Programa de Recuperação de Mananciais da Copasa estaria presente em 187, dos 853 municípios do Estado
Rômulo Miranda disse que não há previsão legal de aplicação de sanções às concessionárias
Parlamentares cobram investimentos na preservação de mananciais

Jequitinhonha cobra prioridade na recuperação de mananciais

Municípios relatam escassez hídrica e serviços precários da Copasa em audiência que cobra regulamentação da Lei Piau.

21/08/2019 - 17:24 - Atualizado em 21/08/2019 - 18:03

Desproteção de nascentes, rios secando, escassez de água, falta de ações para conservação de mananciais e má qualidade de serviços. Esse foi o cenário relatado por representantes de municípios mineiros do Vale do Jequitinhonha que participaram, nesta quarta-feira (21/8/19), de audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Realizada na Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização a pedido do vice-presidente, deputado Marquinho Lemos (PT), a reunião foi marcada, entre outros, pela exibição de video mostrando situações de seca e pela defesa da regulamentação, pelo Poder Executivo, da Lei Estadual 12.503, de 1997, conhecida como “Lei Piau”.

A lei cria o Programa Estadual de Conservação da Água, obrigando as concessionárias de serviços de abastecimento de água a investir, na proteção e na preservação ambiental da bacia hidrográfica em que ocorrer a exploração, no mínimo 0,5% de sua receita operacional ali apurada no exercício anterior ao do investimento.

Um terço do montante será para reconstituição da vegetação ciliar ao longo dos cursos de água. E também um terço para preservação ou recuperação de nascentes.

Situação diferente estaria ocorrendo em mananciais do Vale, cujos municípios reivindicam, junto com o Norte de Minas, prioridade nas ações e programas de preservação e recuperação mencionados na audiência.

Barro - Membro do Comitê da Bacia do Rio Araçuaí, José João de Figueiró Oliveira informou que, depois do Rio Jequitinhonha, o Araçuaí é um dos principais mananciais da região. “Mas em menos de cinco anos morrerá. A situação hídrica do Médio Jequitinhonha é terrível”, advertiu ele, sobre a ausência de ações de proteção na localidade.

Um dos complicadores, segundo José João, estaria na instalação de barragem no Rio Setúbal, um dos principais afluentes do Araçuaí e que abastecia vários municípios. “Desde a obra dessa barragem, a água nunca mais foi limpa, virou barro e sem condição de uso”, denunciou.

Ele também disse que o programa Pró-Mananciais, citado pela Copasa como ação de proteção e preservação de bacias em Minas, não teria chegado à região abarcada pelo Araçuaí. E também manifestou preocupação com propostas que vêm à tona periodicamente, como a privatização de serviços de abastecimento e saneamento. “Aí é que vamos mesmo ser esquecidos”, previu ele.

Reservatórios comprometidos

O presidente da Câmara Municipal de Diamantina (Central), vereador Edivan Silva Soares, registrou, por sua vez, que a Copasa só opera na sede do município, onde a situação do abastecimento ainda estaria sob controle.

O contrário ocorreria, contudo, nos 10 distritos e 100 povoados que pertencem ao município e são atendidos pela Copanor, dependendo da captação de água em poços artesianos. “Nesses locais nós vivemos um drama. Por semana, de três a quatro povoados ficam sem água por muitos dias”, criticou.

Já o vereador Fábio Pinheiro do Nascimento, presidente da Câmara Municipal de Coluna (Rio Doce), relatou que a captação de água no município é feita em poços profundos. "Mas alguns poços já estão esgotados e nossos rios completamente poluídos", denunciou ele, informando que há dois meses reservatórios do município já estariam sendo abastecidos por caminhões-pipa vindos de outras cidades.

Copasa destaca programa, mas adesão depende de critérios

O superintendente de Meio Ambiente da Copasa, Nelson Cunha Guimarães, informou que a concessionária e sua subsidiária, a Copanor, estão presentes em 636 dos 853 municípios mineiros. Em 263, são prestados serviços de água e de esgoto; em 373, só de água.

Segundo ele, quando da revisão tarifária feita em 2017 pela Agência Reguladora de Água e Esgoto do Estado (Arsae-MG), foram garantidos recursos para a preservação ambiental a partir de agosto daquele ano, quando a empresa iniciou o Programa Socioambiental de Proteção e Recuperação de Mananciais, o Pró-Mananciais.

Embora presente em apenas 187 municípios até o momento, ele destacou que o programa tem caráter contínuo e permanente e abrangência crescente.

Explicou que a adesão ao Pró-Manancial tem as prefeituras como parceiras relevantes, podendo ser pleiteada com base em critérios para a priorização dos municípios a serem atendidos, tais como qualidade da água, tipo de captação, escassez hídrica e população.

Ele citou Carbonita como um dos selecionados para o programa, assim como disse que demandas do Serro e de Coluna serão encaminhadas às áreas pertinentes da empresa.

Dentro do Pró-Mananciais, ele disse que já houve o plantio de 375 mil mudas e o cercamento de nascentes e áreas de proteção nos municípios já participantes, totalizando 700 mil metros cobertos.

Arsae só tem cinco fiscais

Conforme destacado pelo Gerente de Fiscalização Econômica da Arsae-MG, Rômulo José Soares Miranda, investimentos da Copasa e Copanor no Pró-Minas estão previstos em R$ 20 milhões/ano até a próxima revisão tarifária, montante que, segundo ele, estaria próximo do patamar definido pela Lei Piau.

Contudo, ele considerou que a Arsae tem uma equipe insuficiente de fiscalização desses investimentos em recuperação e proteção, com apenas cinco fiscais para ir a campo em todo o Estado. Outra questão seria o fato de que não há previsão legal de aplicação de sanções, levando à adoção apenas de medidas compensatórias às concessionárias.

Bacias - Já a representante do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Thais de Oliveira Lopes, destacou o lançamento, em março, pelo órgão, do Programa Estratégico de Revitalização de Bacias Hidrográficas de Minas Gerais - Somos Todos Água, que prevê ações integradas e permanentes em áreas prioritárias.

O programa terá como norte os planos diretores de baciais já existentes no Estado, disse ela, ressaltando que o Igam tem trabalhado internamente em propostas para a regulamentação da Lei Piau.

Deputados cobram investimentos

Ex-prefeito de Carbonita, o deputado Marquinho Lemos disse ser preciso chamar a atenção dos governantes e da sociedade para a situação das nascentes. Segundo o parlamentar, seu município deverá sofrer novamente a situação vivida entre 1997 e 1998, quando a Copasa transferiu a captação de água do córrego Curralinho, que secou, para o rio Soledade, um dos maiores da região, que agora também estaria secando. “Mesmo com essa experiência, a Copasa não se preocupou em fazer nada para recuperar nascentes”, disse o deputado.

A deputada Rosângela Reis (Pros), presidenta da comissão, classificou o cenário exposto como triste e preocupante. “Há anos a legislação aguarda regulamentação, enquanto a população está pagando um preço alto pela situação, com prejuízos também à saúde”, disse ela, mencionando problemas que estariam ocorrendo também no Vale do Aço.

Consulte o resultado da reunião.