O diretor da MRS disse que em termos de melhorias, serão priorizadas a vedação da linha férrea na região urbana e a construção de viadutos
Deputados defendem planejamento de longo prazo

Trem de carga continua na área urbana, mas JF terá melhorias

Sem falar em cifras, MRS diz que concessão antecipada trará recursos expressivos para Minas e fala em viadutos.

16/08/2019 - 21:56

Cortada no centro e em vários bairros por ferrovia para o transporte de carga, Juiz de Fora (Zona da Mata), a 260 quilômetros da Capital e com mais de 500 mil habitantes, não deverá ter em curto prazo o compartilhamento de linhas para uso de passageiros e nem a construção do contorno ferroviário, que tornaria possível retirar as linhas de trem da área urbana.

Como alternativa a essas reivindicações, defendida por moradores e parlamentares em audiência pública realizada na cidade, nesta sexta-feira (16/8/19), estão sendo elaborados projetos para execução de melhorias na mobilidade, com obras viárias como viadutos, conforme anunciado por representantes da MRS Logística, concessionária da ferrovia.

A reunião foi realizada pela Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na Câmara Municipal, onde a empresa divulgou, também, a execução de projeto para a revitalização da margem do rio Paraibuna, com a instalação de um parque linear.

Pedida pelo deputado Noraldino Júnior (PSC), a audiência teve como objetivo debater a antecipação da renovação das concessões ferroviárias pretendida pelo governo federal como forma de antecipar investimentos das concessionárias.

Este é o caso do processo em curso quanto à MRS, que opera ferrovias em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, sendo uma das maiores preocupações da comissão o temor de que recursos advindos de empresas que operam o modal ferroviário mineiro sejam aplicados em outros estados, conforme frisou na reunião o deputado João Leite (PSDB), que preside a comissão.

Contudo, o diretor de Relações Institucionais da MRS, Luiz Gustavo Bambini, disse que “Minas receberá investimentos vultuosos com a renovação”. Ele não mencionou cifras quanto a esses investimentos, mas desmentiu que eles seriam destinados à construção de um ferroanel em São Paulo, o que, segundo ele, consumiria todos os recursos da operação.

Ele frisou que no processo de renovação, São Paulo e Rio serão contemplados, mas ressaltou que Minas terá um plano estratégico da empresa e a outorga para, por exemplo, prever terminais intermodais de transporte. Bambini ainda disse que o centro operacional da MRS deverá continuar em Juiz de Fora, desfazendo temor em contrário.

Quanto a demais reivindicações, o diretor da empresa não descartou que num futuro ainda imprevisível se possa cogitar na implantação do contorno ferroviário de Juiz de Fora. “Mas o que virá mais rápido é a vedação da linha férrea na região urbana e a construção de viadutos”, admitiu.

Com fala semelhante ele respondeu a indagações sobre a possibilidade de implantação de linha para passageiros. “Vamos estudar onde cabe, mas não é algo trivial”.

A vedação consiste na construção de muros ou cercas ao longo da malha, bloqueando a passagem, com a consequente realização de obras viárias, como os viadutos.

Conflitos - Moradores da cidade ainda levantaram outras questões, como a inutilidade de algumas passarelas instaladas sobre linhas, mas que não seriam usadas por pedestres por falta de segurança, e ainda sobre a poluição sonora gerada pelo sistema e a necessidade de alternativas para a passagem de linha, no cruzamento da malha com rua ou estrada.

Moradores ainda denunciaram que suas casas, próximas à malha ferroviária, sofriam também com paredes rachadas e até com fendas, em função do transporte pesado.

Bambini disse que esses pontos seriam reavaliados. “A presença do trem gera sim impactos negativos. O desafio não é simples”, argumentou, ao admitir que os atropelamentos que ainda ocorrem nas linhas são motivo de tristeza.

Nesse sentido, ele disse que a empresa faria esforços para melhorar a sinalização ou mesmo automatizá-la, inclusive de forma coordenada à sinalização geral da cidade.

A alternativa de uma sinalização automatizada, segundo ele, poderá inclusive vir a ser adotada em pontos na área urbana em que a vedação não seja possível para isolar a linha, de forma que a cancela não seja manual e que não haja buzina.

Parlamentares defendem plano estratégico

Apesar das limitações mencionadas pela MRS, o deputado Noraldino Júnior reivindicou que dentro do processo de renovação em andamento e com os recursos aí previstos, sejam elaborados projetos prevendo a implantação do contorno ferroviário nas cidades em situação semelhante à de Juiz de Fora.

“Ainda que não vejamos a viabilidade financeira disso nesse momento, é preciso pensar a cidade a longo prazo. Até para os municípios saberem se poderão ser contempladas no futuro e reservarem o espaço para a transposição ferroviária”, defendeu ele.

Ele e também o deputado João Leite conclamaram a Câmara Municipal e demais entidades a ingressarem no movimento pró-ferrovias, frisando que todas as contribuições sobre o assunto vão subsidiar a construção do Plano Estratégico Ferroviário de Minas.

A elaboração do plano foi anunciada em solenidade na ALMG na última quarta-feira (14), em cooperação do Governo do Estado com a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) e a participação da Assembleia.

O presidente da comissão disse que ações de curto prazo previstas no plano já deverão estar contempladas com recursos na Lei Orçamentária do Estado para o ano que vem. “Se antes a justificativa para não investir em Minas era a falta de projetos, agora teremos, e com prazos”, frisou João Leite.

Para o presidente da Câmara Municipal, vereador Luiz Otávio Fernandes Coelho, a concessão pode até ser renovada. “Mas precisamos saber que contrapartida vai recair para Juiz de Fora”, marcou ele, para quem o plano estratégico pode contribuir nesse cenário.

Prazo - Apesar da fala da MRS quanto a mudanças na malha, o secretário municipal de Planejamento, Lúcio Sá Fortes, disse que para melhorar a mobilidade em Juiz de Fora seria preciso fazer a transposição da linha de carga que passa dentro da cidade, de forma a mudar a localização da malha.

Segundo ele, o município tem até o dia 13 de setembro para formalizar suas demandas relacionadas à renovação antecipada da concessão.

Revitalização do Paraibuna é medida adicional

Conforme anunciado pela MRS, Juiz de Fora terá revitalizadas as margens do Rio Paraibuna, com a instalação de bicicletário, pista de ciclismo e caminhada e centro de convivência.

De acordo com o engenheiro da empresa Sérgio Carrato, os projetos estão sendo desenvolvidos em fases pela MRS, sendo a primeira delas partindo da margem entre o viaduto Augusto Franco até a ponte Santa Terezinha.

Haverá duas pistas para ciclistas e uma para pedestres, com muro de proteção na avenida Brasil. E ainda estacionamentos especiais, iluminação, quiosques e assentos para usuários.

Para a comissão, a ação por parte da empresa é bem-vinda, mas deve ser vista como medida adicional, fora do rol de medidas e contrapartidas que caberão à MRS por força da renovação antecipada da concessão.

O promotor de Justiça, Alex Santiago, acrescentou que esse ponto quanto à revitalização pode vir a ser consignado num documento de parceria ou termo de compromisso, fora do processo de antecipação e de compensações.