

Com a extinção da Ruralminas, que tratava da questão, o governo do Estado está correndo contra o tempo para firmar, ainda este ano, um convênio com o Consórcio Intermunicipal de Infraestrutura de Municípios do Vale do Jequitinhonha e assim garantir o empenho dos recursos que poderão viabilizar a futura construção de sete barragens para acúmulo de água na Bacia do Rio Fanado.

Essas informações foram dadas nesta quinta-feira (5/12/19) pelo subsecretário de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural Sustentável do Estado, Amarildo José Brumano Kalil, em audiência na qual prefeitos da região e movimentos sociais cobraram o cumprimento de medidas de combate à escassez hídrica e contra a degradação ambiental da bacia.

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Eles denunciaram à Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que o rio continua ameaçado de extinção e ainda sofrendo com a poluição e com a falta de investimentos do Estado, apesar da aprovação de emendas populares nesse sentido ao Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) 2016-2019, que traz as ações a serem priorizadas pelo governo num período de quatro anos e passa por revisões anuais.

Entre as emendas populares relacionadas ao rio Fanado e ao Vale, na revisão proposta para este ano, constam a implantação das sete barragens mencionadas pelo subsecretário e ainda a construção de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e fossas sépticas.

Na avaliação de prefeitos, essas emendas não teriam sido atendidas por omissão do Estado, ao passo que poderiam contribuir para reduzir a escassez de água e a poluição na bacia. Um dos principais afluentes do Rio Araçuaí e com extensão de 120 km, o Fanado nasce em Angelândia e banha os municípios de Capelinha, Turmalina e Minas Novas, todos eles no Jequitinhonha e representados na audiência.

Gestor vê dificuldades com extinção de empresa

Apesar das críticas, o subsecretário disse que o Estado não foi omisso, e sim que a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) enfrenta dificuldades para atender a demanda pela construção das barragens de reservação de água. Isto porque a reforma administrativa proposta pelo governo Zema e aprovada na ALMG no primeiro semestre deste ano extinguiu a Ruralminas, justamente a empresa vinculada à Seapa que detinha toda a expertise em barragens do tipo, disse o gestor.

Ele explicou que a Ruralminas podia executar as ações diretamente, sem a necessidade de licitação para a contratação de terceiros, o que na situação atual teria que ser feito pela Seapa.

Nesse novo cenário, o subsecretário disse que o convênio com o consórcio da Associação dos Municípios da Microrregião do Alto Jequitinhonha (Amaje) seria uma saída para garantir o empenho dos recursos para as barragens, que do contrário serão perdidos.

Feito o convênio e o empenho, os recursos poderão ser repassados ao consórcio, ao qual caberá tratar da execução das obras. O subsecretário anunciou, ainda, que o governo vai enviar em breve projeto de lei à ALMG para desburocratizar processos de aplicação e liberação de recursos para recuperação de bacias hidrográficas de Minas.

Dificuldades seriam gerais

Prefeitos como o de Minas Novas, Aécio Guedes Soares, disseram que seus municípios enfrentaram este ano uma das piores secas dos últimos tempos.

Aécio relatou que crianças chegaram a ficar dias sem ir à escola ou tomar banho, apesar de esforços da prefeitura, como conseguir disponibilizar quatro caminhões pipa e a perfuração de quase 20 poços na tentativa de amenizar a situação. “Às vezes conseguimos caminhão, mas não temos onde pegar água”, frisou.

O coordenador do Movimento SOS, Daniel Costa Sousa, cobrou um olhar diferenciado para o Vale ao alertar que as más condições do Fanado se aplicam a todos os cursos d´água existentes na região.

“Precisamos sair do discurso para a prática”, cobrou ele, ao expor que o Vale sofre há muito tempo com baixos Índices de Desenvolvimento Humano e Social e baixa capacidade hídrica. “Mesmo assim somos a região onde menos o Estado investe, cuida e se preocupa em mudar a condição de vulnerabilidade”, criticou Daniel.

Preocupante - Por sua vez, o diretor de Planejamento do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Marcelo da Fonseca, destacou ações do Programa Estratégico de Revitalização de Bacias Hidrográficas Somos Todos Água e disse que recentemente passou-se a permitir que moradores do semiárido, que sofrem com a escassez de água durante grande parte do ano, possam construir pequenos barramentos para acumular mais água do período chuvoso, aliviando a seca especialmente no meio rural. Segundo ele, isso não demanda processo de outorga, apenas uma declaração do morador.

Classificando a situação hídrica na região como "muito preocupante e com queda drástica" na oferta de água", a gerente da Divisão de Recursos Hídricos da Copasa, Silvana Vaz, registrou por outro lado que dos quatro municípios da Bacia do Fanado, a Copasa é concessionária em três, sendo que em dois deles, Minas Novas e Turmalina, já foram implantadas estação de esgoto, cuja obra no caso de Capelinha estaria em fase de licenciamento.

Já a ETE de Angelândia, a cargo da Copanor, estaria com a elaboração do projeto em andamento, disse ainda.

Comissão manterá cobrança de emendas

O presidente da comissão, deputado Doutor Jean Freire (PT), que pediu a reunião, ressaltou a importância da criação do Movimento SOS Fanado, que vem lutando para reverter o cenário de degradação no curso d´água, inclusive pelas redes sociais. Ele frisou que a comissão continuará cobrando a execução das emendas populares ao PPAG.

O deputado Arlen Santiago (PTB) criticou a desertificação de regiões como o Vale do Jequitinhonha e criticou o fato de barragens solicitadas pelas comunidades não terem sido instaladas ainda. Para o deputado Marquinhos Lemos (PT), a mobilização para reverter o cenário de escassez tem que ser permanente, inclusive nos períodos chuvosos ou até de enchentes.