Fechamento e superlotação de turmas são relatados em escolas
Visita de comissão a instituições na região noroeste da Capital constata problemas. Matrícula online também preocupa.
26/11/2019 - 15:41Uma escola sofre com excesso de alunos enquanto outra, a poucos quarteirões, recebe a orientação do governo estadual, comandado por Romeu Zema (Novo), de fechar turmas. Essa foi a realidade encontrada pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em visita às duas instituições de ensino na região noroeste de Belo Horizonte. A visita foi realizada na manhã desta terça-feira (26/11/19) e faz parte uma série de visitas a escolas que estão em andamento esta semana.
Na Escola Estadual Doutor Lucas Monteiro Machado, uma das visitadas esta manhã, há espaço de sobra. Onde, segundo moradores que acompanharam a visita, já estudaram cerca de dois mil alunos, estão agora apenas 120.
O ano letivo começou com cerca de 500 estudantes, mas muitos evadiram em julho diante da notícia, classificada pela diretora, Shirley Andrade, como “boato”, de que a escola seria fechada. Segundo a própria diretora, porém, em 2019 a turma do 6º ano do Ensino Fundamental foi encerrada e a escola não receberá, em 2020, matrículas para o 7º ano segundo orientações do governo estadual.
Diante das informações, a deputada Beatriz Cerqueira (PT), presidenta da comissão e autora do requerimento que deu origem à visita, disse que, então, a notícia do fechamento não era boato. “O que o governo tem feito é fechar as turmas de entrada do Fundamental 1 e 2, para depois, aos poucos, fechar as séries seguintes, até acabar com todo o ensino fundamental nas escolas estaduais e deixar a responsabilidade sobre esse período para os municípios”, afirmou.
As consequências da decisão do governador Romeu Zema já foram sentidas na instituição vizinha, a Escola Estadual Guimarães Rosa, segunda instituição visitada. O local, que é bem menor do que a primeira visitada, abriga 823 alunos em dois turnos, manhã e tarde. Segundo a diretora, Maria Rita Ornelas, em 2019 o 6º ano do Ensino Fundamental da escola ficou superlotado com a transferência da demanda anteriormente dividida com a Escola Doutor Lucas.
“Eu não podia deixar esses meninos de 11 anos sem escola”, disse a diretora ao defender sua decisão de montar quatro turmas de até 45 alunos nessa série, quando o limite legal é 35 estudantes por sala. Para piorar, no planejamento para 2020 enviado à escola pelo governo estadual, as turmas de 6º ano foram cortadas, o que deixaria, conforme ressaltado pela deputada Beatriz Cerqueira, as crianças sem opção de escolas nos arredores.
De acordo com Maria Rita Ornelas, a escola já pediu a retificação do problema e solicitou a abertura de três turmas de 6º ano em 2020, mas ainda não recebeu resposta oficial. Com uma turma a menos do que em 2019 e nenhuma previsão de retorno das matrículas na escola vizinha, a superlotação das salas tende a piorar,. Segundo a diretora, será necessário ter uma turma a mais de ensino médio e, assim, não haverá salas suficientes para quarta turma do 6º ano.
Integral – Em 2019, a Escola Estadual Guimarães Rosa perdeu, ainda, as turmas de horário integral de 6º e 7º anos. A diretora lamentou e falou que o trabalho com as turmas integrais era um sucesso em termos de ensino e de disciplina.
A deputada Beatriz Cerqueira afirmou que vai pressionar o governo para retomar as séries na Escola Doutor Lucas e, assim, dividir a demanda dos estudantes. Ela também afirmou que vai lutar pela retomada de todas as turmas de horário integral.
Matrícula online pode ser problema para famílias
Outro problema relatado pela diretora Maria Rita Ornelas é que o governo estadual determinou que, em 2020, todas as matrículas sejam realizadas online. “Parece que eles (governador e secretários) não conhecem a realidade. A matrícula online como única opção vai deixar muita criança fora da escola”, afirmou.
Segundo ela, muitos moradores da região têm problemas econômicos e não acessam com facilidade a internet. Outros, não possuem instrução educacional suficiente para realizar os procedimentos sozinhos.
Para amenizar a situação, a diretora disse que vai disponibilizar a sala de informática da escola para os pais usarem para fins de matrículas. Ela acredita, porém, que a medida não será suficiente, pois muitos, mesmo com acesso à internet, não conseguirão realizar o procedimento.
Para a deputada Beatriz Cerqueira, a decisão é uma estratégia do governo para esvaziar as escolas no início do ano letivo, o que geraria economia a partir da não-contratação de funcionários. “Perdem os alunos que não estão nas escolas, as famílias que não têm onde deixar as crianças e os profissionais que ficam desempregados”, salientou.
Construção – Representantes da comunidade acompanharam a visita e requisitaram a continuidade de todas as turmas das duas escolas. O presidente da Associação de Moradores do Bairro Pindorama e Adjacências, Odilon Silva Araújo, lembrou que a Escola Doutor Lucas foi fruto de muita luta da comunidade, que conseguiu sua instalação no local atual em 1985.
Ele lembrou, ainda, que a escola sempre foi aberta à comunidade e ofereceu atividades a todos os moradores, inclusive nos fins de semana. Assim, disse que a instituição faz parte da história do bairro e precisa ser reerguida.