Durante a visita, a comissão também foi informada da carência de pessoal para atuar no local, o que agrava o problema

Hospital Júlia Kubitschek reivindica recursos para obras

Comunidade aguarda liberação de verbas para concluir reforma paralisada em 2015. Comissão de Saúde promete ajuda.

13/08/2019 - 16:32

A conclusão das obras de reforma e recuperação, paralisadas desde 2015, e a ampliação da oferta de leitos em geral, inclusive no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), estão entre as principais reivindicações da direção, dos servidores e dos usuários do Hospital Júlia Kubitschek, localizado na região do Barreiro, em Belo Horizonte.

A instituição é uma das 21 unidades da Rede Fhemig, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, e atende ainda a outras regiões e municípios do entorno, respondendo por cerca de 4.500 atendimentos mensais.

Nesta terça-feira (13/8/19), o hospital recebeu a visita técnica de parlamentares da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que percorreram algumas de suas instalações e verificaram in loco as condições estruturais do prédio.

Com dificuldades crescentes há vários anos, a instituição acumula dívidas, inclusive com fornecedores. Quanto às obras, estão paralisadas devido à falta de repasses de recursos do Governo do Estado, o que acabou bloqueando também os recursos federais.

Reestruturação - Para solucionar o problema, o presidente da Fhemig, Fábio Baccheretti, defende a reestruturação do hospital, que é de média complexidade, e a sua transformação em uma unidade hospitalar de alta complexidade, de forma que possa se tornar autossustentável, buscando novas formas de financiamento.

Para ele, uma saída seria operar os recursos de maneira unificada, por meio da Fhemig, que também luta com problemas financeiros. Com um custo mensal de R$ 30 milhões, a fundação recebe, fixo, em torno de R$ 20 milhões. Só à Cemig, a companhia de energia do Estado, a fundação deve em torno de R$ 40 milhões, conforme relatou.

Hospital também sofre com carência de pessoal

O problema se agrava com a carência de pessoal. Segundo Neuza de Freitas, funcionária do hospital e representante do Sindsaúde, o sindicato dos trabalhadores na área do Estado, a questão não é só estrutural e de falta de investimentos.

“O absenteísmo entre os funcionários é grande, entre 10% e 15% dos servidores estão afastados do trabalho por problemas mentais ou comportamentais. Com isso, aumenta a sobrecarga de trabalho. É doente cuidando de doente”, lamentou.

As declarações de Neuza são reforçadas pelo diretor do hospital, Samar Musse. Ele explica que, atualmente, a instituição funciona com cerca de 1.300 a 1.500 servidores, número insuficiente para a demanda.

Para suprir a deficiência, os servidores na ativa são convidados a fazer horas extras, mas nem todos podem ou têm interesse em atender ao pedido. Além disso, o diretor relata que o número de aposentadorias é crescente sem que haja reposição dos cargos.

Defesa do SUS - Moradora da comunidade e integrante da comissão de saúde do bairro, Dionísia Ferreira Lima, 68 anos, acredita que, por trás do sucateamento da saúde pública estão os interesses dos convênios particulares.

“Percebemos um lobby muito grande dos grupos privados, mas, nos momentos mais difíceis, como em caso de acidentes, é a saúde pública que nos socorre. Por isso é importante defender o SUS”, frisou.

Deputados prometem mobilizar Comissão de Saúde

O diretor geral Samar Musse e o presidente da Fhemig receberam a Comissão de Saúde da ALMG, representada por seu presidente, deputado Carlos Pimenta (PDT), e pelo autor do requerimento para realização da visita, deputado Professor Wendel Mesquita (SD).

“O Júlia Kubitschek é referência hospitalar em todo o Estado e está com suas obras paralisadas desde o governo passado”, lamentou o Professor Wendel Mesquita, prometendo mobilizar a Assembleia Legislativa, por meio da Comissão de Saúde, e empenhar-se junto ao Governo do Estado para garantir a liberação de recursos e a retomada das obras. “Nossa visita é propositiva e tem o objetivo de somar forças com a comunidade, no sentido de garantir o pleno funcionamento da instituição”, destacou.

O presidente da comissão, deputado Carlos Pimenta, reforçou a proposta e disse que a visita ao hospital era apenas um primeiro passo para uma reunião maior que a Comissão de Saúde da Assembleia deverá fazer para debater a situação da Fhemig, de modo geral, e do Hospital Júlia Kubitschek, em particular.

“O hospital tem um grande histórico de prestação de serviços à população e precisa ser preservado. A saúde não pode ser postergada e vamos ter que encontrar soluções porque saúde não tem preço, mas tem um custo muito alto”, disse o presidente da comissão.

Carlos Pimenta também prometeu se empenhar junto ao Governo do Estado para assegurar a liberação de recursos a fim de que sejam retomadas as obras de reforma e recuperação do hospital.

Direção quer dobrar oferta de leitos

Fundado em 1960, após quatro anos de construção, e incorporado ao SUS no início da década de 1990, o Hospital Júlia Kubitschek é referência no Estado de Minas Gerais como instituição voltada para o tratamento de tuberculose, doenças pulmonares, cirurgia torácica, maternidade e saúde da mulher. Seu Livro de Ouro ostenta, com orgulho, em sua abertura, a assinatura do ex-presidente Juscelino Kubitschek.

Com 280 mil metros quadrados de área verde e 30 mil metros quadrados de área construída, o hospital comporta 500 leitos. Atualmente, porém, só 270 estão sendo ofertados, sendo apenas 19 no CTI. O objetivo, segundo o presidente da Fhemig, é quase dobrar essa oferta, chegando a pelo menos 40 leitos no CTI e 400 ao todo.

O terreno onde o prédio está instalado é cedido pela União. A direção da casa reivindica a doação da área construída, que abriga também auditórios e um cinema, além das instalações administrativas e de saúde.

Em outros tempos, o local chegou a abrigar também uma escola estadual, uma escola de artesanato e uma fábrica de medicamentos. A vocação escolar da instituição, segundo o presidente da Fhemig, é mantida até hoje com parcerias entre o hospital e universidades públicas e privadas.