Reunião lotou o plenário da Câmara Municipal de Itinga, município que contém a maior parte das jazidas de lítio
Presidente da Sigma disse que a mina em Itinga deve usar a técnica de empilhamento a seco, não de barragem de rejeito
Prefeitos e outras autoridades assinaram manifesto a ser encaminhado ao governo federal

Prefeitos do Jequitinhonha cobram parque industrial do lítio

Mineradora anunciou investimentos de R$500 milhões. Expectativa é que a exploração alavanque desenvolvimento da região.

09/08/2019 - 20:03

Após a notícia de que o Vale do Jequitinhonha pode se tornar, até o início de 2021, um dos principais produtores de lítio do mundo, 17 prefeitos da região se reuniram nesta sexta-feira (9/8/19) para discutir um passo à frente: alternativas para viabilizar a criação de um parque industrial que beneficie este minério nos municípios produtores.

A Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) participou da reunião, realizada na Câmara Municipal de Itinga (Vale do Jequitinhonha).

No município, ficam 75% das jazidas de lítio que foram identificadas na região, em 2017, pela mineradora Sigma. A partir disso, a empresa anunciou investimentos de R$ 500 milhões no desenvolvimento de um complexo minerário em Itinga e no território vizinho de Araçuaí, onde estão os outros 25% da jazida identificada.

O presidente da Sigma, Itamar Resende, participou da reunião com os prefeitos e afirmou que sua expectativa é iniciar a produção da primeira mina, em Itinga, até o início de 2021. A atividade não utilizará barragens de rejeitos, mas sim a técnica de empilhamento a seco, uma tecnologia importada da Austrália. “Queremos trabalhar com uma tecnologia limpa e não podemos começar de maneira errada”, afirmou Itamar.

O lítio é uma matéria-prima importante para a produção de baterias para carros elétricos, celulares e tablets. A ambição dos prefeitos, no entanto, é atrair para o Vale do Jequitinhonha empresas que produzam no local essas baterias e aparelhos, evitando seguir o exemplo de outras riquezas da região que foram e são exportadas para serem beneficiadas em outros lugares, tais como os diamantes ou o granito.

Presidente da União dos Municípios do Vale do Jequitinhonha, o prefeito de Ponto dos Volantes, Leandro Santana, iniciou o encontro reivindicando uma primeira providência para viabilizar a instalação de indústrias no local: a concessão de benefícios fiscais, inclusive isenção de ICMS, pelo Estado.

O prefeito de Itinga, Adhemar Marcos Filho, apresentou outra reivindicação ao governo federal: a construção de um gasoduto que leve energia para o futuro parque industrial.

Deputados cobram medidas compensatórias e descentralização industrial

O deputado Carlos Henrique (PRB), 2º-secretário da ALMG, disse que o principal objetivo da presença da Assembleia na reunião com os prefeitos e moradores é ouvir a preocupação da população local e garantir que ela será beneficiada. “Quais são as medidas compensatórias do impacto ambiental e as ações mitigadoras? informações de que é um mineral que pode provocar câncer. Uma das contrapartidas poderia ser a instalação de um hospital oncológico na região”, defendeu.

O deputado Marquinho Lemos (PT), vice-presidente da Comissão de Assuntos Municipais da ALMG, disse ter se preocupado com a informação de que uma fábrica de baterias poderia ser instalada em Belo Horizonte. “Espero que seja só um boato e que se houver alguma fábrica, que ela seja aqui”, afirmou. Ele também mostrou preocupação com a questão ambiental e de saúde.

O presidente da Sigma, Itamar Resende, negou que a exploração de lítio possa trazer riscos de câncer para a população. Ele admitiu, no entanto, contribuir para a construção de um hospital do câncer na região, desde que não haja sozinho. “Somos parceiros, mas não coloquem a responsabilidade sobre o Vale do Jequitinhonha sobre nós. E se quisermos verticalizar a produção no Vale, temos que pensar no todo. O gás tem que vir”, cobrou.

O governo federal foi representado no encontro pelo secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal de Oliveira, que ressaltou que a mineração pode ser feita de forma sustentável.

Ele advertiu, no entanto, que há uma necessidade de superação de condições logísticas para trazer indústrias que beneficiem o lítio no Vale do Jequitinhonha. “Não sou vendedor de sonhos”, afirmou.

O deputado federal Zé Silva (SD-MG) defendeu uma articulação entre políticos e instituições federais, estaduais e municipais, além da iniciativa privada, no desenvolvimento de um arranjo produtivo local que viabilize investimentos em infraestrutura e a instalação do parque industrial. Também participou da reunião o deputado federal Euclides Petersen (PSC-MG).

Ao final do evento, os 17 prefeitos e outras autoridades presentes assinaram o Manifesto do Vale do Jequitinhonha por uma Mineração Sustentável e Responsável, que será encaminhada aos governos federal e estadual.

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