A MRS, que detém a concessão das ferrovias para transporte de cargas, pontuou que o transporte de passageiros seria possível apenas se outra empresa realizasse o serviço

Trem de passageiros ajudaria trabalhadores de Sarzedo

Moradores reclamam de ônibus que ligam a cidade a BH; comissão vai continuar lutando pela volta do trem de passageiros.

22/11/2019 - 12:53

A Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou audiência pública em Sarzedo, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, na noite desta quinta-feira (21/11/19). Ali, o deputado João Leite (PSDB) ouviu reinvidicações da comunidade local pela volta do trem de passageiros, que outrora ligava a cidade ao Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte, na linha onde hoje são transportadas apenas cargas de minério.

O prefeito de Sarzedo, Marcelo Pinheiro do Amaral, e vários moradores que se manifestaram durante a audiência, afirmam que implementar novamente o transporte de passageiros por trens pode contribuir para melhorar o trânsito na Região metropolitana, além de ajudar os trabalhadores que diariamente precisam se deslocar para a Capital, gastando horas para ir e vir.

O presidente da Associação Trem Bom de Minas, José Augusto de Oliveira, acredita que a instalação de um trem de passageiros na linha da empresa MRS Logística S/A, concessionária que opera a antiga Malha Regional Sudeste da Rede Ferroviária Federal S/A, em Sarzedo, também poderia gerar um bom número de postos de trabalho no município.

"Precisamos muito do trem. Por causa do trânsito na rodovia, os trabalhadores têm que acordar cada vez mais cedo, passam horas dentro dos ônibus e ainda chegam atrasados no trabalho!", reivindicou José Augusto de Oliveira.

O prefeito Marcelo Pinheiro disse que a estação ferroviária de Sarzedo, que tem mais de 100 anos, foi preservada e recentemente restaurada. "Estamos prontos para a volta desse trem. Não é possível continuar rodando apenas carga por aqui, com as rodovias desse jeito que estão", ponderou.

Encaminhamentos - As sugestões coletadas na reunião serão encaminhadas pela comissão à Fundação Dom Cabral, que está conduzindo os estudos para elaboração do Plano Estratégico Ferroviário (PEF) de Minas Gerais.

De acordo com o deputado João Leite, que preside a Comissão Pró-Ferrovias, também serão registradas e enviadas aos órgãos competentes as reclamações da população sobre os ônibus coletivos que servem à região. Além dos atrasos e congestionamentos a que são submetidos nas rodovias, alguns trabalhadores contaram que, nos dias de chuva, vaza água dentro dos veículos.

Empresa vê com cautela divisão de linhas entre cargas e passageiros

De acordo com dados divulgados pela empresa, a malha ferroviária administrada pela MRS engloba 1.643 quilômetros, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e quase 20% dos produtos exportados pelo Brasil passariam por seus trilhos, incluindo materiais siderúrgicos, cimento, produtos agrícolas, carvão e minério de ferro.

A especialista em relações institucionais da MRS Logísitica, Tatiane Miranda, foi quem representou a empresa na audiência pública. Ela explicou que a MRS detém a concessão dessas ferrovias apenas para transporte de cargas. Para transportar passageiros, seria possível apenas ceder partes de trens para que outra empresa realizasse o serviço.

Mas, segundo Tatiana, ainda não apareceu nenhuma empresa devidamente regularizada junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) interessada em fazer esse transporte. A especialista também afirmou que há questões operacionais e de segurança, principalmente, que podem inviabilizar o compartilhamento de uma mesma linha férrea para os dois tipos de transporte.

Ela garantiu, no entanto, que a MRS está colaborando de todas as formas possível com a elaboração do Plano PEF de Minas Gerais, e que, uma vez concluído o plano, esses estudos vão nortear futuros investimentos da empresa no Estado.

Apesar das ponderações feitas pela empresa, o deputado João Leite considerou positivo o fato de a MRS ter desistido de investir na construção do anel ferroviário de São Paulo e estar contribuindo com o PEF de Minas. "Nós da Assembleia já estávamos indo à justiça para impedir que esse dinheiro, fruto da exploração de ferrovias mineiras, fosse para São Paulo. Mas, felizmente, a empresa recuou", disse o parlamentar.

O deputado reafirmou o compromisso da comissão de continuar acompanhando os estudos e lutar para a volta dos trens de passageios em Minas Gerais.