Deputados defendem a cultura queijeira e a regulamentação do setor na primeira edição do Mundial do Queijo do Brasil

Produtores de queijo artesanal exigem regulamentação

Primeira edição do Mundial do Queijo do Brasil, realizada em Araxá, reúne produtos premiados em concurso internacional.

09/08/2019 - 00:06

Os queijos artesanais, alimentos facilmente encontrados na mesa do mineiro e que têm conquistado apreciadores exigentes mundo afora, ainda dependem da regulamentação da Lei 23.157, de 2018, para que sua comercialização seja possível fora das fronteiras do Estado.

Durante a abertura da primeira edição do Mundial do Queijo do Brasil, promovida em Araxá (Alto Paranaíba), nesta quinta-feira (8/8/19), a Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) se juntou aos produtores para celebrar o reconhecimento internacional dos queijos produzidos em território mineiro, e os parlamentares presentes se comprometeram a atuar em prol da formalização dos regulamentos. 

De acordo com a lei, cabe ao Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) a responsabilidade por regulamentar tipos de queijos artesanais, habilitar queijarias, entrepostos e estabelecimentos rurais, inspecionar, fiscalizar e editar normas complementares. Mas, atualmente, apenas o queijo tipo Minas Artesanal de Casca Lavada passou por todos os procedimentos previstos e se encontra regulamentado.

Sendo assim, o comércio de outras variedades como o queijo mofado, resinado e defumado, por exemplo, enfrenta restrições. Só os regulamentos permitirão que esses se beneficiem da legislação, liberando sua venda para outros estados e países.

No entanto, a ausência de formalização não inviabilizou o desempenho desses produtos na 4ª edição do concurso Mondial du Fromage et des Produits Laitiers (Mundial do Queijo e Produtos Lácteos), realizada na cidade de Tours, na França, em junho de 2019.

Minas Gerais teve uma participação destacada. Entre mais de 900 inscritos de 15 países, o Brasil conquistou 58 medalhas, sendo 50 delas para produtores mineiros.

Alexandre Honorato é um deles. O queijo produzido por ele ganhou medalha de ouro na categoria de queijo de leite cru, de massa não cozida. “O prêmio representa o reconhecimento do trabalho de gerações. Meu avô foi o primeiro a ter o queijo legalizado no Brasil, em 1956”, afirma o produtor. Ele disse que espera ver os queijos produzidos por ele obterem também a segurança jurídica necessária ao empreendimento.

O produtor Wilson Menezes recebeu medalha de prata, na categoria de queijo meia cura, no mesmo concurso. De acordo com ele, há margem para o crescimento da produção, uma vez que apenas 3% do leite processado na região é utilizado na fabricação de queijos. Mas, para tanto, “precisamos da regulamentação; a medida, com certeza, vai favorecer a expansão dos empreendimentos”.

Deputados defendem que produtos saiam da clandestinidade

Defendeu também a regulamentação Antonio Carlos Arantes (PSDB), deputado que solicitou o agendamento da visita ao Mundial do Queijo do Brasil. Ele lembrou que o Parlamento mineiro, há anos, tem trabalhado para regulamentar a produção de queijos artesanais no Estado. A primeira conquista veio em 2012, com a aprovação da Lei 20.549. Elaborada e aperfeiçoada com a participação dos produtores, foi sucedida pela Lei 23.157, de 2018.

Conforme o parlamentar, o Executivo e as entidades que representam os produtores devem chegar a um consenso para que os regulamentos sejam elaborados e entrem em vigor o mais rápido possível. Ele lamenta que queijos reconhecidos por especialistas do mundo todo não possam ser comercializados com amparo legal, jogando-os assim na clandestinidade.

O presidente da Comissão de Agropecuária e Agroindústria, deputado Coronel Henrique (PSL), chama a atenção para o relevante papel do agronegócio na economia mineira, sobretudo após a crise que se instalou no setor minerário. Ele afirmou que o evento não só valoriza a cultura queijeira de Minas como também possibilita a integração dos produtores e o compartilhamento de expertise.

Já o deputado Bosco (Avante) defendeu políticas de incentivo à produção de queijo no Estado. Ele explica que, para se obter a certificação do produto, é exigida uma série de adequações nas propriedades rurais. Os pequenos e médios produtores têm dificuldades de suportar esses custos, “temos que batalhar por linhas de crédito especial, com juros acessíveis”.

Os deputados Betinho Pinto Coelho (Solidariedade) e Bruno Engler (PSL) também se comprometeram a atuar na formalização do setor e no seu fortalecimento. 

Jovens empreendedores apostam na produção de queijo

Renato e Thaylane Siqueira Guedes, da Fazenda Bela Vista, situada na cidade de Alagoa, Sul de Minas, se viram obrigados a investir os R$ 12mil destinados à realização do casamento para compra de maquinário de embalagem a vácuo.

Thaylane conta que o sogro, pai de Renato, fabricava apenas queijos frescos e que esses eram vendidos a atravessadores, que sempre jogavam o preço do produto lá embaixo. O resultado foi que a família passou por período de enorme dificuldade, sem ter dinheiro nem mesmo para comprar a ração do gado.

Então, para resgatarem o negócio e atender à demanda de clientes por embalagens que conservassem melhor o produto, usaram a poupança na aquisição do equipamento. Depois desse passo, passaram a apostar em queijos com valor agregado como os maturados.

Em junho deste ano, três queijos deles foram premiados no Mondial Du Fromage, com uma medalha de ouro e duas de bronze. O feito exigiu ainda mais investimentos e os levou a produzirem no limite máximo, uma tonelada por mês. Hoje, eles já estão casados e satisfeitos com a demanda. "Não pretendemos aumentar a produção para não perder a qualidade", afirma Renato. 

Carolina Craveiro entrou no negócio há apenas seis meses. Apesar de iniciante, o queijo produzido por ela faturou medalha de prata no concurso mundial da França, na categoria mofo branco.

O fato provocou uma reviravolta na vida da produtora. Ela conta que começou a produção com três vacas, após a premiação adquiriu mais três. Mas Carolina sabe que não será suficiente diante da demanda crescente pelo produto. "Agora já estou preparando o anúncio para vender meu carro, vou comprar mais umas vaquinhas". 

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