Segundo dados mostrados na reunião, em Belo Horizonte as mulheres são 49% da população em idade economicamente ativa, mas 65% das desempregadas
Leandro Garcia disse que projeto contempla quem tem ou não conhecimentos em informática
Inserção de mulheres no mercado de tecnologia da informação ainda é desafio

Deputadas querem replicar curso de formação para mulheres

Projeto de capacitação em TI da prefeitura de BH é apontado como caminho para inclusão no mercado e geração de renda.

05/12/2019 - 16:14

Quase 2 mil mulheres de Belo Horizonte devem participar de curso profissionalizante na área de programação digital, setor da economia com baixa participação feminina. O projeto, chamado Programando Sonhos, foi o tema da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta quinta-feira (5/12/19).

Iniciativa da prefeitura de Belo Horizonte, o projeto foi elogiado pelos convidados em especial por ter unido as secretarias municipais de Desenvolvimento Econômico e de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania.

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Construído a partir da percepção de que a área de Tecnologia da Informação (TI) é uma das poucas que tem, atualmente, mais oferta de vagas do que mão de obra disponível, o projeto está em sua 2º edição. Na primeira, teve oferta ampla e, agora, é voltado exclusivamente para mulheres.

De acordo com o secretário de desenvolvimento econômico, Cláudio Beato, o recorte de gênero é importante já que, em Belo Horizonte, as mulheres são 49% da população em idade economicamente ativa, mas 65% das desempregadas.

A área de TI também revela, nas estatísticas dos seus trabalhadores, desigualdades de gênero. Ainda de acordo com Beato, atualmente, menos de 40% dos profissionais dessa área em Belo Horizonte são mulheres. Assim, ele salientou que o projeto é conduzido de forma intersetorial, em parceria com a Secretaria de Assistência Social, e conduzido pela Empresa de Informática e Informação de Belo Horizonte (Prodabel). 

Curso atende mulheres em diferentes níveis de conhecimento

Quem apresentou mais detalhadamente a iniciativa foi o diretor-presidente da Prodabel, Leandro Garcia. Segundo ele, ao abrir as incrições para mulheres nessa 2ª edição do projeto Programando Sonhos, quase 2 mil mulheres se cadastraram.

“Esse número nos asustou a princípio, não tinhamos capacidade para atender a todas, então abrimos uma chamada pública para fazer parcerias com a iniciativa privada”, disse Leandro Garcia. As empresas, então, passaram a fornecer espaço físico e professores para os cursos de forma que o objetivo é contemplar, ao longo dos próximos meses, todas as inscritas.

Não há, segundo o representante da Prodabel, nenhuma seleção para se participar, mas sim uma classificação de acordo com os conhecimentos das inscritas. Assim, o projeto atende desde aquelas que não têm nenhum conhecimento em informática até as que já possuem nível intermediário. Todas elas, caso tenham interesse, poderão chegar até o último módulo do curso, voltado para programação digital.

Várias alunas e ex-alunas do projeto estiveram presentes na reunião e algumas fizeram relatos de suas experiências. Bruna Lima e Silva, por exemplo, exaltou não só o ambiente acolhedor do curso, como as estratégias da prefeitura para garantir amplo acesso. Uma delas é o fornecimento de auxílio transporte para garantir o deslocamento até as aulas. O projeto também inclui lanches nos dias letivos.

Diversidade - Além de ajudar na capacitação dessas mulheres para o mercado de trabalho, o projeto, segundo Leandro Garcia, é benéfico para o setor, que, segundo ele, exige habilidades criativas e, assim, se beneficia da diversidade da mão de obra.

Ele afirmou, ainda, que programas de inteligência artificial são feitos a partir de bancos de dados do passado que ajudam a predizer o futuro e, atualmente, esses bancos mundiais são majoritariamente compostos por informações de homens. “Então precisamos de cada vez mais mulheres atuando em TI para mitigar essas diferenças”, disse.

A deputada Marília Campos (PT), presidenta da comissão, disse que essa é a iniciativa de geração de renda para mulheres mais consistente que ela já conheceu e falou da importância de replicar a experiência em outros municípios. A parlamentar lembrou que a inclusão no mercado de trabalho significa não apenas geração de renda, mas autonomia financeira que é essencial para que as mulheres saiam, por exemplo, de situações de violência doméstica.

Desafio do Estado são as diferenças regionais

Nesse sentido, foram convidados para a reunião representantes do governo estadual para conhecer a experiência. A superintendente de participação e diálogos Sociais da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Seds), Letícia Palma, parabenizou a iniciativa e disse que, para Minas Gerais, o desafio está em ter melhores diagnósticos regionais.

Ela lembrou que, se TI tem um amplo campo de atuação na Região Metropolitana, isso pode não ser verdade em outras localidades, onde formações na área de assistência eletrônica, por exemplo, podem ser mais interessantes. Ela defendeu, ainda, a construção de uma proposta estadual com foco nas mulheres mais jovens que, segundo ela, estão cada vez mais fora do mercado de trabalho. Hoje, de acordo com Letícia Palma, 22% das jovens nem trabalham nem estudam no Brasil.

Já a diretora de apoio aos pequenos negócios e cooperativismo da Superintendência de Potencialidades Regionais, também da Seds, Maria Eneila Loiola, falou dos esforços do governo estadual em incentivar o empreendedorismo. Ela destacou, então, o projeto Minas Livre para Crescer, que busca colocar em prática as premissas da Lei de Liberdade Econômica, aprovada nacionalmente. O principal foco seria a reeducação da burocracia para quem deseja empreender, mas não há, de acordo com ela, recorte de gênero.

A deputada Celise Laviola (MDB) comentou que conhece o projeto e o apoia. Para ela, as prefeituras, em iniciativas locais que serão incentivadas pelo governo estadual, podem estimular maior participação feminina.

Ao fim da reunião, as deputadas Marília Campos e Andreia de Jesus (Psol) voltaram a elogiar o projeto municipal de Belo Horizonte e disseram que o Estado precisa de iniciativas mais consistentes para reduzir as desigualdades de gênero no mercado de trabalho.