Alguns dos presentes justificaram fim de unidades como perseguição a municípios que teriam se manifestado a favor de uma gestão ética da Fecomércio
Grijalva Júnior alegou que o serviço passa por revisão de custos e readequação de estrutura

Desmonte do Sesc em Minas é denunciado em audiência

Sete municípios teriam sido afetados por fechamento de unidades como escolas e pousadas.

04/09/2019 - 17:42

Vereadores e entidades empresariais denunciaram nesta quarta-feira (4/9/19) o desmonte do Serviço Social do Comércio (Sesc) em Minas, o que segundo eles estaria ocorrendo por retaliação política e já teria levado ao fechamento de unidades em sete municípios da Zona da Mata e outras regiões do Estado.

O assunto foi discutido em audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), por solicitação da presidenta, deputada Delegada Sheila (PSL). Segundo ela, o Sesc, ao oferecer às comunidades serviços educacionais e sociais, contribui de forma preventiva para manter os jovens longe das drogas.

Conforme os presentes, até agora as cidades atingidas pelo fechamento de unidades seriam Teófilo Otoni e Almenara (Jequitinhonha/Mucuri), Bom Despacho, (Centro Oeste), Santos Dumont, Juiz de Fora e Muriaé (Mata) e Janaúba (Norte de Minas).

O representante do Sesc negou questões políticas e disse que o serviço passa por "revisão de custos operacionais", mas o vereador José Roberto Cajaíba de Oliveira, de Teófilo Otoni, alegou que municípios afetados estariam entre os que mais se manifestaram a favor de uma gestão ética na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG).

Ele se referia ao fato de a direção anterior da entidade, que tem o Sesc como integrante do Sistema S, estar sendo investigada por improbidade administrativa e desvios de recursos.

Recursos não faltariam - O vereador insistiu em que as razões seriam perseguição, dizendo que não haveria motivos financeiros, e acusou o Sesc de se antecipar à fala do ministro Paulo Guedes de que haveria cortes no Sistema S, o que chamou de “gestão do medo”.

“Minas está na contramão de outros estados ao reduzir investimentos, enquanto obras do Sesc são inauguradas pelo País”, disse o vereador.

Para ele, o mesmo poderia estar ocorrendo em Minas, já que o Sesc-MG teria um índice geral de liquidez dos melhores do País: conforme explicou, teria em caixa, para cada real a ser pago, R$ 3,81, contra R$ 0,61 no caixa do estado vizinho.

Municípios relatam perdas, mas Sesc defende readequação

Secretária de Cultura e Assistência Social de Teófilo Otoni, Eliane Aguilar relatou que adolescentes, idosos e funcionários “estão em sofrimento” com o fechamento de unidades do Sesc já a partir do mês que vem na cidade.

“A escola do Sesc já não abriu processo seletivo para 2020. Estamos falando aqui de educação e cultura, e do futuro numa região necessitada”, lamentou.

Também questionando alegações quanto a custos para justificar o desmonte de unidades, o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora, Emerson Beloti de Souza, argumentou que o Sesc, ainda que de direito privado, não existe para dar lucro.

“Existe é o interesse público e nossa obrigação é proteger o Sistema S”, frisou o dirigente da entidade ao cobrar uma “argumentação transparente” por parte do Sesc.

Para o comerciante, que criticou o fechamento do Sesc Pousada de Juiz de Fora, tratam-se de serviços que devem ser reavaliados de acordo com a vocação de cada cidade, mas não fechados.

Já o diretor administrativo regional do Sesc, Grijalva Duarte Júnior, argumentou que desde 2017 o Sistema S vem passando por uma readequação de sua estrutura, iniciada pela área administrativa, e que desde maio deste ano a gestão regional é compartilhada com a Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Segundo Grijalva, há em Minas 35 unidades do Sesc, grande parte da década de 1970 e por isso necessitando de obras de reforma, segurança e acessibilidade.

Segundo ele, só para obras de acessibilidade teriam sido dispendidos R$ 4 milhões para unidade em Almenara, além de que unidades em áreas enormes estariam pouco ou subutilizadas.

Unidades móveis devem suprir - Sobre pontos específicos levantados, o representante do Sesc alegou que a escola a ser desativada em Teófilo Otoni teria 103 alunos a um custo anual de R$ 22 mil por aluno, e será transferida à rede estadual de ensino por se tratar de uma escola de ensino médio. "Nossa diretriz é atuar no ensino fundamental", disse o gestor.

Grijalva ainda disse que atendimentos que venham a ser impactados com o fechamento de unidades deverão ser cobertos por carretas e unidades móveis do Sesc já existentes, como Biblioteca Volante, Carreta Odonto, Sesc Saúde da Mulher e Sesc Oftalmo.

Por outro lado, ele sugeriu a criação, pela ALMG, de um grupo de trabalho em defesa do Sistema S, inclusive para interlocução com o governo federal.

Doações - O diretor do Senac foi questionado sobre vários pontos na fase dos debates, entre eles sobre valores gastos em obras e sobre a doação, para outros estados, de locomotivas e vagões que teriam sido recuperados com recursos do Sesc Minas e que fariam parte do patrimônio histórico e cultural de Minas.

Em momento de embate com representantes do comércio, Grijalva disse que se trataria de material em desuso ou subutilizado, e que as solicitações de doações foram aprovadas pelo Conselho Regional do Sesc, contemplando o Sesc Piauí e o Sesc Brasília.

Deputados defendem serviços

A deputada Delegada Sheila anunciou que agendará uma reunião interna da comissão para tratar de providências apontadas na reunião, como a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na ALMG para apurar denúncias de irregularidades e rombos na Fecomércio em gestão anterior, como defendido por representantes de Teófilo Otoni.

Outra seria a criação de uma Frente Parlamentar em Defesa do Sistema S, como defendido pelo deputado Neilando Pimenta (Pode), para quem é preciso unir forças também com parlamentares da bancada federal de Minas.

O deputado Gustavo Santana (PL) acrescentou que os possíveis desvios de recursos que motivaram processo judicial envolvendo a Fecomércio prejudicam comunidades que segundo ele são as que mais necessitariam de serviços como os do Senac, tendo o deputado Tadeu Martins Leite (MDB) frisado que organismos como o Sesc fazem parte da história das cidades onde atuam e que agora estaria sendo apagada.

O deputado Coronel Sandro (PSL) cobrou a punição dos responsáveis pela gestão da federação uma vez comprovados atos de improbidade e desvios de patrimônio conforme ação movida pelo Ministério Público Estadual (MPE).

Consulte o resultado da reunião.