Piora da qualidade da Unimontes geraria impacto social, já que 75% dos estudantes da universidade são filhos de trabalhadores pobres

Servidores denunciam sucateamento da Unimontes

Perdas salariais e falta de concursos foram problemas relatados por participantes, que exigem investimentos do governo.

20/11/2019 - 20:20

Reposição de perdas salariais, implantação de plano de carreira, reconhecimento de títulos de mestrado e doutorado, volta do pagamento da Gratificação de Dedicação Exclusiva (GDE), pagamento de transporte para professores, concursos para docentes e técnicos e ampliação das bolsas da Fapemig para pós-graduação na Unimontes.

Essas foram as reivindicações de servidores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), com 13 campi no Norte, Nordeste e Vale do Jequitinhonha. Eles participaram da audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (20/11/19).

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A reunião solicitada pelas deputadas Beatriz Cerqueira (PT), presidenta da comissão, e Leninha (PT) teve como finalidade discutir os problemas enfrentados na universidade.

Daniel Coelho de Oliveira, do Fórum dos Coordenadores da Pós-Graduação da Unimontes, denunciou que o Governo de Minas está promovendo o sucateamento da entidade. Segundo ele, a demanda de profissionais para a pós-graduação não tem sido atendida e, com isso, muitos campi estão sem professores nessa função.

Ele destacou que a Unimonte oferece 30 cursos de graduação, 18 de mestrado e quatro de doutorado. “Reforço a importância da pós-graduação para a pesquisa e a formação de Recursos humanos - grande parte dos nossos alunos são professores na rede pública”, apontou.

Daniel Coelho lamentou ainda a suspensão do pagamento de 99 GDEs, o que inviabiliza os cursos de mestrado e doutorado. “Sem a dedicação exclusiva, a Unimontes abre mão de uma mão-de-obra qualificada, definiu.

Impacto social - Ana Paula Glinfskoi, presidente da Associação e do Sindicato dos Docentes da Unimontes, afirmou que o governo está agravando a situação de desajuste financeiro da entidade, acarretando grande impacto social. Segundo ela, 75% dos estudantes são filhos de trabalhadores pobres e 48% se autodeclararam negros.

Ela reclamou que os servidores estão há 9 anos sem reajuste salarial, o que acarretou perda de 51% dos rendimentos. “Hoje, o vencimento de um especialista com jornada de 20 horas é de R$ 884,34, menos que o salário-mínimo”, indignou-se. Além disso, vários professores com mestrado ou doutorado estão sem receber o correspondente a esses títulos.

Sobre o transporte, Ana Paula registrou que muitos docentes que atuam fora de Montes Claros não estão recebendo o pagamento pelo transporte. “Uma professora que dá aula em Unaí gasta metade do salário com transporte”, expôs.

Esses problemas têm levado ao adoecimento de muitos profissionais e à saída de outros. “Temos cerca de 1000 docentes atuando, mais de 500 a menos do que em 2015”, comprovou.

Uemg - Para Simone Medeiros de Carvalho, da Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Minas Gerais, o que acontece na Unimontes se repete na Uemg. “Como o governo não está repassando os valores das bolsas-trabalho, as prefeituras estão demitindo os alunos”, lamentou. Na opinião dela, “pretendem fazer da universidade pública um negócio, a exemplo do governo federal, que lançou o Future-se.

Universidade tem o único hospital escola do semi-árido mineiro

Alvimar Souza, reitor da Unimontes, lembrou que a universidade, com 58 anos de atuação, tem o único hospital-escola 100% SUS no semi-árido mineiro, que atende a cerca de 1,6 milhão de pessoas. A crise que a universidade vem enfrentado fez com que caísse o número de alunos atendidos, de 16 mil para 9 mil, citou. Apesar das dificuldades, a Unimontes contabiliza oito patentes e 18 registros de marcas.

“De forma respeitosa, a Unimontes está aqui para ser vista pelo Estado. Estamos segregados no Norte de Minas, vivendo de migalhas. Queremos que os deputados olhem para a Unimontes, buscando recursos para nossas atividades”, cobrou.

O pró-reitor de Planejamento, Aloysio Vieira, registrou que a Unimontes tem uma dívida de R$ 6,9 milhões. “Necessitamos de R$ 4,8 milhões por mês para manter a instituição. Com o contingenciamento, o governo nos envia R$ 3,6 milhões”, declarou.

Ele frisou que a inadimplência com fornecedores gera problemas, como a fuga de profissionais e empresas e a sobretaxa de preços, em função do histórico de má pagadora.

Seleção - Em sua fala, a deputada Beatriz Cerqueira sugeriu que a Unimontes e a Uemg fossem incluídas pelo governo para atuar em programas como os de formação e seleção de pessoal. Essa medida, na opinião dela, reduziria os custos do Estado, que não precisaria pagar a empresas, gerando recursos para essas universidades. E acrescentou que as demandas levantadas na reunião seriam transformadas em requerimentos.

Mesmo defendendo o diálogo na construção de soluções coletivas, a deputada Leninha afirmou que não iria permitir a privatização das duas instituições. A proposta é mantê-las públicas e gratuitas para que continuem prestando serviços à população das regiões carentes do Estado.

O deputado Professor Cleiton (PSB) questionou qual era o investimento anual por aluno na Unimontes, lembrando que na Uemg é de R$ 8.639, valor baixo em relação a universidades similares, como a Estadual da Bahia (R$ 52 mil) e a UFMG (R$ 51 mil). O reitor Alvimar Souza respondeu que na Unimontes o investimento é de aproximadamente R$ 15 mil.

O deputado Virgílio Guimarães (PT) se solidarizou com os servidores da Unimontes. E completou que tentaria obter recursos orçamentários para atender às demandas.

Governo – Fabiano Marx, diretor de Recrutamento e Seleção da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, e Augusta Fagundes, subsecretária de Ensino superior, foram evasivos nas respostas às reivindicações. Os dois representantes reforçaram a dificuldade financeira do governo e colocaram suas pastas à disposição para a busca de soluções por meio do diálogo.